50°
CASAMENTO nunca foi um assunto que eu pensei muito. Eu tinha certeza de que me casaria um dia, claro, mas em um futuro muito distante, onde eu já estivesse formada e com um emprego, não com dezoito anos e sendo obrigada a isso.
Confesso que o vestido tem um ótimo caimento no meu corpo, realçando as minhas curvas. Achei que usaria algo de renda com véu e grinalda, mas o vestido é de seda, longo e sua calda serpenteia quando ando. Meu cabelo está preso em um coque bem arrumado com grampos de pérolas. Em meus pés calço saltos altos brancos e em minhas mãos seguro o buquê de flores.
Deixei que me vestissem; que me maquiassem e penteassem meu cabelo. Não fingi felicidade, mas não reagi como Jason deve ter esperado que acontecesse. Eles acham que sou uma gata e tenho que ser domesticada, mas logo vou mostrar a eles a pantera por debaixo disso.
— Você está um arraso! — o maquiador, Julius, comenta. Não sei se ele estaria sorrindo assim se soubesse a verdade por trás de tudo isso.
A correntinha dourada com o pingente da lua e estrela continua em meu pescoço. A única coisa constante na minha vida. A única lembrança da mulher forte que viveu seus sonhos, e é nela que penso quando desço as escadas da casa. A última vez que farei esse percurso.
As portas que dão para o jardim estão fechadas e Magda e um outro segurança estão esperando meu sinal para poder abrir.
— Você está linda, pequenina. — Jason entrelaça o braço no meu e beija minha bochecha. Esse gesto me dói. Me faz lembrar de como ele era amoroso, rígido sim, mas ainda tinha carinho por mim e não me via como parte de um acordo. Ou não, já que esse sempre foi o objetivo, afinal.
Respiro fundo algumas vezes, tentando me acalmar. Não posso desmaiar agora e na verdade não acho que aconteceria. Não estou nervosa ou com medo. Sei exatamente o que vai acontecer e que não terá volta — mesmo se eu quisesse.
Anuo para Magda e o segurança, então as portas são abertas, revelando a luz do sol do início da tarde e flashes. Muitos flashes. Os fotógrafos estão ajoelhados no chão, clicando suas máquinas e vão se afastando conforme eu dou passos para frente acompanhada de Jason. Do lado direito estão os portões que agora estão fechados.
As pessoas se levantam e os músicos tocam a melodia. Meus olhos correm pelo altar montado a poucos metros, procurando seus olhos verdes, não os de Oscar, eu o ignoro, mas Damon... Se ele não está ali... Meu tio está em um canto do jardim, mantendo o posto de segurança, atrás dele está um portão não muito grande, mas estratégico por quem quer que tenha planejado a casa. Meu tio dá um aceno mínimo para mim. Ótimo.
Um sorriso largo e radiante está estampado em meu rosto agora e não é fingimento. Passando rapidamente os olhos pelos convidados, vejo que a alta classe de Las Vegas está aqui. Os mais importantes empresários, os mais importantes donos de outros Cassinos, até mesmo a comentarista do site de fofoca mais acessado está presente.
Perfeito.
Quando a caminhada termina, Jason me entrega a Oscar que sorri como se fosse a pessoa mais feliz do mundo e não um canalha que está apenas ansioso com a ideia de poder transar comigo.
Pelo canto do olho vejo um dos seguranças estragar as têmporas discretamente, talvez com medo que alguém perceba.
Jason vai para o seu lugar ao lado de Penny que aparentemente conseguiu seu reconhecimento oficial de amante. Patético. Samuel também está acompanhado de uma loira que nunca vi na vida. Ambos são patéticos.
As mãos de Oscar se fecham em torno das minhas e sou obrigada a lhe encarar no mesmo instante que o cerimonialista começa a dizer as palavras necessárias para casar alguém e que não me dou o trabalho de prestar atenção.
Encaro seus olhos verdes tão diferentes dos do seu irmão, mas de certas formas iguais. Além da cor, não há brilho. Há emoção, se é que ambição é uma emoção. Também há desejo, mas um desejo errado, perverso e que me dá nojo. Nunca seria capaz de amar Oscar. Já gostei dele quando mais nova, mas foi apenas diversão pura, não tinha consciência do que ele era por trás disso. Talvez Oscar fosse uma pessoa melhor se tivesse um pai melhor, mas não há como saber disso e eu sinceramente não quero.
— Oscar Sanders Westlake, aceita Elleonor como sua legítima esposa? — o homem pergunta. Oscar sorri mais uma vez para mim e tento não revirar os olhos.
— Sim, aceito.
— Elleonor Allen Macallister, aceita Oscar como seu legítimo esposo?
Eu sorrio abertamente e movimento meus lábios pintados de vermelho para formular a palavra que tanto queria.
— Não.
A pequena multidão arqueja de surpresa e eu sorrio mais ainda. Os olhos de Oscar estão arregalados e antes que ele pergunte, eu digo:
— Eu não casaria com você nem que a minha vida dependesse disso. — solto suas mãos e dou um passo para trás.
— Elleonor, o que está fazendo?! — Jason tenta se aproximar, mas meu tio entra na sua frente. — E você? Enlouqueceu também?!
— Nunca estive tão lúcido, ex-cunhado. — meu tio ri. Ao nosso redor os seguranças que estavam espalhados começam a desmaiar, como meu tio disse que aconteceria depois de tê-los dopado.
Samuel também é interceptado por outro segurança e essa é minha deixa, no momento que o portão lateral é aberto, revelando a rua além.
Olho para Oscar mais uma vez e sorrio.
— Desejo a você o que a vida quiser lhe dar... Espero que seja algo tão doloroso como o meu futuro seria se eu me casasse com você.
Não lhe dou a oportunidade de lhe responder e tiro meus saltos. Não me deixo pensar muito quando saio correndo até o portão. Eu não viveria presa a um homem como minha mãe foi por boa parte da vida. Eu não iria deixar. Não iria ceder. Nunca mais.
Com a calda do vestido na minha mão, paro na entrada no momento que uma moto estaciona, fazendo um barulho endurecedor. O motoqueiro tira o capacete e eu sorrio para Damon antes de correr até ele e subir na moto, pegando o capacete reserva na sua mão.
— Sempre na hora certa. — digo para ele ao lhe dar um selinho.
— Eu disse que sempre estaria aqui. — Damon olha para mim de relance, sorrindo, antes de sua atenção se voltar para os portões. Eu também olho.
Quase todos os convidados estão de pé perto do portão, como se tivessem levantado para ver melhor o show. As pessoas começam a resmungar quando Jason as empurra para chegar até os portões. Ele está puto da vida, mas agora não pode fazer mais nada.
— Seu maior erro, pai — digo alto e claro. — foi querer manter uma borboleta no casulo quando ela já estava pronta para voar.
Ponho o capacete em seguida e Damon dá partida na moto, deixando para trás aquela casa que um dia foi minha prisão e Jason, que deveria ser meu pai e não o carcereiro.
Mesmo com o capacete consigo sentir o vento no rosto. Meus braços estão em volta de Damon, apertando-o por cima da sua jaqueta. Ele aperta meu braço como se também dissesse: Sim, é real, estamos longe deles agora. Você está livre.
Eu realmente me sinto livre, talvez um pouco desacreditada, mas eu só preciso mesmo sair de Las Vegas e vou conseguir respirar de verdade.
Quilômetros e mais quilômetros são percorridos. Fizemos breves paradas em postos de gasolina, afinal, não dá para ficar mais de cinco horas montada em uma moto. Ignorei todos os olhares estranhos que recebi. Apesar do vestido ser simples, é meio óbvio que estou vestida de noiva.
— Mais duas horas e nós chegamos. — Damon diz para mim enquanto abastece a moto. Anuo. Para mim tudo bem, já estamos longe o bastante.
— Estou ansiosa para vê-la. — sorrio animada. Damon termina e voltamos para estrada.
O sol vai se pondo conforme atravessamos a fronteira do estado, deixando Las Vegas — Nevada — para trás e dando boas vindas à Califórnia. Parece que ambos ficam no mesmo estado, mas não e preferia morar na Califórnia. Hollywood talvez me fizesse bem.
A casa está exatamente como lembrava da última vez: as flores estão lindas e cheias de vida, suas cores dando alegria a casa simples e pequena à nossa frente.
Damon deixa a moto na frente da casa e caminhamos até a porta, de mãos dadas como da última vez.
Toco a campainha e espero. Segundos depois minha vó aparece.
— Oi, vovó! — sorridente, eu a abraço. Estava com saudades dela.
Ontem a noite quando meu tio foi me ver, disse a ele sobre minha saída triunfante e pedi que avisasse Damon sobre meu plano. Meu tio nos ajudaria a fugir — como fez — mas disse que teríamos que ter um lugar para ficar antes de partir e não havia lugar melhor que a casa da minha vó. Jason pode ser poderoso, mas seu poder é limitado em Nevada, se não em Las Vegas. Vir aqui, mesmo que soubesse onde estou, causaria problemas.
— Vocês devem estar cansados! Preparei um quarto para vocês... Bom, vocês devem dormir no mesmo quarto... — minha vó olha para nós dois com um sorriso malicioso nos lábios. Já entramos e estamos agora na sala familiar.
— É... Sim... Um quarto apenas está bom. — digo corando. Damon engasga com uma risada.
— Ah, não fiquem envergonhados! Na idade de vocês eu já estava grávida...
— Vovó!
— Certo, certo! Podem subir, último quarto à esquerda. Comprei umas roupas para você. — porque minhas coisas ficaram para trás. Meu tio disse que daria uma jeito de trazer, mas até então não tenho nada além desse vestido.
— Obrigada. — dou um beijo em sua bochecha e Damon e eu subimos as escadas para o segundo andar.
— Podem esquentar a comida se quiserem comer mais tarde! — ela grita de lá de baixo.
— Tudo bem!
Abro a porta do último quarto à esquerda e entramos no quarto. É simples, com uma cama de casal espaçosa que tem peças de roupa sobre a colcha rosa claro. Um guarda-roupa de um lado e uma janela do outro com uma poltrona para poder sentar e observar a rua lá fora. Uma outra porta me chama atenção e presumo ser o banheiro.
Me jogo na cama, deitando de costas e encarando o ventilador pendurado no teto. Damon deita ao meu lado.
— Essa foi uma aventura e tanta. — ele diz. Sorrio e apoio a cabeça em seu peito, suas mãos estão em minhas costas logo em seguida.
— Teremos muitas histórias para contar aos nossos filhos. — dou risada, mas percebo que não devia ter feito isso, não quando Damon fica tenso e logo se afasta, sentando-se. Faço o mesmo.
— Quer mesmo continuar comigo? — o modo como hesita me deixa confusa, mas sorrio.
— É claro que quero! — digo como se não fosse óbvio. Damon não relaxa e eu suspiro. — Sei que somos novos e talvez deve ter um monte de gente achando que somos adolescentes inconsequentes e iremos enjoar um do outro logo. E talvez isso aconteça mesmo. Talvez daqui há dois anos não estejamos mais juntos ou antes disso. Mas agora, Damon... Agora eu quero ficar com você. Não posso dizer pelo futuro, apenas pelo presente que é a única coisa que temos e vivemos. Mas eu repito: quero você. Quero você agora.
Seus lábios encontram os meus e não há palavras no mundo que descreva o meu amor por ele e como esse beijo está carregado de sentimento e desejo. Desejo porque sempre desejaremos um ao outro; sempre iremos desejar estar com o outro; ouvir a voz do outro; sentir um ao outro... Mas uma coisa mais forte que esse desejo: o nosso amor. Eu amo Damon e ele me ama. É suficiente para mim agora.
A despedida com minha vó foi cheia de lágrimas e ela dizendo que irá morrer de saudades de mim e que em breve irá me visitar. Meu tio chegou de madrugada com todas as minhas malas e fiquei aliviada. Robert contou que tudo virou um caos quando partimos e Jason e Samuel não parecem mais tão amigos agora. Não lamentei.
Na internet, meu nome e as fotos de ontem estão em primeiro lugar nos sites de fofoca. Uma filmagem específica flagrou exatamente o momento em que rejeitei Oscar e tudo depois disso. Damon disse que eu estava muito linda e tinha orgulho de mim. Percebi então que eu também tinha.
Beverly e eu nos despedimos pelo Skype. Ela não foi ao casamento porque pedi para meu tio avisá-la para não ir, caso alguma coisa desse errado e ela não pode vir para Malibu, mas de qualquer forma nos veremos em breve.
— Cuide dela, garoto ou eu serei bem pior que Jason. — meu tio está com a mão no ombro de Damon, encarando-o seriamente. Meu namorado (sim, namorado. Decidimos oficializar) pelo menos parece se sentir intimidado.
— Farei ela feliz. — resposta inteligente e Robert parece gostar, pois sorri e abraça Damon. Ele me lança um olhar de súplica e eu tapo a boca para não rir.
— Certo. Agora saia, quero falar com ela sozinho. — Robert dá uns tapinhas no ombro de Damon, dispensando-o. Observo se afastar e encaro meu tio.
— Agora entendo porque minha mãe se casou com Jason, você deve ter espantado todos os outros e não lhe deixado opções.
Meu tio ri, antes de me abraçar também. É um abraço acolhedor, como ele se tornou para mim. Minha única família além da minha vó. Jason... Não posso vê-lo mais como pai. Um pai não faria as coisas que ele fez.
— Escute, querida — meu tio se afasta e segura meus ombros. Encaro seus olhos azuis tão idênticos aos da minha mãe. — Vou sempre ligar para saber como está e visitá-la sempre que puder. Sei que pode cuidar de si mesma, mas não hesite se algo acontecer e precisar de ajuda, está bem? E se aquele garoto a machucar, estarei em Boston antes que ele possa pensar na besteira que fez. Estamos entendidos?
Acho graça da sua preocupação e quase rio, mas noto que está falando sério e que se preocupa comigo.
— Entendido. — presto continência e nós rimos antes de nos abraçarmos de novo.
— Onde quer que ela esteja, está orgulhosa de você. — meu tio sussurra e meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar da minha mãe. Mas são lágrimas de felicidade e orgulho.
~•~
"23 de Dezembro de 2011
As ruas de Londres estão movimentadas com a chegada do Natal. Nunca havia vindo a Londres nessa época do ano e posso garantir que é lindo. O entusiasmo dos londrinos é contagiante e me faz querer ter vivido aqui por um tempo, apesar de saber que não iria me acostumar a toda essa chuva e neve. É realmente congelante!
Apesar de ser uma época festiva, ao mesmo tempo que gosto de estar aqui, penso que deveria ter vindo em outra época. Com toda essa neve, não dá para explorar a cidade direito e passo a maior parte do tempo no quarto de hotel. Apenas hoje saí para dar uma volta e estou agora sentada em um café (que graças a Deus o lugar está bem aquecido).
Essa foi uma nota breve, estrelinha. Se um dia vier para Inglaterra e quiser aproveitar a cidade, não venha no Natal!
Beijos, amo você.
Ass: Meredith Allen."
Damon está dormindo e eu deveria fazer o mesmo, mas estou completamente hipnotizada com a paisagem. Olhando daqui de cima, parece que estamos flutuando sobre formigas! Já viajei de avião várias vezes e nunca vou me acostumar com isso.
— Deveria dormir. — ouço Damon murmurar. Viro-me para ele, sorrindo feito boba. Sua sonolência se vai um pouco e ele parece mais desperto ao ver meu rosto sorridente.
— Estou tão feliz! — sussurro, mas parece que estou gritando. Ele sorri.
— Gosto de vê-la assim. Não sabe como gosto... — sua mão está fria quando toca minha bochecha, mas o calor e emoção em seus olhos compensam todo o resto. — Minha garota incrível.
— Depois daquela cena com a moto, acho que posso deixar você ser meu garoto incrível. — entrelaço sua mão na minha e apoio a cabeça em seu ombro.
— Não acredito que só descobriu agora que sou incrível. — Damon parece indignado e eu reviro os olhos, mas sorrio.
— De garota mimada e bad boy fomos para garoto e garota incrível? Parece bom para mim. — levanto o rosto e encaro seus olhos verdes brilhantes. Damon sorri e me beija.
— Parece ótimo.
...E depois de uma reviravolta do destino, a princesa — antes prometida — e o príncipe que ama, seguem livres e felizes para um outro reino onde passarão uns dias antes de começarem suas vidas. O reino chamado Inglaterra sempre pareceu interessante para princesa e ficou ainda melhor pois seu príncipe já passou uma temporada lá com sua tia, que irá lhes receber.
A princesa está feliz e talvez essa felicidade acabe em algum momento, mas agora... Agora ela irá viver como sempre sonhou que faria a vida toda.
E se tiver apenas ela mesma, que seja.
Não tem mais medo de ficar sozinha quando já tem tudo o que precisa no coração.
FIM (?)
Calminha que ainda não acabou!
comentem muiito no epílogo!
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2bjs, môres♥
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