40°
MINHA cabeça dói tanto que prefiro não me mexer, então encaro o teto cor marfim. Quando eu era criança, fiz meus pais comprarem estrelas que brilhavam no escuro para colocar no teto. Dormia sempre olhando para elas. Não devia tê-las tirado quando entrei no ensino médio.
Pretendo passar o dia inteiro na cama, olhando para o teto. Ontem foi horrível. Tirando a parte que Damon e eu dançamos, todo o resto foi horrível. A nossa discussão, onde despejei mentiras com o intuito de machucá-lo depois de dizer que sentia muito. Que tipo de ser humano faz isso? Talvez eu não seja muito melhor que Jason, afinal.
Fazendo exatamente o que disse que não ia fazer, levanto-me para tomar banho. Posso estar deprimida, mas preciso ficar limpa. Uso o resto de dignidade que tenho para isso.
Passo uma boa hora na banheira, brincando com a espuma, absorvendo o cheiro das rosas. Poderia ficar aqui o resto da vida, mas preciso fazer uma ligação, por isso, saio da banheira.
Visto uma camisa de Kenan e uma calça larga. Deixo a toalha na cabeça e sento-me na frente do notebook e ligo para ele.
Seu rosto surge na tela segundos depois. Exatamente como me lembrava: seus cachos continuam lindos e perfeitos, os lábios grossos e rosados. E seus olhos claros como mel.
Kenan sorri para mim.
— Você está horrível, menina. O que andaram fazendo com você? — diz ele como cumprimento. Eu reviro os olhos.
— Um mês e é assim que você fala comigo? — finjo estar magoada. Da última vez que nos falamos foi apenas por ligação de voz.
— Melhores amigos não deviam ser sinceros? — Kenan arqueia a sobrancelha. Como se isso tivesse acertado o alvo, eu desvio dos seus olhos.
— Então, como é a França?
Ouço Kenan contar como fez a decisão certa em ir para França e não para a Alemanha. Ele realmente gosta de lá e a Europa virou seu continente preferido, então eu fiz questão de lembrá-lo que ele conhece apenas a América e um único país da Europa, então não podia ser seu preferido se seu conhecimento fosse limitado. Discutimos isso por meia hora.
— Vamos falar de você agora. Por que você está parecendo um cadáver ambulante? — Kenan estreita os olhos para mim. Tento não rir. Foi exatamente isso que Beverly disse.
— Estou apenas cansada, seu idiota. Por que não cuida da sua vida? — reviro os olhos. Meu melhor amigo continua me encarando, esperando. Suspiro. — Certo. A verdade? Estou noiva.
— O quê... Espere... Noiva? — seus olhos estão arregalados e suas sobrancelhas no teto. Sabia que ficaria surpreso.
— Sim. Ir para França fez você ficar surdo? — dou risada, mas ele ainda está processando a informação.
— Espere um pouco... Quantos anos você tem? Porquê a Elle que deixei aí ainda tinha dezessete anos!
— Você sabia que no século passado os casamentos eram arranjados antes mesmo de fazerem quinze anos?
— É. Mas não estamos mais no século passado! Mas que merda! Isso foi ideia do Jason, não foi? — Kenan parece realmente muito irritado. Encolho os ombros. Não vou lhe contar a verdade.
— Sim e não.
— O que isso deveria significar? Não me diga que você quer isso.
— Deus, não! — não consigo esconder meu horror. Isso não ajuda se quero mentir para ele. Passo as mãos pelo rosto. — É complicado... As coisas só estão um pouco apressadas, entende?
— Sinceramente? Não! Você nem sequer tinha uma namorado de verdade da última vez que nos vimos! — ele ergue os braços.
Devia ter ficado calada.
— Olhe, não faça parecer pior do que já é, ok? Sim, vou me casar. Não, não queria isso. Mas já está decidido e não vai ser tão ruim assim...
Quem quero enganar? Vai ser horrível! Casar com Oscar será como assinar minha infelicidade.
— Quem? — Kenan pergunta.
— Oscar Westlake. — murmuro. Apenas dizer seu nome me dá enjôo.
Kenan começa a rir. Rir de verdade, como se eu tivesse lhe contando uma piada.
— Desculpe... Eu achei ter ouvido você dizer Oscar Westlake — ele para de rir, mas ainda está sorrindo. — Mas isso é impossível, certo? Acho que vir para França realmente me deixou com problema de audição.
— Não, você ouviu certo. — forço um sorriso, sentindo um nó na garganta. Kenan para de sorrir.
— O quê?! — meu melhor amigo fica espantado. Dou de ombros. — Estamos falando do mesmo Oscar? Filho de Samuel Westlake, inimigo mortal do seu pai?
— Não pareça tão surpreso. Oscar e eu tivemos um rolo, lembra?
— Um “rolo” — ele faz aspas com as mãos. — É diferente de um noivado, Elleonor.
— Eu sei, Kenan. — suspiro. É muita coisa para lidar. Não sou forte o suficiente para enfrentar isso. Até duas semanas atrás eu achava que sim, mas agora... Agora não.
Consegui desviar do assunto sobre o noivado, mesmo ele ainda insistindo em saber mais, mas mesmo querendo lhe contar a verdade, preferi deixá-lo fora disso.
O lado bom é que conversamos. Ele está feliz, seus estudos estão indo bem e isso é o que importa para mim. Não ousaria estragar sua felicidade com meus problemas. Afinal, são apenas meus.
Estou descendo as escadas para sala quando ouço as vozes no escritório. Sendo o mais silenciosa possível, vou até lá. A porta está entreaberta e consigo ver Jason e Robert.
— Eu já falei que não! Isso não sai dessa sala, você está ouvindo? — Jason está gritando. Ele claramente não parece muito feliz, pelo contrário.
— Ela merece saber, Jason! Não acha que já tirou muito dela? — meu tio devolve. Robert está igualmente possesso.
Jason anda de um lado para o outro, negando com a cabeça.
— Eu sou o pai dela. Eu decido o que ela deve saber ou não! — isso confirma que estão falando sobre mim e eu fico ainda mais curiosa.
—Foi por isso... Exatamente por isso que Meredith foi embora! E quer saber? A Elle vai fazer a mesma coisa mais cedo ou mais tarde. E se ela precisar de ajuda, eu não vou medir esforços para tirá-la de perto de você.
Fico imóvel. Nunca pensei que meu tio pensasse assim. Pelo menos agora sei que se fosse fugir, poderia contar com sua ajuda.
Tudo acontece muito rápido. Em um segundo Jason e meu tio se encaram de forma mortal e então Jason tira uma arma da gaveta da sua mesa, apontando para Robert.
— Tente tirá-la de mim, Robert e eu mato você.
Os olhos dele se arregalam quando entro na frente do meu tio. Ele é três vezes o meu tamanho, mas não vou deixar a insanidade do Jason tirar meu tio de mim.
— Você perdeu a cabeça? — Jason está dizendo, a arma ainda apontada para Robert – para mim
— Não sou eu quem está segurando uma arma. O que você achou que ia fazer? Está louco? — não escondo meu horror. Quero que ele veja como me sinto em relação a ele.
Cinco segundos passam e ele abaixa a arma. Suspiro aliviada e viro-me para Robert.
— O que está acontecendo? O que eu preciso saber? E o que minha mãe tem a ver com isso? Vocês a acharam? — encaro os olhos azuis do meu tio. Todos da família Allen tem olhos azuis escuros, infelizmente fui uma terrível exceção.
— Sim... Sabemos onde sua mãe está. — ele sorri, mas o sorriso não chega aos olhos. Prendo a respiração, me preparando.
— Onde? — eu sussurro.
— Canadá. Em Toronto.
Canadá. Não é longe. Quer dizer, eu achei que ela estava em outro continente, mas está apenas em outro país.
— Ótimo, vamos para lá... Ou... Ou trazemos ela para cá... Eu...
— Elle, preciso que me ouça — ele põe as mãos em meus ombros. — Não podemos trazer sua mãe... Não no estado que ela está... Ela está morrendo.
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2bjs, môres♥
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