38°

CADA aluno da escola recebeu o vídeo de uma garota — eu — sendo surrada com milkshake. Confesso que foi a coisa mais humilhante que já aconteceu comigo, mas em comparação a todos os problemas que tenho tido, isso não foi muito.

Meu conforto foi que o diretor suspendeu todos os envolvidos e eu precisei implorar a Jason que não fosse na escola. Ao que parece, ele ainda se importa o suficiente com sua filha para querer que Bonnie arque com as consequências.

Passei os últimos dias da semana como um (palavras de Beverly) “um cadáver ambulante”. Contei a ela que disse a mesma coisa a Bonnie semanas atrás.

Damon e eu não nos falamos mais, mas ele não parece melhor que eu. Fisicamente ele parece bem, apesar do gesso no braço e das costelas fraturadas, mas uma coisa nele que me dói cada vez que eu o vejo. Seus olhos não têm mais aquele brilho e todos os seus sorrisos presunçosos se foram.

Eu estou fazendo isso com ele. Tenho dito a mim mesma que ele vai para Inglaterra de novo e tudo ficará bem, mas é só mais uma mentira que conto para mim mesma.

— Você já não leu esse livro semana passada? — Beverly pergunta ao se jogar na minha cama com um balde de pipoca. Ajeito meus óculos e fecho o livro.

— Sim. — dou de ombros. Já perdi a conta de quantas vezes eu li “Alice no país das maravilhas”.

“Não pode viver a vida para agradar os outros. A escolha tem que ser sua” — Beverly lê uma das anotações que fiz na agenda que sempre carrego quando estou lendo, para escrever o que achar interessante.

— Diga isso para o meu pai, ele ainda não entendeu. — suspirando, pego um punhado de pipoca e dou play no filme.

Passamos a noite assistindo filmes de romance, o que não ajuda em nada na minha situação. Tudo o que consigo pensar é no que ele deve estar fazendo. Se ele está com alguém... Pensar nessa possibilidade me dá enjôo.

Beverly não acorda quando eu cato as embalagens de salgadinhos espalhados pela cama ou quando ajeito seu corpo adormecido na cama.

Levo tudo para cozinha e quando estou voltando, percebo Jason sentado na poltrona de sempre, olhando para lareira e bebendo whisky.

Eu hesito em ir até ele, mas preciso fazer uma pergunta. Uma que faço todos os dias.

— Algo sobre minha mãe? — não perco meu tempo cumprimentando-o. Ele suspira e toma mais um gole do whisky.

— Não. Onde quer que aquela mulher tenha se metido, se escondeu muito bem. — o desprezo na sua voz me faz querer jogá-lo na lareira.

— Aquela mulher é minha mãe e um dia foi sua esposa, até ela não aguentar mais, então não a culpe por fugir de você. — lhe dou as costas e subo para o meu quarto.

Passei a odiar eventos. Não suporto a ideia de sorrir para essas pessoas, bancando a garota mais feliz do mundo por ser a namorada/noiva do Oscar.

Hoje estou usando um vestido verde longo, de seda, com um corte bastante ousado na coxa. Eu mesma escolhi dessa vez e quase revirei os olhos para a aprovação de Oscar.

Meu cabelo está preso em um coque despojado com grampos dourados. Brincos de estrelas para combinar com meu colar. Beverly aconselhou que eu usasse um batom vermelho para combinar com o vestido. Não ousei discordar quando ela é uma especialista em batom.

— O que estamos comemorando mesmo? — pergunto, tentando parecer interessada enquanto bebo minha terceira taça de champanhe.

Jason apenas me disse que teria uma festa na casa dos Westlake. Estou começando a odiar essa casa.

— Hoje faz vinte anos que meu pai assumiu o Casino. — Oscar parece orgulhoso e eu poderia admirar isso se não o conhecesse. Ele está chique como sempre, com um terno azul escuro feito sob medida. Seu cabelo está penteado para trás e por um momento, ele parece com Brad. Na verdade, eles têm muita coisa em comum...

Olho em volta. Tem muitas pessoas aqui. Pessoas da alta classe de Las Vegas. Milionários, políticos... Como eu disse: pessoas de Las Vegas.

— Preciso cumprimentar algumas pessoas. Você vem? — tento não parecer muito surpresa. Oscar nunca me pergunta se quero acompanhá-lo, ele apenas me arrasta, dizendo que é minha obrigação.

— Não... Vou andar por aí. — espero não parecer muito ansiosa por finalmente ficar sozinha.

— Ótimo. — Oscar termina o champanhe e sai.

Suspiro aliviada. Preciso beber algo mais forte para aguentar essa noite. Vou até o bar no canto do salão e peço whisky. Já estou acostumada a ser menor de idade e mesmo assim conseguir bebida.

Tomo duas doses e peço um gin. Não sou de beber, como já disse, mas certas situações não dá para aguentar sóbria.

Sinto o calor do seu corpo atrás de mim antes mesmo de ele abrir a boca.

— Está tentando ficar bêbada? — Damon diz. Viro-me para ele, enquanto beberico o meu gin.

— Está me vigiando? — arqueio a sobrancelha. Ele está lindo. O desgraçado consegue ficar lindo mesmo com um gesso no braço. O cabelo está como sempre, como se ele apenas tivesse passado a mão para arrumar. Está usando um terno, mas sem gravata, como o irmão. Mas nele... Nele fica sexy.

Desgraçado e lindo.

— Não, mas...

— Já tem gente demais tentando me controlar. Não seja mais um. — reviro os olhos.

— Você sabe que eu nunca faria isso. Só estou preocupado com você. Sabe, você não é a única que se importa. — Damon dá de ombros e sorri, mas o sorriso não chega aos olhos.

Tomo o resto do gin e peço para o barman preparar outro.

— Achei que você me odiasse. — brinco com o anel no meu dedo, lembrando do que dei a ele.

— Por que? Porque você me rejeitou? — ele dá de ombros de novo. Uma dor que eu estava tentando esquecer começa a se abrir em meu peito.

— Não rejeitei você. — minha voz sai baixa. Suas palavras ressoam na minha mente. “Apenas ter você é importante para mim”.

— Você saiu correndo depois que praticamente me declarei. Desculpe se para mim isso parece uma rejeição. — palavras duras e verdadeiras. Eu o magoei tanto que dói em mim olhar para ele e ver a dor em seus olhos.

— Eu... — não sei o que dizer, então apenas lhe dou as costas. Consigo dar três passos antes de seu braço se fechar em minha cintura e ele, delicadamente, me puxar para si.

— Mas eu não a odeio. — seu hálito acaricia minha pele e fico arrepiada. Arqueio o pescoço para ele.

— Não? — pergunto com calma. É muito perigoso estarmos tão próximos assim, na frente de tantas pessoas...

— Não, mas devia. Você é, tecnicamente, a noiva do meu irmão. — apesar de senti-lo sorrir, sei que não acha engraçado.

— Eu sinto muito. — inclino meu corpo para trás, apoiando-me nele, mesmo sabendo que não devo. Mas... Estar tão próximo dele é tão bom... Dolorosamente bom.

Ele me aperta um pouco e prendo a respiração.

— Dance comigo. — Damon sussurra, seus lábios roçando minha pele.

— Não podemos. — respiro. Ele roça o nariz em meu pescoço e fecho os olhos.

— Se você quer, nós podemos. — os lábios dele são quentes e provocantes... Eu devia afastá-lo. Devo afastá-lo, mas ao invés disso, viro-me para ele.

— Uma coisa por outra então? — inclino a cabeça para frente e pisco os cílios. Damon sorri. Ele sorri para mim.

— Certo, você dança comigo e o que vai querer em troca?

— Vou pensar em algo.

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2bjs, môres♥

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