22°
BOLHA.
Eu vivo em uma bolha.
Toda minha vida.
O culpado? Sim, tem um culpado. Jason Macallister. Meu pai. O homem que quis me privar de viver. Que me cerca com sua proteção exagerada.
E ele está me sufocando.
Mas sou covarde demais para dizer isso a ele.
Uma parte de mim que ainda tem medo de enfrentar o mundo, acredita que isso é para minha proteção. Ele só quer me proteger. Ele faz isso para o meu bem.
Eu tento me lembrar disso quando ele diz não para mim.
— Pai, por favor...
— Não! Você não sair sem o segurança, Elleonor. Não importa para onde ou com quem. Se você quiser sair, vá, mas ele também irá.
E é isso. Ele sai batendo os pés, irritado. Fico encarando o pedaço de bolo intocado no meu prato.
Por que eu esperaria que ele deixasse? Por que achei que ele fosse entender que quero ir ao shopping com minha amiga sem precisar ter um homem mal encarado andando a passos de mim?
Empurro toda a comida para o lado e tudo se espalha pela mesa e pelo chão.
Tenho a leve impressão de ter algo gelado pingando na minha saia, mas não ligo.
Estou com a cabeça entre as mãos, respirando e expirando descontroladamente.
— Senhorita Elle? — ouço a voz de Corvo — meu tio — ao meu lado. Pelo canto do olho vejo ele levantar a mão como se fosse tocar em mim, mas muda de ideia. — A senhorita está bem?
— Como ela é? — ou era. Não sei, ela pode estar morta... Não gosto muito de pensar nisso.
Vejo a expressão de confusão em seus olhos azuis... Azuis como os dela.
— Meredith. Como ela é? — meu peito dói ao falar o nome dela. Nunca falo o nome dela. Não tenho a oportunidade de falar sobre ela com ninguém.
— Ah, sim... Claro — o homem ao meu lado parece nervoso. Não entendo o por quê — Mere era como você. Eu vejo ela em você... A teimosia, a determinação.... Até o jeito como fala... — ele ri consigo mesmo. — Sua mãe também era boa em esconder emoções.
Ignoro a última parte e foco na palavra repetida duas vezes.
— Era? O que quer dizer com isso? — me endireito na cadeira e sinto o medo que rejeitei a acreditar durante todo esse tempo-
— Bom... — ele coça a parte de trás da cabeça e suspira. — Não tenho notícias dela há um tempo, sabe?
— Quanto tempo? — é claro que já pensei sobre ela estar morta. Sim, mas... Não. Se ela estivesse... eu saberia... Eu...
— A última vez que nos vimos foi há quase três anos. Ela estava em Malibu...
— O quê?! — eu digo, surpresa. Ela esteve aqui... Malibu é aqui do lado praticamente... Ela estava tão perto...
— Eu não sei o que ela veio fazer aqui... Eu apenas... — ele engole em seco algumas vezes e presumo que parte do que está falando é mentira.
— É o meu pai, não é? Ele o proibiu de contar — é claro. Mas se ele proibiu.... — Como ele soube que ela estava em Malibu?
— Eu não sei... Eu... Você precisa ir para escola, Elle. Digo... Senhorita...
Ignoro a sua confusão e volto a encarar o nada.
Minha mãe esteve aqui... Ela esteve há 500,0 km daqui, se eu estiver certa. Ela esteve a cinco horas de distância... Preciso saber o por quê.
Quando foi embora disse que não voltaria para o lugar que a fez sofrer tanto. Mesmo Malibu sendo na Califórnia, em outro estado, que é colado a Nevada.
— Vou com meu carro hoje — murmuro para Corvo. Então percebo que não sei seu nome. Ele é meu tio, mas nunca tivemos muito contato. Minha mãe não o queria perto por causa do seu envolvimento com o crime. Por isso sempre lhe conheci como Corvo. — Qual é mesmo seu nome?
E ele fica surpreso. Posso jurar que a luz brilhou em seus olhos azuis escuros.
— Robert. Meu nome é Robert.
Eu quase nunca chego atrasada.
Odeio chegar atrasada nos lugares, na escola principalmente, então quando chego, digo uma série de palavrões que não estou acostumada a pronunciar, mas estou um pouco irritada por estar atrasada.
— Senhorita Macallister, gostaria de se juntar a nós? — a professora de inglês pergunta sem nem mesmo olhar para mim.
Estou parada no arco da porta e estava prestes a lhe pedir desculpas pelo atraso, mas parece que ela é vidente.
— Claro... Desculpe. — obrigo minhas pernas a se movimentarem e logo estou sentada ao lado de Beverly.
— O que aconteceu? — minha amiga cochicha. Seu cabelo cacheado está volumoso hoje e ela está usando um batom roxo. Às vezes me pego admirando sua beleza.
— Nada. — sussurro de volta. Ela me olha mais um pouco, parecendo desconfiada. Sorrio para ela e isso parece ser o suficiente.
Não consigo evitar olhar por cima do ombro para o garoto sentado no fundo.
Damon não está olhando para mim, mas sei que ele sente meu olhar, e mesmo assim não me olha.
Estranho.
— Eu odeio o Grêmio! — Beverly está falando. Estamos sentadas na grama, na hora do intervalo. — Faltam três meses para as aulas acabarem e já estão organizando as coisas para o baile!
— Tenho certeza que você dará conta. — lhe dou um sorriso de incentivo, mas ela ainda não parece muito feliz.
— Ei, o que você acha de me ajudar? Você é ótima com decoração. — Beverly pisca os cílios longos, o sol refletindo em seus olhos castanhos esverdeados.
— Tudo bem. Mas não poderá dizer que lhe ajudei. Bonnie com certeza estragaria tudo.
Bonnie sempre tentou sabotar minhas ideias no Grêmio, quando eu fazia parte. Era uns dos seus truques sobre como me irritar.
Beverly concorda, animada e volta a desenhar.
No silêncio que se instala entre nós duas, minha mente divaga até a madrugada. Até ele.
Às vezes, eu acho que não o entendo. Ontem principalmente. Estava tudo bem, mas ele ficou distante quando chegamos na sorveteria.
Não sei se foi algo que eu fiz e não quis perguntar, então ele me levou para casa. Antes de eu sair do carro, Damon me deu um desenho. Um desenho feito por ele. Ele me desenhou.
Ninguém nunca me desenhou; marcou cada traço do meu rosto ou o brilho que eu não sabia que tinha em meus olhos.
Fiquei olhando aquele desenho a madrugada toda depois de ir para casa. Ele captou minha essência e pôs naquela folha.
Nunca vou cansar de olhar para aquela folha e me ver através de seus olhos.
Beverly estava certa quando disse que ele vê além de mim.
— Eu já volto. — digo para minha amiga. Ela murmura alguma coisa que não entendo e eu a deixo.
Retiro minhas luvas enquanto caminho de volta para sala de aula. Queria poder tirar os saltos também. Ontem percebi o quanto amo botas. São confortáveis.
Não que eu não me sinta confortável de salto. Eu sinto, conforta a minha autoestima, mas às vezes, me dão calos e deixam meus pés muito doloridos.
Quando chego na sala, sorrio comigo mesma por adivinhar que ia encontrá-lo aqui.
— Ei. — me aproximo de Damon, sentado em sua mesa. Ele não sorri para mim.
— O que foi? — sua voz é tão fria que me sinto uma idiota sorrindo para ele. Escondo minhas mãos atrás das costas.
— Nada... Só quis te dar um oi. — dou de ombros e mordo o lábio.
— Claro... Você só fala comigo quando seus amigos não estão por perto, não é mesmo? — veneno. Puro veneno em sua voz e isso não é do seu feitio.
Encaro seus olhos em busca de alguma coisa que indique que ele está apenas brincando comigo, como sempre, mas seu olhar é inteligível.
Seu rosto geralmente alegre e arrogante, hoje está frio e até mesmo obscuro. Não há sorrisos.
— Por que está assim? — sento na cadeira ao seu lado. Ele é o único da turma que não tem uma dupla, apesar da mesa vazia permanecer aqui.
— Estou estressado. — Damon murmura. Encaro sua mão sobre a mesa. Está machucada. Não muito, mas ele com certeza socou alguma coisa.
— Por quê? Tem algo que eu possa...
— Por que você se importa? — estressado. Muito estressado. Consigo ver isso em seus olhos quando ele olha para mim.
— Nós somos amigos. — dou um sorriso fraco, mas não funciona como funcionou com Beverly mais cedo. Pelo contrário, ele está rindo agora.
— Sou seu amigo agora? Decidiu isso antes ou depois que lhe mostrei um pouco de diversão?
— Pare — ergo a mão para ele entender que deve ficar calado — Eu não sei o que está te deixando assim, mas não desconte em mim — faço uma pausa. — E eu te considero meu amigo desde o dia em que você me defendeu de Brad.
Ele não diz nada e nem eu falo mais.
Nunca vi esse lado de Damon. Ele nunca foi um completo babaca antes e não sei o que aconteceu para ele agir assim.
Estava tudo bem ontem, quer dizer... Ele já estava estranho antes mesmo de me deixar em casa. Então tem que ter sido algo que eu fiz, certo?
Estou prestes a levantar quando lembro de uma coisa e quando abro a boca para falar, Beverly entra na sala e vem até nós.
— Espero não estar atrapalhando o casal. — não entendo porque ela pisca para mim.
— Não... somos um casal. — franzo as sobrancelhas. Não deixo ela falar de novo e vou ao ponto. — Vocês já foram à Malibu?
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2bjs, môres♥
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