19°

PAPAI e eu jantamos em silêncio.

Ele parece irritado com alguma coisa, mas eu não perguntei. Quando está assim, é melhor ficar fora do seu caminho.

Ainda estou de castigo e não vou arriscar a pedir a ele que me deixe sair. Então depois que termino de jantar, aviso que irei dormir cedo porque tenho uma prova amanhã e quero estar descansada.

Eu poderia dizer que não estava me sentindo bem, mas ele provavelmente iria no meu quarto depois e se não me encontrasse...

Faço uma trança lateral no meu cabelo quando chego ao quarto. Escolhi vestir uma calça jeans, o que é incomum para mim. Escolhi uma camisa branca, que coloco por dentro da calça e a minha mais nova jaqueta. Finalmente vou poder usá-la.

Depois de calçar as botas pretas (Damon disse que era melhor não usar salto) checo minha caixa de mensagens.

Resolvi dar meu número ao Damon e ele me mandou uma mensagem.

Estou no lugar marcado. Onde você está?


Como meu pai não pode saber que mantemos contato e estou de castigo, mandei  ele me esperar à um quarteirão da minha casa.

Respondo:


Estou chegando. Descanse sua bunda e pare de me mandar mensagem.

Sim, eu gosto mesmo de provocá-lo.

Vou para o meu closet que é grande o suficiente para ter uma passagem secreta.

Eu mantenho um espelho móvel no chão e atrás dele está a passagem. Puxo o tapete vermelho que a cobre, revelando uma porta no chão. Puxo o trinco e abro a porta, revelando a escada que desce para o escuro. Um vento gélido percorre meus ossos.

Beijo a estrelinha da minha corrente e com a lanterna na mão, eu dou o primeiro passo para baixo. Quando estou apenas com a cabeça para fora, estico os braços e puxo o tapete junto com a porta, assim ninguém verá se entrar aqui, mesmo eu tendo trancado a porta.

O barulho é mínimo quando fecho a porta. Com isso, começo minha caminhada.

A passagem é estreita e agradeço por não ter claustrofobia. Preciso manter a cabeça baixa para as teias de aranha não pegarem em meu cabelo.

Às vezes me pergunto se tem outras passagens pela casa ou se meu pai sabe da existência dessa. Essa casa foi passada de geração a geração, assim como o Casino, então talvez tenha. Meu bisavô e os pais dele e os pais dos pais dele eram muito piores do que meu pai em relação a segurança. Naquela época, as coisas eram mais sérias e mais perigosas, incluindo a máfia. Então não duvido que tenha passagens secretas pela casa além desta.

Quando finalmente chego a outra escada, respiro aliviada. Ou tento, o ar mal chega aqui.

Abro a porta com um pouco de dificuldade. Estava emperrada, mas consigo. As duas portas se abrem e revelam a noite.

Saio e me atrapalho com o mato em volta. O motivo de não verem a passagem é porque um muro de raízes cresceu em volta.

Depois de conseguir sair, ajeito as raízes para que não fique um buraco no meio e a prova da minha fuga.


Olho por cima do ombro antes de me aproximar do carro de Damon. Ninguém me seguiu. Perfeito.

— Oi — finalmente respiro aliviada ao sentar no banco acolchoado. Olho para Damon que está me olhando com uma cara estranha. — O quê?

— Tem folha no seu cabelo. — ele se inclina e prendo a respiração quando ele tira uma folha e me entrega.

— Obrigada — sorrio sem mostrar os dentes e olho para o teto — Pode abaixar? Está calor aqui. — falo já me abanando. Ele baixa o teto solar e lhe dou outro sorriso de agradecimento.

Faz muito tempo que eu saio a noite. Meu pai não gosta muito que eu saia nesse horário. Sempre que eu tinha uma festa para ir, precisava avisar com antecedência e dar o detalhe do lugar e quem estaria lá, fora que os seguranças me aguardavam do lado de fora.

— Para onde está me levando? — pergunto finalmente.

Tamboliro os dedos no painel enquanto olho a estrada escura. Devemos estar quase saindo de Las Vegas.

— Você pediu diversão. Apenas espere. — olho para ele e vejo seu sorriso convencido.

— Tão misterioso. — murmuro. Damon ri com escárnio.

Ele dirigiu por alguns quilômetros até virar uma curva que eu não sabia que existia ali. A estrada é de barro e fico me perguntando o que estamos fazendo aqui.

Damon para em frente a um portão enorme de aço e sai do carro, mas pede para eu ficar. Eu o observo bater no portão e um tempo depois é aberto apenas para um homem barbudo sair. Ele e Damon se abraçam e ele aponta para o carro ou para mim, não sei dizer. Eles conversam mais alguma coisa e Damon volta.

— Então...? — pergunto ansiosa. Por algum motivo, estou sentindo que esse lugar não é coisa boa.

— Vamos entrar. — é só o que ele diz antes de ligar o carro. O homem abriu o portão para nos deixar passar.

O lugar é um galpão vazio onde no fundo há outro enorme portão que também está aberto. É como se aqui fosse a ligação entre o lado de fora e o que tem depois, mas não tem como você chegar a ambos os lados sem passar por aqui.

Voltamos para a estrada de barro só que mais estreita. De longe vejo luzes e ouço barulhos de pessoas, carros e música.

Quando finalmente nos aproximamos, passamos por barracas e pessoas fumando ou bebendo e conversando perto de algumas motos. Tem motoqueiros aqui.

Damon para perto de outros carros e sai. Faço o mesmo.

Quando ajusto a visão, percebo uma espécie de pista à nossa frente. É mal iluminada, mas extensa. Ao mesmo tempo parece um tipo de arena e as marcas no barro sugerem que muitos carros andaram por ali.

— O que é esse lugar? — viro para Damon. Ele está com uma jaqueta igual a minha, mas o seu desenho é uma cobra preta que consegue ser mais escura que o próprio couro da jaqueta. Víbora.

— Corrida ilegal de carros.

Meu queixo cai. Corrida ilegal?

— O que estamos fazendo aqui?! — acho que vou ter um ataque cardíaco.

— Não é óbvio? — seu sorriso nunca pareceu tão irritante! — Vamos correr... Você vai, na verdade.

— Eu? — aponto para o meu peito. — O.k, você definitivamente é louco, Damon! Isso é ilegal! — que se dane se ele me acha careta. Isso aqui é errado.

— Ah, pare de drama! Você queria diversão, certo? — ele é louco. Como pode?

Ando em círculos e olho para o céu estrelado. Eu sabia que ia me meter em merda.

— Relaxe um pouco, Elle. Você está pensando demais. Veja isso como uma aventura nova. — Damon senta no capô e me observa.

Eu não devia ter dado ouvidos a Beverly. Ela colocou esse negócio de viver e aproveitar na minha cabeça. Eu poderia estar em casa agora, dormindo. Mas estou aqui... em uma corrida ilegal.

— Elleonor. — viro para ele com raiva. Aponto o dedo para ele.

— Não diga o meu nome — respiro fundo e conto até dez. Preciso me acalmar. Ficar calma... — Você tem noção que podemos ser presos se a polícia aparecer aqui? O que vou dizer ao meu pai? Deus, ele vai matar você e eu. Depois Sam vai matá-lo e depois seu pai vai para cadeia onde vai morrer.

Minha respiração está acelerada e realmente acho que estou passando mal.

— Bom, pelo visto Oscar vai ser o único vivo para contar a história. — como ele consegue brincar com isso?

Fecho os olhos e respiro fundo. Várias vezes. Abro e fecho minhas mãos enquanto isso.

Nós vamos embora e vamos fingir que eu nunca estive aqui. Vou matar Damon quando eu estiver segura e esconder seu corpo na passagem secreta. Como ninguém sabe da existência, ninguém vai saber que ele estará lá. Depois vou manter a passagem desativada.

— Elle? — sua voz me alerta que ainda não posso matá-lo.

— Estou planejando seu assassinato. Estou na parte que corto sua garganta com o canivete que você mesmo me deu, então depois eu te escondo em um lugar que só sua alma solitária saberá onde é.

— Pensar em mim morto acalma você. É estranho, mas funciona. Isso torna você uma psicopata? — abro os olhos e lhe encontro sorrindo.

— Não é pensando em você morto. É pensando em mim mesma matando você — dou alguns passos e estamos cara a cara — Então tome cuidado ao me tirar do sério, Damon Westlake.

— Ah, baby, tá aí uma coisa que não posso fazer. Irritar você é muito divertido. — canalha arrogante.

— Damon... — começo, mas ele põe o dedo em meus lábios.

— Me ouça primeiro — ele pede. Arqueio a sobrancelha. — Olhe ao redor. Ninguém está preocupado porque sabem que esse lugar é seguro. Eu sei que é ilegal e tudo mais, mas vamos fazer isso só hoje, está bem? Já estamos aqui mesmo. E eu... Digamos que já inscrevi você e apostei uma grana.

— Você o quê?! — seguro seu pulso e lhe encaro espantada. Damon dá de ombros. — Quanto?

— Três mil. — além de canalha, é burro. Quem aposta três mil em uma corrida de carros? E em mim, ainda?

Me encosto ao lado dele no carro e encaro a pista.

— Você é um idiota — afirmo. Ele dá risada. — Damon, eu não posso fazer isso. Sinto muito.

— Você pode, Elle. É só uma corrida. — se ele está tentando me incentivar, não tá dando certo.

— Sabe por que chamam de “corrida ilegal”? Porque os idiotas que participam gostam de arriscar a vida. Eu não sou uma idiota.

— Essa é sua filosofia?

— Você não leva nada a sério?

Fico em pé na sua frente de novo. Damon me lança aquele olhar indecifrável de novo e eu me pergunto se ele está debochando de mim querendo dizer que essa é a cara séria dele.

— Você quer ir embora? Nós vamos. Eu não ligo para o dinheiro. Eu a trouxe aqui porque você disse que queria algo novo.

— Eu não estava falando de uma corrida ilegal!

— O que você queria, Elle? Que eu a levasse a uma festa com pessoas chatas e egocêntricas? Que fôssemos a uma festa e eu te exibisse como algum tipo de troféu? Eu não sou Brad.

E são essas últimas palavras que me fazem enxergar a mágoa em seus olhos verdes brilhantes. Algo em mim se quebra.

— Você pediu que eu tirasse você da sua bolha. Eu fiz. Resta a você fazer o resto. — Damon levanta e entra no carro, ligando os faróis e esperando para que eu entre.

Ele veio aqui por mim. Mesmo sendo ilegal ou não, ele me trouxe aqui. Damon me ouviu quando ninguém mais fez, nem mesmo Kenan me levando a festas às escondidas.

Aventura e diversão é tudo que tenho tido com Damon e aqui não é diferente. Eu não sei como ele conhece esse lugar, mas ele se arriscou me trazendo aqui. Não vou fazê-lo se arrepender. E além do mais, eu tive medo pelo meu pai e o que ele pode fazer se descobrir, mas a ideia é excitante.

Caminho até a porta do motorista e encaro Damon.

— Você não é Brad e eu não quero que seja — digo a ele. Damon continua me encarando com seu olhar indecifrável. — Vamos. Preciso recuperar três mil dólares para um idiota.


Votem
Comentem
Compartilhem
E me sigam aqui e no Instagram
Meu perfil: stella.marques.autora
2bjs, môres♥

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top