16°
AS pessoas não param de chegar.
Kenan é tão popular quanto eu, mais, eu diria. Todos os seus amigos parecem ter recebido o convite. Mas o principal da festa não está aqui.
O globo enorme pendurado no teto me dá náuseas se eu ficar olhando por muito tempo. Mas não consigo evitar o medo daquilo cair. Eles colocaram apenas para hoje.
O salão está mal iluminado, propositalmente, claro. Mas se você ainda está sóbrio, consegue distinguir as pessoas.
Perto do frigobar, vejo Beverly fazer uma mistura de bebida. Espero que ela não arrume problemas. Não quero ser babá de ninguém hoje.
O garçom me entrega um coquetel e lhe encaminho para um grupo que acabou de chegar.
— Droga, Kenan. Cadê você? — murmuro para mim mesma, esperando ele aparecer do nada. Mastigo a cereja do coquetel e bebo o líquido em seguida.
Se ele não aparecer, vou matá-lo. Não só por me deixar plantada aqui, mas por ter me deixado passar uma semana organizando essa festa para ele simplesmente não aparecer!
Passo a mão pelo meu vestido para me distrair. Ele é preto e de camurça, costas nua, com mangas longas e justas. Meu salto é da mesma cor. Meu cabelo está naturalmente ondulado, com dois grampos gêmeos e elegantes em ambos os lados.
Ergo os olhos quando ouço as pessoas uivarem.
Kenan está entrando no salão. Meu melhor amigo está lindo, com um terno branco, realçando sua pele negra. Os cachos estão volumosos e balançam de um lado para o outro.
Depois que Kenan cumprimenta quase todo mundo, ele vem até mim e me abraça, girando meu corpo no ar.
— Desculpe o atraso. Ficar bonito dá um pouco de trabalho, você sabe. — ele murmura em meu ouvido. Me afasto e dou um beliscão em seu braço.
— Nunca mais me deixe esperando. — apesar da raiva por seu atraso, estou aliviada por ele ter vindo.
— Essa vai ser uma despedida e tanta. — ele ergue as sobrancelhas e olha em volta. Dou de ombros.
— Você merece. Todos nós sentiremos sua falta. — um nó se forma em minha garganta, mas me obrigo a sorrir.
— Mas não são todos que poderão me fazer uma visita. — seu olhar é pura expectativa. Não sei se vou poder visitá-lo, mas anuo.
— Vamos dançar.
Os garçons já não estão mais circulando pelo salão. Dispensei todos. Os únicos seguranças estão na porta do lado de fora. São apenas nós, jovens loucos por um momento de diversão e bebida de graça.
A bebida eu dispenso. Não costumo ficar bêbada em festas e quero me lembrar do dia de hoje, de qualquer modo.
Kenan está dançando com Beverly. Eles estão se dando muito bem e é de partir o coração saber que eles não terão tempo para se conhecer melhor.
Isso me lembra do Brad. Não a parte de se conhecer melhor. Não, se Brad me conhecesse melhor, perceberia que sou diferente do que ele costuma ver. Kenan e Beverly lembraram-me que briguei com Brad e ele surpreendentemente não se desculpou. Não sei se quero suas desculpas, no entanto.
Estou dançando sozinha quando sinto uma mão em minha cintura e depois os lábios roçando em minha orelha quando a pessoa sussurra:
— Oi, baby.
Paro de respirar por alguns segundos. Ele sempre vai me pegar de surpresa, constatei isso ao virar para ele.
Damon sorri para mim, a mão ainda em minha cintura. Ele está todo de preto, o que não é surpresa para mim. Em seus dedos há anéis de prata.
— Como entrou aqui? — olho para porta para ver se os seguranças já não estão vindo arrastá-lo, mas ninguém aparece.
— Pela porta da frente — responde simplesmente. Arqueio a sobrancelha. — Beverly me ajudou. Passei como namorado dela. Seu pai não colocou cartazes por aí e uma recompensa pela minha cabeça.
— Ah — apesar da provocação, não sorrio. Ele e Beverly... — E por que não está com ela? — não sei por que me importo com isso. E daí se ele e ela estão...
— Eu vim por você, por que ficaria com ela? — ele franze as sobrancelhas. Dou de ombros e desvio do seu rosto bonito. — Espere um pouco... Está com ciúmes?
— O quê? Claro que não! — ciúmes... dele. Até parece que eu sentirei tal coisa.
— Não tem problema... Gosto de garotas ciumentas. — canalha. Damon aperta minha cintura enquanto dá um sorrisinho.
— Não estou com ciúmes de você! — grito na sua cara. Ele joga a cabeça para trás e gargalha. Fico furiosa.
— Não?
— Não!
— Então se eu for ali e beijar aquela garota, você não vai ficar ressentida comigo? — ele aponta com o queixo para uma garota atrás de mim. Seu cabelo cacheado bate na bunda e ela também está olhando para nós — para Damon. Dou de ombros voltando a olhar para ele.
— Faça o que quiser. Não sou sua dona e não me importa quem você beija. — finjo desinteresse. Ou melhor, mostro desinteresse, porque isso realmente não me importa.
Ele fica me encarando por um tempo. Sustento seu olhar. Para minha surpresa, Damon passa por mim, indo até a tal garota. Viro para olhar. Ele diz alguma coisa no ouvido dela que dá um risinho e faz que sim.
Não, ele não vai...
Ele a beija. Em um piscar de olhos os dois estão se agarrando a poucos passos de mim. A garota é bem ousada, percebo, quando ela aperta a bunda dele.
Preciso sair daqui. Não, preciso ficar. Ele precisa ver que isso não me abalou, porque não abalou, correto?
Minhas mãos ardem quando pressiono minhas unhas na palma. Por que estou com raiva?
Damon e a garota finalmente se afastam e ela sorri para ele.
Ponho minha máscara de desinteresse de novo quando Damon vem até mim. Os lábios manchados de rosa.
— Rosa combina com você — digo a ele. Damon ri com escárnio. Isso me doeu mais do que vê-lo beijar outra — Vou ao banheiro. — minha voz sai baixinha e não sei se ele ouve, mas lhe dou as costas mesmo.
Uma lágrima solitária rola pela minha bochecha.
Mudei de ideia sobre beber. Que se dane se eu ficar bêbada. Não foi por isso que planejei a festa?
Kenan está me girando e dançando comigo e com Beverly. Ele está com uma garrafa de champanhe, passando entre nós três.
Damon está perdido por aí ou já foi embora. Não me importo. Nada me importa agora.
— Sabe, quero te dar uma coisa antes de você ir embora. — Beverly grita para Kenan. Antes que ele responda, a mesma lhe envolve em um beijo. Meu melhor amigo me dá a garrafa de champanhe de qualquer jeito, enquanto olho para eles, boquiaberta.
Depois de perceber que estou sobrando, deixo os dois para trás na maior pegação. Bebo o resto do champanhe e coloco a garrafa com as outras vazias em um canto.
Não estou tão bêbada quanto queria. Alterada, talvez, mas não bêbada.
Vou até o buffet e pego um espetinho de frutas. Manga, melão, mamão... Uma coisa saudável para uma festa. Quando termino vou até a torre de chocolate e pego um dos morangos do pote ao lado e mergulho no chocolate.
Solto um gemido de satisfação e como mais cinco morangos com chocolate, mas não parecem ser o suficiente, então me inclino na torre, o chocolate caindo na minha língua.
— Isso não é coisa para uma dama fazer.
Afasto-me bruscamente, envergonhada por ter sido pega no flagra. Deve ter chocolate na minha boca, mas estou surpresa demais para limpar.
Damon se aproxima e meu coração reage. Prendo a respiração quando sua mão roça em meu braço quando ele pega um morgando. Eu o observo mergulhar o morango no chocolate.
Meu coração troveja no peito quando ele olha para mim, sua mão fazendo um caminho com o morango até minha boca.
Odeio-me por abrir a boca para ele. Encarando um ao outro, eu mordo o morango e talvez seja porque foi ele quem me deu na boca, mas está mais saboroso do que os outros.
Damon sorri maliciosamente e come a outra metade do morango. Ele se inclina e penso que é para pegar mais morango, mas segundos depois sua língua está em meu queixo.
Arregalo os olhos, mas não o afasto. Ele arrasta a língua até o canto da minha boca e se afasta.
— Delicioso. — sua voz nunca pareceu tão sexy. Os pelos da minha nuca se arrepiam e eu engulo em seco. Podíamos muito bem estar sozinhos.
Preciso dizer algo, mas não tenho palavras quando se trata dele.
Damon passa o dedo pelo canto da minha boca, para limpar o resto do chocolate, mas inclino a cabeça e abocanho seu dedo. Surpresa brilha em seus olhos. Minha língua brinca com seu dedo em minha boca.
Ele recua depois de um tempo.
Eu quero beijá-lo. Quero tomá-lo nessa mesa com chocolate e tudo, mas... Mas ele beijou outra. Ainda consigo ver um pouco do batom dela em seus lábios.
— Não vou beijar você. — sussurro, nossos lábios roçando de leve.
— Por quê? — sua voz é rouca, diferente de momentos antes. Respiro seu cheiro, desejando-o.
— Você beijou aquela garota. — não escondo a mágoa na minha voz. Que se dane se ele vai rir de mim por isso. Cansei de fingir, seja lá o que for.
— Você disse que não se importava. — Damon apoia ambas as mãos na mesa, prendendo-me a ele.
— E não importo. — minto. Mudei de ideia. Eu me livrei de Brad, não quero complicar as coisas com Damon.
— Mentirosa. — ele praticamente rosna, os olhos em meus lábios.
— Arrogante. — devolvo a ofensa igualmente verdadeira. Damon ri, seu hálito acariciando meu rosto.
— Você bem gosta da minha arrogância. — arrogante, convencido, cretino.
— Você gosta de se ouvir falar, não é? — reviro os olhos. Concentro na minha respiração, preciso me acalmar e mostrar para ele que sou imune ao quer que seja que ele ache que está fazendo... E que está funcionando.
— Você gosta de me ouvir falar, baby?
Quero dizer não. Quero dizer que eu o odeio e como ele é chato e irritante, mas nada sai. E eu o odeio ainda mais por me deixar sem palavras.
Damon se afasta tão rapidamente que preciso de alguns segundos para me acostumar com o frio que me percorre ao sentir falta do seu calor.
— Tudo bem... Aproveite sua noite... Essa festa já perdeu a graça para mim mesmo.
E com isso ele se vai. Deixando-me parada, sem saber o que acabou de acontecer aqui.
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