14°

É culpa dele. Decidi isso depois de pensar muito durante a noite.

Damon é o culpado por eu estar de castigo; pelos meus cartões de crédito tirados de mim e minha falta de sono também.

Vou xingá-lo bastante hoje quando nos encontrarmos na escola. Não ligo se estou desobedecendo meu pai, mas Damon vai ouvir-me hoje.

Ele não apareceu. Como se o desgraçado soubesse que eu estou irritada.

Ele também não apareceu na terça-feira ou no dia seguinte ou no dia depois desse.

Quatro dias.

Ele poderia ter mudado de escola? Ele faria isso para me evitar? E por que me evitar, sendo que ele causou tudo isso?

Argh! Mesmo nesses quatro dias em que deveria ficar feliz em não ter que lhe aturar, fiquei odiosamente preocupada. Não, curiosa. Apenas isso.

— O que foi? — pergunto a Brad quando ele se afasta bruscamente. Estamos debaixo das arquibancadas matando aula de filosofia. A professora gosta de aula ao ar livre, então nos escondemos aqui enquanto o resto da turma está na grama.

— Você está estranha. — ele me olha com os olhos semicerrados. Desvio do seu olhar.

Maldito seja aquele garoto! Até isso ele consegue atrapalhar, mesmo não estando fisicamente presente, apenas na minha mente que se recusa a esquecê-lo.

— Desculpe. — murmuro envergonhada. Brad e eu estamos bem. Ele não ficou sabendo de nada e também não contei.

— É por causa de Kenan? — Brad se aproxima de novo, beijando meu pescoço.

— Hm... Sim. Odeio despedidas. — murmuro, mas não sei se ele está me ouvindo mais.

Estou organizando a festa de Kenan que será amanhã a noite. Papai exigiu que fosse em um dos salões do Casino, usado para festas de casamento ou coisas similares. É o único lugar que ele pode me vigiar sem muito esforço, afinal, a segurança faz parte do Casino.

O horário soa, avisando sobre nossa próxima aula que graças a Deus não será no campo também.

Brad e eu somos os últimos a deixar o campo. Andamos de mãos dadas até chegar na nossa sala. Beverly já está em nossa mesa, retocando o batom, como sempre.

Meus olhos correm pela sala até pararem no garoto no fundo. Ele está de ósculos escuros então não consigo ver seus olhos. Damon também não parece muito interessado em mim.

Solto a mão de Brad com a desculpa de ir me sentar.

— O regulamento deveria proibir certos acessórios... — digo alto o suficiente para Damon ouvir, mas ele também não liga para isso.

Então está me ignorando?

Passo as próximas aulas inquieta. Queria levantar e ir tirar satisfação com aquele arrogante sentado no fundo, mas isso causaria perguntas. Me contento apenas com olhar para ele de vez em quando.

— Dá pra ficar quieta? — Beverly belisca meu braço.

— Ai! — minha voz sai mais alto do que eu queria e recebo um olhar de advertência do professor. Encaro minha amiga irritada.

— Tem alguma formiga na sua bunda? — ela sussurra. Não lhe respondo e massageio meu braço.

Achei que eu não transparecia as coisas com tanta facilidade. Acho que estava enganada.

Quando os garotos terminam de treinar e me despeço de Brad dizendo estar com dor de cabeça, vou para o vestiário masculino. É proibido a entrada de garotas, mas contei enquanto cada um saía e sei que só tem uma pessoa lá dentro.

Damon está mexendo no seu armário e não me vê chegar. Percebo que está sem camisa, mas não vejo muito antes de parar na frente da porta no momento em que ele fecha.

— Oi... — o sorriso que estava treinando para provocá-lo some quando vejo o roxo em seu olho, quase sumindo. Por isso os óculos.

Sua bochecha tem um corte cicatrizando. Desço meus olhos para seu abdômen e se não fosse as marcas rochas, eu até poderia me deliciar com seu abdômen definido.

— O quê... Quem fez isso? — sussurro olhando para os nós dos seus dedos que estão cicatrizando também.

Seu maxilar se contrai, mas ele sorri como o arrogante que é.

— Entrei em uma briga. — Damon põe a camisa e faz uma cara feia, provavelmente sentindo dor ao se esticar.

— Não me diga. Achei que você mesmo se deu um soco — reviro os olhos. Cruzo os braços para que ele não veja o tremor em minhas mãos — Quem? — tento parecer desinteressada quando meu coração bate rápido dentro do peito.

— Uns caras aí. — responde no mesmo tom de desinteresse. Pelo menos ele está bem e não estava me evitando.

— Só você mesmo para entrar em uma briga que não possa ganhar. — a tensão diminui aos poucos e tento acalmar meu coração.

— Estou vivo, não estou? E você deveria ver como deixei um deles. — não sei como ele consegue fazer piada quando está claro que as coisas não foram boas.

— Eles deviam tê-lo deixado em uma cadeira de rodas por causa da sua arrogância. — lhe dou as costas. Tudo que eu tinha para dizer a ele se esvaiu da minha mente. Talvez essa briga tenha sido o suficiente.

— Espere. Você esqueceu isto.

Viro para ele. A jaqueta está dobrada em suas mãos com minha gargantilha em cima.

Reprimo minha felicidade de saber que falou sério ao me dar a jaqueta.

— Obrigada. — engasgo com a palavra. Guardo a gargantilha no bolso na bolsa e seguro a jaqueta contra o peito.

— Também não esqueci do nosso jogo. — Damon tira um canivete do armário e estende para mim.

Uma coisa por outra, todos os dias.

Seguro o canivete com a sobrancelha arqueada. O que vou fazer com um canivete?

— Suponho que não seja para cortar você. — observo o objeto na minha mão. O cabo é de madeira e tem suas iniciais gravadas. Com um clique, a lâmina aparece. Tem menos de dez centímetros.

— A não ser que você queira. — sua voz é um ronronar que faz os pelos da minha nuca se arrepiarem.

Tiro um grampo extravagante que comprei quando fui a Paris ano passado. É do tamanho do meu dedo indicador, coberto por pedrinhas de esmeralda formando uma flor.

Entrego a ele.

— Combina com seus olhos... — por algum motivo fico vermelha. Ele a avalia a joia.

— O que você me dá é mais valioso. Não é justo. — ele tenta me entregar de volta. Faço que não com a cabeça.

— A jaqueta e o canivete também tem valor para você. Sentimental ou não — guardo o canivete no bolso do blazer. Meu cabelo caindo na frente do meu rosto. — E agora você não precisa comparar presentes para suas namoradas...

— Sabe que não darei nada a ninguém. — ele me interrompe. Dou de ombros.

— Preciso ir... Ponha mais gelo nesse olho. Está horrível. — com isso, lhe dou as costas.

— Encantadora como sempre…

De frente para o espelho, observo como a jaqueta fica bem em mim. Ainda tem o cheiro dele e me amaldiçoou por sorrir com isso.

É ruim saber que não vou usá-la e exibi-la por aí, mas vou usar como um segredo meu... E de Damon, claro. Lembro do brilho em seus olhos ao me ver usando a jaqueta.

Durmo com isso e com o couro da jaqueta me esquentando. Seu perfume me acompanhou nos meus sonhos.

Beverly voltou para casa ontem e não achei que fosse sentir falta dela até agora, mas espero que ela se resolva com a família.


Acordo suando e percebo que é por causa da jaqueta. Eu a retiro e deixo do meu lado.

Volto a dormir depois

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2bjs, môres

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