A batalha havia terminado, Olhos Escarlates, ou melhor, Jin estava sem conseguir se mexer, seus braços estavam quebrados, e suas pernas presas no asfalto impedindo que corresse dali, mas o que realmente o impedia de se mover era os danos causados em sua cabeça. Após a retirada da máquina que inibia os poderes de Somin de adentrarem em sua mente, Jin estava em um estado bem diferente do habitual. A máquina havia causado alguns danos em seu cérebro impedindo que o corpo de Jin recebesse sinais do cérebro para se mexer.

Jiwoo observou bem o corpo de Jin a sua frente, e logo depois para a máquina que estava mais ao lado de Somin, o dispositivo exibia um sinal vermelho que logo parou de piscar, onde todos puderam ter certeza que enfim a máquina havia se desligado por completo. Em seguida Dami e Gahyeon que estavam no alto do prédio e que haviam descido para ajudar o quarteto a se levantar se aproximou com cuidado.

Gahyeon logo tratou de cuidar dos ferimentos de BM, Dami ajudou Somin a se levantar e JSeph se aproximou ficando ao lado de Jiwoo. O grupo estava um pouco tenso, afinal ainda havia uma última coisa a se fazer. Porém todos ali presentes sabiam que do jeito que estava Jin não iria contar muita coisa, e seria sorte se ele conseguisse falar depois de ter recebido tantos danos.

Após alguns minutos, todos ouviram um helicóptero se aproximando da região e pousando no meio da rua a alguns metros de onde o grupo estava, e de dentro da aeronave Kim surgiu carregando seu notebook, a garota corria com pressa até o grupo, enquanto isso, o helicóptero voltou a sobrevoar a região.

- Estão todos bem? – questionou Kim.

- É... Comparado a ele estamos sim. – dizia Jiwoo enquanto Kim observava uma das luvas nas mãos de Jin.

- Parece que esse painel é por onde ele controla tudo... Ele ainda tem sinais de vida, mas deve estar em algum tipo de estado catatônico ou sei lá. – afirmou Kim.

- Consegue entrar no sistema dessa coisa Kim? – perguntou Dami.

- Posso tentar... Se eu conseguir hackear as luvas e entrar nos seus arquivos ocultos, eu posso tentar descobrir como desativar todas as outras máquinas que ainda estão funcionando. – respondia Kim.

- Enquanto isso... Eu também vou agir. – dizia Somin um pouco tonta.

- O que você vai fazer nesse estado? – questionou BM preocupado.

- Algo que eu queria fazer já há algum tempo. – respondeu Somin fechando seus olhos e levando sua mão direita a lateral de sua cabeça.

De repente, tudo ficou escuro, Somin estava dentro da mente de Jin. O lugar estava envolvido em uma escuridão um tanto tensa, alguns raios de luz passavam pelo ar como se fossem estrelas cadentes, e iluminavam uma pouca parte do local pelos poucos segundos em que se mantinham visíveis. Somin não estava 100%, havia usado muita força em seu movimento anterior durante a batalha e a mulher sabia que não poderia ficar muito tempo naquele lugar.

Somin após fazer uma varredura por segurança em busca de armadilhas mentais, procedimento que sempre fazia ao entrar na mente de alguém, Somin usou suas habilidades para criar as portas que acessavam as memórias de Jin. Somin entrou na primeira vendo o período em que tal homem trabalhava no exercito nos laboratórios de pesquisa, logo depois Somin passou as vasculhar suas outras memórias vislumbrando momentos felizes com sua família, momentos tensos no trabalho e a dor da perda do dia em que Jin perdeu tudo o que mais amava, o momento onde decidiu buscar sua vingança contra os heróis.

Porém enquanto vasculhava as memorias de Jin, Somin notou que havia uma porta diferente das outras já mostradas, Somin achou estranho e seguiu até a porta que era feita de mármore escarlate e a abriu. Ao passar pela porta, Somin viu que a figura que representava a consciência de Jin estava diante de seus olhos, a sua volta havia inúmeros quadros de sua família, o homem estava apenas parado os observando com muita atenção. Somin se aproximou com cuidado ficando um pouco atrás de Jin que lentamente se virou para encarar Somin.

- Está satisfeita agora? Conseguiu ver tudo o que queria? – questionou Jin.

- Eu sinto muito pelo que aconteceu com sua família... Mas será que... Não havia outro jeito? Por que se dedicar a uma vingança idiota como essa? – respondeu Somin com outra pergunta.

- Não... Não havia outro jeito... Nada do que eles fizessem mudaria algo... Me dariam dinheiro para compensar os danos... Reconstruiriam o bairro e minha casa... Mas aquilo que eu mais queria não voltaria mais... Que outro caminho eu escolheria se não a vingança? Acha que eu ficaria parado depois do que aconteceu? – respondeu Jin um pouco irritado.

- Não... Não acho que você ficaria parado, eu até te entendo... Mas veja só... Você machucou pessoas inocentes em busca dessa sua vingança... Heróis e heroínas que não tiveram nada haver com aquilo... Pessoas... Se machucaram hoje... Perderam suas casas e talvez até famílias... – respondia Somin ficando um pouco cabisbaixa.

- E acha que eu me importo? Afinal... Agora todos sabem o que é a verdadeira dor... Agora todos conhecem o que é a dor que eu senti... Dizem que conhecer a dor te faz crescer... E foi essa dor que me fortaleceu até hoje, foi essa dor que me guiou até aqui me deixando cada vez mais forte... Vingança, dor, amor... Sentimentos esses que eu nutri dentro de mim por muito tempo desde aquele dia e que compartilham algo em comum... Todos eles levam ao conflito, e o conflito incita a guerra... Um ciclo sem fim em que todos estão presos... Alguns tentam escapar dele e até conseguem, mas eu não... Eu fui envolvido por ele e cá estamos... – retrucava Jin voltando seu olhar para os quadros de sua família.

- Você é um monstro... – disse Somin soltando um olhar de fúria para Jin ao mesmo tempo em que sentia algumas dores, pois seu tempo dentro da mente do homem estava se esgotando.

- Vejo que não está tão bem como pensei... Se já acabou... Pode se retirar da minha mente agora... – afirmou Jin num tom de voz mais sério.

- Antes disso... As nanomáquinas... Como a desativamos por completo? Pensei em vasculhar sua mente mais um pouco, mas não tenho tanto tempo aqui... – questionou Somin enquanto Jin o encarava com um olhar frio e sério.

- Existe uma codificação que vocês precisam acessar... Olhe ao redor... E você saberá o código para desliga-las... Considere isso a única vitória que vocês terão hoje... Afinal todos vocês foram derrotados por mim... Eu consegui o que queria... Cumpri com meu objetivo... Vocês assim como eu... Caíram... – afirmou Jin dando uma leve risada.

Somin seguiu até próximo de um dos quadros e logo em seguida olhou em volta para todos os outros que havia naquele espaço todo escuro do subconsciente de Jin, após alguns minutos observando, Somin conseguiu descobrir uma sequência de números que havia espalhada pelos quadros, números esses que formavam uma data.

Somin logo depois deu uma última olhada para Jin, que neste momento derramava uma lágrima ao observar as fotos de sua família. Somin ficou cabisbaixa e logo correu atravessando a porta por onde entrou, Somin foi envolvida por um intenso brilho recobrando sua consciência no mundo real.

- Ótimo consegui acessar os sistemas da nanomáquinas, agora... Preciso de uma senha para desabilitar todas elas de uma vez... – dizia Kim.

- Como assim? Sério isso? – questionou Jiwoo.

- Sim... Posso tentar várias combinações baseadas no perfil dele, vou levar um tempo, mas consigo descobrir. – respondeu Kim.

- Não precisa... Eu sei a senha... – afirmava Somin abrindo seus olhos.

- E então? Como foi lá? – questionou JSeph.

- Nada do que já não vimos antes... Eu pude sentir e ver toda a dor dele... Mas agora temos que seguir em frente, e evitar que essa dor se espalhe para outras pessoas. – afirmou Somin enquanto todos assentiram com a cabeça. – A senha é 12/12/2016... O dia em que ele perdeu tudo. – concluiu Somin.

Kim digitou a senha no painel da luva da mão esquerda de Jin e logo depois de alguns segundos recebeu uma confirmação em sua tela, a senha havia sido aceita, o painel ascendeu uma luz verde onde uma tela surgiu mostrando a quantidade de máquinas ainda ativas, Kim digitou outra sequência de códigos e então todas as nanomáquinas começaram a se desativar por completo.

No entorno da capital e no meio da cidade, os heróis que lutavam bravamente contra os que estavam sendo controlados, pararam. Seus oponentes de repente também haviam parado de se mexer e caíram no chão, todos desmaiados. Aos poucos as batalhas foram cessando e um silêncio amedrontador tomou conta de boa parte da capital e redondezas.

Tudo havia se acalmado, o problema estava resolvido, com as nanomáquinas desativadas, agora era questão de tempo até os heróis voltarem a se mexer novamente, porém as consequências da batalha não seriam esquecidas tão facilmente. O grupo do Kard com ajuda das duas integrantes da Seven Dreamers retiraram Jin do solo e levaram consigo até um grupo da Gunshot que se aproximava com um jato de transporte, as equipes da Gunshot com cuidado levaram o corpo de Jin sob custódia e também se encarregaram de transportar os heróis cansados para um local mais seguro.

Mesmo com as batalhas encerradas, a cidade estava um caos, pelas janelas do jato e também pelos painéis holográficos que transmitiam as notícias da cidade, todos puderam ver como estava à situação, destroços de prédios nas ruas, casas e estabelecimentos destruídos. Chamas tomavam conta de boa parte da cidade, focos de incêndio podiam ser vistos em inúmeros lugares e até mesmo, pequenas explosões aconteciam.

A noite havia chegado e trazendo com ela uma estranha calmaria que durante todo o dia não havia acontecido. Equipes da Gunshot se mobilizaram para cuidar dos heróis feridos durante a batalha, já aqueles que estavam descontrolados, foram levados para a base onde poderiam ser avaliados com muito mais calma pelos médicos especialistas no assunto.

Bombeiros, exercito, policia local, e vários médicos se mobilizavam pela cidade cuidando da população sem super poderes. As pessoas que ficaram no meio das batalhas e que foram evacuadas para locais seguros, saíram aos poucos assim que as autoridades indicaram ser seguro sair. Todos estavam com medo, afinal ver toda aquela destruição não era normal, ver pessoas que os protegeriam se enfrentando pela cidade e destruindo tudo foi algo assustador para todos que acompanharam.

Muitas famílias e pessoas ali presentes também sentiram a dor da perda. Afinal mesmo durante a evacuação para locais seguros algumas pessoas não conseguiram sair do campo de batalha a tempo, muitas pessoas acabaram morrendo pegas pelo fogo cruzado dos heróis. Aos poucos os noticiários locais foram repassando as informações sobre o ocorrido, o presidente da Coreia do Sul também se pronunciou sobre o assunto tentando acalmar toda a população do país dizendo que medidas já estavam sendo tomadas para evitar mais casos como esse.

Outro que também teve que ir a público foi Jun o líder da Gunshot, que teve que dar inúmeras explicações sobre o incidente que ficou conhecido como a Batalha Sangrenta de Seoul. Jun explicou a todos sobre os planos de Olhos Escarlates, e de como os heróis estavam sendo controlados por máquinas, Jun também contou que a equipe Kard havia feito a prisão do responsável pelos ataques e agora tudo ficaria bem.

Porém mesmo com a revelação dos planos de Olhos Escarlates, suas táticas e também sua prisão, muitas das pessoas culpavam inevitavelmente os heróis pelo incidente, a internet explodia de comentários de inúmeros tipos, enquanto alguns comentavam sobre como os heróis salvaram o dia dos que estavam sendo controlados, outros não se importavam com quem era inocente ou não, e assim culpavam todos os heróis pela destruição e mortes causadas durante o dia sem exceção.

Por mais que tivessem vencido e parado a confusão, os heróis como um todo haviam sofrido sua terrível derrota, pois o objetivo de Jin havia se completado. Mostrar a população que os heróis eram destruidores jogando uns contra os outros e fazendo a população mudar de opinião sobre os mesmos, realizando assim sua vingança e cumprindo a promessa que fez a sua família e agora, ninguém saberia dizer o que seria da comunidade super heróica daqui para frente, todos apenas podiam torcer por dias mais calmos.