Prólogo

Os olhos de Guillermo arregalaram-se quando entendeu que a loira à sua frente encontrava-se em apuros. Foi o suficiente para a sirene do cavalheirismo começar a apitar em algum lugar na mente dele e forçar uma rápida reflexão: mesmo que ela não fosse a irmã de seu maior rival declarado, sua mãe nunca o perdoaria se a deixasse ali daquela forma.

ㅡ Acho que ela não está disponível ㅡ gritou, por cima da música alta, impondo seu tamanho contra o cara que não devia ser muito mais velho do que ele.

O desconhecido se afastou bruscamente, e Mirella Guevara, mais conhecida como imã ambulante de problemas, cambaleou na direção dele. Guillermo a segurou por reflexo, mesmo com o alerta de sua mente lembrando-o de que o irmão dela não gostaria de ver as mãos dele na garota.

ㅡ Com quem você está aqui? Cadê seu irmão? ㅡ perguntou perto de seu ouvido. A cabeça dela já devia estar girando o suficiente, não queria ter que gritar. Um sorriso travesso se formou nos lábios pintados de vermelho da loira.

ㅡ Regra número um da sobrevivência feminina: jamais admita que tá sozinha.

Guillermo bufou e revirou os olhos. Ele devia ter deixado que ela se virasse sozinha, seus amigos com mais capacidade destrutiva estavam sozinhos em algum lugar. Mas a educação que sua mãe lhe deu tinha que falar mais alto.

ㅡ Então, você tá sozinha?

Mirella balançou a cabeça negando e então percebeu que aquilo não foi lá a melhor das ideias, havia ficado ainda mais zonza do que já estava. A paciência dele já havia ido para os ares.

ㅡ Me empresta o seu telefone?

Ela entregou a própria bolsa para ele, distraída com os botões de seu casaco. O dedo de Guillermo deslizou trêmulo para o lado e a tela desbloqueou para o aplicativo de ligações. Não foi difícil encontrar o contato de Matthieu, já que as últimas quinze chamadas perdidas eram dele. Provavelmente ela não falou onde ia e a essa altura do campeonato ele devia estar pirando.

A cabeça de Mirella estava apoiada em seu ombro e ela resmungava um monte de lorotas incongruentes, o que significava que ele precisaria falar com o inimigo.

Mirella!? ㅡ a voz de Matthieu soou rouca do outro lado da linha, mas nada sonolenta. ㅡ Onde caralhos você tá?

ㅡ Então...aqui é o Guillermo. Acho que já deu de balada e bebidas pra sua irmã ㅡ disse umedecendo os lábios. ㅡ Aliás, ela por acaso tem idade pra beber?

Guillermo?!...Mas é claro que não, seu imbecil! Como é que...Ah, quer saber? Não, não fala nada, eu já to indo.

Guillermo não fazia ideia de como seu arqui-inimigo os encontraria, estava pensando em tentar fazer Mirella desbloquear o telefone quando um carro parou bem na frente deles quarenta minutos depois.

Para Matthieu não tinha sido muito complicado encontrá-los assim que um uber finalmente aceitou o percurso. O celular da irmã possuía um rastreador que só ele usava e não era difícil enxergar um marmanjo de 1,80 metro com uma garota por cima do ombro. Na verdade, ele não estava vendo a irmã, apenas a bunda dela, cuidadosamente coberta por um casaco que não era dela.

Ele respirou fundo, tentando controlar a raiva que sentiu e ligou o pisca alerta antes de descer do carro.

ㅡ Mirella! ㅡ Praticamente berrou ao bater a porta do motorista e correr até eles.

Guillermo deixou o corpo desacordado dela escorregar delicadamente e a fez ficar em pé. Matthieu aproximou-se tirando o cabelo loiro do rosto da irmã e deu leves tapinhas em suas bochechas rosadas. Mirella grunhiu e abriu um dos olhos.

ㅡ Onde é que você tava com a cabeça? ㅡ Matthieu quis gritar.

ㅡ Deixa pra dar sermão mais tarde, eu quero dormir, caralho ㅡ protestou a mais nova, antes de começar a rir. ㅡ Caralho! Caralho! Caralho!

Guillermo abriu a porta do passageiro traseiro e ajudou Matthieu a colocar a encrenqueira sentada. Em seguida, estendeu a bolsa para Matthieu apanhar, suas sobrancelhas juntas formavam uma careta raivosa. Sua mente soletrava: G-U-I-L-L-E-R-M-O, em vermelho, cada letra associada a um palavrão diferente, formando um anagrama.

ㅡ Obrigado por cuidar da minha irmã.

Gui balançou levemente a cabeça, as mãos escondidas nos bolsos da calça, torcendo para que o rosto não estampasse uma expressão de profundo desespero. Matthieu continuava olhando-o fixamente, questionando se havia mesmo agradecido aquele riquinho metido a besta que se achava o bonzão no judô e não era bom porra nenhuma.

Eles pareceram se encarar por uma eternidade, até que Mirella abaixou o vidro do carro e gritou:

ㅡ Se já tiver terminado de comer ele com os olhos, nós podemos ir embora logo, Matt?

ㅡ Limites, não fala besteira, Mirella! ㅡ ele deu uma batidinha na porta dela e rodeou o carro.

ㅡ Quem tem limite é município ㅡ ela resmungou mostrou a língua para o irmão. ㅡ Adios, coleguinha!

Assistindo o carro com os irmãos Guevara se afastar cantando os pneus, Guillermo não podia imaginar que sua vida estava prestes a virar de cabeça para baixo de novo. Mas talvez, ele já estivesse embaixo da terra a muito tempo.

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