13 ALIADOS
Sonia se aproximou lentamente enquanto falava.
— Eu sou a única culpada por deseja-lo alteza... O destino entregou minha vida em suas mãos duas vezes, agora sinto que só estou segura em seus braços... — ela o abraçou carinhosamente.
"O quê estou fazendo?! Não devia fazer tudo que Eloisa pediu. Oh! O cheiro de lavanda em sua roupa, seu abraço é tão confortável..." fechou os olhos encostando o rosto contra a camisa no peito do príncipe.
O peso do casaco atingindo o chão foi o ultimo som que Abel ouvia antes de seu coração disparar.
Vacilante ele acabou por retribui o abraço.
"É esse sentimento que não queria ter! Aquele maldito dragão estragou tudo e ainda roubou a primeira mulher que desejei tocar os lábios. Mas talvez eu só deva, beijar qualquer uma, com todos os jovens fazem. Não há compromisso em um beijo, poderia até mesmo ser agor..." a voz da moça interrompeu seus pensamentos.
— Não desfaça a aliança, case-se comigo alteza e farei qualquer coisa que me pedir... – Sonia suplica, se acomodando em seus braços.
"Eu fiz esse pedido para Ricardo e logo descobrir sua traição, que irônico repetir isso com o homem que deveria ser de minha irmã, ainda mais a pedido dela mesma. Que belo par de miseráveis nos dois somos Abel. Que desgraça Eloisa, você o trair e me usar para se salvar... De jantar de dragão, passarei a brinquedo de mais um homem."
— Não me ofereça isso... Esta noite não sei se conseguirei ser um cavalheiro... — Abel sussurrou, sentindo o aroma doce dos cabelos de Sonia e mordendo os lábios desejosos, em beijar uma mulher.
~ ~ ~
Pela manhã Ian entra na sala de reunião trazendo papeis e documentos quando surpreso quase derruba-os no chão ao encontra a princesa dormindo no sofá daquela sala.
Sobre a escrivaninha Abel faz sinal de silencio para não acorda-la e volta a trabalhar com a lista de nomes, bolando um plano de ação.
Ian coloca os documentos sobre a escrivaninha e Abel pede para ele providenciar detalhes sobre os nomes, entregando o papel com a própria letra da princesa.
Com essa pequena conversa Sonia acorda e o casaco que a cobria cai revelando a Ian a saia rasgada. Assombrado com a visão o chefe dos cavaleiros se volta ao príncipe, perguntando aflito o que ele fez a ela.
— Nada. — mas Ian fica desconfiado — Escolte a princesa até o quarto dela.
Ian não insiste e se curvando ao príncipe cumpre a ordem guiando a princesa.
Antes de sair Sonia lança um olhar tímido para Abel e pergunta se poderão conversar naquela tarde. Abel um pouco corado acena que sim com a cabeça e recebe um sorriso de derreter o coração.
"Foi a primeira vez em que não sonhei com Ricardo, mas com você Abel. Parece que afinal não menti, posso sim estar apaixonada..."
No corredor todos notam a saia rasgada e começa um burburinho no castelo do porque a princesa Eloisa está presa e porque a princesa Sonia estava com o príncipe no escritório com a saia rasgada.
Mas quando os dois guardas de Eloisa são entrevistados, eles mostram todo o seu terror. Só dizem que não vão falar nada e que todos deveriam parar de se meter na vida do príncipe se não quiserem serem devorados por um dragão.
Sem entenderem nada, o boato se espalha como um mistério. Alguns afirmam que o príncipe Abel tem o temperamento de um dragão e pode destruir tudo, como fez na torre de Assaph.
Outros especulam que o próprio príncipe é o dragão e as princesas serão devoradas.
No dia seguinte os boatos saem do castelo e ganha a cidade. Com medo todos os nobres começam a serem mais cautelosos e submetidos às vontades de Abel. Bastando pequenos convites de reunião, para que os nobres tragam grandes presentes e abram a boca sobre os maus feitos uns dos outros.
Naquela semana Abel consegue muitos aliados.
"Novamente o medo pelo comportamento destrutivo de Volker me trás benefícios. Mas um rei não deveria governar pelo medo, eu queria ser sábio e justo como meu pai..."
~ ~ ~
A noite Sonia começa a ficar impaciente em seu quarto. Passou uma semana desde que foi salva da janela, mas o príncipe não foi vê-la e se negou a recebe-la.
— Ele não pode está me evitando assim... — resmungou baixinho para sua dama de companhia. "Depois do que aconteceu naquela noite achei que ele também estivesse se apaixonando por mim, mas é provável que eu seja mesmo tola como Eloisa disse. Só me resta seguir o que ela me pediu, mesmo que Abel me traia inúmeras vezes como Ricardo fez, ao menos terei a consciência limpa, por salvar minha irmã e proteger Dufour contra a ira do príncipe e seu dragão."
— Talvez sua irmã estivesse certa. Ele é muito fraco no amor.
Volker vigiava a janela e sorriu ao ouvi aquilo.
"Mais uma presa fácil..." pensou o dragão calculando como usaria a princesa em sua vingança.
Sonia arregalou os olhos ao ouvir a dama e logo se levantou agarrando o copo d'água sobre a penteadeira e jogou no rosto da serva.
— Nunca mais ouse falar nada do meu noivo! Agora sai! — disse se tremendo.
A criada, acuada, saiu e trancou a porta. Sonia se lembrou de algo e logo se virou retirando papeis de dentro de um fundo falso na penteadeira. Eram cartas que abraçou com carinho e depois se dirigiu a lareira.
— Adeus Ricardo... — disse com tristeza antes de estender os envelopes ao fogo. "Preciso me livrar agora, ou vou esquecer novamente."
Um vento frio abriu as portas da sacada e apagou a lareira congelando as brasas. Volker entrou triunfante com um sorriso malicioso nos lábios.
— Entregue-me esses papeis princesa.
Mas Sonia os abraçou com força e curvando o corpo as protegeu. Foi logo gritando pelos guardas. Porém o dragão não permitiria interrupções. Com apenas um movimento de mão travou a porta com estacas de gelo.
— Vamos! Entregue-me sua praga! — praguejou Volker sem se aproximar por conta da ordem de Abel, de ficar longe dela, que fez seu peito doer.
— Vá embora! Socorro! Guardas! Guardas!
— Cale-se sua maldita e me dê as cartas! — disse lançando estacas de gelo pelo chão que assustaram Sonia parando poucos centímetros de seu corpo — Quer morrem empalada?
Nesse momento o gelo da porta regride e Abel entra ordenando que Volker se afaste.
— Chegou atrasado Abel. Perdeu as belas palavras que a criada dela dirigiu a você. Mas ainda há tempo de perguntar quem é Ricardo, cujas cartas a princesa protege com tanto afinco.
— Não acredite nele Alteza! — suplica Sonia com os olhos cheios de lagrimas.
— Eu não posso mentir para ele princesa, sabe muito bem disso Abel. — diz a fera olhando-o.
O regente retira a surpresa do rosto e substitui por uma expressão de desapontamento. Ian entra pela porta e encontra a cena lamentável. A princesa encolhida no chão, o príncipe cabisbaixo e somente a Volker com um sorriso triunfante.
Antes que Abel ordene que a forma humana se retire pela sacada do quarto. Lançando um último olhar provocador para a princesa, que estremece e novamente tenta suplicar a Abel que acredite nela.
— Já chega. Você e sua irmã são iguais mesmo. Guardas tranquem-na aqui. Certifique-se que ela não fuja pela janela novamente. — determina.
Ian é o único que se compadece da princesa, que em silencio aceita a sentença.
~ ~ ~
No dia seguinte Abel segue desanimado para seu escritório provisório, quando, ao abrir a porta, encontra Sonia.
— O que está fazendo aqui? Como voc...
— Fui eu Alteza — interrompe Ian num canto da sala balançando na mão, as castas — Eu quem a trouxe. Houve um mal entendido. A princesa possuía um antigo romance, eu já sabia. Mas como estava destinada aquela criatura, não me incomodei em conta-lhe.
Abel não parecia ter mudado sua convicção ouvindo aquelas palavras.
— Eu... Fui traída por esse homem que amei... — adiantou Sonia com a voz baixa e cheia de mágoa — Apenas guardei as cartas porque tinha sido sentenciada aquele monstro... Pensei que as leria como consolo, que as palavras de Ricardo seriam minhas únicas... Meus... — sua voz se tornou embargada — Os únicos elogios e sentimentos de amor que um dia senti e sentiria...
Abel não podia evitar a empatia que sentia pela mocinha. Ian se aproximou tocando o ombro dele. Com os olhos indicou que o príncipe consola-se Sonia. O rapaz acenou que não, mas foi empurrado na direção dela e o amigo logo saiu da sala.
— Eu nunca o trai Alteza. — disse enxugando as lagrimas em um lenço — Nunca faria isso, por que sei o quanto corrói a alma. Eu pedi a Ian para lhe contar o que descobri. Há um cartel de preços fixos, praticados por cinco nobres, que intimidam novos comerciantes com ajuda de soldados e oficiais comprados. Dei todos os nomes a Ian e também suas vítimas.
Sem conseguir acreditar, Abel quis saber como ela descobriu tudo isso.
— Algumas informações vieram de meu pai, outras eu e minha irmã, tiraram das esposas desses nobres, durantes os passeio de corte... — ela termina tomando coragem em olha-lo nos olhos — Eu também não menti naquela noite. Minha irmã me mandou seduzi-lo, confesso. Mas as palavras que disse eram todas verdadeiras. Tanto que vossa Alteza me fez esquecer Ricardo. Eu somente lembrei dele quando a dama de companhia me disse algo detestável...
— Por isso estava tentando protege-las? — disse Abel incrédulo.
— Eu ia queima-las! Estava de... Ainda estou determinada a firmar essa aliança de casamento. Por isso entreguei tudo a seu cavaleiro mais fiel. Tudo que lhe peço é uma oportunidade... Para fazê-lo sentir o mesmo que sinto por você.
— Não estou mais interessado nessa aliança. É melhor você se juntar a sua irmã no exilio. — disse virando para seguir à sua mesa.
— Não! Por favor meu príncipe... — Sonia se aproximou atrapalhando seu caminho. — Ao menos me pague pelas informações.
— Pagamento? O que quer? — disse desconfiado.
— O que lhe neguei naquela noite... Dessa vez não vou recuar... — informou a moça tocando o peito de sua camisa com a ponta dos dedos enquanto aproximava os lábios.
Abel teve que conter o avanço do próprio corpo. Ele queria provar os lábios de uma mulher. A imagem de Volker com Eloisa invadiu seus sentimentos. Os rostos das irmãs eram parecidos e por alguns segundos achou que seria uma vingança beija-la. Mas também seria cair no jogo dela e isso ele não queria.
Abel segurou aquela mão macia com a sua. A outra mão lhe desobedeceu e toco-a no ombro, correndo até o pescoço. Um cheiro doce emanava dela, o mesmo das outras noites.
Os lábios de Sonia avançaram, mas o príncipe desviou para o lado no último segundo.
O cheiro ficou mais forte. Vinha do pescoço dela e seu corpo rebelde, transbordando de hormônios, encostou a ponta do nariz naquela curva sentido o cheiro de seus cabelos. Era de lá que vinha o aroma doce.
Sonia estremeceu. Isso mexeu com o príncipe que não se conteve mais e beijou a pele aveludada. A princesa inclinou o rosto para que ele tivesse livre acesso a curva de seu pescoço. Aquilo não era mais suficiente para o príncipe. Abel colocou a mão na cintura dela e suspirou ao pé de seu ouvido. Seguiu quase roçando as bochechas até beija-lhe os lábios.
Mas tudo foi interrompido pela voz de Mernes que forçou a entrada através de Ian.
— Como ousa me dá ordens! — reclamou abrindo a porta e pegando o casal com as bocas avermelhadas pela prática recente.
Com os olhos arregalados os dois invasores recuaram lentamente, sem dizer uma palavra fecharam a porta. Deixando o pombinhos sem graça.
O regente de Meradomum iria recuar, mas Sonia o abraçou.
— Me beije assim novamente, e novamente, e para sempre.
Ainda envergonhado com a visita indesejada o rapaz concordou apenas com um aceno de cabeça. A princesa desfez o abraço sentindo satisfação por ter conseguido o que queria. Porém foi surpreendida por Abel laçando-a novamente e sem aviso a pegando pelos lábios em outro beijo macio. Contudo, dessa vez, mais energético.
~ ~ ~
Naquele mesmo dia Ian juntou as provas para incriminar um dos nobres da lista que Sonia entregou.
Esse nobre, muito esperto, interceptava as mercadorias apreendidas e vendia-as, sem declarar os impostos. Portanto ele foi condenado por Abel a pagar todos os impostos, com juros, ao reino de Dufour. Também teve que devolver o valor roubado dos comerciantes, o que quebrou seus negócios e o obrigou a vender suas posses na cidade.
Assim retornou para o interior, sem titulo e com poucas posses. Os outros, dos cinco na lista, aterrorizados, fogem do Montbell na calada da noite. Temendo serem eles os próximos.
~ ~ ~
Nesse mesma semana o príncipe tem pequenos encontros com a princesa Sonia e acaba se convencendo que estava mesmo apaixonando. Diferente da irmã a mocinha conversa mais sobre os assuntos do reino, através das cartas de Eloisa, mais esperta nas fofocas e artimanhas entre as mulheres da corte. Consegue informações sobre os negócios dos nobres que estavam na lista.
Em outros momentos a moça procurava acalenta o coração de Abel contando-lhe as benfeitorias de seu avô, assegurando que o rei de Dufour ficaria orgulhoso em vê-lo agora.
O jovem sente-se tão confortável em conversar com a princesa que o cortejo acontece naturalmente. O amor floresceu com facilidade porque tinham um forte objetivo em comum: O bem estar de ambos os reinos.
Então no final daquela semana durante uma caminhada no jardim o rapaz a pede em casamento.
Abel não se ajoelha, mas tirando o anel do bolso coloca no dedo de noivado de Sonia e fitando seus lábios a beija. Se abraçam, trocam carinhos e se beijam novamente.
— Eu queria surpreende-lo hoje... Mas meu príncipe está sempre um passo à frente... — diz a moça e entrega um papel.
Abel abriu e não acreditou no que estava lendo.
— Esse é?...
— É o feitiço usado no rei... Agora podemos salva-lo, só precisa decifra-lo...
Os olhos do príncipe se encheram de gratidão e esperança, traduzido em um abraço apertado seguido de mais um beijo apaixonado.
— Obrigado Sonia... Minha amada princesa... — o regente fez um carinho no rosto dela e a partir daquele momento o amor e confiança entre eles ficou ainda mais acentuado.
~ ~ ~
Não demorou mais uma semana e eles se casaram. Uma cerimônia simples, para um príncipe herdeiro.
Não houve uma grande preparação, o clima de guerra e inimizade nas fronteiras não permitia o envio de convites. A falta da presença de ambos os reis tornou a cerimonia, embora grandiosa, apenas uma aliança renovada.
Logo no segundo dia, após a cerimônia, Abel chamou os nobres que havia escolhido para seu concelho e apresentando Sonia declarou que ela seria a regente enquanto ele estivesse na guerra resgatando seu pai.
Obviamente todos tentaram impedir aquela loucura.
— Alteza uma mulher não pode estar à frente de um reino...
— Sim uma regente do príncipe regente... Soa como brincadeira...
— Não é brincadeira. — Abel repreendeu sério.
— Ela é de minha total confiança. Desde o primeiro momento que os escolhi foi para serem conselheiros dela...
— Eu apoio e reconheço a princesa Sonia como regente do reino de Meradomum. — disse Mernes que havia sido convidado por Abel para participar da reunião.
Diante do apoio de Mernes, irmão do rei de Dufour, não puderam impedir a princesa. Quando todos saíram Mernes sorriu sem acreditar no que acabara de presenciar.
— A primeira mulher como regente, minha própria filha... Estou orgulhoso de você.
Sonia não escondeu a alegria por ouvir aquelas palavras de seu pai e agradecida olhou apaixonada para Abel.
"Obrigada por me aceitar Abel, e também devo agradecer minha irmã por essa ideia revolucionária que sugeriu. Eloisa você estava certa, o papai me apoiou e facilitou o aceite. Queria dá-lhe o credito, mas o príncipe ainda guarda mágoa de você. Mesmo que tenha sido você que arriscou a vida para conseguir o feitiço." suspirou imaginando como sua irmã pode ser tão esperta e o que ofereceu para conseguir dissuadir o feiticeiro sombrio que encantou o rei.
No dia seguinte Abel se despedia da princesa nos portões do palácio. Antes de entrar na carruagem o regente adverte para que agrade os conselheiros, pois a moça ainda não tem força política para bater de frente, contra eles.
— Não se preocupe meu príncipe eu saberei escolher minhas batalhas e você seja sábio nas suas para retornar o mais rápido para mim. — sorriu admirando os olhos de lápis-lazúli.
— Farei isso. Não deixarei esse peso sobre seus ombros, por muito tempo. — Após um breve beijo o rapaz entra na carruagem e acenam um para o outro, até ficarem distantes.
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