A arrogância do diabo
Os olhos no tom rosado observavam atentamente o quão único e diferente era aquele lugar aonde estava, não tinha nada a ver com a área mais pobre, era totalmente... Como se estivesse em um outro planeta.
Enormes telões mostravam as modas da vez, o som suave de piano ecoava de um dos telões.
A claridade chegava a incomodar suas retinas, as lojas extremamente caras esbanjavam o valor absurdo em suas vitrines, as pessoas carregavam seus pets graças ao tempo ameno de pôr-do-sol, tão bonito quanto o chão limpo daquele lugar.
Não haviam lixos, não haviam pessoas dormindo pelo chão, não haviam marquises marcadas com papelão para insinuar que aquela proteção existia dono.
Eram apenas pessoas, pessoas ricas que carregavam uma bolsa capaz de pagar uma casa para um morador de rua.
Pessoas que usavam a maquiagem tão cara quanto uma semana comendo do bom e do melhor, ou um mês de pão fresco todo dia.
Pessoas que comiam apenas o importado e gourmet, pagando o valor de todo um guarda-roupa de brechó para uma família de moradores de rua.
Estava assustado, ao mesmo tempo, encantado.
Estava com nojo das pessoas, mas admitia que o lugar era lindo.
As pessoas ignoravam sua existência, cada um em seu próprio mundo, não era julgado, pelo contrário, agiam como se ele sequer existisse, agiam como se outros não fossem reais, não via os ricos conversando entre si, era silencioso, isso chegava a ser assustador.
Enquanto buscava algum lixo, qualquer que seja, sentiu uma mão fria tocar seu braço, seu coração acelerou, seus olhos se arregalaram e a sua única reação foi olhar bruscamente para a pessoa que o segurava na frente de uma loja extremamente cara de três ou mais andares, o enorme letreiro rosa iluminava ambos de uma forma que chegava a irritar a vista, tanto quanto a iluminação ao seu redor.
– Você é muito bonito! – a voz empolgada falou, de forma expontanea e com um enorme sorriso no rosto.
Jisung estranhou, uma pessoa tão cheirosa como aquela, bem vestida, com cabelos arrumados e maquiagem feita, as unhas de porcelana eram a clareza de poder que esbanjava dos bolsos.
O Han sentiu-se mais coagido ao descobrir tudo apenas ao olhar, aquela pessoa não estava com nojo de seu cheiro de fezes humanas e churume? Não estava com repulsa de suas roupas rasgadas e dentes maltratados?
– Se você quiser, posso fornecer um lugar temporário, roupas boas, limpeza e higiene... Mas eu não quero te enganar, será vendido em um leilão para algum homem milionário te comprar. – a mulher foi sincera, Jisung engoliu seco, se arrependendo em seguida ao sentir o gosto de podridão que abrigava entre os dentes.
Jisung pensou... Pensou mais do que nunca.
Em toda sua vida, já chegou a se vender apenas para ter o que comer no dia seguinte, já chupou outros mendigos apenas para ter direito a comer do mesmo lixo que ele.
Quando o cliente estava com nojo de seu corpo sujo, permitiu com que gozassem em sua boca a distância e sujasse seus cabelos, seus cílios, seu corpo, seu ânus, qualquer parte que a pessoa quisesse, tudo por um pão.
Que mal faria transar com ricos? Ou melhor ainda, milionários!
Teria um lugar para dormir, teria roupas, seria uma pessoa limpa, talvez conseguisse a oportunidade de emprego, talvez voltaria a estudar.
Ou talvez seria um escravo sexual, com meus órgãos vendidos no mercado negro e obrigado a transar com idosos e mafiosos...
– Como... Como saberei se é seguro? – questionou o Han, vendo o sorriso doce surgir nós lábios da mulher.
– Nenhum comprador pode quebrar as regras, entre elas é que: Jamais faria venda ilegal do escravo, isso incluí órgãos e membros do corpo e seu sexo, também não pode ser exposto a sexo em público ou qualquer ação que manche o nome da empresa... Entende? A nossa ética é seguida a anos e nunca morreu nenhuma das nossas peças. Em caso de devolução, o preço da peça é duplicado, pois é sinal de experiência, concorrência e status. – ela explicava bem, mantendo o olhar no fundo dos olhos do Han.
O de olhos rosas suspirou, não via problemas então, se fosse para morrer, pelo menos iriam o alimentar bem e qualquer coisa para sair das ruas seria melhor.
Existem momentos que a sanidade morre e o desejo de comer qualquer coisa que não tenha odor de podre e gosto de estragado, se torna tentador.
Jisung nada disse, apenas a seguiu para dentro da loja.
Ninguém se importou em ver um mendigo dentro daquela loja que esbanjava riqueza, ninguém o julgou, quando entraram no elevador, se sentiu como se o estômago fosse parar na cabeça devido a pressão, por anos não entrava num desses, sinceramente nem se lembrava da existência disso.
Quando o elevador parou, estavam no último andar, aonde haviam homens extremamente bonitos, a maioria de porte delicado.
O cômodo era amplo e enorme, como uma sala de estar de um castelo de rainha, era enorme, em tom rosado e branco.
Os garotos pararam tudo o que faziam apenas para olhar na direção do Han, da cabeça aos pés, como se julgassem a sua existência.
Pela primeira vez, desde que tocou os pés na área rica, estava sendo verdadeiramente julgado por alguma parte da sociedade e veja só, eram prostitutos o julgando.
Como o mundo era irônico...
– O que estão olhando? Temos uma peça nova e vocês vão ajudar. Quero Minho e Joshua cuidando do banho dele e... Alguém viu o Jeonghan? – a mulher questionou confusa, Jisung por sua vez só queria saber quem caralhos eram esses três e se iriam o olhar com tanto nojo quanto essas pessoas bem vestidas estavam fazendo.
– 'Dona Jihyo, o Jeonghan está cuidando da limpeza do prédio feminino, é o dia dele e de Mingi. – explicou um rapaz baixinho de olhos dourados, aquilo definitivamente era lente de contato, mas Jisung resolveu ficar quieto.
– Então apenas esses dois serve. Levem o novato para o quarto e cuidem dele... Queremos uma... Renovação nessa beleza escondida. – a garota sorridente retornou pelo elevador e todos voltaram a fazer o que antes faziam, deixando Jisung novamente perdido, até ver um rapaz de fios castanhos e olhos violetas se aproximando.
Suas pernas ficaram bambas pela encarada que recebeu, aquele homem vestido de preto era tão sensual com a calça colada e a blusa com todos os botões abertos, porém de uma forma injusta, havia uma blusa leve da cor branca cobrindo seu abdômen.
– Anda. – simplesmente ordenou, seguindo a direção do corredor a direita e pouco se importava se Jisung iria o seguir ou não.
Ao contrário do rapaz de fios castanhos claros e os olhos da exata cor de uma avelã.
Este era sério, porém quando se aproximou, esbanjou a simpatia que o outro não mostrou possuir.
– Minho é assim mesmo... Vêm comigo... Eu sou o Joshua. – o rapaz se apresentou, seguindo pelo mesmo corredor no qual o anterior havia seguido rudemente – Você já sabe das etiquetas no leilão?
Jisung apenas levantou uma sobrancelha, não sabia do que ele estava falando.
Aquela cara confusa foi o suficiente para Joshua entender que Han Jisung não tinha a ciência de onde havia se metido.
Aquilo trouxe pena, dor e um sentimento de compaixão vinda do homem de fios castanhos.
– Que seu protetor seja bondoso, você vai sofrer demais nesse lugar... Você não veio por indicação, então suas regras são diferentes. – o rapaz murmurou, abrindo uma das portas do corredor. – Quando é por indicação, significa que alguém sabe da sua existência, então se sumir, vão te procurar... Agora quando você entra sozinho, você está livre das éticas daqui...
– O que isso significa? – Jisung murmurou franzindo as sobrancelhas, enquanto via Minho preparar o banho na enorme banheira iluminada graças ao led no roda-teto.
– Significa que se você morrer, não vão se importar, apenas cobrariam um imposto mínimo ao assassino, ao seu comprador e iriam afastar o cliente por um período de até um ano, para depois ele poder retornar a comprar peças. – Minho resumiu, sério, sem um pingo de sarcasmo ou qualquer outro sentimento, ele não se importava em fingir ser algo que ele não era.
– Ainda dá tempo de fugir... – sussurrou Joshua
Jisung apenas engoliu o seco, desviando o olhar tímido para o chão. Não sabia como explicaria que entrou ali ciente que talvez sairia num porta-malas direto para a ribanceira.
Seu objetivo era apenas um último jantar, mas se fosse a um lugar bom, seria maravilhoso, a chance de ser comprado por alguém decente era enorme.
Porém Jisung não percebia que... "Como alguém decente compraria um ser humano igual na época da escravidão liberada no mundo?".
– Eu sei os riscos... Eu apenas... Quero viver bem. Nem que seja por um dia.. – o Han respondeu baixo, recebendo um olhar assustado de Joshua e um revirar de olhos da parte de Minho.
Pelo visto nem todos eram simpáticos nesse lugar, Minho foi a prova viva disso.
– Terminei a minha parte. – Minho anunciou antes de sair do cômodo, porém fez questão de parar na porta, olhando no fundo dos olhos rosas do Han – Não entre no meu caminho...
Os passos do homem se afastando eram como uma melodia do diabo, uma música macabra da bota preta de plataforma alta batendo contra o chão.
Jisung tremeu, se perguntando "aonde que iria entrar no caminho desse homem?" Isso sequer era possível, aquela pessoa era tão superior, além de ser bonito e possuir uma arrogância genuína, que de certa forma o fazia também se perguntar como ele conseguia ser vendido com essa péssima personalidade.
– Alguém consegue se interessar por ele? – Jisung perguntou confuso, enquanto lentamente se despia, ignorando a existência do rapaz que o observava.
– Acredite em mim, Minho é o mais cobiçado e até hoje só teve duas compras, pois ele ficou anos com seu comprador até ser devolvido. Segundo a nota do comprador primeiro dizia que "Preciso me desfazer dos gastos extras" e o segundo comprador disse que "Aquele garoto era insuportável". – Joshua parecia dramatizar, porém era a realidade.
Minho já foi vendido duas vezes com um histórico de morar por anos com seu comprador e ser mais cobiçado por ali. Então... Como ele iria achar que Jisung entraria no seu caminho?
Definitivamente aquele homem era estranho.
– Garoto, pelo amor vai tomar seu banho. Eu tenho que usar o banheiro depois... Estou desesperado aqui. – Joshua brincou, mas de fato, o chamaram para banhar o novato justo no momento que usaria o sanitário.
– P-perdão... – por hora, era melhor aproveitar aquela água deliciosa, pois não valeria a pena pensar muito em alguém que provavelmente vai ser vendido novamente e nunca mais iria ver na sua vida.
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