Quando o Rei Cai, a Verdade se Ergue

O reino de Arandor era conhecido por seus grandes lideres e guerreiros, sempre impetuosos e majestosos. Era um reino adornado por montanhas que envolvia a planície onde estavam localizados, protegendo-o como grandes muralhas naturais. Cidades e vilarejos espalhavam-se ao longo dos vales, e bem no centro um grande castelo real erguia-se como uma fonte de sabedoria e proteção dos grandes lideres: Reis e Rainhas que reinam ou já reinaram ali ao longo das gerações.

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Dentro do castelo, que durante a luz do dia e da lua, era um lugar encantado e alegre pela presença da rainha Lilian, hoje não passa de um lugar frio e melancólico, exceto em uma parte: A Ala Norte, o único lugar do palácio que a tristeza um dia predominou por um tempo, mas agora era alegre e cativante, todos os criados queriam trabalhar lá, afinal era a onde a princesa Helena morava por ordens do Rei, seu pai. Desde que ele mandou sua filha caçula para lá, ele e seu herdeiro nunca mais botaram os pés naquela ala, deixando tudo a mercê da princesinha, que hoje já é uma mulher feita e bonita.

Ao amanhecer a Ala Norte, estava contagiante e repleta de risadas e histórias vindas do aposento real da princesa, risadas estas que ecoavam pelos corredores da ala deixando os guardas e os criados felizes, ao verem sua princesa feliz de novo.

Em seu aposento, sentada em uma confortável poltrona, perto da grande janela, que tinha um linda vista do jardim, estava Helena, os olhos brilhando com curiosidade enquanto folheava as páginas de um antigo livro. Ao redor dela, suas amigas e sua criada se acomodavam em almofadas pelo chão, cada uma imersa em um livro que falava sobre o mundo mágico além dos portões do reino.

"Este fala sobre as grandes minas e seus anões mineradores," disse Caitlin, com os olhos fixos nas gravuras de seu livro.

"Olhem isso," interrompeu Samantha, expressando surpresa e curiosidade. "Há histórias de elfos, que eram guardiões da natureza, eles tinham reinos e obrigações distintas. Será que isso pode ser verdade?"

Selene, a criada, sentada ao lado da princesa, com um levo sorriso, rapidamente se recompôs. "Diz que antes dos humanos habitarem essas terras, aqui era um mundo reinado por magos e elfos", desviando um pouco a sua sabedoria, Selene disse, " Mas, quem sabe o que é verdade? Talvez a resposta esteja além desses portões."

A princesa e as meninas, apenas ouviram desatentamente, sem perceber a sabedoria de Selene, apenas voltou a leitura. Helena, observando as páginas do seu livro, sorriu. "O mundo mágico é tão vasto e misterioso."

O clima leve no quarto foi quebrado por uma batida firme na porta. O criado entrou com uma expressão nada boa, e a conversa cessou imediatamente.

"Tenho notícias, Vossa Alteza," ele disse, baixando a cabeça. "Sobre o rei".

Helena engoliu em seco, sentindo algo ruim no ar. Embora o vínculo com seu pai não fosse bom, ou melhor, não tem vinculo, ele ainda era o rei. E a ausência de afeto não a fazia com que ela a desejasse o mal. Ela não era assim.

"O que aconteceu?" foi sua única reação

"O rei foi ferido durante a missão e está sob cuidados médicos. O príncipe herdeiro deseja falar com a senhorita."

O coração da princesa acelerou, não pelo rei e sim pelo irmão. Já faz mais de 16 anos que ela não tem contato com o irmão, depois que a rainha morreu e ela passou a ter os sonhos.

Ela se levantou lentamente. "Muito bem... Avisem que estou indo." Enquanto ela saía, ela estava com uma leve sensação de que algo mais estava prestes a ser revelado.

Alexandre

Alexandre agora era um homem feito, bonito e com os traços legítimos da família real, cabelos pretos como a noite e os olhos verdes profundos. Carrega nos ombros o peso de uma infância destruída e o fardo do título de herdeiro do trono, além de carregar em seu olhar uma ferida antiga, uma dor nunca cicatrizada.

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Sete anos mais velho que sua irmã, Alexandre adorava escapar da lições e das formalidades para correr pelos jardins com a irmazinha, levando-a em suas aventuras imaginárias. Os dois eram graciosos juntos, eram pura alegria, ele se sentia livre ao lado dela. Mas esse brilho se perdeu ao longo tempo. Seu pai, o rei, havia arrancado essa alegria dele, quando o viu fazer mal a sua mãe e o tirou de perto de sua irmã, quando ela mais precisava.

Agora Alexandre era um homem marcado pelo passado e por um segredo, esperando a hora certa de agir e despertar aquele garotinho que um dia já foi feliz e poder abraçar sua irmazinha de novo. Neste exato momento, ele estava em seu aposento analisando alguns papeis sobre o reino, quando sua porta foi aberta de forma bruta, e o conselheiro real entrou, seguindo por um médico com o semblante grave.

"Meu senhor", começou o conselheiro, sem rodeios. "Há noticias do rei".

Alexandre sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas manteve o rosto neutro. "O que aconteceu?"

"A comitiva real foi emboscada. Todos os guardas foram mortos... Apenas o rei e dois guerreiros sobreviveram. Mas..." O médico hesitou, trocando um olhar preocupado com o conselheiro. "O rei foi gravemente ferido. Ele está sob nossos cuidados, mas temo que não sobreviverá por muito tempo."

Por um instante, Alexandre permaneceu em silêncio. Uma parte de si, aquela parte que o odiava profundamente, sentiu um alívio. Este era o homem que arruinou sua infância, que fizera sua mãe partir para outro plano. O mesmo homem que, nos momentos mais sombrios de sua irmã, a afastou, preferindo deixa-la sozinha com sua dor. Mesmo com o ódio, algo dentro de Alexandre se remexia, ali dentro daquela casca horrenda de crueldade, está seu rei o seu pai, que um dia já foi um homem bom. Infelizmente o poder subiu a cabeça.

Alexandre passou uma mão pelos cabelos, como se quisesse deixar o peso da coroa ir embora. Este homem destruiu tudo, mas agora, à beira da morte, há uma oportunidade, uma ideia. Talvez agora fosse o momento de reparar o que havia sido quebrado. Não com o pai, mas com sua irmã.

"Preparem tudo," ordenou, virando-se abruptamente. "Quero falar com minha irmã. Ela precisa saber disso. E quero vê-lo... antes que seja tarde."

Ele sabia que essa conversa com sua irmã não seria fácil. Ambos haviam sido afetados pela crueldade do pai, mas de maneiras diferentes. Agora, com a morte iminente, havia uma chance de reabrir feridas antigas e, talvez, começar a curá-las. Ele a veria cara a cara depois de muito tempo separados.

O Reencontro e as Verdades

Helena andou pelos corredores do castelo, algumas lagrimas escorreram ao lembrar da mãe, ela parou enfrente a grande porta do trono e hesitou um pouco antes de entrar. Quando ela adentrou a sala do trono, ele estava lá perto da grande janela, ela suspirou não sabendo se queria encarar aquele momento. Seu coração disparou quando Alexandre se virou ao senti-la. "Ele está tão bonito, mas tinha um olhar triste", foi o que pensou. Seus olhos, idênticos se conectaram por um instante, os olhos de seu irmão se encheram de lagrimas, rapidamente ele virou o rosto para a janela tentando se recompor, ela estava triste demais para esboçar qualquer emoção.

Por um longo momento, nenhum dos dois disse uma palavra, Alexandre observou a irmã mais nova, agora uma mulher. Como o tempo havia passado e os anos afastado de maneira cruel. O silêncio entre eles era tão pesado quanto a dor que ambos carregavam. A verdade o consumia, e ainda assim, ele não sabia por onde começar.

Ele finalmente se virou. Ele suspirou profundamente, a dor evidente em sua expressão, e deu um passo na direção dela. "Eu... não queria que fosse assim," ele começou. "Eu... precisava te ver. Não por causa do pai... mas por nós."

Ela franziu o cenho, surpresa com a honestidade repentina. "Por nós?"

Alexandre assentiu, tentando manter a voz firme. "Sim. Eu preciso te contar a verdade, Helena. Tudo o que aconteceu, por que eu me afastei. Eu... eu não tive escolha. Ele me obrigou a me afastar de você. E eu tinha apenas 12 anos, não pude enfrenta-lo"

Os olhos de Helena se arregalaram. "O que você está dizendo?"

"Ele me ameaçou, Helena. Nosso pai me forçou a ficar longe. Ele disse que... que te faria sofrer se eu não obedecesse. Eu queria estar lá, ao seu lado, quando seus sonhos começaram, quando a mamãe se foi, mas... eu tive que me afastar por ordens dele."

Helena piscou, surpresa, enquanto as palavras dele atingiam como um golpe. "Eu... não sabia..." Ela sussurrou, a voz trêmula. "Eu pensei que... que você simplesmente tinha me deixado, porque nas palavras do rei, eu era louca."

"Eu nunca te deixaria sozinha Helena." Alexandre deu mais um passo em sua direção, seus olhos se enchendo de lágrimas novamente. "Você era tudo para mim e ainda é. Eu odiava vê-la sofrer de longe, mas não podia desafiar ele. E agora... agora eu preciso te contar outra coisa."

"A mamãe não morreu por causa da magia, como o papai disse Helena, eu estava lá e o Marcos (seu criado) também, eles estavam discutindo, não sei direito sobre o que, eu só vi o momento em que ele a empurrou e ela se desequilibrou e caiu pela escada, eu não sabia o que fazer fiquei em choque, papai me viu e seus olhos estavam em fúria, Marcos me tirou de lá as pressas. Desculpa Helena, eu não pude falar, o poder subiu pela cabeça dele e ele ia lhe fazer mal se você soubesse"

Por um momento, ela não soube o que dizer. As revelações eram aterrorizantes, e o peso das mentiras as asfixiavam sua capacidade de pensar claramente. Mas olhando nos olhos de Alexandre, ela viu a dor sincera. Viu o menino que costumava fugir das lições para brincar com ela, o irmão que sempre a fez sorrir.

Com a voz trêmula e lágrimas ameaçando cair, ela sussurrou: "Eu preciso de tempo para processar tudo isso. Mas... você voltou. E talvez... isso seja o que mais importa agora."

Alexandre, com um nó na garganta, sentiu uma faísca de esperança. Ele deu mais um passo e, com cuidado, abriu os braços, esperando que ela desse o próximo passo. E, depois de um breve momento de hesitação, ela o fez, indo em direção aos seus braços. O abraço era cheio de anos afastados, magoas, mas também de amor. Um amor que, mesmo na escuridão, nunca havia desaparecido.

Continua....

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