Lothalóme - Reino das Arvores
O caminho dos sobreviventes anões foi longo e silencioso até o Reino de Galathrendil. Cada passo parecia pesar sob a tristeza e o cansaço de seus corpos, mas, ao se aproximarem dos portões dourados, uma nova sensação os envolveu. O brilho suave das torres reluzentes e o aroma das árvores milenares preenchiam o ar com uma nota de acolhimento. Era como se o próprio reino os convidasse a descansar e a se recuperar.
Os portões se abriram, revelando o esplendor das construções élficas em meio ao bosque. A rainha élfica surgiu à frente, trajando um manto esvoaçante que refletia as cores do sol poente. Seus olhos, profundos e sábios, pareciam carregar uma compaixão imensurável, como se ela entendesse a dor que os anões carregavam. Com passos graciosos, ela se aproximou, e sua voz ecoou suave:
"Sejam bem-vindos ao nosso lar, amigos. Vocês encontrarão abrigo e paz aqui, e poderão permanecer pelo tempo que precisarem. Enquanto estiverem sob nossas árvores, estarão seguros."
O líder dos anões, um guerreiro de olhar duro, agora revelava uma expressão mista de alívio e tristeza. Aproximou-se da rainha e fez uma reverência, a barba grisalha quase tocando o chão. Quando ergueu o rosto, os olhos brilhavam com uma gratidão genuína.
"Majestade... as palavras não conseguem expressar o que sentimos. Não esqueceremos sua generosidade," disse ele, com a voz embargada.
A rainha fez um gesto para seus guerreiros elfos, que prontamente se curvaram em sinal de respeito e se afastaram, prontos para preparar uma área isolada onde os anões pudessem construir um novo lar temporário. Ali, entre as árvores, os anões sentiriam o calor de um refúgio, algo que, mesmo sem ser seu lar de pedra, os reconfortaria.
Conforme eram guiados, o líder dos anões ergueu o olhar para o céu entre as copas das árvores douradas. O perfume suave das folhas e o som de riachos ao longe trouxeram-lhe um vislumbre de esperança em meio ao peso da tragédia que ainda o consumia.
Nas Montanhas Distantes
Enquanto isso, em um ponto remoto nas montanhas, o grupo de Karathiel havia encontrado um abrigo entre rochas e árvores densas, onde se protegeriam até a noite cair. No entanto, Borin não encontrava paz. Sua respiração estava pesada, e, pela primeira vez, seu semblante revelava uma angústia profunda, algo muito diferente da força brincalhona que sempre demonstrava.
Karathiel observava em silêncio, sentindo o quanto o amigo sofria. Aproximou-se com passos leves, sentando-se ao seu lado e pousando uma mão gentil em seu ombro.
"Está tudo bem?" ela perguntou, a voz suave, como quem oferece um consolo silencioso.
Ele olhou para o horizonte, mas era como se enxergasse apenas sombras, sem conseguir ver nada além da inquietação em seu peito.
"Sinto algo errado... como um peso aqui dentro" respondeu ele, pressionando o punho contra o peito. "É meu povo. Meu coração sabe que eles estão em perigo, mas não posso ver... não posso saber."
Kara ficou em silêncio por um instante, compreendendo a gravidade do pedido que ele fez a seguir.
"Kara, você tem o dom da visão ampliada. Pode... olhar por mim? Pode me dizer o que está acontecendo lá?"
Ela hesitou. A visão, para ela, era uma ferramenta que muitas vezes trazia revelações dolorosas. Mas o desespero nos olhos do amigo a fez acenar, aceitando o pedido. Ela fechou os olhos por um instante, respirou fundo, e quando os abriu o focou em direção ao reino de seu amigo anão.
Ela viu as portas do reino anão destruídas, as muralhas manchadas de fuligem e fumaça subindo como um lamento silencioso. O cheiro de cinzas e metal queimado invadiu seus sentidos, e o eco de vozes distantes, gritos abafados pela destruição, a cercou.
Ela fechou os olhos por breves segundos, o coração pesado, e encontrou o olhar ansioso do amigo. Era difícil expressar em palavras o que acabara de ver, mas ele precisava ouvir.
"Seu reino... está em ruínas" disse ela com a voz baixa, escolhendo cada palavra com cuidado. "As muralhas foram destruídas, o lado de fora está coberto de cinzas e fumaça. Não há ninguém lá fora, apenas... destruição."
Ele fechou os olhos, as mãos cerradas em punhos, e deixou escapar um suspiro carregado de dor. Karathiel, respeitando o momento, apenas permaneceu ao seu lado, oferecendo-lhe o consolo silencioso de sua presença.
Decisão e Novo Caminho
Depois de um longo silêncio, o anão se ergueu, a expressão marcada pelo sofrimento, mas também por uma determinação renovada. Karathiel o observou e, sem dizer nada, assentiu. Ela sabia que ele precisava voltar para o que restava de seu lar.
"Vá" disse ela, a voz cheia de compreensão. "Volte e ajude seu povo. Preparem-se para a batalha que está por vir. Esta missão é minha e de Helena."
Nesse momento, Sam, aproximou-se timidamente. Ela havia se afeiçoado ao anão durante a missão, lembrando-se das risadas que compartilhavam e de como ele sempre a ajudava nos obstáculos. Sem conseguir disfarçar a apreensão, ela olhou para Karathiel.
"Eu gostaria de ir com ele, se... se me permitirem."
Karathiel assentiu, mas não deu uma resposta imediata. Sabia que a decisão final cabia à Helena, que, vendo a amiga e o anão lado a lado, ofereceu um pequeno sorriso e se aproximou.
"Que você o acompanhe, então, Sam" disse a princesa, com um olhar cuidadoso. "E, por favor, cuidem um do outro." Ela se voltou para o anão e lhe dirigiu um último pedido. "Proteja-a como protegeria seu próprio povo."
O anão assentiu solenemente, tocando o punho fechado contra o peito em sinal de respeito, enquanto Sam sorriu, ainda tímida, mas determinada.
Karathiel, então, chamou sua amiga Alexandra, olhando-a nos olhos com a mesma confiança.
"Acompanhe-os também. Eles precisarão de sua ajuda, e o caminho é longo."
Assim, com um aceno e uma troca de olhares de despedida, o grupo partiu em direções diferentes. Karathiel, voltando-se para os que permaneceram ao seu lado, suspirou antes de declarar:
"Ainda temos uma missão a cumprir. Nosso próximo destino é o Reino das Árvores, Lothalóme.
E, juntos, eles retomaram a jornada, carregando a esperança de que, em algum lugar adiante, encontrariam a força para enfrentar a escuridão que ameaçava a todos.
Noite de Reflexões
A noite desceu suavemente sobre as montanhas, e o grupo resolveu acampar em um ponto seguro, cercado por árvores imponentes e pelo som distante do vento que cortava as rochas. A fogueira crepitava ao centro, lançando sombras dançantes que iluminavam o semblante pensativo de cada um. Sentados ao redor, cada membro do grupo refletia em silêncio sobre as provações do dia e as incertezas do que estava por vir.
Helena, de olhar perdido nas chamas, rezava baixinho pela segurança de Sam, sua amiga de longa data, enquanto sua outra companheira Caitlin, que conhecia Sam desde a infância, também murmurava uma oração silenciosa. Karathiel, sentada ao lado de Helena, observava tudo com uma serenidade profunda, seus olhos atentos brilhando à luz do fogo. Sentindo a intensidade dos pensamentos ao seu redor, ela fechou os olhos e murmurou uma prece à natureza, pedindo orientação e proteção para os amigos que ainda precisavam de ajuda.
Axel, o mago, com seu olhar fixo nas estrelas, procurava respostas no céu, tentando interpretar as mensagens antigas que os astros podiam lhe oferecer. Contudo, naquela noite, tudo parecia silencioso, como se até mesmo as estrelas estivessem em espera. Ao lado dele, Barry, o caçador, sempre vigilante, observava o entorno com seus instintos aguçados, pronto para reagir a qualquer sinal.
Com o cair da noite, o grupo começou a se dispersar para descansar. Helena, no entanto, permaneceu perto do fogo, o olhar sombrio e perdido. Kara notou a preocupação que lhe pesava no coração e, em um gesto de ternura, estendeu a mão para a Lena. A princesa aceitou o gesto, e a elfa a puxou para perto, envolvendo-a em um abraço cálido. Sentindo o aperto suave e protetor, a princesa fechou os olhos, encontrando conforto naquele momento de proximidade.
— Sua amiga está em boas mãos — sussurrou a elfa, acariciando lhe a cabeça com um toque gentil. "Você fez a escolha certa ao deixá-la ir. Ela merece a chance de explorar novos caminhos, de descobrir quem é. E lá... ela poderá ajudar muito mais do que poderia aqui."
Helena deixou escapar um suspiro, sentindo o peso da preocupação afrouxar enquanto as palavras de Kara ecoavam em seu coração. Como um agradecimento silencioso, ela beijou a bochecha da elfa, sorrindo pela primeira vez em horas.
Com o vento frio soprando mais forte, a princesa recostou-se, buscando calor. Notando o desconforto da jovem mulher, Karathiel abriu espaço ao seu lado, puxando-a para mais perto. As duas se ajeitaram juntas, Lena se aconchegando no abraço acolhedor. Enquanto o sono começava a tomá-las, a elfa murmurava em sua língua materna, entoando palavras suaves e melodiosas que se misturavam ao som do vento. Era como uma canção antiga, feita de promessas de paz, proteção e amor.
A princesa, embalada por aquele sussurro em élfico, sentiu o calor da presença carinhosa, amorosa e a calma que vinha das palavras, ainda que não as compreendesse completamente. Com a cabeça apoiada no ombro de Kara e o som tranquilizador daquela língua mágica, adormeceu com um sorriso, sentindo-se segura e em paz e por incrível que pareça amada.
Lothalóme
O amanhecer trouxe um frio suave e úmido, com a névoa ainda agarrada às encostas das montanhas. O grupo se levantou em silêncio, ainda imerso na paz da noite passada, mas logo estavam prontos para a jornada adiante. Karathiel, agora completamente à frente, liderava o caminho pelas margens do rio, suas botas leves e silenciosas sobre o solo macio. A água corria ao lado deles com um som constante e ritmado, enquanto o céu começava a se tingir de um azul profundo.
Por dois dias, seguiram assim, fazendo breves paradas para descanso e refeição. Sempre que podia, Kara se afastava um pouco e, com sua visão afiada como a de uma águia, olhava para trás, buscando algum sinal de seus amigos. Em um desses momentos, percebeu ao longe eles chegando ao seu reino. Um alívio silencioso atravessou seu coração, e ela retornou para perto do grupo, compartilhando a boa notícia com os demais.
"Eles chegaram ao meu reino" disse ela com um sorriso suave, uma centelha de paz refletida em seus olhos. "Estão seguros agora."
Após mais algumas horas de caminhada, algo no ar começou a mudar. O vento trouxe uma sensação de frio que se intensificava a cada passo, e a luz do dia parecia se esconder entre os galhos altos e retorcidos. O grupo diminuiu o ritmo enquanto se adentravam na floresta das árvores antigas. O cheiro no ar era único, misturando a umidade da terra com o aroma profundo e quase almiscarado das árvores milenares. Parecia um lugar fora do tempo, onde cada tronco rugoso carregava a sabedoria de eras passadas.
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Karathiel parou subitamente, erguendo a mão para sinalizar aos outros que ficassem quietos. Sentia uma presença poderosa ali, algo que atravessava sua pele e chegava até sua alma. Ela fechou os olhos, deixando seus sentidos se sintonizarem com o ambiente. O vento entre as árvores era um murmúrio antigo, quase como uma canção perdida, e cada som parecia ecoar com uma profundidade solene. Quando abriu os olhos, encontrou os outros com expressões que variavam entre fascínio e um leve receio.
Virando-se para o grupo, sua voz saiu em um sussurro reverente, mas firme.
"Este lugar... é sagrado." Seus olhos eram sérios, quase severos. "Tudo aqui tem vida e lembrança. Não desrespeitem este solo, cada folha, cada tronco, e cada pedra. Eles nos observam, e nós somos apenas visitantes em sua morada."
O mago, que também parecia sentir o peso da magia antiga daquele lugar, assentiu silenciosamente, colocando a mão sobre o coração em um gesto de respeito. Ele murmurou palavras baixas, como uma prece, para harmonizar sua presença com a floresta ao redor.
Lena, ao lado de Kara, tocou gentilmente a casca de uma árvore próxima, sentindo sob seus dedos a textura áspera e fria. Havia uma vida pulsante ali, uma energia silenciosa que parecia se mover sob a superfície. Seus olhos brilharam de admiração.
"É como se as árvores sussurrassem" comentou ela em um tom quase inaudível. "Como se tivessem histórias de mil vidas para nos contar, mas apenas se estivermos dispostos a ouvir."
Kara se aproximou, colocando a mão sobre a dela. "Sim, elas têm. E é por isso que devemos respeitar cada uma delas."
Barry, geralmente o mais silencioso do grupo, observava tudo em silêncio, com o olhar atento. Ele sentia uma estranha inquietação no peito, como se o ambiente ao redor o estivesse julgando, analisando cada movimento. Ele murmurou para si mesmo, mas Kara ouviu.
"Como se fossem os guardiões de tudo o que existe... dos segredos que vieram antes e que ainda virão."
Karathiel assentiu, levando o dedo aos lábios, como um lembrete para que todos permanecessem em silêncio. Avançaram com passos leves, sentindo a aura misteriosa e ancestral que preenchia o ar, como se a própria floresta os estivesse estudando. Cada passo fazia o solo ceder levemente sob seus pés, e o som de gravetos quebrando parecia ressoar como um eco distante.
Eles se moviam com uma cautela reverente, e Kara, em um momento, levou as mãos ao peito e fez uma pequena prece. Ela sabia que estavam diante de um dos lugares mais antigos e poderosos daquela terra. Era a primeira vez que ela pisava ali, mas o poder do ambiente parecia se entrelaçar com o seu, como se a floresta a reconhecesse e a acolhesse.
"Obrigada por nos permitirem estar aqui" sussurrou ela em élfico, inclinando levemente a cabeça em sinal de gratidão.
As árvores antigas balançaram levemente, como se reconhecessem sua presença. O grupo avançou, e mesmo entre as sombras mais densas, Kara podia sentir uma segurança tranquila, como se a floresta estivesse abrindo caminho para eles. Ela lançou um último olhar para o grupo, suas palavras ecoando baixinho.
"Lembrem-se: estamos em solo sagrado. Que cada um de nós honre a memória e a vida que residem aqui."
Enquanto caminhavam mais fundo na floresta das árvores antigas, a luz do sol se transformava em faixas tênues de dourado, filtradas pelas copas densas e ancestrais. As árvores ao redor eram imensas, seus troncos espessos e retorcidos, cobertos de musgos antigos que pareciam brilhar suavemente no ar umedecido. Havia um silêncio absoluto, quase sobrenatural, que envolvia o lugar. Nenhum som de pássaros, nem o farfalhar de pequenos animais entre as folhas, nada além da quietude profunda e a presença imponente das árvores.
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Os troncos das árvores se erguiam como pilares de uma catedral, e cada um deles parecia ter raízes que mergulhavam profundamente na terra, ligando-se a um sistema invisível e secreto que sustentava o coração daquela floresta. As folhas, de um verde escuro e denso, formavam um manto quase impenetrável acima deles, criando uma penumbra constante, onde apenas alguns feixes de luz se infiltravam.
Caitlin, a amiga da Helena, observava cada detalhe com olhos curiosos. Havia algo de místico e desafiador naquele silêncio imutável. Após um tempo, sua curiosidade se transformou em pergunta.
"Não há animais, nem insetos... nada." Sua voz era suave, como se temesse quebrar o feitiço do lugar. "Como essas árvores se mantêm? Como se reproduzem sem a polinização e a dispersão das sementes?"
Karathiel sorriu para Caitlin, um sorriso carregado de ternura e paciência, e colocou uma mão reconfortante em seu ombro.
"Esta floresta é diferente de todas as outras, Caitlin. Aqui, a natureza tem suas próprias leis, além do que entendemos no mundo exterior." Seus olhos brilharam com uma profundidade ancestral enquanto falava. "As árvores aqui têm seus próprios guardiões. São conhecidos como os Sements."
Ela fez uma breve pausa, e a palavra "Sements" parecia ecoar pela floresta, quase como se as próprias árvores escutassem.
"Os Sements" continuou Kara, com a voz baixinha e reverente "são árvores guardiãs que habitam esta floresta sagrada. Eles não são como as árvores comuns; eles andam e se movem entre os outros seres, cuidando, curando, e ajudando as árvores milenares a prosperarem. Sempre que uma árvore está fraca ou precisa de auxílio, os Sements se aproximam e a sustentam, compartilham suas forças. Eles até ajudam na propagação das sementes, no momento exato em que a floresta os chama."
Helena e Caitlin ouviram em silêncio, absorvendo cada palavra. Caitlin ainda parecia incrédula, mas fascinada.
"Como são esses guardiões?" perguntou ela, baixando a voz involuntariamente, como se o simples som pudesse incomodá-los.
Karathiel olhou ao redor, seu olhar profundo e atento como se pudesse ver algo que os outros não viam.
"Eles são árvores como estas" respondeu com um toque de admiração na voz. "Mas mais altos, com uma majestade quase assustadora. Suas raízes não se prendem ao solo como as árvores comuns. Elas se estendem e movem, permitindo que eles andem pela floresta. Seus galhos são fortes, e suas folhas parecem ter um brilho próprio. Quando um deles se aproxima, até o ar ao redor parece respirar vida."
Ela fez uma pausa, e seus olhos, sempre vigilantes, pareciam procurar qualquer sinal de movimento entre as árvores.
"Dizem que os Sements têm consciência, que eles sabem quando a floresta precisa deles e quando precisam cuidar de um novo ciclo. Eles carregam o saber das eras, e cada árvore aqui é como uma filha para eles."
Helena tocou suavemente a mão de Karathiel, seus olhos brilhando com o que parecia ser uma mescla de temor e reverência.
"São como... almas guardiãs, então" murmurou a princesa, como se o entendimento daquela verdade mágica finalmente lhe tocasse o coração.
Karathiel assentiu com um sorriso sereno.
"Sim, exatamente. E é por isso que devemos andar com respeito. Porque cada passo que damos aqui é uma marca no território deles."
Enquanto o grupo continuava seu caminho através da densa e reverente floresta, Karathiel guiava Helena com cuidado, segurando sua mão para ajudá-la a transpor os troncos imensos caídos no chão e raízes salientes. A conexão entre elas era palpável, crescendo a cada toque e cada olhar trocado. Seus amigos, que seguiam logo atrás, observavam com sorrisos sutis o vínculo que se fortalecia, compreendendo a profundidade daquele sentimento que emergia entre as duas.
A atmosfera da floresta, anteriormente serena e silenciosa, começou a se alterar quando avistaram uma luz intensa à frente. Não era uma luz qualquer, mas um brilho poderoso que emanava do coração da floresta, iluminando as árvores gigantescas ao redor. No entanto, havia algo estranho. A luz, em vez de permanecer constante e forte, piscava de maneira irregular, quase como uma chama vacilante.
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Karathiel estacou ao ver aquilo, sentindo o coração acelerar. A pulsação da floresta, que sempre fora estável e vital, agora parecia trêmula. Ela conhecia bem as histórias e lendas daquele lugar. A luz central era o epicentro da floresta das árvores antigas, sustentando o equilíbrio e a vida que pulsavam naquelas raízes. Os Sements, os guardiões sagrados, deveriam estar ali, protegendo essa essência... mas não havia sinal deles.
Com os sentidos em alerta, ela lançou um olhar preocupado aos seus companheiros e sussurrou, a voz carregada de uma gravidade incomum.
"Algo está muito errado" disse ela, em um tom quase inaudível, que reverberou na quietude pesada da floresta. "Esta luz nunca deveria se apagar. Ela é o coração da floresta. E os Sements... eles deveriam estar aqui."
Ela olhou ao redor com olhos afiados, como se tentasse captar qualquer movimento ou sinal dos guardiões. O ar estava estranho, pesado, e parecia carregar um presságio de algo terrível.
"Precisamos procurar os Sements" disse Kara, com uma determinação que fez todos assentirem de imediato. "Eles são os únicos que podem manter esta luz viva. Fiquem atentos e procurem qualquer sinal deles."
Helena, preocupada, tocou levemente o braço de Karathiel, os olhos buscando alguma explicação.
"O que pode ter acontecido?" sussurrou ela, sentindo uma inquietação se espalhar em seu peito.
Kara tomou a mão dela, apertando-a com firmeza.
"Não sei ao certo... mas algo, ou alguém, perturbou o equilíbrio desta floresta. Vamos descobrir o que está acontecendo. E eu prometo, não deixarei nada de mal te alcançar."
Com essa promessa silenciosa entre elas, o grupo se espalhou ao redor, examinando atentamente o ambiente. A cada passo, o ar se tornava mais pesado, quase sufocante, e o silêncio que antes era reverente agora parecia carregado de uma tensão sombria.
Helena, mantendo-se próxima à Karathiel, sentia o pulso da floresta vibrar de maneira errática, como se o próprio espírito daquele lugar estivesse perturbado.
Descobertas
Caitlin caminhava distraída, os olhos ainda curiosos com a paisagem ao redor, quando esbarrou em algo sólido e imenso. A textura era áspera, parecendo casca de árvore, mas havia uma estranha energia vibrando ali, algo que a fez estremecer. Ao encostar mais uma vez, sentiu uma onda de poder passar por ela, e por um instante, teve uma visão: a imagem de sua amiga, Helena, e de Karathiel, unidas, tocando aquela "parede" estranha. A visão desapareceu tão rápido quanto veio, mas deixou Caitlin perplexa.
Com o coração disparado, ela se afastou rapidamente e foi até Helena e Karathiel, as palavras saindo apressadas e entrecortadas.
"Eu... eu toquei algo... enorme, como uma parede, mas... eu vi vocês duas! Juro que vi vocês tocando aquilo. Não sei o que significa, mas foi estranho. Achei que deveria contar."
Karathiel franziu o cenho, trocando um olhar com Helena. Algo naquele relato parecia indicar uma ligação profunda com o que estavam procurando.
"Mostre-nos onde é" disse a elfa, com uma serenidade que escondia a tensão crescente em sua voz.
Caitlin as guiou até o ponto onde havia encontrado o obstáculo estranho. Axel, sempre atento a qualquer sinal de magia ou poder oculto, examinou a "parede" com olhos estreitos. Ele estendeu a mão sobre a superfície e fechou os olhos, sentindo o fluxo de energia.
"Isto não é uma parede" murmurou o mago, sua voz carregada de reverência e assombro. "É um Sement."
A revelação fez com que todos prendessem a respiração. Karathiel aproximou-se do ser imenso, reconhecendo, nas veias e fendas de sua casca, as marcas dos guardiões sagrados da floresta. Mas algo estava errado: o Sement parecia adormecido, ou talvez enfraquecido.
"Por que ele está assim?" Helena perguntou em voz baixa, quase como se não quisesse perturbar o espírito adormecido diante deles.
Karathiel colocou a mão sobre o Sement, sentindo a energia esvair-se aos poucos, quase como se aquele ser estivesse lutando para manter o pouco de poder que ainda restava.
"Não tenho certeza... mas talvez algo tenha drenado sua força" respondeu Karathiel, sua voz tomada por uma preocupação profunda. "Os Sements são os guardiões da vida desta floresta. Se eles estão assim... toda a floresta corre perigo."
Ela fechou os olhos, inclinando-se contra o Sement como se buscasse se conectar com ele, compartilhando um pouco de sua própria energia em um gesto de empatia e respeito. Após alguns segundos, ela se afastou, os olhos brilhando com uma nova determinação.
"Precisamos encontrar o que está drenando os Sements e restaurar seu poder. Somente assim poderemos salvar esta floresta."
Caitlin, ainda intrigada e um pouco nervosa pela visão, se virou para a sua amiga e para Karathiel.
"Eu... eu acho que vocês precisam tocar o Sement, como eu vi na minha visão" disse ela, um brilho de incerteza e coragem em seus olhos. "Não sei o que vai acontecer, mas senti que era algo importante."
Kara e Lena trocaram um olhar. Ambas sentiam uma conexão inexplicável com aquele guardião da floresta, algo profundo e primordial, como se o Sement as estivesse chamando. Depois de um breve instante de hesitação, se aproximaram lado a lado, estendendo as mãos para tocar a superfície da casca.
Ao tocarem o Sement, uma força poderosa e ancestral as envolveu, puxando suas consciências para dentro, como se mergulhassem no coração da floresta. Suas mentes foram arremessadas para um vasto mundo de energia verde e dourada, onde elas flutuavam em meio às raízes da sabedoria antiga. Nesse reino, sentiam o pulsar do coração da floresta, o ritmo lento e poderoso que sustentava cada árvore milenar, cada folha e raiz.
Enquanto isso, seus corpos permaneciam imóveis, as mãos ainda firmes contra o Sement. Axel observava, os olhos estreitos, e deu um passo para trás, falando em um tom baixo, mas carregado de compreensão para os demais.
"Elas estão passando por um teste." Ele fez uma pausa, observando a conexão que as duas compartilhavam naquele momento, como se cada uma fosse a âncora da outra naquele mundo espiritual. "A floresta está testando se são dignas de conhecer seus segredos, de carregar a responsabilidade que um dia os próprios Sements suportaram."
À medida que avançavam, visões tomavam forma ao seu redor, mostrando o ciclo dos Sements. Elas viram o nascimento de cada guardião, brotando de sementes ancestrais, crescendo e caminhando pela floresta como protetores vivos. Cada Sement assumia um papel vital: fortalecia as raízes, curava as árvores feridas e afastava as trevas que constantemente tentavam invadir aquele espaço sagrado. Por séculos, os Sements sustentaram a floresta, mas agora, em suas visões, elas viam sombras escuras crescendo ao redor deles, sufocando a vitalidade da floresta como uma doença silenciosa.
As sombras eram lentas, furtivas, como se soubessem que o coração da floresta não podia ser subjugado facilmente. As trevas se infiltraram nas raízes mais profundas e nas folhas mais altas, corrompendo aos poucos a pureza daquele santuário. Os Sements lutavam incansavelmente, mas mesmo seus poderes começavam a enfraquecer, e sua força ancestral já não era suficiente.
Então, as visões mudaram. Uma nova imagem se formou, da floresta chamando, clamando por um ser de coração puro, alguém que pudesse carregar sua luz e restaurá-la. E uma pequena elfa apareceu, uma garotinha de olhos brilhantes e curiosos, nascida sobre as estrelas. Sentindo o destino chamando-a, a floresta a presenteou com um dom especial — a habilidade de ouvir a voz da natureza e de conversar com as árvores e plantas, um laço único e inquebrável com a essência do mundo natural. Essa garotinha era a própria Karathiel, escolhida desde o nascimento para esse momento.
A floresta falou com ela, sua voz vibrando como o farfalhar de folhas ao vento, doce e sábia, mas também cheia de dor:
"Oh grande elfa, dei a ti o poder de compreender meu coração, mas não posso suportar as trevas sozinha. Elas me corroem, me enfraquecem. Você é a esperança que guardei, o elo que criei para um dia trazer-me de volta. Mas sua jornada não será solitária... há outra, que ilumina seu caminho."
Karathiel então sentiu a presença de Helena ao seu lado, como uma chama suave, mas firme. A floresta sussurrou que a princesa seria sua guia, sua âncora contra as trevas que tentariam possuí-la. O vínculo entre as duas foi fortalecido ali, mais forte do que antes, um laço que combinava a força da elfa com a luz da princesa, formando uma barreira inabalável contra a escuridão.
Elas sentiam a escuridão ao redor, pulsando, tentando invadir suas mentes, mas a presença da princesa era como uma luz reconfortante e calorosa, mantendo a elfa segura. Era como se cada toque e cada olhar trocado entre elas trouxessem forças renovadas, uma prova de que, juntas, poderiam enfrentar até mesmo as sombras mais profundas.
Finalmente, a visão começou a dissipar-se, e, com um último pedido, a floresta suplicou:
"Use o dom que lhe dei, e traga-me de volta à vida. Em ti e em tua luz repousa minha última esperança."
Quando Karathiel e Helena abriram os olhos, de volta à realidade, o peso daquela visão ainda vibrava em seus corações. Karathiel, sentindo a responsabilidade pesada, pegou a mão de Helena e apertou-a, deixando que a luz reconfortante daquela presença acalmasse seus temores.
Ela então se voltou para o grupo, a determinação evidente em seus olhos.
"A floresta pediu nossa ajuda. E nós não falharemos." Karathiel falou indo em direção a grande luz que banhava e mantinha a floresta em harmonia e funcionando.
Salvando a floresta das arvores
Karathiel respirou fundo ao chegar ao centro da luz poderosa, uma energia pulsante e vibrante que enchia o ar com um calor quase palpável, emanando de um antigo altar de raízes e pedras entrelaçadas. Ela sentia cada fibra de seu ser tremer sob o peso do que estava prestes a fazer, mas também sentia uma força desconhecida crescer dentro dela. Era o dom que todos falavam, algo raro e poderoso, mas que ela nunca ousara explorar completamente. Agora, com um propósito claro, ela fechou os olhos, deixando que o chamado da floresta guiasse seus sentidos e sua alma.
A conexão foi imediata. Ela sentia a vida ao seu redor pulsar em harmonia com a batida de seu coração — o farfalhar das folhas ecoando sua respiração, o perfume intenso de raízes antigas preenchendo o ar, o som dos galhos estalando como uma melodia ancestral. Mas, ao mesmo tempo, uma escuridão densa começou a pressionar ao redor, tentando invadir seu ser. Era uma sensação sufocante, fria e ameaçadora, que fazia seus músculos tremerem e sua mente vacilar.
Helena observava de longe, vendo Kara lutando com uma força invisível, seu corpo estremecendo enquanto seu rosto refletia esforço e dor. Ela se lembrou das palavras da floresta, de que era sua guia, a âncora para que Kara não sucumbisse às trevas. Sem hesitar, ignorando os avisos de seus companheiros, a princesa avançou. Sentia o ar ficar mais pesado a cada passo, como se a própria floresta a testasse, mas nada a faria parar. Ao alcançar Karathiel, segurou-lhe a mão, seus dedos firmes e quentes se entrelaçando como uma promessa silenciosa.
No instante em que suas mãos se tocaram, algo profundo aconteceu. Karathiel abriu os olhos, que agora brilhavam com uma luz intensa, e uma onda de energia reverberou pelo espaço ao redor. Um calor reconfortante preencheu seus corpos, dissipando a escuridão ao redor como uma chama em uma noite fria. A elfa sentiu sua força crescer, agora amplificada pela presença da princesa. Um sentimento profundo tomou conta dela — um amor que a sustentava, que preenchia as lacunas de suas incertezas. Era como se a princesa fosse uma extensão de sua própria alma.
"Eu estou aqui com você," sussurrou Helena, sua voz suave e firme, trazendo Karathiel de volta da beira do abismo.
Com o coração batendo em uníssono com a energia da floresta, a elfa fechou os olhos mais uma vez, deixando seu dom fluir completamente. Mas, então, algo mudou. Em seu subconsciente, a escuridão tomou forma, e diante dela surgiu o Senhor das Trevas, um ser de sombras, seu rosto envolto em uma expressão de desprezo e crueldade.
Karathiel se encontrou face a face com a ameaça que consumia a floresta e toda a terra. Ele era uma presença imponente, a própria personificação das trevas, sua aura fria e densa como gelo, seu olhar ardendo com ódio e desafio. Uma risada baixa escapou de seus lábios, e ele avançou, erguendo uma mão como se fosse esmagá-la com um único gesto.
"Então, você é a escolhida?" ele sussurrou com uma voz gélida. "A frágil criatura que ousa enfrentar a escuridão?"
Karathiel sentiu um arrepio, mas não desviou o olhar. Em seu íntimo, uma calma surgiu, pois ela sabia que não estava sozinha. Ao seu lado, Helena apareceu, sua luz suave e calorosa dissipando a penumbra ao redor. A elfa sorriu, seu coração batendo com uma nova confiança. A presença da princesa era um escudo, uma força que a sustentava.
"Eu não estou sozinha," respondeu Karathiel, sua voz firme e determinada.
As sombras ao redor vacilaram. O Senhor das Trevas recuou por um instante, mas logo voltou a avançar, seu rosto contorcido em raiva.
"Você não entende o que está desafiando, garota! A floresta já é minha, e nada, nem você, nem seu amorzinho ao seu lado, poderá mudar isso."
Karathiel apertou a mão de Helena com mais força, sentindo o calor que fluía dela como uma corrente de vida. Com um último olhar de determinação, ela encarou o Senhor das Trevas, sua voz firme e carregada de poder:
"Saia, este lugar não te pertence!!"
Num instante, uma explosão de luz emanou de seu corpo, irradiando uma onda de energia que varreu o Senhor das Trevas para longe, rompendo a escuridão e devolvendo a paz à floresta. A sombra gritou, expulsa de sua consciência, e, num último lampejo, desapareceu.
O ar ao redor voltou a ser sereno, o calor da floresta pulsando mais uma vez em harmonia com o coração da elfa. Ela abriu os olhos, voltando à realidade, e encontrou o olhar da princesa, ainda de mãos dadas. As palavras da floresta ecoaram em sua mente: a princesa era sua guia, seu apoio, sua luz contra a escuridão.
Com um sorriso suave e uma ternura profunda, Karathiel sussurrou:
"Obrigada... minha luz."
As duas se abraçaram e uma luz leve emanava delas, era seu vinculo se fortalecendo a cada missão as preparando para a grande batalha.
Ao expulsarem as trevas, o pequeno grupo mal teve tempo de recuperar o fôlego antes de ouvir um som profundo e reverente atrás de si. Era como se a própria floresta estivesse se movendo. Quando se voltaram, ficaram atônitos com a cena diante deles: os Sements estavam se reunindo, suas formas gigantescas de árvores vivas, cada uma emanando uma presença ancestral e protetora. Eram mais de trinta, caminhando em perfeita harmonia, criando uma espécie de caminho sagrado ao redor do grupo.
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O Sement mais velho, que parecia quase tão antigo quanto a própria terra, avançou com um passo solene. Ele estendeu uma de suas grandes mãos enraizadas, onde segurava algo que parecia brilhar com uma luz suave e dourada. Era um fragmento de madeira, antigo e sagrado, emanando uma energia que fazia todos os presentes sentirem o peso de sua importância. A princesa e a elfa entreolharam-se, reconhecendo imediatamente: este era o fragmento que buscavam, a peça que poderia restaurar a força da floresta e unir ainda mais os reinos.
O Sement mais velho inclinou-se e entregou o fragmento, sua voz ecoando como um trovão suave, rica de sabedoria e segredo:
"Guardiãs da Luz, aceitem este fragmento. Ele contém a memória do mundo e a promessa de renovação. A próxima peça que procuram repousa no Lar dos Grandes Élficos da Cura. Sigam o caminho que lhes foi designado, e saibam que, onde quer que estejam, a floresta estará com vocês."
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As palavras ressoaram profundamente em cada um deles. Então, como se a missão tivesse finalmente sido cumprida, os Sements ergueram-se, cada um deles fazendo uma reverência silenciosa antes de retornar às profundezas da floresta, suas formas desaparecendo como sombras entre as árvores.
Houve um momento de silêncio, onde apenas o vento suave passava pelas folhas, como uma despedida dos antigos guardiões. Karathiel e Helena se entreolharam, um misto de gratidão e alívio estampado em seus rostos. Sem dizer uma palavra, Caitlin, Axel, Barry, Kara e Lena se aproximaram, abraçando-se em um círculo apertado.
"Mais uma vitória" murmurou Axel, com um sorriso suave.
"Sim, mas também mais um passo" acrescentou Caitlin, seus olhos brilhando com determinação.
Karathiel apertou a mão de Helena enquanto olhava para o fragmento em suas mãos, sentindo o peso e a responsabilidade daquela missão. Elas sabiam que o caminho ainda era longo e cheio de perigos, mas ali, unidos como estavam, não havia dúvida de que poderiam enfrentar o que viesse.
Com um último olhar para a floresta que acabaram de salvar, o grupo virou-se, determinado a seguir para o próximo destino, o Lar dos Grandes Élficos da Cura, onde esperavam encontrar a próxima peça do enigma e aproximar-se ainda mais de sua missão final.
Continua...
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