Setembro, 23
Setembro, dia 23
Hoje foi a primeira vez em muitos anos que te vi voltar para casa a chorar.
Da última vez vinhas lavada em lágrimas por teres tirado uma negativa, quando ainda andavas na outra escola. Fiquei admirado por não temeres a reação do John e da Martha, mas por estares cheia de medo de chumbar e ter de adiar o teu sonho. Receavas não conseguir ter notas boas o suficiente para entrar na Academia de Dança para o concretizar. Apesar de tudo, conseguiste superar as tuas fraquezas e ter sucesso.
Eu nunca pensei tornar a ver as tuas doces lágrimas.
Desta vez ficaste triste com uma crítica que o teu professor te fez. Pelo que me contaste das últimas vezes, ele não é um professor particularmente difícil, mas quando se enerva com os seus alunos, leva tudo à frente. Pergunto-me se terá exagerado nas suas críticas, se terá feito algum discurso descabido para te ter deixado naquele estado. É porque não costumas ser uma miúda de lágrimas fáceis. Precisas que te levem ao limite ou de algo realmente entristecedor para ficares assim.
Percebo que lutar pela excelência não é brincadeira de crianças, mas não há nada que justifique a falta de respeito e insultos gratuitos (que é o que imagino que tenha acabado por acontecer no fim). Não sei o que é que ele te disse quando te deu na cabeça porque te fechaste em copas quando tentei saber mais pormenores, mas talvez seja melhor assim. Se me tivesses contado alguma coisa que eu não gostasse de ouvir, talvez acabasse a fazer alguma coisa de que me fosse arrepender, especialmente se depois acabasse a dificultar a tua vida na Academia.
Vinhas tão abatida quando entraste pela porta... Tanto a Martha como o John tentaram perguntar-te o que se passava depois de mim, mas limitaste-te a responder com silêncio. Assustaste-nos a todos. Pensávamos que algo pior se passava.
Mas depois fomos dar contigo no jardim. Realmente, a tua persistência e teimosia nunca deixam de me surpreender e fascinar.
Nessa tarde, ficaste no jardim até te doerem os pés, a repetir vezes e vezes sem conta o mesmo exercício, para tentar corrigir o que o teu professor disse que não estava bem. Só voltaste para dentro de casa quando te chamaram para jantar, toda suada e suja de terra, exausta. Mesmo assim não estavas satisfeita. Querias treinar mais, querias repetir até que saísse perfeito. Até que o teu professor não tivesse um mísero motivo para implicar contigo na aula seguinte.
Admiro essa tua força de vontade. Admiro a facilidade com que te entregas a algo. Admiro o tempo e a paixão que dedicas ao que fazes, para que seja sempre o melhor possível. Quem me dera ser como tu. És uma inspiração para mim, Di. Mas de certeza que serias para muitas outras pessoas, se elas te conhecessem. Se soubessem aquilo que eu sei sobre ti, inspirar-se-iam na tua força para continuar em frente e não desistir.
Deus sabe que és a pessoa que me motiva a fazê-lo.
Adoro-te, meu pirilampo.
Com Amor,
Sammy
[editado: Dez 2024]
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