Março, 14

Março, dia 14

Os dias aqui por casa têm sido caóticos. Os despertadores apanharam o mau hábito de não tocar, entramos e saímos todos de casa em horários que não são os nosso horários normais. O meu autocarro decidiu não aparecer duas vezes esta semana, e só cheguei a horas da primeira aula porque, por sorte, o autocarro a seguir andou mais depressa para compensar a falta do primeiro. Tu tens te levantado mais cedo que o habitual porque não queres correr o risco de chegar atrasada, graças à vaga de preguiça dos despertadores logo pela manhã, e assim apanhas boleia da Martha, que durante este mês vai andar a cobrir os furos de um colega, o que a obriga a ir trabalhar mais cedo. O John anda a chegar tão tarde a casa e tão cansado do dia demasiado longo que o normal no escritório que mal o vemos. Estão a tratar de um contrato com uma empresa grande, que não podem perder. E, para piorar a situação, a avó Nana está doente.

A mãe da Martha não merece nada disto. É uma senhora tão ativa e bondosa. Lembro-me da primeira vez que ela nos viu. Tratou-nos como se sempre tivéssemos sido seus netos, como se nos tivesse visto na maternidade depois da Martha nos dar à luz. Ela gostou especialmente de ti, porque ela sempre quis ter uma neta. Não lhe interessava os teus problemas de saúde. Ela só via a cara de uma criança traquina a quem ela ia poder ensinar um monte de coisas, como fez com a filha.

E agora, a senhora está a passar mal. Amanhã ou depois tenho que ir contigo visitá-la. É a velhota mais sábia e com mais energia que conheço. Adora aprender, não liga muito a telenovelas, odeia cozinhar e prefere passar a tarde sentada ao sol, num banco de jardim de um parque qualquer, do que em casa.

Não sei se o ex-marido dela já a foi visitar. O homem é tão carrancudo e tão mal humorado que eu acredito que ele se esqueceu da avó Nana. Não costumo dizer estas coisas, mas ainda bem que eles se divorciaram. Ele não faz de todo jus à personalidade dela. A Martha também já não o vê à algum tempo, pelo que sei. O homem nem se lembra que tem uma filha! Mas como diz a sábia avó: " Mais vale só, que mal acompanhada. Para velhos jarretas não tenho eu paciência!". Estão as duas muito melhor sem ele.

Não o conhecemos pessoalmente, apenas de vista. Isto não é o suficiente para criticar o homem, mas por aquilo que ouço de ambas, não fiquei com grande imagem dele. E não tenho intenções de o conhecer, visto que ele também não quer saber da família dele.

Espero sinceramente que a avó Nana melhore depressa. Ela é uma mulher forte, com certeza isto vai passar-lhe. Mas assim até me sinto mal em sair hoje à noite com a Carol. Talvez te leve comigo, porque vamos a um bar onde fazem danças latinas. Eu sei que preferes dança mais clássica, mas se calhar vai animar-te um pouco. Não tens andado com boa cara ultimamente. Talvez seja por causa disto da avó, ou por causa das tuas idas ao hospital que nestes últimos tempos se têm tornado mais frequentes outra vez. Não sei. Mas se calhar estás a precisar de te distrair. Para além disso, faz-te bem enquanto bailarina aprender e conhecer outros estilos de dança, assim como é importante para um músico conhecer outros estilos musicais que não o seu.

É, acho que vens connosco. Se a Martha e o John não se importarem. Talvez eles venham também. Mas logo se vê.

Com Amor,

Sammy

[editado: Dez 2024]

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