Dezembro, 18

Dezembro, dia 18

Eu sei que já não te escrevo há algum tempo, mas estive muito ocupado com as avaliações finais de semestre e com os projetos que tive de entregar, por isso não me sobrou muito tempo e cabeça para te escrever. Contudo, agora que estou oficialmente de férias, já não tenho de me preocupar com isso. Fiz tudo o que tinha a fazer no tempo certo e acho que me saí bem. Mas só a pauta o dirá, não é mesmo?

Tu própria não te saíste mal. Tiveste algumas notas menos boas, mas vê-se na tua cara que vais trabalhar para as melhorares. Mas vê se aproveitas as férias para descansar. Ou pelo menos tentar, está bem? Exigiste demasiado de ti neste período, daí a tua recaída. Eu preocupo-me contigo, Diana, e não quero que esse problema fique descontrolado. Teres feito o reforço de transfusões foi algo pontual, mas todos queremos que se mantenha assim. Por isso tenta aproveitar estas férias, que não são assim tão grandes, para descansares um pouco, de modo a poderes voltar depois a trabalhar com todas as tuas forças, como te é característico.

A Academia tem um espetáculo no fim de todos os períodos e o deste ano foi muito giro, mesmo para quem não tem grande olho e apreço pelas artes performativas. Não tiveste nenhum papel principal, tal como todos os teus colegas do primeiro ano, mas isso não teve importância. Dançaste muito bem na mesma. Cheia de garra, cheia de energia, cheia de paixão. Claro que sou suspeito, porque sou um irmão orgulhoso, mas acho que tenho razão. Sei que gostavas de ter um papel maior, tal como os outros bailarinos, mas vais lá chegar um dia. Quando chegar a altura certa, irás ter o teu momento. Irás brilhar, meu pirilampo, e iluminar os rostos de cada espectador na audiência. Mas ainda não. Ainda não estás preparada. Não tens experiência ou técnica como os finalistas da Academia, mas se tiveres paciência e se te esforçares, terás a tua vez. Poderás ser dona dos palcos que quiseres, porque talento e dedicação não te faltam.

Tenho estado enfiado ou na faculdade ou em casa, por isso não me sobrou muito tempo para levantar a cabeça e olhar em volta, mas está cada vez mais notório de que o Natal está à nossa porta. As luzes nas ruas, os anúncios com sinos e "Oh! Oh! Oh!" na TV, as playlists com a Mariah Carey à cabeça, a febre do consumismo e a euforia de dar e receber presentes... 

Tu sabes como eu gosto do Natal. Bem, agora gosto, graças à Martha e ao John. Se não fossem eles, era uma das festas que iria odiar. Mas depois daquele ano de solidão que tivemos, não deve ser muito difícil imaginar que esse seria o resultado.

No entanto, agora eu gosto de ver a casa com os enfeites natalícios, as chuvas e os ares frios do inverno do lado de fora de casa enquanto estou sentado no sofá, com uma caneca de cevada na mão, um cobertor sobre os pés e o som leve do crepitar das chamas da lareira que aquecem a casa. Adoro ver os clássicos de natal que passam na televisão com todos nós sentados nos sofás, em família. O John está sempre no telemóvel e de dez em dez minutos queixaste de já termos visto o filme nos anos anteriores, mas eu gosto na mesma. A Martha é a única que aguenta ver os filmes comigo. Mas depois vemos sempre um filme que tu ou o John sugerem, por isso ficamos todos felizes.

Gosto de ter a família a jantar cá em casa nessa noite supostamente mágica. Gosto da confusão que fica quando mal conseguimos acomodar a família toda em volta da mesa grande da sala, que nos parece cada vez mais pequena com cada ano que passa. Gosto de olhar para a nossa árvore encostada a um canto cheia de presentes à volta e de ver os nossos primos mais novos de volta das caixas com papéis de embrulhos coloridos a tentar adivinhar o que lhes vão oferecer nesse ano. Não ligo muito aos presentes que me dão, mas gosto de os ver debaixo da árvore de natal e da ideia da sua troca, do dar e receber algo que pensaram especial e carinhosamente para nós. Gosto dos jogos que a nossa família faz todos os anos, antes e depois da meia noite. Gosto da união da família quando chega a esta altura do ano.

Em resumo, gosto muito do natal. Não és das maiores fãs e o John tampouco, mas eu tento controlar a minha febre natalícia e, felizmente, vocês perdoam-me os excessos da quadra.

Gostava de te escrever mais um pouco, de tentar compensar as cartas que ficaram por escrever neste tempo que passou, mas agora tenho de ir. A Martha precisa de ajuda para o jantar de hoje porque vem cá dormir uma das  tuas amigas. Acho que se chama Jéssica? Nunca sei os nomes delas. Sou péssimo com isto, desculpa. Depois, se ainda me sobrar tempo, aproveito para ir ter com uns amigos. Vais ter a casa quase só para ti durante umas horitas, já viste? Aproveita bem, mas nada de disparates que a Martha deve andar algures por aí!

Com Amor,

Sammy

[editado: Dez 2024]


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