Abril, 09

Abril, dia 09

Vais voltar para casa. Finalmente.

Sei perfeitamente que esse lugar de paredes brancas e beges, com macas e doentes espalhados por todo o lado, barulho de máquinas e pessoas atarefadas e cheiro a desinfetante não é propriamente o teu destino de férias favorito. 

Após incontáveis horas a desesperar numa cadeira de plástico desconfortável numa sala de espera, sentados ao lado de miúdos com febres e outras tantas doenças, o teu médico veio ter connosco. Tinha um ar cansado e por momentos suspeitámos que tivesses piorado, que aquela vez ou outra que acabas por te esquecer dos quelantes de ferro já estivesse a causar problemas no teu fígado ou no teu coração, por exemplo. Mas era um falso alarme. A sua aparência derrotada era apenas fruto do turno longo, que tinha começado na madrugada do dia anterior e, mesmo para dar notícias felizes como o facto de ires ter alta, ele já não tinha energia.

Mas o que importa é que já foram assinados os papéis, e voltas para casa num instante. 

Na tua ausência, que não passou de alguns poucos dias, houve várias coisas que mudaram por cá. Primeiro, a súbita vontade da Martha de fazer mudanças na sala. Temos sofá novo e agora está tudo fora do sítio habitual. Mas é o novo look e ela não está a pensar mudá-lo tão cedo.

A Dona Carmem, da porta ao lado, comprou um Chiuahua. Aquela coisa é uma criatura do inferno. É um animal demoníaco que não deixa ninguém dormir. Para além disso, é mau como as cobras. Não gosta de estranhos e morde tudo e todos. Ele só cá está desde sábado, mas já não posso com ele.

Sabes o Óscar, o vizinho da frente? Ele vai casar com a Aurora porque eles vão ser pais e nós fomos convidados para o casamento deles na praia, este Verão. Vai ser quase do outro lado do país, por causa dos pais dela, mas a Martha e o John já marcaram tudo num hotel. Vamos aproveitar para fazer umas férias em família. Que tal? Estou ansioso, porque há muito tempo que não vejo o mar. Nem me lembro sequer da última vez que fizemos férias na praia. Mal posso esperar.

Por último, mas não menos importante, o Max tem cá vindo bastantes vezes para saber como estás. Quis levá-lo ao hospital algumas vezes, mas ele recusou-se, por algum motivo. Talvez ainda sinta alguma culpa ou remorso. Mas é tudo absurdo. Ele não teve nada que ver com este teu colapso. Ninguém teve. 

Vamos convidá-lo para cá almoçar, depois de estares instalada e de te sentires melhor. E espero sinceramente que não demore muito tempo.

Com Amor, 

Sammy

[editado: Dez 2024]

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