2.3 | Dia 3
Quarta-feira
"Aquele da Destruição é um ser de poder incalculável..."
Ouço vozes vindas de algum lugar, mas não consigo identificar de onde ou quem está falando. Não sinto meu corpo ou vejo qualquer coisa, apenas estou aqui, onde quer que aqui seja.
"Seu retorno à Terra o torna a ameaça mais perigosa de todas as possíveis. Tudo e todos devem se juntar na luta contra o fim."
Essa voz... Ela ecoa em meu cérebro, fazendo minha mente viajar para outros lugares dentro dela mesma.
"Se perdermos... talvez vejamos o apocalipse."
"Perdemos."
"Apocalipse."
"Terra."
"Dekorha!"
Meus sentidos todos voltam ao mesmo tempo, me fazendo abrir os olhos e me mover. Me vejo sentado em minha cama, com algumas cobertas sobre minhas pernas. A luz do sol que adentra o quarto singelamente denuncia que já é de manhã.
Respiro ofegantemente, sentindo meu corpo vibrar com as pulsações aceleradas de meu coração. Mais um pesadelo... Já é a terceira manhã seguida que acordo com o susto de um pesadelo. Porém, nenhum outro me deixou tão assustado quanto o de hoje. Já estou começando a ficar preocupado. Talvez devesse ir ao médico.
Olho para o lado à procura de Hansel, mas ele não está aqui. Pego meu celular e percebo pela barra de notificação que há algumas mensagens enviadas por ele.
"Tenho um compromisso de trabalho e precisei sair mais cedo! Deixei café da manhã pronto na cozinha! Te amo!"
Suspiro, aliviando a tensão que está sobre os músculos do meu corpo. Ele está bem, só está trabalhando. Não tenho que me preocupar com nada.
Me levando da cama e vou em direção ao banheiro, onde tomo um belo banho e escovo meus dentes. Ainda é quarta-feira, tenho trabalho a fazer. Apesar de que, hoje, vou cobrir uma área mais tranquila da cidade. Imagino que não vá acontecer nada de diferente, talvez encontre algumas crianças brincando no meio das ruas. Ou, no mais grave dos casos, outra briga por cauda de biscoitos.
Vou em direção à cozinha para tomar café e me deparo com um pilha gigante de panquecas doces encobertas por um uma tampa de plástico no formato de uma redoma perfeitamente posicionada no centro da mesa. Logo ao lado, vejo um pote de melado olhando para mim. Sinto meus olhos brilharem enquanto meu estomago, de repente, me lembra da fome tenho agora. Será que eu tenho o melhor marido do mundo?! Isso nem mesmo deveria ser uma pergunta!
Já estou em meu horário de almoço. Tenho por volta de duas horas livres antes de voltar para meu turno. Tudo na cidade está muito calmo, o trânsito, a circulação dos pedestres, quase como se não houvesse preocupações do dia a dia para ninguém. Infelizmente, não é o meu caso. Estava esperando ser capaz de me concentrar na patrulha de hoje, mas a falta de agitação fez com que minha mente ficasse repetindo meu último pesadelo de novo e de novo. Por algum motivo, não consigo tirá-lo da minha cabeça.
Aquele da Destruição... Achei que tivéssemos deixado essa lenda para trás lá no primeiro ano da U.S.E. É uma lenda estúpida, afinal. Nem mesmo sei por que os pais das crianças fazem questão de contá-la. Sei que faz parte da nossa cultura, mas não vejo pessoas dando tanta importância para outras lendas quanto dão para essa. Tipo a história dos Guardiões da Vida, por exemplo, que foram o grupo de heróis do passado que salvaram o mundo da escuridão. Inclusive, é baseado neles que chamam Hansel de O Guardião.
Bom, nunca fui muito fã de literatura ou de lendas antigas, não sei por que, de repente, isso parece chamar a minha atenção.
Enquanto dirijo pelas ruas da cidade, em direção à minha agência, passo em frente a uma biblioteca pública. Percebo minha cabeça se virando em direção a ela quanto passo logo em sua entrada. As pessoas geralmente não vêm muito aqui, uma vez que há tantos meios digitais de leitura. Aos poucos vou me distanciando dela, seguindo a velocidade constante do meu veículo. Um lugar antigo como aquele com certeza dele ter bastantes livros de contos e lendas.
Minha velocidade diminui para parar no semáforo logo mais a frente. Enquanto observo o vermelho de sua luz, minha mente divaga em memórias não tão nítidas do passado. Nós costumávamos ter tanta preocupação com Aquele da Destruição no primeiro ano, mas não consigo me recordar por que, exatamente, ou por qual motivo elas foram embora. Será que estou deixando alguma coisa passar?
O semáforo abre, me dando a oportunidade de continuar meu caminho para a agência. Mas ao invés de acelerar, meu corpo trava, me fazendo ficar parado. Olho para trás, percebendo que a biblioteca não está tão longe.
Uma parada rápida não vai fazer mal, tenho bastante tempo.
Dou a volta no retorno mais próximo da via e vou em direção à biblioteca. Estaciono na vaga pública e vou para dentro. Faz muito tempo desde a última vez que entrei num lugar destes. Tudo aqui é mais calmo e silencioso. Há poucas luzes, mais espalhadas por locais onde pessoas possam se sentar para ler. Posso ver algumas em mesas, usando seus computadores e lendo livros. Tem mais gente do que eu esperava.
Dou uma volta pelos corredores de estantes altas, todas lotadas com livros. Este lugar é grande, se perder não é nada difícil, ainda mais para alguém como eu.
- Posso ajudá-lo com algo? - Ouço uma voz masculina vinda de trás de mim. Me viro calmamente, percebendo a presença de um homem de pele clara, cabelos escuros e olhos azuis. Um pouco mais baixo que eu. Ele faz uma cara de surpresa ao ver meu rosto. - Espera... Firestrocke?!
- Oi! - digo, acenando com a mão.
- Nem ferrando! Eu sou um grande fã seu! - diz empolgado. O grande sorriso em seu rosto faz meu coração se aquecer, sempre adoro quando encontro com fãs. - Não acredito que o Firestrocke está na minha biblioteca! Pode me dar um abraço?
- Claro que sim, garoto! Vem cá! - respondo. O garoto me abraça com hesitação, me fazendo perceber que está até mesmo tremendo um pouco. Entendo essa sensação, costumava me sentir assim quando era mais novo e via algum vigilante que admirava.
- Certo! Certo! - Ele se afasta de mim e balança a cabeça, tentando conter a animação. - Como posso ajudar?
- Você é o bibliotecário? - pergunto surpreso.
- Sim! Sim! Sou eu mesmo! - responde ele.
- Você parece ser um pouco jovem para ser bibliotecário - digo, olhando para o seu crachá pendurado em seu pescoço, o nome dele é Júlio.
- Fiz dezoito neste ano, senhor. Trabalho aqui de meio período em horários que não coincidam com minhas aulas preparatórias para a U.S.E. -- responde ele. - Quero ser um vigilante igual ao senhor um dia, mas por enquanto, isto aqui é o que tenho.
- Bom, eu te desejo toda a sorte do mundo com isso, jovem Júlio! Tenho certeza que vai se sair muito bem quando começar lá! - digo, colocando minha mão no ombro dele. Um pouco de validação faz bem para qualquer jovem.
- Muito obrigado! - diz ele com um sorriso de orelha a orelha.
- Bom, você perguntou se eu preciso de ajuda e a resposta é sim! Consegue me ajudar a encontrar alguma coisa que fale sobre a lenda de Aquele da Destruição? - pergunto a ele.
Percebo Júlio hesitar ao ouvir sobre a lenda que procuro. O sorriso em seu rosto logo se desfaz, mostrando um leve ar de ansiedade.
- Aquele da Destruição...? - pergunta ele em tom mais baixo de voz.
- Sim! Acredito que um lugar antigo como este, com tantos livros, deva ter alguma coisa sobre, não é? - digo, olhando para as estantes ao nosso redor.
Júlio solta uma risada de nervosismo. Não entendo sua reação, não é como se essa lenda fosse algo proibido de se falar.
- Sim, na verdade, há - responde ele com voz trêmula. - Pode me seguir.
Júlio vai na frente e eu o sigo. Nós subimos as escadas da biblioteca que levam a um local mais afastado, mais vazio. Ele abre uma porta, revelando uma sala cheia de livros antigos.
- Parece que ninguém entra aqui há um tempo... - digo, olhando ao redor e protegendo meu nariz da poeira.
- É uma sessão mais afastada por ordens superiores, a grande maioria das pessoas nem mesmo sabe que ela existe. Todos os livros aqui falam especificamente de Aquele da Destruição - responde Júlio. Dou uma olhada em volta surpreso, são muitos livros, não imaginava que tanta gente tivesse passado tanto tempo escrevendo sobre o mesmo assunto. - O senhor encontrará de tudo aqui, desde livros de fantasia a livros de estudo sobre a lenda e o passado. Teorias, pesquisas cientificas, tudo o que possa imaginar.
- Estou vendo... - Olho para cada uma das estantes, observando a quantidade de conteúdo que existe neste lugar. Acho que passaria meses dentro deste lugar para conseguir ler tudo isso. - Obrigado pela ajuda!
- Sem problemas! Vou deixá-lo sozinho, até porque esta área da biblioteca não me faz sentir confortável - diz ele, deixando a sala e indo embora.
Bom, definitivamente não vou ter tempo para ler todos estes livros, mas acho que consigo encontrar alguma coisa mais concreta que me ajude a entender mais sobre a lenda. Dou uma olhada pelas estantes até achar uma área que se chama "pesquisas". Um dos livros tem o título "A Teoria de Tudo", parece ser interessante, talvez devesse começar por ele.
Pego o livro em minhas mãos e começo a folheá-lo, tentando prestar atenção nas partes mais importantes, já que não tenho tempo para dar cem porcento de foco a ele. O livro fala basicamente dos princípios da formação da Terra e de como tudo está conectado. Ele cita a Faísca de Vida como sento o principal fator que contribuiu para a evolução da nossa espécie, o coração de tudo, mas não está dizendo o que ela é ou de onde veio.
Durante minha vida, nunca tive muito interesse em saber sobre essas coisas, mas é um assunto que Hansel adora, já passei horas ouvindo-o falar sobre. A Faísca de Vida é algo que nunca foi provado ser real, ninguém nunca a encontrou, nem mesmo rastros de sua existência. Então, até o presente momento, é apenas uma teoria, assim como o big bang. Oráculos são os únicos seres poderosos o suficiente para serem capazes de viajar ao passado mentalmente para provar teorias científicas ou fatos históricos, mas nenhum foi capaz de ir tão longe. Hansel talvez seria, mas ele se recusa a fazer isso, sempre diz que é melhor que certas coisas permaneçam um mistério.
Passo mais algum tempo folheando alguns dos livros a procura de algo que me chame a atenção, mas tudo aqui parece levar a um mesmo ponto: a Faísca criou tudo, mas foi corrompida. Daí nasceu Aquele da Destruição, iniciando uma guerra que duraria séculos. Lá no passado, quintessência era chamada de magia, até porque não tinham o todo o conhecimento e estudo sobre ela de hoje em dia, então, não estou conseguindo entender como possivelmente a energia que faz o universo girar poderia ser corrompida por emoções. Não parece ser cientificamente possível. Tenho certeza de que deve ter algum livro aqui que tente interpretar de forma científica o que essa "corrupção" significa.
Olho para o meu relógio e percebo que falta pouco tempo para voltar para meu turno. Bom, acho que vou ter que deixar esta pequena investigação para outro dia.
Já é noite. Estou em casa há um tempo esperando Hansel chegar do trabalho. Ele está atrasado hoje... Tínhamos planejado assistir a alguns filmes na TV de casa, mas ele ainda não deu notícias. Já mandei mensagens, já liguei, mas até agora, nada.
Olho para fora da janela da sala de estar de casa, perto da porta, esperando algum sinal de movimentação, mas está tudo muito quieto. Estou preocupado, Hansel nunca se atrasa, nunca. Ando da janela até o sofá, me sentando e abraçando uma almofada. Hansel é o Guardião, nada de ruim pode acontecer a ele, eu tenho certeza. Talvez tenha ficado atolado com as preparações para o Festival da Liberdade que esqueceu de olhar o celular. Certeza de que foi só algo do tipo.
Olho para o raque da sala que segura a TV e vejo um álbum de fotografias guardado. Decido me levantar e pegá-lo em minhas mãos. A capa é branca, resistente. Gosto de rever algumas das memórias que estão contidas aqui, especialmente quando estou preocupado com alguma coisa. Me ajuda a espairecer. Isso é mais um dos hábitos que adquiri com Hansel, antigamente só costumava ir correr ou algo do tipo para desestressar.
Abro o álbum e observo algumas das fotos nele. Tem uma do meu primeiro dia na U.S.E., só tem Sarah, Helena, Caio e eu nesta foto, me lembro que Hansel ainda não fazia parte do nosso grupo. Faz um tempo que não tenho notícias de Sarah e Helena, me pergunto o que elas têm feito ultimamente. Eu sei que Sarah estava se preparando para algumas competições esportivas que participaria daqui a alguns meses, e Helena deve estar ocupada com sua carreira de juíza. Bom, é mais ou menos como a vida funciona. A gente cresce e cada um segue seu caminho. Só vejo Caio todos os dias porque trabalhamos na mesma agência.
Passo mais algumas páginas e vejo uma foto de Hansel deitado na grama, olhando para o céu. Me lembro deste dia, foi no nosso local escondido, perto da montanha. Esse foi o dia em que o pedi em casamento. Estava tão nervoso que mal conseguia respirar, mas ao vê-lo tão tranquilo, tão sereno, olhando as nuvens, todo o meu medo foi embora. Precisava tirar esta foto.
Passo mais algumas páginas até chegar no dia do nosso casamento. Aqui têm muitas fotos desse dia. Fizemos nosso casamento em uma chácara mais afastada de Dunamous. Eu me lembro de como chorei feito um bebê antes de começar, não conseguia acreditar que estava acontecendo. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Só de imaginar que passaria o restante da minha vida junto a ele todo meu corpo começava vibrar de alegria. É um dia que eu jamais poderia esquecer.
Passo três páginas para frente e vejo uma foto aleatória que chama a minha atenção. Sou eu tomando um sorvete, sentado em um banco de uma praça. Por que esta foto está? Que dia foi esse?
Procuro em minhas memórias, tentando me lembrar do contexto da foto, até que ele me vem à mente. Oh... Agora me lembro, foi o dia em que eu entrei em contato com um órgão público de adoção... Queria me informar pessoalmente como funcionava o processo. Essa foto tirei aleatoriamente para mandar a Hansel, não sei por que está aqui. Conversei com ele logo que cheguei em casa, falando da possibilidade, mas Hansel parecia não estar seguro. Não queria pressioná-lo a nada, então acabei deixando o assunto de lado. Talvez a ideia de ser um pai o assuste, afinal, ele não teve uma das melhores experiências.
Fecho o álbum e respiro profundamente, guardando-o em seu lugar. Seria gratificante ter um garotinho ou garotinha correndo por esta casa enorme. Ela é tão vazia no dia a dia. Nós temos um quarto que não usamos no andar de cima, seria perfeito.
Ouço o som da fechadura da porta rodando, então, ela se abre e Hansel passa por ela. Meu coração acelera ao vê-lo, tirando qualquer preocupação que pudesse ter. Me levanto rapidamente e vou em sua direção.
- Oh! Oi! - diz Hansel assim que me vê, mas antes que ele fale mais algo, eu o envolvo em meus braços, segurando-o fortemente. - Uau! Este é um abraço um tanto forte! Você está bem?
- Estava preocupado! Você passou o dia inteiro sem me responder! - respondo em tom de chateação.
- Sinto muito, querido! - Hansel me abraça de volta, acariciando minhas costas. - Hoje foi um dia cansativo, acabei não prestando muita atenção ao celular.
Ele se afasta um pouco de mim e olha em meus olhos, acariciando meus rosto. Então, me beija gentilmente, me fazendo sentir tudo ao mesmo tempo. O calor de meu corpo aumenta, me fazendo pressioná-lo ainda mais firmemente contra mim. Retribuo seu beijo, entrelaçando nossas línguas. Os sons de pequenos gemidos vindos dele enchem minha mente, me fazendo desejá-lo ainda mais.
Hansel me interrompe, se afastando um pouco e olha para mim surpreso.
- O quê? - pergunto.
- Nada. Você só está sendo um pouco mais grudento que o normal para uma recepção de dia a dia - responde ele.
- Não tenho culpa que meu marido causa essas reações em mim - digo, encostando meus lábios em seu pescoço e o beijando.
- Enji... E-eu nem mesmo guardei minhas coisas ainda - diz ele gaguejando. Esses pequenos barulhos fofos que solta quando beijo seu pescoço me levam à loucura, só me faz querer provocá-lo ainda mais.
- Quem liga para coisa?! - digo, puxando-o contra mim e carregando-o até o sofá. Hansel não diz mais nada, nem tenta resistir. Em vez disso, ouço o som da porta fechando e percebo a luz azul envolvendo sua mochila e fazendo-a flutuar para dentro, deixando-a no chão da sala.
Me sento no sofá com Hansel sobre minhas pernas, virado de frente para mim. Ao olhar para seu rosto, percebo-o vermelho, como se estivesse envergonhado. Engraçado... Ontem à noite ele não estava sendo tão tímido assim, muito pelo contrário, parecia um animal. Não consigo deixar de sorrir ao vê-lo vermelho, geralmente é ele quem faz essas coisas comigo, eu mereço, pelo menos uma ver, ser a pessoa que provoca.
Encosto minha testa em seu peitoral, sentindo o cheiro de sua roupa. Ele acaricia meu cabelo com seus dedos, beijando a minha cabeça.
- Estou sentindo que você tem algo em sua mente que está te incomodando - diz ele levemente.]
- Essa frase é minha - digo. Hansel ri e beija minha cabeça mais algumas vezes.
- Isso é porque você é o mais centrado no presente de nós dois. Você sabe disfarçar melhor do que eu - diz ele, se afastando de mim e olhando em meus olhos. - Se você não está conseguindo disfarçar, quer dizer que a situação é séria.
Hansel se senta no sofá e coloca sua mão em suas pernas, indicando que eu encoste minha cabeça nelas. Eu apenas obedeço. Ele corre seus dedos por meu cabelo, me fazendo sentir seguro.
- Tive alguns sonhos esquisitos durante a noite nos últimos dias - digo, tentando expressar da melhor forma o que estou sentindo. - Não consigo dizer exatamente sobre o que são, mas têm me incomodado.
- Consegue descrever pelo menos um deles? - pergunta Hansel em um tom mais sério.
- O último foi sobre Aquele da Destruição - respondo. Sinto seus dedos pararem de se mexer.
- Então, você está com medo do bicho papão?! - diz ele em tom de piada, segurando sua risada.
- Você sabe que nós tivemos história com esse conto no primeiro ano da U.S.E. - digo na defensiva.
- Eu sei e me lembro de não ter dado em nada - diz ele, voltando a acariciar meu cabelo. - Enji, escute - viro minha cabeça para olhar diretamente para ele -, nada jamais vai nos machucar, tudo bem? Eu nunca vou deixar ninguém interferir nas nossas vidas. Não há Aquele da Destruição que possa existir que irá tirar nosso lar de nós.
Fecho os meus olhos e me aconchego minha cabeça em suas coxas. Acho que ele está certo. Não deveria me preocupar com nada. Afinal, pesadelos são só pesadelos, não são reais. Espero conseguir descansar com meu coração em paz hoje à noite.
- Senhor, acredito que esteja acontecendo uma alteração da composição original da estrutura.
- Me dê um relatório da situação.
- Os níveis de radiação emanadas das paredes aumentou, possivelmente por alguma mudança ocorrida lá dentro. O que quer que essa coisa seja, parece estar ganhando consciência.
- Há alguma resposta dos soldados que atravessaram para o outro lado?
- Não, senhor. Mas os sensores de batimentos indicam que ainda estão vivos. Devem ter sido impossibilitados de voltar.
- Continuem fazendo mais testes, precisamos achar alguma brecha. Tudo neste mundo tem uma porcentagem de falha, essa coisa não é diferente.
- Certo, senhor...
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