1.15 | Dor
20/03/2022
Já faz duas semanas que nossos treinamentos começaram, estivemos praticando dia sim e dia não. Apesar de não ter passado muito tempo, já houve bastante progresso; e mais importante, Hansel começou a aprender a controlar a terra. Nós decidimos seguir a ordem da qual seus poderes começaram a aparecer, então, enquanto ele aprende a controlar a água nas aulas práticas, Caio o ensina a controlar a terra nas horas vagas, no ferro-velho, como agora.
– Ele aprende rápido, não é? – diz Helena ao meu lado. Nós dois estamos observando Hansel e Caio performarem uma sequência de movimentos de dobra da terra, de longe.
– Hansel tem treinado sem parar, todos os dias, nas horas vagas, é impossível que não aprenda rápido num ritmo assim – digo, observando-o fazer sua sequência, puxando blocos de terra do chão e lançando-os em direções específicas.
– Tem razão. Logo, irá ser capaz de controlar água e terra sem problemas – diz ela, mesmo que eu não consiga prestar muita atenção no que diz, estou mais interessado em assistir ao treino. – O que significa que as aulas serão passadas para você. Se sente preparado para isso?
– Por que você se importa? – pergunto aborrecido. Não é que esteja bravo com Helena por ser curiosa como é, mas não quero pensar sobre o assunto, não quando ainda está tão longe, mesmo estando tão perto.
– Porque a única forma de me manter longe de ser infectada pelas emoções negativas fortes de vocês, é resolvendo suas questões trabalhosas – Ela cruza os braços, me observando. – Olha pelo lado bom, é como um apoio emocional.
– Bom, se você chama se intrometer na mente dos outros de apoio emocional, talvez tenha razão. – Reviro meus olhos. Ela não deveria ficar se intrometendo nisso.
– Ainda assim, ajudo vocês a entenderem o que estão sentindo. Como seu nervosismo por estar chegando perto de sua vez como treinador. E honestamente, não é nem apenas isso, você tem estado uma bagunça! – diz ela, me deixando surpreso, surpresa que não dura muito tempo, afinal, sei a natureza do seu poder. Entretanto, parece um pouco diferente, hoje.
Não gosto de admitir para mim mesmo, mas estou nervoso, o que é estranho, pois sei o que preciso fazer. Sei como dobrar o fogo, sei quais são os básicos que preciso que Hansel aprenda, mas quando penso em treiná-lo, só sinto frio em meu estômago.
Caio e Hansel terminam sua sequência e se aproximam de nós, para uma pausa. Eu pego uma garrafa de água perto de mim e lanço-a para Hansel. Ele a faz flutuar no ar, trazendo-a lentamente para si.
– Bom, definitivamente estou cansado! – diz Caio, assim que chega perto o suficiente de nós.
– Mas, já?! Nós nem fizemos nada novo, hoje! Só revisamos movimentos passados! – Hansel abre sua garrafa e joga um pouco de água em seu rosto. O branco de sua pele molhada reflete em encontro com os raios solares de meio de tarde, não me deixando tirar minha visão dele. É surpreendente como ele não precisa fazer o mínimo de esforço para se destacar em qualquer lugar, observá-lo é hipnotizante como um feitiço.
– Cara, corta essa! Nós repetimos os mesmos movimentos por quase três horas! – diz Caio.
– Parece que estão tendo o tempo de suas vidas... – diz Helena, mexendo em suas unhas. Ela parece um tanto desinteressada na conversa, já que envolve elementos e, bom... telepatas não podem controlá-los.
– É claro, treinar com outro ser da terra é bem mais interessante do que com a professora! Mesmo que ela seja muito boa, ainda é um ser do vento – responde Caio, passando seu braço pelo pescoço de Hansel. – E o Hansel aqui faz tudo parecer moleza! Nem parece que estava a níveis abaixo de mim há alguns dias atrás!
– Bom, você é um bom professor também, vou te dar esse crédito! – Hansel sorri, enquanto conversa com Caio. Os dois começam a discutir sobre seu treinamento, apontando falhar que cometeram e como podem melhorar. Me distancio do grupo e me sento em uma caixa velha de madeira, jogada no ferro-velho, me afundando e suspirando. A alguns metros de distância, os observo interagir, como se já fosse melhores amigos.
Estou feliz que Hansel está se dando bem com Caio e Helena, que está se abrindo mais com os outros. Porém, parte de mim ainda tem esta estranha sensação, uma dor no peito, parecendo que há alguém empurrando algo pontudo para dentro; sensação que venho sentindo há alguns dias. Não entendo o que é isso.
Olho mais uma vez para ele, sorridente como um adolescente em meio aos seus colegas de escola. Aquele inocente e genuíno sorrido de quem está aproveitando seu tempo com outras pessoas, pessoas que não são seus colegas de quarto ou de sala de aula...
Não consigo entender... Eu deveria estar feliz por ele, considerando todo o seu plano de fundo, a sua reputação pelos corredores da S.E., o jeito que todos o olham com medo, intimidados. Considerando todos os sentimentos negativos que outros alunos têm por ele, por o chamarem de mentiroso, quando descobriram que ele não é puramente um oráculo. Considerando a barreira que ele mesmo constrói para se proteger de tanto julgamento. Eu deveria estar feliz por ele, agora que está encontrando seu lugar...
Mas, em vez disso, por que só consigo me sentir deixado de fora...?
– Bom, eu voto de irmos atrás de comida! – diz Caio, em meio à conversa.
– Concordo! Todo esse treinamento me deixou com fome! – diz Hansel. Ele se vira para mim, só agora percebendo que não estava no grupo. – Ei, você vem?
Me levanto da caixa, limpando minha calça de qualquer sujeira.
– Oh, cla-
– Na verdade, Enji e eu precisamos conversar sobre um assunto muito importante. É particular! – Helena me interrompe, respondendo aos outros por mim.
– Oh, é mesmo...? – pergunta Hansel desconfiado. Ele me olha com uma sobrancelha arqueada, como quem questiona sobre o que ela está falando, mas eu não sei como reagir, não sei do que ela está falando. Sinto meu rosto tão vermelho que estou a ponto de querer me enfiar debaixo da terra.
– Sim! Então, vocês podem ir na frente e os alcançamos depois! – Helena empurra Hansel e Caio para saírem. – Mandem a localização de vocês por mensagem!
Caio e Hansel saem do ferro-velho sem fazer mais nenhuma pergunta, deixando Helena e eu para trás. Assim que ela se vira para mim, eu levanto minhas mãos e balanço a cabeça, questionando-a.
– Mas de que droga você está falando?! – pergunto irritado.
– Você vai me agradecer mais tarde... Agora, sente aí e vamos conversar! – diz ela, apontando para a caixa de madeira.
– Até parece! Eu não sou uma criança e você não é minha mãe para falar assim comigo! – digo, cruzando os braços.
– Oras, então, pare de agir como uma, cara! – Helena dá um passo à frente. – Ciúmes?! É sério mesmo?!
– Já não te falei para ficar fora da minha cabeça?! – Começo a sentir aquela dor em meu peito crescer, se espalhar, como fogo. Uma mistura de raiva com perturbação. Eu não quero falar sobre isso, mas me sinto a ponto de explodir.
– Eu sou uma telepata, Enji, emoções fortes me afetam mesmo quando eu não quero! – diz ela irritada. – Qual é o seu problema?! De início, mal conseguia olhar para a cara do Hansel. Mas agora, fica enciumado quando ele não está prestando atenção a você? Qual a lógica por trás disso?!
Suas palavras são jogadas sobre mim como um balde de água fria. Consigo sentir o calor em meu corpo começar a subir, calor vindo da raiva que sinto por não saber como lidar com isso, com essa sensação. Ela tem razão, estou com ciúmes.
– Eu não sei... – respondo em tom baixo, mas ainda irritado, desviando meu olhar de Helena. – Eu não sei!
– Errado... – diz ela, me fazendo voltar sua atenção para mim. Posso sentir o tom de decepção em sua voz. Ela não soa como a Helena que eu conheço, que sempre tem um ar sarcástico, parece até estar possuída por algo. – Você só está tentado se esconder da verdade. Toda essa sua ideia de dar o seu melhor para ajudar o Hansel, de fazer parte do propósito dele, não passa de uma mentira que você usa para esconder o fato de que você está com medo!
– Eu não sei do que você está falando... – digo, desviando meu olhar e cruzando meus braços de forma mais apertada, tentando me proteger desse sentimento. O céu começa a se encher de nuvens, seguido por um vento frio. Mas, mesmo em meio ao frio, não consigo senti-lo, pois o calor de meu corpo só aumenta, mais e mais.
– Pare de mentir! – grita Helena, mas sua voz soa como um trovão. – Você está com medo de ser rejeitado mais uma vez! De que se Hansel se aproximar de outras pessoas, vai voltar a ser frio com você como era no início! Não vai precisar de você!
A dor em meu peito se espalha por meu torço, me fazendo querer gritar, me contorcer. Vejo pequenas chamas tentarem se acender de meus braços, sendo apagadas pelo crescente vento. O calor está crescendo, não tenho com contê-lo, por mais que tente, não posso.
– Não, não é verdade...! – digo para mim mesmo, tentando conter minhas lágrimas. – Hansel não iria fazer algo do tipo de novo!
– Será mesmo...? – pergunta ela, sua voz enquanto em meus pensamentos. Tento manter minhas visão para longe de Helena, mas assim que tenho um relance, já não vejo mais ela em frente a mim, mas outra versão de mim mesmo. Meu interior é invadido por medo, como se estivesse encarando meu grande pesadelo. – Todos sempre deixam você para trás... Seus amigos da escola seguiram em frente, se cansaram do garoto popular, que usavam como uma vantagem. E quanto a Sarah? Cara, ela se deu conta de que era lésbica depois de ficar com você... Será que te beijar foi tão ruim assim?
A dor estridente se espalha pelo restante do meu corpo, dando lugar a mais chamas aparecendo em meu corpo. Não sei quão elevada está a minha temperatura agora, mas sei o que vem a seguir caso continue subindo...
– Para... – Deixo escapar, não consigo dizer mais nada além disso.
– Oh, mas ainda nem falei sobre a sua mãe... – diz a outra versão de mim. No mesmo momento, me deixo colapsar, caindo de joelhos no chão, sem mais conseguir conter minhas lágrimas. – Ela abandonou você logo depois de nascer, te deixou com sua tia e desapareceu pelo mundo. Se até mesmo a sua mãe te deixou, por que o Hansel não deixaria...? Uma vez que ele perceber o quão desesperado por atenção você é, vai se encher, vai te descartar como um pedaço de lixo!
Paro de tentar conter a dor, apenas a deixo se alastrar, tomar de conta. Meu corpo é consumido pelo fogo, destruído em pedaços, numa grande explosão, deixando nada além de chamas para eu ver.
Acordo em um salto, ofegante. Leva alguns segundo até que perceba que ainda estou no ferro-velho, encostado em um carro enferrujado, sentado no chão. O treinamento de Hansel e Caio ainda não terminou.
– Olha só, a bela adormecida resolveu acordar! – A voz de Helena, vinda do lado, me traz completamente de volta para a realidade, percebendo que só estava cochilando.
– Ah dá um tempo... – Me levanto e me afasto dela, indo em direção à saída do ferro-velho.
– Ei, aonde está indo? – pergunta Helena confusa.
– Preciso de ar... Encontro vocês mais tarde na cafeteria – respondo sem olhar para trás, apenas seguindo para fora.
Mesmo que tenha sido apenas um sonho, ainda estou com a sensação do calor em meu corpo. Preciso me distanciar do ambiente, da voz de Helena, de tudo que me lembre o que acabei de presenciar em meus pensamentos.
Ando pelas ruas tranquilas do bairro; é de tarde, as pessoas devem começar a chegar em suas casas logo. Pouco vento, mas um tanto caloroso, aconchegante, como um dia comum de verão.
Que loucura... Foi só um pesadelo, mas foi tão real. Será que estou deixando toda essa situação afetar minha cabeça, ou, talvez, meu subconsciente estivesse mesmo tentando me dar um aviso?
Continuo ouvindo a voz de Helena gritando comigo: "Você está com medo de ser rejeitado mais uma vez!" Como um fantasma em meus ouvidos. Por que estou com tanto medo de ser rejeitado por Hansel mais uma vez?! Não faz o menor sentido, não preciso de sua aceitação! Mas, mesmo assim, me sinto atraído a querê-la. Será que é por isso que estou com tanto medo de não conseguir ensiná-lo a dobrar o fogo? Se eu falhar, vou desapontá-lo. E só o pensamento de o desapontar é suficiente para me sufocar.
Enquanto ando na calçada, vejo alguns coletores de lixo tirando as sacolas das lixeiras e colocando-as no caminhão, que passa pela rua. Eu deveria ficar incomodado pelo cheiro ruim, mas minha mente só consegue lembrar da fala de meu outro eu: "... Vai te descartar como um pedaço de lixo!" Sinto dores no estômago, mas não por causa do odor, é bem pior...
Preciso colocar meu pensamentos no lugar, entender o que realmente estou sentindo...
Dois, três, quatro! Fim!
Abaixo minha cabeça, em sinal de reverência, em direção ao Caio, que faz o mesmo. Fim de treino, finalmente! Dou um leve soco em sua mão, antes de caminhar até Helena, que estava assistindo ao treinamento de longe.
– Acho que nunca me cansei tanto na vida... – digo, pegando minha garrafa com água e espalhando um pouco sobre meu rosto. A sensação de frieza me refresca, estava precisando disso...
– Nós nem fizemos nada de novo, apenas revisamos movimentos passados – diz Caio, se aproximando de mim.
– Finalmente vocês terminaram, não aguentava mais esperar! – diz Helena, se intrometendo na conversa.
Antes de responder, olho ao meu redor, dando falta de uma pessoa.
– Onde está o Enji? – pergunto curioso.
– Bom, ele foi embora, disse que precisava de ar – responde ela.
Olho para a saída do ferro-velho, imaginando o que poderia ter se passado. Geralmente, sou eu quem uso essa desculpa, não ele... Será que algo o aborreceu? Olho meu celular, esperando encontrar alguma mensagem, mas nada.
– Tenho certeza de que ele vai ficar bem, acho que só precisava esticar as pernas um pouco –diz Caio, tentando relaxar os braços. Acho que ele está certo, eu não deveria me preocupar. Mesmo que Enji não tenha avisado... – O que acham de irmos atrás de comida?
– Achei que não iria perguntar! – suspira Helena. – Eu sei de uma lanchonete chique, com comida saudável, aqui por perto! Eles acabaram de abrir!
– Ótimo. Deveríamos ir, então, ou vai ficar tarde. – Me distancio dos dois, pegando meus pertences e andando inconscientemente em direção à saída.
Caio, Helena e eu andamos pelas ruas do bairros, aproveitando nossas companhias. Mesmo que apenas fique observando, gosto de vê-los conversar. Deveria estar pensando no treinamento, nos movimentos que aprendi, que revisei hoje, mas minha mente não consegue parar de focar em Enji.
Nós temos esta regra de convivência no quarto, sempre avisamos um ao outro para onde estamos indo. Ele me avisa com quem está, onde e quando irá chegar, caso chegue mais tarde durante a noite. Tivemos essa ideia por causa do sequestro e do ataque, é como uma forma de sabermos onde cada um está, caso haja alguma emergência. Nós nunca quebramos a regra.
Olho meu celular mais uma vez, esperando alguma resposta da mensagem que mandei, perguntando onde ele está, mas não há nada, ele nem sequer leu.
Certo, Hansel, não é hora de criar paranoias agora... Ele está bem! Se alguém tivesse que ir atrás de um de nós, seria eu, não ele. Não há motivos para temer.
– Oh, é aqui! – diz Caio, ao chegarmos na lanchonete, me tirando das ideias.
Nós três adentramos a lanchonete e nos assentamos em uma das mesas vazias. O local está um tanto movimentado, provavelmente por ser fim de tarde, as pessoas costumam passear mais pelo bairro nesse horário.
Caio e Helena passam seu tempo escolhendo o que comer, enquanto eu me deixo viajar em ideias e pensamentos que adoram transtornar minha mente. As últimas semanas foram agitadas e cansativas, mas extremamente produtivas. Pude aprender bastante sobre o controle da terra, estou andando lado a lado a Caio em relação a progresso. Mas ainda estou bem longe de atingir meu potencial máximo, nós dois estamos. Sem contar que ainda há fogo e ar pela frente.
Olho para a rua, pela janela da lanchonete, focando nas pessoas que caminham tranquilamente. Me pergunto se a vida deles é tão turbulenta quanto a minha. Seria interessante me colocar na vida de pessoas "normais" por um dia, apenas um dia longe de tudo o que conheço...
– Alô?! Terra chamando Hansel! – Helena estala os dedos em frente ao meu rosto, me fazendo voltar minha atenção a ela. – Ei, você está bem?
– Desculpa, só estava distraído... – respondo distante.
– Uau, eu nem percebi! – diz ela sarcasticamente. Acho que seria um pouco rude da minha parte não prestar atenção no que estão falando enquanto estamos na mesma mesa. – No que estava pensando?
– Nada de importante – respondo, tentando desviar de assunto. – Achei que pudesse dizer, já que é uma telepata.
– Você sabe que meus poderes não funcionam completamente em você – responde ela aparentando estar frustrada. Sim, claro, havia me esquecido dessa parte. Isso também é algo que não faz sentido para mim. Faria se ainda estivesse com algum inibidor, mas não estou, ela deveria ser capaz de ouvir meus pensamentos. Talvez, quanto mais poderes você tem, mais difícil é para um ser psíquico adentrar?
– Enfim, alguma notícia do Enji? – pergunto, levando a conversa para outra direção.
– Nada para mim – responde Caio.
– Nem para mim – responde Helena em seguida.
Deixo sair um profundo suspiro de mim, mostrando minha frustração. Caio me observa com curiosidade, como quem tenta entender meus movimentos.
– Vocês ficaram bem próximos nos últimos tempos, não é? – pergunta ele, arqueando uma sobrancelha.
– Bom, nós somos colegas de quarto, então, sim – respondo indiferente em relação à sua pergunta.
– Ah, corta essa! Você trata o Enji como se ele tivesse uma coleira no pescoço e você estivesse segurando a corrente! Parecem até um casal de velhos! – diz ele, me deixando surpreso, não imaginava que fosse falar algo do tipo.
– Isso é ridículo! Eu o trato como qualquer outra pessoa... – digo, desviando meu olhar. Ele está delirando, se eu tento manter Enji sob controle é porque ele adora se meter em encrencas. É culpa dele!
– Bom, eu não ia me meter no assunto, mas tenho que dizer que Caio está certo – diz Helena, juntando suas mãos e as colocando sob seu queixo. – Vocês dois ficam bicando um ao outro como se tivesse uma enorme tensão sexual entre vocês!
– Sério, estamos mesmo tendo essa conversa?! – pergunto aborrecido.
– Só entra no jogo, não é como se você tivesse algo a esconder, não é? – Helena mexe em seu cabelo. Penso em como respondê-la, mas ela está certa, não tenho nada a esconder.
– Já que insiste, não sinto qualquer tipo de atração física em relação a ele – digo de uma vez. Não que não ache Enji atraente, ou bonito, ou qualquer coisa, só... como eu deveria saber? Nunca me relacionei com ninguém.
– Bom, que pena... Porque ele com certeza acha você atraente, consigo sentir de longe toda vez que estão juntos – diz Helena, me deixando surpreso.
– Helena! – Caio a cutuca com seu cotovelo.
– O quê? Tinha que fazer alguma coisa, já! Hansel é denso demais para perceber por conta própria! – diz ela, em autodefesa.
– Ei, você não deveria se sentir forçado a nada só pelo que ela disse – diz Caio, tentando soar reconfortante, mas posso sentir o tom de irritação em sua voz por causa de Helena. Acho que ele não queria que ela fosse tão direta, mesmo que tenha certeza de que ele também está curioso sobre o assunto.
– Não me sinto... – digo, olhando para o lado, pensativo.
Esta conversa escalou de forma extremamente rápida e eu não faço ideia de como. Atração física e romance... Quero dizer, será que eu sequer tenho tempo para tais coisas? Estou com tanta coisa em meu prato. Independente disso, não posso negar que Enji e eu nos aproximamos bastante nos últimos tempos, especialmente depois que ele descobriu sobre meu pai. Eu só nunca parei para pensar que ele poderia ver as coisas de forma diferente de mim, sentir coisas de forma diferente.
Eu e meu egoísmo atacando... Talvez seja melhor que eu converse com ele sobre isso, não iria querer que ele se machucasse por minha causa. Se o que Helena disse for verdade, preciso me certificar de que ele saiba que o vejo apenas como amigo, que não crie alguma fantasia.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top