Capítulo 1
Gotas de água caiam fortemente nas folhas das plantas, fazendo cascatas e pequenas cachoeiras, tornando a visão difícil para quaisquer ser que ousasse se dirigir para o exterior. Mas não para ele, que corria, sem se importar com o frio se enfiando em seus ossos como agulhas, sem parar de gargalhar alegremente, isso nunca.
Gryman adorava a chuva, adorava tudo que seu amado hogar tinha para oferecer. Ah, e como adorava. Todos os seus habitantes sabiam o quanto era importante o representante de seu país não ficar doente, mas nunca o impediam, pois eles mesmos amavam isso.
Já se tornava uma pequena rotina correr pelos vales verdejantes cobertos de flores que adornavam ao redor dos pequenos e aconchegantes vilarejos situados perto de sua casa. Era tão bom se sentir conectado com a natureza, e Gryman não deixaria de sentir isso por causa de uma "chuvinha boba", segundo suas próprias palavras....
Sorrir. Amar. Se tornar um só com tudo ao seu redor. Um turbilhão de emoções dentro do peito, quase o sufocando. Isso e muito mais corria nas veias do pequeno sorridente, almejando que esse momento nunca acabasse.
Gryman parou de correr em cima de uma colina, arfando e sorrindo, meio atordoado pela forte corrida. A chuva agora não passava de um fraco chuvisco, sendo até possível andar para fora sem se molhar. Tudo era tão bonito para os olhos avermelhados do grymaniano, a forma como as plantas se moviam por conta das gotículas de água, parecendo uma bela e suave dança....
-Trauring terei que deixar todos vocês, meus queridos.... –Ele sussurrou suavemente, se referindo a todos os seus habitantes, sejam humanos ou animais, ou até mesmo as plantas, brincando sutilmente com seus pequenos dedos. –Terei que sumir por um tempo, mas é pelo bem de todos vocês....
Então ele escutou passadas se aproximando do mesmo, o fazendo se virar para receber quem fosse que queria falar com ele. Sorriu alegremente, ao perceber seu fiel presidente.
-Priviet, señor Paolo. Buenas notícias? –Saudou o adolescente na sua frente, logo voltando a observar a paisagem pós-chuva.
-Com certeza boas, Gry. –O jovem parecia bastante feliz, mesmo com uma pequena careta de preocupação pelo bem-estar de seu representante. Paolo não parecia ter mais do que 18 anos, com cabelos castanho e encaracolados, e uma pele bronzeada, combinando bastante com os olhos estranhamente acinzentados. Nunca que diriam que ele era o presidente deste país. –O avião chegou, junto com aquele cara estranho de asas. O que tem a cara azulada, lembra?
-Ya, lembro sim. Diga que já vou, no quiero esquecer de todas as belezas das minhas terras....
-Como você quiser, Gry. –Paolo se virou para fazer o que lhe foi ordenado, pensando melhor e estendendo uma pequena caixinha de presente para Gryman, junto com um cálido sorriso. –Um pequeno presente de todos nosotros, jefe. Que tenga una buena viagem...
O mais baixo abriu alegremente o pacote, quase chorando de emoção. Uma linda correntinha dourada, com a sua bandeira em miniatura, folheada em prata. Uma corrente elétrica recorreu sua espinha dorsal de uma forma gostosa, fazendo o sorriso em seu rosto se tornar uma careta de tristeza.
-P-Paolo... No sabes lo cuanto sentirei falta de você.... De todos ustedes –Gryman soluçou fracamente, sentindo já as cálidas lágrimas traçarem um sinuoso caminho pelas suas magras bochechas, se misturando com as pequenas gotículas proeminentes da última chuva. –Mais ainda d-das nossas c-caminhadas para meus campos de flores....
-No llores mi amigo, só serão alguns meses de viagem –O moreno abraçou seu estimado país, o aconchegando com suavidade e carinho, tomando cuidado para não o machucar, como se o mesmo se tratasse do mais puro cristal. –Isso não significa que não sentiremos saudades também, certo? Todos nós te amamos, nunca se esqueça que somos sua família.
-Claro, eu nunca irei esquecer, amigo –Gryman finalmente separou do abraço, correndo de volta para o aeroporto, onde aquela organização esperava impacientemente.
* * *
Um suspiro impaciente saiu de entre os lábios daquela organização tão importante para todos. Meia hora de atraso, se esse país queria se tornar um dos membros efetivos da ONU, teria que repensar no quesito horários.
Então ele ouviu, passos encharcados se aproximando, junto com uma suave risada, que fez ONU sorrir, esquecendo todo e qualquer aborrecimento de sua mente. Gryman, arrumou sua nova correntinha por cima das faixas de seu pescoço, sussurrando mil desculpas para a enorme pessoa na sua frente, grande na comparação de seus 1,44 cm.
-Ok, ok. Já recebi desculpas demais e creio que apenas hoje, deixo passar esse seu atraso. É um enorme prazer voltar a lhe encontrar, Gryman.
-Não imagina o quão ansioso me encontro, senhor ONU –O nomeado voltou a sorrir, murmurando palavras em inglês que Gryman não pôde compreender. –Me sinto tão feliz de finalmente poder me apresentar para todos os outros!
-Justamente sobre isso que quero falar, pequenino. –A organização suspirou, voltando para ter aquele semblante sério, deixando o grymaniano em um estado de estupor completo, sem entender a mudança rápida de emoções. –Por enquanto, estou considerando colocar você em um tipo de guarda tutelar.
-Tu.... Tutelar? –Ele mordeu nervosamente o lábio inferior, fazendo o maior perceber o quão confuso parecia para Gryman. Ele era maior de idade, tinha certeza disso, então por que diabo ONU queria botar um outro país, possivelmente mais velho, como seu "pai"? Vaya situación.
-Yes, tutelar. Um país aleatório será designado por mim para que cuide de você nesses meses, numa tentativa de "acostumar" os outros. Obviamente que terá que ser um país com quem você possa se entender, com quem tenham culturas parecidas e até a língua em comum. So... Aceita?
A sala mergulhou num pequeno silêncio, enquanto o país pensava nessa interessante proposta, cutucando sua nova correntinha em sinal de concentração. Afinal de contas, não seria nada mal fingir ter um pai de verdade durante o tempo de viagem, pensou Gryman, já decidido.
-Ja, aceito! –A organização suspirou aliviado, pensando que teria um trabalho adicional em convencer o pequeno. –Desde que eu conheça quem vai cuidar de mim. Ok?
-Não é um grande problema para mim, então tudo bem. –ONU deu de ombros preguiçosamente, se levantando da poltrona que anteriormente estava sentado, começando a ir na direção do pequeno jatinho que o aguardavam fora daquelas instalações. –Espero que esteja pronto, partiremos agora.
Um soluço abafado saiu dos finos lábios de Gryman, enquanto se dignava a seguir tão poderosa organização, tentando com todas as forças não se esquecer de nada de sua aconchegante e calma casa, ou de seus habitantes, ou de Paolo! Quando voltasse, com certeza faria uma enorme festa, com direito a todo tipo de sucos e lanchinhos.
Um último olhar foi dirigido para os vales brilhantes e verdejantes, ao olhar por uma das janelas do jatinho, enquanto uma tortuosa e teimosa lágrima descia lentamente por sua bochecha, que foi limpada rapidamente antes que ONU a visse.
-Señor, no demoraremos muito para desembarcar outra vez no solo, né? –Sussurrou uma última vez, antes de focar seu olhar no teto da aeronave, se perdendo em memórias e sonhos, roncando fracamente.
-Apenas umas horas, pequenino.... –ONU sorriu mais uma vez, negando com a cabeça e colocando um travesseiro para não incomodar muito a posição do grymaniano. Após se certificar que ele estava num confortável sono, se virou para seu celular, observando a lista de contatos, a maioria deles países.
Seu olhar se tornou frio e calculista, observando os nomes de todos, pensando seriamente em qual escolher para ficar a cargo do pequenino país ao seu lado. Um que não fosse tão irresponsável, que condissesse com as expectativas de Gryman e que pudesse cuidar bem dele.... Rússia? Sério, meio bruto, um verdadeiro militar.... Negativo, ele com certeza não cuidaria bem do pequeno, poderia até o matar embriagado se bobeasse.
Alemanha? Não, o coitado já estava bastante carregado de trabalho, nunca negaria ajudar, mas não aguentaria um país com mentalidade infantil e energética.... Brasil? Esse com certeza amaria cuidar de Gryman, além de o tratar como um próprio filho. Mas ele estava tendo problemas depressivos e alguma coisa sobre forte ansiedade, então fora de cogitação.
Ok, restava apenas uma alternativa, e não era das melhores.... É, ONU teria que se contentar com esse último recurso, mesmo que fosse tão irresponsável, inconsequente, imaturo, tão latino....
-Que Deus te ajude, Gryman. –A organização sussurrou, antes de ligar para México, antes que ele mesmo se arrependesse.
* * *
Finalmente eles desembarcaram num aeroporto daquela tão conhecida cidade, coincidentemente chamada de Cidade Del México, o lugar da próxima reunião da Organização Das Nações Unidas. Gryman estava com o corpo lento e a mente sonolenta, então não estava tão preocupado como antes, segurando a mão de ONU como uma criança com uma mão, e com a outra levava um mochilão de viagens preparada por Paolo para ele, com todo o essencial.
-Vamos recapitular o que eu te disse, Gryman? –Pediu docemente a organização, parecendo satisfeito de que segurassem de sua mão, o fazia sentir mais como pai do que como uma simples organização da paz.
-Obedecer ao senhor México, não aceitar bebidas alcoólicas, não aceitar a ir para festas, não me deixar influenciar e.... E chama-lo de Papá? –Tentou se lembrar o grymaniano, mal percebendo como se distanciavam do jatinho e adentravam nas instalações internas do aeroporto, sendo observados pelas pessoas "normais" que esperavam seus voos.
Esses olhares. Ah, esses olhares, tão desconhecidos pelo menor, que ao perceber os mesmos mordeu seu lábio inferior em sinal de nervosismo, em busca de não se sentir afetado com tanta gente o observando como se ele fosse algum animal raro.
-Good job, pequeno. –ONU soltou uma pequena risadinha, realmente orgulhoso de Gryman ter se lembrado de todas as suas palavras. Logo na entrada do aeroporto, ele pôde divisar o mexicano esperando pelos dois, junto com mais alguns dos latinos.
Pelo que podia ver, Chile, Argentina, México e até mesmo Venezuela, faziam uma enorme algazarra tentando tirar pelo menos um sorriso do brasileiro, que não parecia tão ansioso de fazer as vontades dos amigos.
-Eles sempre são barulhentos assim? –Gryman sussurrou quando estavam do lado dos latinos, e os mesmos ainda tentavam entreter Brasil.
-Noventa por cento das vezes, sim. –Sussurrou de volta a organização, com o cenho franzido, já irritado com o barulho. ONU fingiu uma tosse alta, chamando a atenção de todos os presentes, incluindo um alto grito do mexicano. –Please México, não comece com a baderna justo comigo presente.
-Perdón wey. –O tricolor sorriu enormemente, coçando sua nuca de uma forma tão culposa que o grymaniano sentiu pena do mesmo. –Sabe que tentamos animar Brasil antes da reunião e-
-Dane-se, eu não pedi para vocês tentarem me animar ou qualquer coisa que estejam tentando fazer com esses gritos irritantes. –O esverdeado cortou México friamente, se afastando do pequeno grupo, deixando para trás um silêncio constrangedor.
-Boludo, deixa de ser tão chato! –O argentino correu para alcançar o de fala portuguesa, bastante preocupado. Até parecia fofo que o bicolor se preocupasse tanto com o mais alto, na visão de Gryman.
-Eles são namorados? –Perguntou de repente, chamando a atenção de todos, e uma risadinha burlesca da parte do mexicano. Um rubor bastante perceptível apareceu nas esponjosas bochechas do grymaniano, consequência da vergonha que apoderava seu ser de várias formas. –Por que todos estão me olhando assim? Disse alguma coisa errada?
-Chamaco, creio que você não conviveu muito com nenhum outro país, né? –Perguntou México, tentando controlar a risada, mas com um olhar doído e tão profundamente triste, que assustou um pouco Gryman, achando que todos viam esse mesmo olhar. –Eles são primos, inviável terem algo, e..... Todos nós somos estritamente proibidos de nos juntarmos, seja em forma de namoro ou algo mais. Claro, muitas vezes não obedecemos às proibições, mas nos custa muito caro.
-Mais precisamente me custa caro, México. –ONU resmungou, observando a hora em seu relógio de pulso, soltando lentamente a mão de Gryman. –Meu tempo com vocês acabou, tenho que buscar mais alguns países que praticamente choraram para isso, incluindo USA, aquele imbecil....
-V-vou ficar sozinho então? –O grymaniano sussurrou, voltando a chamar a atenção de México, que se ajoelhou na frente do mesmo, olhando diretamente para os avermelhados olhos que ameaçavam chorar sem consolo.
-Ni lo pienses, pequeñín... Estou aqui para cuidar de você, cierto? Não se preocupe, te tratarei como um hijo mío. –O sorriso no rosto do mexicano lhe pareceu tão sincero, mas ao mesmo tempo tão falso, como se a alegria daquele tricolor não existisse de verdade, que não acalmou nenhum pouco o grymaniano.
-ONU me pediu para lhe chamar de papá... –Sorriu fracamente, tentando esquecer o que chamou de "Alucinações mexicanas", recebendo risadas dos outros dois latinos que se encontravam ao seu lado.
-Wéon, essa eu não esperava. –Chile se abaixou um pouco para apertar as bochechas de Gryman, enternecido com tanta fofura. –Me diga que vamos poder levar ele para alguma festa, por favor!
-Nada de festas, eu já disse isso um milhão de vezes. –ONU avisou, apontando para cada um dos latinos, os avisando, logo tendo que correr para pegar o jatinho de novo.
-Que paja, nunca podemos fazer nada. –Suspirou o venezuelano, se afastando para chamar um táxi, pedido á gritos pelo argentino, que já trazia para perto do grupo o brasileiro, visivelmente mais calmo. –Vamos para sua casa, Méx?
-Si, já que tenho que arrumar um dos quartos lá para o pequeno Gry aqui. –México se levantou, pegando a mochila das mãos do grymaniano e seguindo Venezuela. Ele se virou, sorrindo mais uma vez daquela forma tão assustadora e calma, que fez o menor entre todos se estremecer. –Vamos, temos muito o que conversar, não?
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