𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟗 • Santo remédio

EPISÓDIO 2 — PARTE 4 — TEMP. 1
[SANTO REMÉDIO]

TALVEZ FOSSE UM ANO RUIM, uma semana ruim... Ou apenas sua vida era ruim.

Thomas estava em dúvida em qual desses fatores escolher, já que realmente não sabia mais a razão por trás dos seus planos que não se concretizavam como ele queria. Azar? Pode ser, mas uma coisa era clara: ele estava frustrado.

Entulhado no meio de papéis de apostas, moedas e duas garrafas de whisky já vazias, ele estava pensativo, mas se importando com o nada que acontecia na casa de apostas vazia. Logo, ele ouviu o som de saltos estalando contra a madeira, passos se aproximando dele.

— Então Monaghan Boy finalmente perdeu — comentou Polly.

— Na terceira vez, deu azar — sibilou ele. — Tiramos dinheiro da cidade toda.

— Devolva o dinheiro para as pessoas — mandou. — Compra a sua popularidade de volta.

— Já cuidei disso — garantiu.

— Te ensinei bem — disse ela. — Manipulou a corrida sem permissão do Billy Kimber?

O copo de Thomas levava aos lábios foi subitamente arrancado de sua mão. Polly o arremessou contra a parede atrás dele. Instintivamente, Thomas levantou o braço par cobrir o rosto, protegendo qualquer fragmento de vidro de acertar seus olhos.

— Não te ensinei bem o suficiente! — exclamou, enraivecida. — Primeira regra: não brigue com alguém maior!

— Billy Kimber está aí para ser derrotado — disse Thomas, entredentes.

— Quem falou? — instigou. — Você e seu parlamento de um membro? Conduzi este negócio durante cinco anos.

— Sim, enquanto eu lutava na guerra, lembra? Aprendi alguma coisa. Por exemplo: atacar quando o inimigo está fraco. Pensei que tivesse vindo falar sobre coisas da família.

Thomas se levantou da cadeira, colocando distância entre ele e Polly. Se antes ele estava frustrado, agora estava com raiva.

— Mas eu resolvo — garantiu Polly. — Está ocupado demais tentando dominar o mundo

— Se for sobre a Ada, preciso saber — disse ele.

Polly ponderou a ideia, assentindo em seguida ao tirar um pequeno envelope de dentro de sua bolsa. Ela estendeu a mão, a colocando na mesa onde Thomas de apoiava.

— Ada quer que entregue esta carta ao Fredie — informou. — Quer que ele saiba do bebê. Ele merece a oportunidade de fazer o certo. Devemos dar-lhes uma chance.

Thomas suspirou fundo, pegando a carta e a analisando.

— Para quem teve tantos problemas com homens, você ainda é cheia de romances, não é?

Polly não respondeu, aguardando que Thomas continuasse:

— O que acha que ele vê na nossa Ada?

— Isso é problema dele — disse Polly.

— Não — negou. — Não, vou te dizer o que ele vê: metralhadoras e rifles, munição e uma gloriosa revolução.

— Qual é realmente seu problema com o Freddie? — perguntou, sem entender a ira dele.

— Ada não terá uma boa vida com um fugitivo — respondeu. — Se não enxerga isso, você está cega.

Antes de Polly reagisse, Thomas já havia jogado a carta dentro do latão com fogo que aquecia o ambiente. Ela levantou o pau de ferro que mexiam o carvão. Thomas esperou por alguma reação física dele, mas depois de respirar com ódio puro, Polly o largou no chão com um estrondo.

— Malditos sejam pelo que te fizeram na França! — gritou ela.

— Diga à Ada que o Freddie foi para a América — pediu Thomas. — Ou para a Rússia.

Polly o ignorou, caminhando com passos pesados para pegar seu casaco e bolsa, querendo sair logo dali sem ouvir mais uma palavra de seu sobrinho.

— Polly, seria péssimo para a Ada trazer uma criança ao mundo sozinha — garantiu ele. — Polly, me escute.

— Perguntou o que eu acho que o Freddie vê na Ada, não é? — cortou ela, ganhando a atenção de Thomas. — Ele vê nela o mesmo que você, Thomas, vê na Ira.


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THOMAS NÃO SABIA mais o que poderia acontecer. Suas cartas estavam apostadas no inspetor e no que conversaram, mas algo ainda não parecia correto.

Poderia ser o terror noturno que passava todas as noites quando a exaustão tomava conta de seu corpo e ele não conseguia lutar mais contra o sono. As memórias do que ele passou na França sempre eram o alvo de seus pesadelos — o túnel, as armas, o calor escaldante...

Ele não sabia se ficava grato ou enraivecido por ser acordado por Curly batendo em sua porta durante a madrugada, gritando seu nome em meio a tempestade que caia em Small Hearth, pedindo para que descesse e o acompanhasse depressa, que algo estava acontecendo.

Thomas não perdeu tempo em se vestir e correr com Curly para o Charlie's Yard, nos estábulos, onde ele não estava preparado, naquela noite, para se deparar com Zafiro, cuja perna estava amarrada com um torniquete. Ao lado do cavalo, Charlie os encarava, sem esperança nos olhos.

— Me conta o que houve — pediu.

— É uma maldição, Tommy — disse Curly, tremendo.

— Me conte — pediu novamente. — Me conte, Curly, o que há de errado com o cavalo de Ira?

— O comprou na feira com um sentimento ruim — respondeu. — Os Lee's amaldiçoaram o casco. Pediram para uma velha fazer um feitiço!

— Aqueles canalhas dos Lee's amaldiçoaram o cavalo — sibilou Thoms, inconformado.

— Seja o que for, já contagiou os outros pés — avisou Charlie, pesaroso.

— Vai chegar no coração até amanhã — exclamou Curly, surtando. — Já vi pragas assim duas vezes. Não tem como revertê-las, Tommy!

Thomas levou as mãos a cabeça, apertando as têmporas que começavam a latejar.

— Eu te disse, Tommy — disse Charlie. — Não há inimigo pior do que ciganos de sangue negro.

— Saiam daqui — pediu ele, a voz falhando.

Charlie colocou a mão no ombro de Curly, guiando-o para fora ao ver que ele tremia. Curly sempre fora mais emocional ao se tratar de criaturas tão belas como cavalos. Ver um prestes a morrer não era algo que ele gostaria de presenciar.

Thomas também era assim e pensava dessa forma, mas ele sabia que o cavalo de Ira, Zafiro, não merecia a dor que passaria até seu último instante. Cavalos eram criaturas tão puras e majestosas... Thomas quase conseguia sentir a dor do animal em si mesmo.

Ele retirou a arma de dentro do casaco, engatilhando ela ao apontá-la para o meio da cabeça do animal, sabendo que ali era o ponto exato onde ele atiraria e no mesmo segundo o animal morreria, antes mesmo do corpo cair do chão, o que significava que ele não sentiria dor alguma.

Me desculpe, sibilou ele segundos antes do barulho do gatilho sendo puxado ser ouvido.

Thomas não sabia mais o que deveria ter acontecido. Em meio a chuva que não parava de cair, ele mal percebeu que caminhava para a casa da doutora que parecia ter agarrado seu coração. Oh, Deus, o que ele falaria para Ira? Como ele contaria que matou o cavalo que ele tinha acabado de dar à ela?

— É meia-noite — disse Ira, abrindo a porta. — Thomas? Saia da chuva, venha.

Ira o puxou pelo braço, mal se importando com Thomas molhando todo o chão de sua casa. Ele retirou a boina afiada junto do casaco, o colocando em cima da mesinha perto da porta, sem se importar com cordialidades ou coisas do tipo.

Ira revirou os olhos ao ouvi-lo tossir, provavelmente ficando resfriado. Thomas caminhou para a sala de jantar de Ira, puxando a cadeira para se sentar, só então percebendo que ela estava em suas vestes de dormir nem um pouco formais, pelo contrário, eram até reveladoras demais, mas um hobbe fino de seda cobria partes do corpo que antes ele tão desejava vê-la.

— Tome isso, vai ajudar — disse ela, colocando uma xícara fumegante na sua frente.

— O que é? — perguntou Thomas, provando o líquido.

Santo remédio — respondeu. — Chá verde, hortelã, mel, limão e vodka.

Ele assentiu, sem saber o que falar, apenas tomando mais e mais goles do chá... Chá! Que ironia. Thomas Shelby não tomava chá! Mas aquele ali tinha sido preparado por Ira, por ela e a sua mente fascinante quando o assunto era relacionado a bebidas e drinks chiques, nada do que ele costumava tomar.

Ira tinha uma xícara igual nas próprias mãos, mas sem beber nada dela. Ela apenas o encarava, esperando que ele falasse algo, provavelmente o motivo de estar ali a essa hora.

— Dei um tiro no seu cavalo — disse Thomas, melancólico.

Ira abriu a boca para dizer algo, muito possivelmente para gritar com ele, mas nada dela saiu. Ela passou a mão pelo rosto, suspirando ao perceber que não sabia o que fazer. Na sua mente, não fazia sentido ele ter dado um cavalo à ela para depois matá-lo.

Pobre Zafiro, pensou ela tristemente. Possa riposare in pace.

— Eu te dei um cavalo amaldiçoado — continuo dizendo. — Ia chegar ao coração dele amanhã.

— Foi rápido? — perguntou ela. — Ou ele sofreu?

— Morreu antes que o corpo caísse no chão.

Ira assentiu, um sorriso triste e gentil em seus lábios. Thomas notou que era a primeira vez que a vi sem o típico e marcante batom vermelho sedutor. Com maquiagem ou sem, ele notou o quão bela e linda Ira era. Ele deveria tê-la acordado, percebeu. Os olhos dela estavam sonolentos, e ao mesmo tempo algo neles evidenciava o cansaço de noites mal dormidas.

— Vou te comprar outro cavalo — garantiu Thomas. — Um maior e melhor.

— Sabe que não precisa fazer isso — disse ela, compreensiva.

— Eu não preciso fazer várias coisas, mas mesmo assim eu as faço — suspirou. — Eu falei com a Polly sobre a Ada. Foi você quem testou ela, não é?

Ira assentiu, incerta do que aquela conversa estava se tornando.

— Ninguém escolhe se vai engravidar ou não — disse ela. — Não é uma escolha.

— Eu sei — concordou ele. — Mas ela me fez pensar em algo e eu escolhi que já está na hora de te apresentar o negócio da família. Para valer.


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03.08.21

𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Minhas aulas voltaram e agora elas começam de manhã e vão até tarde (dependendo do dia), então eu ainda estou descobrindo uma maneira de conciliar meus estudos, trabalho, vida pessoal e escrita.

Notícia boa: GRITE MEU NOME já está escrito até o último capítulo. Assim, não importa a minha carga horária, vocês não ficarão sem capítulos.

-18 NÃO BEBAM!!!

Receita: 30 ml de vodka sabor pepino, 60 ml de chá verde gelado, 1 colher de sopa de mel, 1 fatia de limão espremido e hortelã.

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