𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟒 • Mulher de blefes

EPISÓDIO 1 — PARTE 4 — TEMP. 1
[MULHER DE BLEFES]

IRA LESTAT tinha noção que nada que envolvesse os Shelby deveria ser normal. A vida dela sozinha já não era normal. Mas ela realmente não esperava parar na residência dos Shelby naquela manhã, muito menos conhecer todos os membros daquela família.

Ainda que ele tivesse tomado cuidado ao caminhar mais rapidamente com Ira ao lado, Tommy estava correndo para chegar logo em casa e ver a gravidade do estado de Arthur pelo o que Finn havia lhe dito. Felizmente, em momento algum a mulher ao seu lado reclamou da pressa.

— John, limpa o olho dele — ouviu Ada dizer enquanto Tommy destrancava a porta.

— Desde quando você manda em mim? — perguntou quuem deveria ser John, zombando dela.

— Eu estudei enfermagem — argumentou.

— Não me faça rir — pediu outro homem com a voz dolorida. — Minha cara dói.

— Mas eu estudei!

— Você foi em uma aula de primeiros socorros na igreja, e ainda foi expulsa por ficar rindo.

— Antes disso eu aprendi a salvar alguém de sufocamento — disse Ada.

— Mas eu não estou sufocando, não é?

— Mas vai assim que eu puser esse pano no seu pescoço.

Felizmente, antes que isso acontece, Tommy já guiava Ira para dentro da casa, ele colocando um cigarro na boca enquanto procurava um isqueiro no bolso.

— Ainda bem que eu trouxe uma médica, nesse caso — disse Tommy, entregando a garrafa de Whisky para seu irmão. — Bebe isso aqui.

Polly agradeceu quando viu que a médica a qual Tommy se referia era Ira. John ficou de boca aberta quando a viu a mulher. A reação de Arthur não foi muito diferente — mesmo com dor, ele estava fascinado pela beleza dela.

Ignorando os olhares dos irmãos de Tommy, Ira se colocou perto de Arthur na mesma hora, seu instinto de médica a mandando agir depressa. Ela examinou Arthur, rapidamente notando o dedo inchado e com uma coloração estranha.

Ela pegou a gaze do quite de primeiros socorros ali do lado, pegando junto um palito de madeira para imobilizar o dedo quebrado. Arthur segurou um grunhido quando ela apertou seus dedos juntos, os enrolando firmemente para que o osso não fosse mais danificado.

Tommy mergulhou um pano na bacia de água morna que Ada havia trazido, tirando o excesso e jogando o whisky em cima para desinfectar os cortes no rosto de Arthur.

— Você tinha razão — resmungou quando o pano com álcool entrou em seu rosto. — Ele disse que Churchill o mandou a Birmingham. Interesse nacional. Algo sobre um roubo.

— Artthur — chamou Polly em atenção, silenciosamente indicando Ira que ouvia a conversa.

Entretanto, o que a surpreendeu, fora Tommy que sinalizou para que ele continuasse.

— Ele disse que quer nossa ajuda.

— Não ajudamos a polícia — disse John.

— Ele sabia sobre o nosso histórico na guerra — disse Arthur. — Disse que somos patriotas como ele. Quer que sejamos seus olhos e ouvidos. Eu disse...

Arthur gritou de dor quando Ira apertou mais o nervo de sua mão ligado ao dedo ferido. Ele a encarou com raiva, mas ela nem respondeu.

— Eu disse que faríamos uma reunião em família e votaríamos. — Suspirou, ligeiramente aliviado quando Ira largou sua mão. Não temos negócios com os Fenianos ou com os comunistas.

O alívio durou pouco, Ira já trabalhava em limpar melhor o corte em que Tommy antes estava pressionando. Ela pegou o pano das mãos de Tommy, sem se importar com o sangue seco e que ainda escorria, trabalhando as técnicas de guerra que aprendera.

— Por que é que o Tommy está tão estranho, hein, tia Polly? — perguntou Arthur.

— Se eu soubesse, compraria a cura na farmácia dos Comptom — respondeu ela, dando de ombros.

Ira conteve um riso. Ela sabia que Tommy estava escondendo algo, e não era como se ele fosse se importar em responder.

— Onde aprendeu essas técnicas? — perguntou John, intrigado, chamando a atenção de todos. — São parecidas com as das tendas médicas durante a Guerra.

— Eu servi na Guerra — disse Ira.

Aquilo assustou todos da casa, mas não deixaram transparecer.

Ira suspirou, se levantando e limpando os resquícios de sangue das suas mãos. Com os cortes já tratados e em processo de cura, ela olhou para Tommy, como se falasse que não tinha mais nada que ela pudesse fazer, mas que Arthur ficaria bem.


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SERVIU MESMO NA GUERRA, ou estava blefando? — perguntou Tommy.

— Não sou uma mulher de blefes — garantiu ela. — Mas sim, eu servi de verdade na Guerra. Não na linha de fogo, mas nos campos médicos.

— Não lembro de ter ouvido falar de algum Doutora Lestat — comentou, dando de ombros enquanto caminhavam pelas docas até o estábulo.

— Não estava deste lado — disse Ira, levemente tímida. — Souberam que eu era conhecida por curar milagrosamente as pessoas. Me chamaram, ofereceram uma boa quantia de dinheiro se eu aceitasse ir, e eu fui. Simples assim.

Tommy mal a conhecia direito, mas algo em Ira o intrigava. E era convidativo, ele queria conhecer mais sobre o passado dela, sobre o que vivera — e, quem sabe, fazer parte de seu presente e futuro.

Eles caminharam pelas ruas de Birmingham até chegarem ao Charlie Strong's Yard. Barcos estavam carregados no canal, provavelmente prontos para sair. A fuligem e fumaça das fábricas ao redor não encomodaram ira como Tommy imaginou. Ela parecia mal se importar, ou se ele tivesse visto com clareza, Ira até mesmo parecia estar gostando daquele lugar — um lugar nem um pouco feito para uma mulher.

— Tommy — chamou um homem. — O Monaghan está aqui, com o senhor pedir.

— Ira, este é Curly. Curly, Doutora Lestat — apresentou Tommy, se aproximando de onde ele estava perto do estábulo. — É o melhor cuidador de cavalos de toda a Inglaterra.

— É um prazer conhecê-la, Doutora Lestat — respondeu Curly, educadamente.

— O prazer é meu, Curly — disse de volta.

Tommy pegou as rédeas de Monaghan das mãos de Curly, o dispensando dali para que pudesse voltar a ficar a sós com Ira. Ainda bem que Curly pegou a deixa e não questionou Thomas.

Ira olhou ao redor enquanto Tommy os levava para mais dentro das caixas e materiais que os esconderiam. Mas só aquilo não era o bastante para Ira que tinha medo de ser pega praticando bruxaria.

— Não tem ninguém mais por aqui — assegurou Tommy, vendo-a inquieta. — Só eu, você e o Curly.

— Todo cuidado é pouco — disse ela. — Eu gostaria de continuar viva e não ser queimada numa fogueira.

Antes que Thomas pudesse falar algo, Ira esticou as mãos até tocar na crina macia de Monaghan. Ela fechou os olhos, se concentrando enquanto tirava dele o feitiço que não faria efeito algum.

Thomas esperava que aquilo fosse que nem o da chinesa, onde ele mal notara se ele fizera algo ou não. Mas com ira era diferente. Seu corpo inteiro se arrepiou, uma rajada de vento os atingiu em cheio. Tommy piscou algumas vezes, apenas vendo os lábios de Ira se mexerem como se ela estivesse falando algo. Ele não tinha certeza o que fora, mas Thomas Shelby jurava que viu faíscas azuis nas mãos de Satanica.

— Engraçado — sibilou ira, meio irritada. — Não consigo tirar.

— Como assim "não consegue tirar"? — perguntou Tommy, preocupado.

— O feitiço que a chinesa fez é estranho — explicou. — Está entrelaçado de uma forma que eu não consigo tirar.

Ele nem percebera de onde que Ira retirara um pequeno vidro com um líquido vermelho dentro. Ira abriu o vidrinho, despejando algumas gotas dele entre os olhos de Monaghan Boy. O cavalo de corrida mal se importo, talvez distraído demais com o carinho tão gentil que Ira fazia no animal.

— É uma poção que talvez consiga ter algum efeito em quebrar o feitiço dela — explicou Ira. — Eu precisaria de mais tempo para pesquisar e descobrir como quebrá-lo.

— Não tenho todo esse tempo para que estude meu cavalo, Doutora — disse Tommy, ligeiramente mais irritado. — É uma bruxa de verdade? Ou blefou nisso também?

— Duvida de minhas habilidades, Sr. Shleby? — perguntou ela, os olhos transparecendo fúria. — Acha que estou mentindo?

— Para uma mulher que diz ter servido na Guerra e que é uma bruxa — sibilou ele. — Meu cavalo vai ganhar aquela corrida. Doutora Lestat. Eu garanto.

Ira suspirou, abaixando as mãos enquanto percebia que Thomas nunca a ouviria. Ela se afastou alguns passos dele, como se fosse sair.

— Se quer apostar nisso, é uma escolha sua, Sr. Shelby — disse ela. — Mas se quer minha opinião, vá até a chinesa que fez o feitiço. Talvez ela saiba como retirá-lo sem efeitos colaterais.

— Isso não será necessário.

Thomas ascendeu um cigarro enquanto observou Ira se afastar do estábulo, caminhando por onde vieram com certa raiva em seus passos. Ele nada poderia fazer se ela nem mesmo fosse uma bruxa de verdade, mas algo em seu cérebro ainda martelava sobre a possibilidade dela não ter mentido. Se Thomas não tivesse duvidado dela...


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29.06.21

𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Estão com raiva do Tommy? (Eu acho que a Maria vai estar). Eu estou um pouquinho, mas eu prometo que logo as coisas vão melhorar.

Em alguns dias eu entro de férias e vou trabalhar para me dedicar mais as minhas obras e eu já aviso para se prepararem para grandes novidades. Eu tenho mais alguns projetos planejados para esse e o próximo ano, então já estou trabalhando em todos eles.

VOTEM e COMENTEM
[atualizações às terças]

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