𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏𝟕 • Baby fever
EPISÓDIO 5 — PARTE 1 — TEMP. 1
[BABY FEVER]
— FALOU COM A ADA? — perguntou Ira, caminhando ao lado de Thomas pelas ruas de Small Heath.
— Ela se recusa a falar comigo — disse ele, jogando o resto do seu cigarro no chão e o apagando. — Ainda acha que é minha culpa Freddie ter sido pego pela polícia.
— E é? — questionou ela. Não foi sério, percebeu Thomas, vendo o sorriso sacana nos lábios vermelhos dela. — Bom, pelo menos eu sei a verdade.
— Você deve ser a única, então.
Desde que trouxera o filho de Ada para o mundo, com a ajuda de Esme e Polly, Ira deveria estar sofrendo do que era conhecido como baby fever. Numa tradução literal: febre de bebê. Resumidamente, ela sonhava dormindo e acordada com a ideia de ter o próprio bebê — com Thomas.
Ela não precisava falar em voz alta, Thomas já sabia sobre o que ela pensava e não era como se estivesse sendo diferente com ele. Também, ele não falaria sobre aquilo em voz alta, ainda não.
Entretanto, a última coisa que Thomas e Ira esperavam era se deparar com Arthur Shelby, o pai de Thomas, no meio da cozinha da casa deles. Assim que ele e Ira entraram na cozinha, todos os encararam. Toda a família estava ali, mas o olhar de Arthur — o pai — foi o que incomodou Ira, sendo ele algo similar com luxúria e desejo.
— Falando no diabo — sibilou ele, se levantando da mesa e encarando Thomas e Ira. — Como vai, filho? Quem é essa linda moça ao seu lado?
Thomas viu o desconforto de Ira, passando rapidamente um braço por sua cintura e a puxando mais contra si. Ele balançava a cabeça, negando.
— Saia daqui — mandou.
— Por favor, filho, sou um novo homem — falou, sorrindo até demais.
— Essa família precisava de você há dez anos, e você nos abandonou — disse Thomas, com raiva contida. — Agora acabou. Saia da nossa casa.
— Tommy, ele está diferente — tentou dizer Arthur.
— Cala essa boca — cortou.
O pai deles assentiu, desconfortável.
— Tudo bem, filho — tranquilizou. — Arthur Shelby nunca fica onde não é bem vindo.
Ele pegou seu paletó da cadeira, o colocando sobre os ombros. Ele caminhou até a porta, onde Thomas esperava para que ele saísse.
— Que homem você se tornou, hein? — comentou. — Ainda não me disse quem é a moça ao seu lado, Thomas.
— Porque não te interessa — respondeu Thomas, protegendo-a. — Saia de uma vez.
Ele levantou as mãos para o alto, como em rendição. Segundo depois, apenas ouviram o som da porta sendo aberta e logo fechada.
Estava um clima pesado na cozinha, mas, ao mesmo tempo, alguns deles estavam aliviados.
— Ele é nosso pai — sibilou Arthur, inconformado.
— Ele é um canalha egoísta — corrigiu Thomas, suspirando. O aperto na cintura de Ira diminuindo com o alívio.
— Quem é você para chamar alguém de canalha egoísta? — questionou, ligeiramente irritado. — Posso saber, Tommy? Já que graças a você, nós já perdemos uma irmã.
Thomas abriu bem os olhos, quase não acreditando nas palavras de Arthur.
— Quer ir vê-lo, Arthur? É isso o que você quer? — perguntou, logo apontando para a mesma porta que seu tinha saído. — Pode ir.
Arthur se levantou, tremendo de raiva. Ele se aproximou de Thomas como se fosse dizer algo, mas se essa era a intenção, ele mudou de ideia. Em um segundo, estava saindo em disparada para as ruas, atrás de seu pai.
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AO LADO DE IRA, no Garrison, Thomas bebia seu tradicional whisky e fumava um cigarro enquanto Ira tentava explicar algum tipo de bebida chique e elaborada para Grace. A garçonete, entretanto, em momento algum se dirigira à Thomas.
Algo aconteceu na corrida, pensou Ira, planejando uma oportunidade para conversar a sós com Grace. Ira não achava que Thomas poderia tê-la traído de alguma forma — ela nem sabia se estavam mesmo juntos —, mas algo acontecera, e Ira estava inclinada a colocar a culpa nas atitudes irracionais dos homens daquele século.
— Sr. Shelby? — perguntou um homem, parando ao lado de Thomas e o encarando, como se esperasse por algo.
— Quem deseja? — suspirou.
— Meu nome é Byrne — se apresentou. — Um homem seu em Camden Town me avisou que queria negociar.
— Então vamos negociar.
Byrne esperou por algo, como uma deixa de Thomas para se afastarem de Ira, uma mulher, para conversarem. Mas Thomas nada o fez, apenas viu o olhar de Byrne sobre Ira, vendo a faísca de desejo nos olhos do homem.
Thomas revirou os olhos, passando uma dos braços pela cintura de Ira. Isso surpreendeu todos eles, intrigando Grace. Mas aquele era uma ato territorial, um onde Thomas mostrava para qualquer um que os visse que Ira esta com ele — que ela era dele.
— Há uns meses, um homem chamado Ryan veio aqui querendo comprar alguns produtos de você — disse Byrne, pigarreando em desconforto. — O Sr. Ryan se acidentou, levou um tiro.
— Ouvi dizer — concordou Thomas
— Ele era um homem que falava demais. Eu sei disso — comentou. — Me pergunto se ele fez inimigos.
— Não que eu saiba — respondeu Thomas.
— Não é lugar para se fazer inimigos? — brincou Byrne, rindo sozinho.
Thomas forçou um sorriso, mas o homem sem escrúpulos fez Ira revirar os olhos em desgosto.
— Todos são bem-vindos aqui, Sr. Byrne.
— Até irlandeses? — perguntou, atrevido. — Ryan contou que era do Exército Republicano Irlandês. Ainda assim era bem-vindo?
— Já disse, quem quiser comprar cerveja é bem-vindo — repetiu Thomas, em desgosto.
— Talvez não tenha acreditado nele.
Aquele homem já estava passando nos limites. Thomas ficou tenso, virando para encará-lo seriamente. Entretanto, o espaço aberto deu uma visão aberta para Byrne ver a figura de Ira perfeitamente. O olhar que ele dava para ela era nojento e chegava a quase enjoar Ira. Ela estava até acostumada com aquele tipo de cobiça, mas nenhuma mulher deveria ter que passar por aquilo.
— Num pub, às vezes as pessoas dizem coisas, às vezes o whisky fala. É difícil discernir — disse Thomas.
— Como abstêmio, acho engraçado — apontou Byrne, se atrevendo. — Menos quando termina em tragédia. Veja bem, o Ryan, por mais que falasse demais, era muito bem relacionado com a nossa irmandade. Pela causa e pelo sangue. E ele era meu primo. Sou do sul de Armagh, tenho muita influência por lá.
Aquela nova informação fora com um golpe para Thomas, mas ele não mostraria.
— Aceita um copo de água com xarope, Sr. Byrne? — perguntou Thomas, fingido. — Vamos negociar, ou vai continuar comendo minha namorada com os olhos?
Aquela pequena frase foi o suficiente para distrair Byrne. Thomas apertou levemente a cintura de Ira, como se pedisse desculpas à ela por aquilo. Ela sorriu para ele, assentindo quando Thomas afastou Byrne dela e os levou para a cabine privativa.
Ira segurava um riso ao ver a cara de desgosto do homem ao ser levado para longe dela, mas ficou instantaneamente aliviada. Ela relaxou seus ombros, mas ficou confusa ao ver Grace colocando um copo de bebida na frente dela.
— Eu tentei fazer o seu negroni — disse ela. — Prova e me diz como ficou.
Ira analisou o copo, rodando a bebida no copo. Ela levou o vidro ao lábios, dando um pequeno gole e, no mesmo instante, o colocando de volta na mesa.
— Colocou muito Campari — avisou, vendo Grace suspirar. — O que aconteceu na corrida?
— Como assim? — perguntou Grace, engolindo em seco. — O que o Thomas te disse?
— Não me disse nada — declarou Ira, dando de ombros. — Mas eu vejo por você. Está claro que algo aconteceu. Vai me contar?
Grace suspirou, aproximando-se de Ira, o balcão as separando.
— Eu me senti uma prostituta — começou. — O Thomas me levou para o Billy Kimber e ele...
— Tentou te estuprar? — completou Ira, sem reação.
Grace assentiu.
— O mundo dos negócios é assim, Grace — disse Ira, suspirando cansada. — Poderia ser pior.
— Pior? — exclamou Grace, sem entender o raciocínio de Ira. — Como algo poderia ser pior do que ser estuprada?
— Poderiam te prender numa mesa e arrancar seu útero. Poriam te obrigar a ver quem você ama morrer. Poderia te abri no meio com uma faca de cozinha...
— Tudo bem, eu já entendi — cortou Grace, fazendo Ira parar.
— Se melhora algo, Grace, todos somos prostitutas — disse Ira, profundamente. — Só vendemos partes diferentes de nós.
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28.09.21
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
Para quem me segue, viu meu perfil onde eu falei que a atualização que seria feita segunda seria passada para quarta devido alguns motivos pessoais.
Mas cá está o capítulo 17 e amanhã teremos o tão famoso e falado capítulo 18. Como sempre, eu estou ansiosa demais para saber o que vocês vão achar dele. Até amanhã!
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[atualizações às terças]
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