𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏𝟐 • Casa

EPISÓDIO 3 — PARTE 3 — TEMP. 1
[CASA]

— ACHEI QUE NÃO IA PARA CHELTENHAM comentou Grace, assim que se deparou com Ira caminhando pela rua.

Ira vestia um vestido de renda com um enorme decote, todo preto e com pedras brilhantes. Aquele não era algo que uma mulher comum de Birmingham usava, nem mesmo o modelito era típico dali. Mas ela não parecia incomodada com aquele detalhe.

Grace não entendia como é que ira conseguia andar com tanta confiança por aquelas ruas, sem medo dos homens depravados que as rodeavam.

— E não vou — concordou Ira, parando para conversar com ela. — Gosto das corridas mesmo, estar perto das pistas. A festa formal é uma casualidade.

— Achei que era uma mulher de apostas — disse Grace, sem entender.

— Não aposto nessas corridas — negou Ira. — Não em corridas manipuladas.

— Como é que se manipulam essas corridas?

— Como vou saber? — deu de ombros.

Mas Grace ainda não entendia o motivo de Ira estar vestida daquela forma. Sim, ela sempre se vestia bem — bem até demais —, mas ainda não fazia sentido. Se Ira não estava indo para as corridas, para onde então?

— Perdão a intromissão, mas por que está vestida assim se não vai para Cheltenham? — Grace perguntou, sem se aguentar.

— Sou uma mulher de negócios, Grace — disse Ira. — Achei que já tinha deixado isso claro.

— E deixou — concordou. — Mas não entendo. Com que tipo de negócios você trabalha?

Ira deu um passo para trás, prestes a caminhar para a outra direção.

— Do tipo em que você não deve saber, Grace.

Com os Shelby fora da cidade — menos Polly e Ada —, Ira conseguia estar um pouco mais tranquila. Haviam calculado aquele encontro há meses, procurando a oportunidade perfeita para se verem sem serem pegos.

E finalmente o dia havia chegado.

Lá no fundo, Ira estava um pouco angustiada com a ideia de Thomas e Grace indo para as corridas sozinhos, mas se tinha algo que sua família era a sério, era nunca trair seu parceiro, porque se de noite eles conseguissem deitar ao seu lado mesmo que tenham-no traído, ele não era digno de confiança. E Ira sabia o quão sério levavam esse princípio.

Ela caminhou bastante, até estar a uma distancia considerável de onde qualquer um pudesse vê-la. Era uma espécie de cais meio escondido, onde barcos poderiam passar, mas não era frequentemente usado. Esse detalhe foi feito a favor dela e de sua família que teria entrado ilegalmente no país, sem que fossem vistos.

Quanto tempo è stato, sorella.

Ira jogou seus braços pelos ombros dele, abraçando-o fortemente. Ele não perdeu tempo, também beijou as duas bochechas de Ira, logo voltando a abraçá-la. Ira poderia negar infinitamente em voz alta, mas desde que saíra da sua terra natal, ela morria de saudades do que deixara para trás.

Mi sei mancato — disse Ira, sussurrando. — Mi sei mancato, papà, mamma, Angi. Como estão todos em casa?

— Estão bem — disse ele. — Mandaram cumprimentos, esperam que você possa voltar logo.

— E Ludovico? Achei que ele viria.

— Houveram alguns contratempos em Little Italy — informou. — Ele ficou para resolver, mas disse que viria te ver em algumas semanas.

Atrás deles, homens se mexiam com o carregamento que estavam colocando nos barcos, em parte descarregavam e outras subiam. Cigarros e munições, percebeu Ira.

— Vamos mudar as rotas de carregamento no próximo mês — disse ele. — Elas vão começar a sair de Nova Iorque, para chamar menos atenção. Disfarçaremos nossas vindas para cá com um barco menor, apenas para trazer suas encomendas pessoais, Satanica.

Ira assentiu. Ela sabia que aquilo era o mais prudente a se fazer, entretanto gostaria que seus irmãos ainda pudessem passar mais tempo ali — mesmo que as escondidas.

— As pessoas estão comentando em casa — disse ele, de repente. — Estão correndo boatos que se envolveu com um gangster.

— Eles mandam na cidade — defendeu. — Precisaram de um trabalho meu. Eu os ajudei. Ponto.

— Papà quer que você volte. Quer que trabalhe conosco.

— Nunca deixei de trabalhar com vocês — disse ela, quase ofendida.

— Sei que não, mas temos nossos medos — explicou. — Principalmente agora com a possível partida de Angi...

— Ele vai partir? — exclamou Ira, sem entender. — Quando?

— Ele está trabalhando numa forma de se mudar para cá — respondeu, vendo o sorriso de Ira crescer. — Sabe que seu sonho sempre foi comprar um restaurante.

Nessas poucas horas que puderam passar juntos, quase até o anoitecer, Ira lembrou dos bons momentos que passou com seus irmãos, Ludovico e seus pais de volta à Itália. A possibilidade de deixar tudo para trás e entrar naquela barco era enorme, passou várias vezes na sua cabeça enquanto conversavam.

E Thomas? Ira sabia que tinha algo com ele, por menos evidente que fosse. Talvez aquele sentimento pudesse se desenvolver para algo maior em breve, ela não queria perder a chance de ser feliz e realizada caso decidisse voltar. Enquanto seu irmão a abraçou pela última vez, ele sussurrou em seu ouvido:

— Se qualquer coisa acontecer aqui, volte para casa.

Mas como ela diria que sua casa estava aqui em Birmingham?


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24.08.21

𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Capítulo fresquinho para vocês!
Normalmente eu atualizo as obras por volta das 8 da manhã, mas as minhas provas começaram hoje e eu fico a manhã inteira nelas. Por isso, os capítulos vão sair perto do meio-dia até semana que vem.

Agora, não é por nada não, mas eu já começaria a ter grandes expectativas para o capítulo 18 porque eu acho que (como fanfiqueira) será o momento mais aguardado por todos nós

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