Capítulo Único
Atenção: É uma história sobre violência domestica. Se você for sensível ao assunto, não leia.
Daphne Greengrass encarou seu próprio reflexo no espelho, e só conseguia pensar numa palavra para descrever a si própria: Patética. Ela estava patética. Seu rosto esta vermelho e inchado, seus olhos estão do mesmo modo devido a crise de choro que teve segundos atrás, seu cabelo estava revirado imitando algum ninho de pássaro, seu vestido já teve dias melhores, e sua pele de porcelana estava marcada por hematomas roxos.
Quando foi que aquilo começou? Quando deixou de ser poderosa e se tornou aquela que apanhava calada? Quando deixou um homem erguer a mão para ela?
Daphne não fazia ideia de quem era aquela lhe observando através do espelho. Não se reconhecia mais; Talvez, nunca tenha se conhecido de fato.
Enquanto molhava o rosto, deixando a água fria tocar sem dó nem piedade sua pele, ela tentava encontrar respostas de como chegou até aquele ponto.
Mas, a resposta ela já sabia, apenas não gostava. Havia deixado chegar até aquele ponto, pois era apenas desse modo que ela conhecia, aquilo era sua rotina, ela sabia disso. Mas, isso não melhorava em nada, apenas lhe fazia se sentir suja.
Seu pai, o grande Jaime, sempre foi um tirano dentro de casa. Controlava a esposa, e as duas filhas, com punhos de aço. Era egoísta, rude, maldoso. Daphne não conseguia lembrar de uma época que Jaime não tenha batido em sua mãe; Foram tantas as noites que daphne deitou ao lado da mãe e a viu chorar. Foram tantas as vezes que viu sua mãe apanhando por coisas bobas –jantar ruim, demora em atender aos pedidos de Jaime, algo fora do lugar – Daphne não conseguia lembrar de momentos onde a violência não estava presente dentro de casa.
Quando saiu de casa, finalmente sentiu-se livre. Ela havia se tornado dona de si mesma, havia conseguido dinheiro o suficiente para fugir do pai violento e do lar ruim. Havia até mesmo tentado levar a mãe e a irmã, mas Sana não quis. Sana escolheu o marido. Ela o amava, afinal. Astória partiu com Daphne, e haviam feito uma promessa à mãe: Ela havia feito as meninas prometerem que jamais deixariam um homem erguer a mão para elas. Daphne prometeu. Daphne não cumpriu.
Quando conheceu Teo Boot, achou ter conhecido o amor pela primeira vez. Ele era educado, gentil, amoroso. Foi inevitável se apaixonar por ele. Meses de namoro, um ano de noivado, então casaram. Merlin, ela finalmente conhecia o amor!
Errado.
Quando voltaram da lua de mel, algo havia mudado nele. Daphne quis dizer que não foi sua culpa, mas ela não tinha tanta certeza disso. Ela tinha feito algo para ele ficar irritado, sim, ela só não lembrava o que. O tapa doeu, ardeu como inferno, mas ele logo pediu desculpas. Ele prometeu que não faria isso de novo. Ela acreditou nele e no fim quebrou a cara;
Foram muitos casos, tapas aqui, socos ali, gritos e puxões de cabelo, Daphne não conseguia dizer como acabou quebrando a promessa que havia feito a sua mãe. Ela prometeu jamais deixar um homem levantar a mão para ela, mas lá estava ela, se submetendo a Teo. O que havia de errado com ela? Por que ela permitia isso?
Ele já havia a mandado para o hospital algumas vezes; nas primeiras vezes, sua família não soube de nada, quando souberam, Daphne inventou uma desculpa qualquer alegando que havia se "acidentado". Queria esconder da família, não queria deixá-los ver o quão suja Daphne estava, o quanto ela foi machucada e o quanto ela permitiu. A vergonha a consumia!
Mas, ela percebeu que estava agindo como sua mãe. Acobertando a violência com desculpas fajutas; Ele era o culpado da historia, por que era ela quem sentia vergonha? Ela não tinha nada do que se envergonhar. Era poderosa, uma mulher firme e sabia, podia encontrar alguém melhor, não precisava aturar aquilo, e foi por isso que terminou tudo.
Saiu da casa deles, afastou-se, tirou qualquer vestígio de Teo de sua vida. Mas, ela não conseguiu se desprender totalmente. Uma semana depois, ela voltou. E apanhou. A surra a mandou direto para a UTI. O estado era critico. Por muito pouco, Daphne não voltava.
" Está na hora, Daphne" Foi isso que Astória disse quando a visitou no hospital " Isso não é amor!".
Mesmo com dor, ela prestou a queixa. Abrigou-se na casa da irmã. Desistiu, finalmente, de Teo. Abriu mão da historias deles. Escolheu, finalmente, a si própria.
E mesmo todos dizendo que ela foi corajosa, que ela fez o certo, que Teo não a amava, Daphne não conseguia aceitar isso. Como o que Teo e ela sentiam um pelo outro não podia ser amor? Aquele era o mesmo tipo de amor que seu pai tinha pela sua mãe! Aquela era a única forma de amor que Daphne Greengrass conhecia.
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