Azumane Asahi - Pt.2


Olhando pra tela na minha frente eu analisava os diversos tons de amarelos e laranjas que estavam espalhados fazendo uma releitura de uma das obras mais conhecidas de Vincent van Gogh, por mais que ele tenha obras bem mais em alta esses dias como Noite Estrelada. A série dos girassóis seria para sempre uma das minhas favoritas.

O quadro que eu escolhi foi "Três Girassóis em um Vaso", uma mistura de amarelos que faziam contraste com um fundo azul pastel e uma vaso verde vivo.

Estava dando os últimos retoques fazendo o efeito na mesa quando senti alguém atrás de mim – Oh, você realmente se dedicou nesse [Nome]. Ficou esplêndido.

-Obrigada Nara-sensei.

-Não esperaria menos da maior fã do cara, você assistiu "Com Amor, Van Gogh" quantas vezes mesmo? Umas 10? – Miko se apoiou no meu ombro.

-Foram 5 – respondi – A culpa não é minha que é uma animação fantástica, foram 65 mil pinturas feitas por mais de 100 artistas reais. Você tem noção da escala disso? Nunca foi feito antes.

-Você está vendo o brilho nos olhos dela Nara-sensei – Miko disse – Tão claro quanto os tons de amarelo que ela está usando.

-Pare com isso Miko – reclamei – Você não tem seu próprio quadro para terminar não?

-Tenho, tenho, fique com seu girassóis – ela disse eu finalizei o que tinha que finalizar. Passei as costas da mãos na minha bochecha satisfeita com o meu trabalho, tinta a óleo geralmente demora algum tempo pra secar então levou um tempo até que eu pintasse as camadas sem que elas se tornassem um grande borrão.

Olhei para o relógio na parede o treino do time de vôlei deveria terminar em breve, será que eu deveria?

-Pode ir ser você quiser [Nome] – Sumiko disse – Já acabou por hoje mesmo.

Não esperei ela me expulsar do clube pra sair, ajeitei as minhas coisas e caminhei pro ginásio, será que eu poderia entrar? Pelo que eu me lembre eles estavam se preparando para as eliminatórias do torneio de primavera. Não queria atrapalhar.

Então eu estava parada do lado de fora ponderando se eu entrava ou não.

-Posso ajudar? – me virei pra o atual técnico deles, além do Takeda-sensei.

-Ah bem, eu estou esperando o Azu-, hum... Asahi finalizar o treino, marcamos de fazer um trabalho de literatura após os clubes.

-Oh, entendo. – ele apontou pro ginásio – Quer entrar e assistir o final? Tenho certeza que os garotos não vão se importar.

-Realmente não vai atrapalhar? – eu perguntei apertando a alça da minha bolsa.

Ele balançou a mão e entrou na quadra, e eu segui.

-[Sobrenome]-san – a gerente me cumprimentou e eu sorri levemente.

-Como vai Shimizu-san, já faz um tempo – comentei, realmente já tínhamos nos encontrado em algumas situações. Tínhamos alguns conhecidos em comum, atrás dela tinha uma outra garota loira deveria ser primeira anista.

-Olá, eu sou [Nome] [Sobrenome].

-Yachi Hitoka – ele se curvou levemente.

-O que te traz ao ginásio de vôlei? – a gerente mais velha perguntou.

-Bem eu combinei de me encontrar com o Asahi, para fazermos um trabalho e o técnico de vocês perguntou se eu queria ver o resto do treino – falei e olhei para a quadra. Felizmente a maioria não tinha me visto.

-Entendo.

-É a primeira vez que eu vejo tão de perto – falei vendo eles fazerem alguma recepção, os garotos estavam divididos em dois times e pareciam estar fazendo algum jogo treino.

O barulho dos tênis batendo contra o chão de madeira, o som da bola sendo jogada pra lá e pra cá, as vozes de incentivo. Era uma atmosfera completamente diferente do que eu estava acostumada mas mesmo assim parecia acolhedora.

-É fascinante não é mesmo – ela disse e voltando o olhar para a quadra também.

Eu reconheci algumas pessoas, Sugawara-san e Sawamura-san, ele apareciam na classe de vez em quando chamando o Asahi. Também já tinha visto o líbero de cabelo engraçado algumas vezes, a briga dos dois depois de perder uma partida do campeonato foi assunto na escola por semanas.

E o garoto de cabelo laranja também tinha aparecido na sala, junto com o outro levantador. Eu assisti alguns minutos e quando vi que estava para acabar resolvi sair do ginásio, pedi para Shimizu-san avisar o jogador que eu estaria esperando nos arredores da entrada do colégio.

Estava sentada em um dos bancos olhando para o céu enquanto aguardava o ace aparecer, e de repente as palavras de Miko voltaram pra minha cabeça. Será que valia a pena? Se eu tivesse uma desilusão amorosa? Bom... Grandes obras surgiram de emoções intensas.

Pintores, poetas e escritores normalmente usam desse tipo de emoção para criar coisas espetaculares.

Mas eu não sou nada além de uma apreciadora, nunca nenhum dos meus quadros originais tinha tido muito impacto, pelo contrário meus maiores elogios vinham sempre de releituras de obras clássicas.

-Desculpe a demora – alguém falou e eu virei a minha cabeça levemente.

-Não tem problema – respondi eu imaginaria que ele estivesse com Sugawara-san e Sawamura-san já que normalmente até uma certa parte do caminho era o mesmo. Mas ele estava sozinho.

Pelo canto de olho vi uma certa movimentação de casacos pretos, parece que alguns dos meninos de vôlei estavam espiando. Ri de leve, pena que não teria nada demais para que eles vissem.

-Então, vamos? – arrumei a bolsa no meu ombro, ele concordou e tomamos nossa rota já começando a conversar sobre nosso trabalho no caminho.

-Acho que primeiro podemos colocar a diferença entre literatura que faz mais parte do que se intitula de culto e clássicos do que a literatura de massa que são conhecidos best-sellers. E usar alguns exemplos.

-Parece bom – ele concordou enquanto andava com as mãos nos bolsos – Eu não entendo muito mas seguindo sua sugestão poderíamos usar o conto Rashômon.

-É uma boa ideia Asahi! Afinal foi vencedor de um oscar – Coloquei a mão no meu queixo - Se não me engano nos anos 50, será que não é muito antigo?

-Na verdade eu estava pensando porque eu vi em um anime um dia desses – podia jurar que ele estava levemente corado – Mas é uma ideia boba.

-Estamos fazendo um brainstrom – eu disse e ri – Apenas falando ideias eu adoraria ouvir o que você quer sugerir.

E então pelo resto do caminho ele contou sobre esse anime, que tinha personagens relacionados a escritores japoneses, com poderes especiais e tudo mais. Com certeza se era o tema de "como fazer mais pessoas lerem" com certeza era um bom caminho.

Minha mãe já estava avisada da visita assim como meu pai, então não foi nenhuma surpresa quando cheguei em casa com o garoto. – Bom acho que pra começar, por mais estranho que seja, deveríamos assistir o anime. Enquanto isso podemos procurar semelhanças entre os autores e os personagens.

-Mas você que realmente usar essa ideia? Quero dizer-

-É uma ótima ideia não vejo porque que não, agora vamos. O único lugar que tem uma mesa e uma tela é no meu quarto então vamos ficar por lá.

Ele não falou nada mas me seguiu – Antes de entrarmos eu já peço desculpa pela bagunça.

-Não é... – ele parou de falar quando entrou – Incrível.

Eu tinha alguns cavaletes de tamanhos e cores diferentes além de alguns quadros incompletos pendurados pelas paredes. As paredes eram de um amarelo clarinho que combinava com os moveis brancos.

-Parece um ateliê – ele disse passando os olhos pelos quadros.

Coloquei a mão no meu pescoço tentando disfarçar a minha vergonha – E você já foi num ateliê de pintura?

-N-não, mas eu imagino que se pareça com isso – ele disse – Mas por ser você achei que teria mais amarelo.

-Como assim? – perguntei enquanto me sentei a mesa ele ainda estava de pé e se aproximou de algumas telas.

-Você fica bem de amarelo – ele disse de uma maneira quase instintiva – Quero dizer, você parece feliz com amarelo... Hum, não assim. Como eu vou explicar...

Você não está colaborando com o meu coração ficando todo envergonhado desse jeito.

-Se eu tivesse que te descrever em uma cor seria amarelo – ele disse por fim – É como se fosse feita especialmente pra você.

Senti meu rosto ficar quente – Hum...obrigada? É a cor favorita do meu pintor favorito então eu certamente levo como um elogio. Mas melhor começarmos o trabalho não?

-Sim, sim. Claro – ele se sentou do meu lado e nós começamos a desenvolver o que precisávamos. A atmosfera estava um pouco estranha no começo mas logo já estávamos conversando como de costume.

Miko podia pegar no meu pé para tomar uma atitude mas eu preferia levar as coisas na minha própria paleta de cores, e quem sabe um dia eu conseguiria pintar uma bela tela.




Pt.3 - Postada

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