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A semana correu super bem,  eu me dei conta de quanto sentia falta de estar aqui. Depois
que meus pais morreram, eu fiquei com as nossas terras de herança, e uma dívida milionária.
Precisei vender a fazenda de porteira fechada para saldar as dívidas.

A vida na fazenda sempre foi meu sonho, e não poderia estar mais distante do dia a dia agitado da cidade. Passeamos de cavalo todos os dias pela manhã, nadamos, comemos frutas do pé, e até tiramos leite da vaca. A fazenda é muito maior do que eu lembrava, e muitos dos trabalhadores moram aqui com as suas famílias, então, logo Mada se entrosou com as crianças e passamos a ter companhia todas as tardes para as brincadeiras.

Hoje é sexta, e descobri, para minha surpresa e alegria, que ainda fazem as noites da fogueira. Passamos muitas noites divertidas assim, reunidos em volta de uma fogueira, tocando violão, e comemorando mais uma semana de trabalho bem sucedida. Fiquei feliz de saber que a tradição ainda se mantém. Conto os minutos, esperando dar a hora.

Finalmente Mada dormiu. Vou tomar meu banho, quando ouço uma batida na minha porta. Antes que eu possa fazer qualquer movimento a porta se abre e vejo o Léo, encostado no batente da porta com um sorriso de menino travesso:

— Oi Sara.

Sinto meu coração dar um salto — coração traidor! Não sabe que não pode ficar babando pelo
bonitão parado na porta? Não posso me apaixonar por ele de novo. Mexo a cabeça tentando
dissipar os pensamentos.

— Tudo bem? — diz Léo, e eu percebo que estava o encarando.

— Tudo, é que você me assustou.

— Eu bati antes.

— Eu sei, mas não deu tempo suficiente pra eu abrir a porta. - Digo enfezada, e logo me arrependo pela minha resposta quando Léo se desencosta do batente e fecha a porta.
Dois segundos depois, ouço uma batida na porta. Caminho devagar e ao abrir noto Léo
parado com um sorriso ainda maior:

— Fiz direito agora?

Caio na risada.

— E aí, ainda gosta de passar a noite em volta da fogueira, ou ficou muito cosmopolita pra
isso?

— Você não tem ideia de como eu senti falta disso. Quase pus fogo no meu apê pra tentar recriar as sextas a noite da fazenda.

Ele dá uma gargalhada:

— Eu to indo pra lá. Quer que eu te espere?

— Quero sim, mas preciso de tomar um banho antes.

Ele me olha e eu acrescento rápido:

— Prometo que vai ser rapidinho.

— Certo, te encontro em meia hora na sala.

Ele diz isso e sai do quarto. Me arrumo bem rápido. Saio correndo e nem me dou conta que esqueci o casaco.

— Tá com frio? Não se preocupe que na fogueira o frio passa, mas se não passar eu te esquento. — Léo diz piscando um olho para mim.

Meu rosto cora e eu luto para não pensar que ele pode estar me paquerando. Deve ser só uma piada, ele sempre foi disso.

Ele sorri e coloca o braço ao redor dos meus ombros, e saímos assim de casa. O ato é tão familiar, que tenho vontade de abraçar ele de volta e não soltar nunca mais! Mas não posso nem sonhar com algo assim, a Viviane me mataria. Agora que eu pensei nela, me dei conta que não a vi nessa semana, será que eles se encontraram em outro lugar? Pelo que eu me lembro ela vivia grudada nele. Caminhamos um pouco, e me dou conta de que essa é a primeira vez que estamos sozinhos, e não sei como puxar uma conversa com ele.

Aparentemente ele não teve o mesmo problema.

— O que aconteceu Sara? A vida na cidade não deu certo e você teve que virar babá?

— As coisas até estavam indo bem, financeiramente, mas eu estava infeliz. Você sabe que eu nunca gostei da cidade. Passei 5 anos na mesma rotina, não tava suportando. Ai a Tasha contou que tinha prometido trazer a Mada, mas que ia ter que quebrar a promessa. Surgiu aí a ideia de bancar a "babá."

— Nunca entendi como você conseguiu abandonar tudo e ir embora. Você queria ser veterinária, queria tornar a sua fazenda conhecida por ter os melhores animais. Aí na primeira
dificuldade, vendeu tudo e foi pra cidade.

— Não foi assim — respondo irritada. — Meus pais morreram e me deixaram devendo até as calças, não tinha outra opção. Eu nunca conseguiria pagar as dívidas se não vendesse a fazenda! — Falo exaltada, e saio andando sem esperá-lo.

Ele corre atrás de mim, e me puxa pelo braço:

— Desculpa, fui um idiota, não tenho o direito de te julgar. Eu tive sorte de poder trocar de lugar com a Tasha e voltar pra cá.

Ele me abraça e murmura:

— Não fica brava oncinha.

— Meu Deus Léo, só você me chama assim. — Digo dando um sorriso fraco.

— Claro, você só ficava bravinha perto de mim. To perdoado?

— Claro, seu bobão, agora vamos logo, que aposto que a Vi é capaz de arrancar minha cabeça se você não chegar logo.

— Fica tranquila, a Vi e eu não estamos mais juntos.

— Não acredito que vocês terminaram? — Digo incrédula

— Faz tempo, eu estava ficando louco com os surtos de ciúme dela. Ela tava até me seguindo, acredita?

— Que loucura. Foi um término difícil?

— Mais ou menos, ela ainda não aceita que a gente não é mais um casal, mas pra mim, sinceramente, foi um alívio. Eu me dei conta que eu não gostava dela como eu tinha pensado, acho que fazia tanto tempo que a gente tava junto que era mais comodismo do que em amor.

Começamos a ouvir vozes, e já dava para ver a fogueira à frente. Vi alguns rostos conhecidos, os pais dos amiguinhos da Mada. Então, do nada, apareceu a princesa country, botas de salto alto (apesar de estarmos em uma fazenda, no meio do pasto, no chão de terra), jeans apertado, camisa xadrez amarrada na cintura, e chapéu. Não é preciso dizer que ela é linda. Me olhou de cima, com um olhar de desdém, se aproximou do Léo, o envolveu num abraço e beijou sua bochecha.

— Oi amor! Demorei, mas cheguei.Oi Sara, a cidade não te aguentava mais e mandou de volta?

— Oi Vi, tudo bem sim, obrigada por perguntar, e você tá bem? — Respondo sarcasticamente. — Eu vim passar as férias com a Mada.

— E onde tá a Mada, ou você resolver trocar ela pelo meu namorado?

— Ex-namorado Vi, passado lembra?

Viviane me olha e sorri para Léo:

— Isso é o que vamos ver — Ela diz dando batidinhas no peito dele e vai se sentar com um dos rapazes que está tocando o violão.

Me sento perto da fogueira, enquanto o Léo caminha em direção a mesa de bebidas, pega duas cervejas e volta ao meu lado.

Ficamos ali até as primeiras luzes da manhã aparecerem no céu.

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