Amarelo doce e suave
Eu tenho um carinho muito particular por essa estória e depois de quase 1 ano guardada no meu drive, resolvi postá-la. Por favor, leiam com amor nos olhos. Espero que ela possa lhes ajudar como me ajudou
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O sol esquentava a pele macia de Jeongguk. O moreno ainda não acreditava que estava mesmo ali. Do alto de uma das grandes montanhas de Seoul, ele parecia de fato enxergar o mundo pela primeira vez. O amarelo e o laranja se misturando por sobre as construções, o vento dançando pelas árvores e bagunçando seus cabelos; a gostosa, e indescritível, sensação de liberdade.
Com dezenove anos ainda se sente muito jovem para saber muito sobre as coisas, mas naquele momento tinha certeza da escolha que havia feito.
Quando os pais questionaram o filho mais novo sobre o que queria para o futuro, ele foi sincero e disse "Eu não sei". Gostava de artes e de esportes, mas não se via como um fotógrafo, um pintor ou um corredor de maratonas. Entendia de economia e sabia administrar bem o próprio dinheiro e tempo, porém nada que funcionasse exclusivamente dentro de um escritório lhe enchia o coração de felicidade ou satisfação.
Jeongguk estava perdido, e se sentia okay pelo sentimento, afinal nada da vida havia ainda experimentado de verdade.
Assim, o jovem finalizou o ensino médio e decretou que suas férias seriam um período de descobertas. Os pais tentaram se opor aos desejos que o filho expressou, aos lugares que queria conhecer (e que estavam ao seu alcance), às sensações que queria experimentar, à vida que queria colocar em si para ver se cabia, mas nada disso estava aberto à negociações. Jeongguk deixou claro que as faria e nada o impediria. Nada.
Sorrindo abertamente, ainda contemplava a linda vista. Lembrou de pegar a polaroid na bolsa e tirar uma foto, Jimin havia insistido que o fizesse para fazerem um livro de memórias quando o melhor amigo retornasse para casa, fosse para ficar ou para ir embora de vez.
Passos ruidosos trouxeram a concentração de Jeongguk de volta para a realidade. Virando-se e guardando a pequena máquina, pôs os olhos no homem de cabelos levemente ondulados e castanhos, olhos bonitos e maçãs do rosto altas. Não sabia se queria falar consigo ou se estava à procura da visão que erguia-se em sua frente, por isso, ficou quieto.
ㅡ Ah, desculpa, eu não vi que já tinha alguém aqui ㅡ o outro disse, fazendo uma pequena reverência.
ㅡ Tá tudo bem, eu não me importo ㅡ Jeongguk tentou dar um pequeno sorriso. Sabia que aquela área não era a melhor para montar uma barraca, mas não impediria o outro de fazê-la se fosse esse o objetivo.
ㅡ Tem certeza? ㅡ A expectativa dançava nos olhos pidões. Jeongguk achou isso engraçado, mas de toda forma, assentiu. ㅡ Muito, muito obrigado ㅡ o estranho sussurrou e aproximou-se, virando o corpo para a paisagem.
Em silêncio, Jeongguk não tinha certeza se deveria permanecer ali ou encontrar outro ponto da montanha para arrumar suas coisas e passar a noite. Estava prestes à ir embora quando ouviu a voz sussurrar:
ㅡ Eu vinha aqui todo ano com o meu pai, era o nosso lugar favorito em toda Seul. Tudo daqui de cima parece menor, porém mais especial, quase beirando ao mágico e, por isso, eu amava cada momento que passávamos aqui em cima juntos ㅡ fungou levemente.
A voz queria embargar, porém manteve-se forte. Jeongguk não entendia bem porque estava ouvindo isso, mas não conseguiu sair dali.
ㅡ Ele morreu faz quase dois anos… câncer, sabe… Foi difícil voltar aqui sem ele e depois foi mais difícil ainda admitir que eu precisava voltar aqui, por ele. Esse lugar me traz apenas boas memórias e é assim que eu quero cultivá-lo. ㅡ O rosto comprido virou para Jeongguk e ele pôde ver os olhos marejados e as maçãs altas levemente rosadas. ㅡ Faz algumas semanas que não me sinto ridiculamente vulnerável e mesmo que feliz, vir pra cá ainda é muito… vazio sem ele. ㅡ O pomo de Adão subiu e desceu quando engoliu em seco. ㅡ Então me desculpa a pergunta, mas seria estranho se pudesse ficar aqui e me fazer companhia?
Os pares de olhos castanhos se encaravam. Jeongguk não sabia como lidar com situações tão delicadas, mas ficar ali já era seu plano inicial, não parecia um problema ter uma companhia também. E com medo de quebrar qualquer coisa com o simples som de sua voz, ele apenas assentiu.
[...]
Barracas montadas, mantimentos separados e com uma pequena fogueira, os dois adolescentes compartilhavam das informações mais triviais sobre si mesmos. Seria completamente estranho estar na companhia um do outro e não saber nada sobre quem eram.
ㅡ Minha mãe costuma dizer que tenho um sorriso de coração.
ㅡ Me dê um sorriso, Hoseok-ssi ㅡ Jeongguk pediu erguendo a câmera polaroid e o outro sorriu. Jimin gostaria de saber que não ficou completamente sozinho naquele lugar. ㅡ Realmente lembra um coração.
ㅡ E os seus dentes lembram os de um coelho ㅡ apontou o fato e o outro rolou os olhos ㅡ, mas é claro que você escuta isso o tempo todo. ㅡ Riu da reação do mais novo para si.
ㅡ Já virou até um apelido de família.
Ambos olharam para as chamas dançantes da fogueira e comeram mais um pouco do lanche que levaram.
ㅡ Jeongguk-ssi, obrigado por ter ficado. Sei que não é o mais comum pedir a presença de um estranho, mas tenho andado muito sozinho ultimamente e você parece uma boa pessoa ㅡ sorriu pequeno para o moreno.
O silêncio caiu sobre eles mais uma vez até Jeongguk quebrá-lo inesperadamente.
ㅡ Eu vou me assumir pra minha família quando voltar pra casa ㅡ disse de uma vez. Os cabelos de Hoseok esvoaçaram quando voltou a atenção para ele. ㅡ Eu terminei o ensino médio e precisava de um momento pra me descobrir melhor, precisava ter certeza de alguma coisa antes de qualquer grande decisão, principalmente das que vão decidir o meu futuro nos próximos anos. Essa é a minha última parada. ㅡ Hoseok não sabia se havia algo que devia dizer, mas não teve tempo para tal, pois a voz preencheu o silêncio da montanha novamente. ㅡ Eu tive uma excursão aqui na sexta série e conheci meu melhor amigo naquele dia, dei meu primeiro beijo exatamente ali ㅡ apontou para uma rocha grande mais a frente ㅡ e comecei a descobrir quem eu realmente era na única vez em que fugi de casa e vim me refugiar neste lugar. Essa montanha é cheia de lembranças como as minhas e as suas.
Hoseok levantou o corpo grande e foi de encontro ao espaço vazio ao lado de Jeongguk. Sentia-se aquecido por dentro por poder dividir o tempo e distrair-se da impotência que as lembranças do pai traziam. Dividir um pouco de sua história com alguém que talvez nunca mais visse trazia certa leveza para os seus ombros e coração.
ㅡ Eu disse ao meu pai que era gay em uma das vezes que ele me trouxe aqui. Sabia que ele amava esse lugar e estava um dia bom o suficiente pra não temer tanto a rejeição caso ela viesse ㅡ contou baixinho encostado aos ombro largos. ㅡ Sabe o que ele me disse?
Jeongguk mirou seu rosto com os olhos grandes e negou.
ㅡ Ele disse "Eu te amo, Hobi e sou orgulhoso de quem você é. Ser gay não define como ou quanto eu amo você". Acho que aquela foi a primeira vez que eu chorei na frente dele desde muito tempo.
ㅡ Como ele era?
ㅡ Muito parecido comigo, mas tinha os olhos menos estreitos e o rosto mais redondo. Adorava torta de maçã e fazer almoços de domingo, assim como adorava jogar cartas com qualquer pessoa que estivesse em casa ㅡ riu soprado, limpando algumas lágrimas que caiam pelo rosto corado. ㅡ Minha mãe diz que na adolescência, ele pintava o cabelo de vermelho e adorava bandas de rock. Não consigo enxergá-lo assim, mas sei que é exatamente o tipo de coisa que eu faria. Ele era como uma rocha pra mim, um melhor amigo que não entendia muito pelo o que eu passava, mas me ouvia sempre com uma expressão doce no rosto e abraços quentinhos no fim do dia.
ㅡ E você o amava muito ㅡ Jeongguk disse afirmativo. Os olhos de Hoseok estavam brilhando pelas lágrimas que insistiam em cair.
Sem conseguir dizer mais uma palavra, o mais velho desabou nos ombros de Jeongguk, recebendo os braços compridos ao seu redor. Era um abraço bonito, limpo de qualquer má intenção. E Hoseok agradecia imensamente por ter alguém para ouvir os lamentos do seu coração.
[...]
ㅡ Hoseok-ssi… ㅡ o mais novo sussurrou. O moreno havia dormido em seu abraço depois de tanto chorar e compartilhar mais dos bons momentos que teve com o pai.
Jeongguk sentia-se extremamente diferente ao perceber a situação inusitada em que se encontrava. Dentro de sua bolha, longe dali, na segura Busan, não acreditaria ou gostaria ou ao menos vivenciaria um momento como esse. Não perceberia a dimensão que possui e o quanto o afeta.
ㅡ Hoseok-ssi, você precisa ir pra sua barraca… Já está tarde.
A voz bonita, em tom baixo e suave, acalentava os sonhos de Hoseok e percebendo que ele não acordaria tão fácil, arriscou levá-lo até a barraca logo ao lado da sua. Os primeiros passos foram fáceis, Hoseok não era tão pesado e a distância era curta, porém abaixar para deixar seu corpo sobre os colchonetes tornou-se uma tarefa árdua e o ele quase caiu sobre o corpo desacordado. Hoseok se mexeu sem abrir os olhos, embriagado pelo sono grudou as mãos na camiseta de Jeongguk e trouxe-o para perto de si, fazendo o jovem cair ao seu lado.
Seria errado ficar ali? Hoseok se sentiria confortável ao acordar pela manhã e vê-lo ao seu lado? Como se respondendo as suas dúvidas, o sussurro ditou:
ㅡ Eu não quero me sentir sozinho hoje…
E assim, a barraca acomodou os dois durante a noite. Da mesma forma, ela recebeu os primeiros raios solares quando o dia iniciou seu amanhecer. Jeongguk sentia-se dolorido, e sozinho. Abriu os olhos devagar e constatou uma sombra em frente a barraca. Engatinhando, foi para fora e viu Hoseok sentado em pernas de índio admirando o nascer do sol.
ㅡ Desculpa pela noite passada.
Jeongguk assentiu.
Continuaram olhando para frente, tentando entender a complexidade daquele enlace, de terem encontrado um ao outro.
ㅡ Esse é o meu momento favorito do dia. Parece que tudo está exatamente onde deveria estar, em paz. Tudo está quieto, às vezes até aqui dentro ㅡ espalmou a mão sobre o peito esquerdo ㅡ e isso é tão bom.
Jeongguk se permitiu colocar a cabeça sobre o ombro direito do talvez amigo.
ㅡ Obrigado por ter me ajudado e por não me abandonar.
ㅡ Amigos? ㅡ Jeongguk ergueu a mão esquerda com a palma virada para cima.
ㅡ Amigos ㅡ Hoseok sorriu pequeno e juntou a mão grande à mão do outro.
Ali, no silêncio dos primeiros momentos do dia, do nascimento de um novo ciclo, ambos se viram entendendo que nem sempre as coisas acontecem como idealizamos, mas elas podem se tornar as nossas melhores e mais preciosas lembranças.
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Agradeço muito a quem leu Gota de Sol. Se puderem deixar um feedback da história me faria muito bem!
Uma ótima noite pra vocês 🌸
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