Parte 6
Tudo continuara tenso no dia seguinte, quando a angústia ainda afligia a filha e a raiva o pai. E mais do que uma discordância simples surgiu na mente dela quando marcaram uma conversa com uma outra mulher, para o lugar de Madeleine.
"Eles não vão fazer nada? Vão simplesmente contratar outra e esquecer-se de Madeleine? Ela pode estar em perigo e era parte da família... E praticava mais do que eles a familiaridade comigo."
Quando foi chamada para esperar na sala pela pretendente a ser a nova substituta fraterna em sua vida, se emburrou, mantendo no rosto, visível aos pais, o primeiro sinal daquele sentimento latente em muitos jovens. Não fez questão de explicar o verdadeiro porquê a eles, somente soltando pequenos comentários de compaixão à sua irmã postiça, que valiam também para a pequenina flor amarela que se foi e que ambas gostavam.
— Meu amigo me garantiu que essa nova empregada é de primeira linha. Não é como essa mocinhas débeis.
— Mesmo assim, não podemos pôr qualquer uma aqui, querido. Tem certeza que ela é de confiança?
— Mas é claro, ora! Roger é um robusto braço direito para mim. Ele não decepciona!
Enquanto, sentados no sofá, a esposa sorria e o marido mantinha o olhar firme de confiança, Daisy beliscava as bainhas do vestido no colo, como sinal de nervosismo. Aquele tom azul melancólico combinava com seu clima, o oposto do vestido lilás chamativo da mãe e do terno prata escuro do pai.
Engolia seco quando pensava na substituta de Madeleine. Esta fora contratada apenas pela idade e oportunidade, ao invés da próxima, que tinha certa intimidade com uma pessoa de confiança da família.
"Madeleine era muito confiável. Não consigo imaginar alguém melhor que ela... Mas será que meus pais estão certos ao quererem, desta vez, uma pessoa que tem alguma ligação com alguém de confiança? Duvido que eu vá gostar dela, coitada... E ela nem terá culpa... A culpada mesmo é a que ocupava antes a mesma função. Como Madeleine está agora? Será que ela está cuidando bem do girassol? Eu sei que ela não pegou por mal, mas... se meus pais soubessem disso, não entenderiam dessa forma."
*
Já era quase hora do almoço quando a candidata chegara. Os pais tinham a desculpa perfeita para não cozinharem, e ela estava na certeza de que a velhota de boa aparência seria contratada.
Eles pelo menos não cometiam nenhuma contradição naquele caso, já que a senhora era o completo contrário de Madeleine, e se idade fosse sinônimo de responsabilidade, a substituta seria isso em pessoa. O visual era asseado e sem muitas cores. E esses não eram os únicos opostos em comparação com a antiga, mas também seu modo de falar e seu sorriso simpático que se encaixava no rosto magro e no queixo e nariz finos. Era direta e sem muitos enfeites nas palavras, como se quisesse se fazer agradável também à alguma criança.
Na conversa que tiveram no almoço, ficou claro à ela o incômodo da mais nova na mesa. E com o olhar direto, falou para a garota cabisbaixa que mastigava lenta e demoradamente a carne que era tão macia que não precisava de tantas dentadas: — Sinto muito, minha querida. Pelo jeito que está, você gostava muito dela. Caso eu possa compensar de alguma forma, não se sinta constrangida em me pedir.
Os pais só observavam a conversa, surpresos pela rapidez com que ela notou algo de negativo na menina, o que não era um padrão para a percepção deles.
— Está tudo bem — Daisy a respondeu, engolindo a comida e as lágrimas, antes de estas caírem no prato que encarava.
As palavras diretas da srta. Morris alimentaram a angústia, que já crescia e se alimentava da educação aparente para desenvolver seus pensamentos. No intervalo daquele almoço até ela ser contratada, aquele sentimento típico dos adolescentes começou a sufocá-la. Os olhos eram fechados não só para impedir que os pensamentos recaíssem sobre o almoço, mas também sobre o ambiente na mesa.
"Eles não estão nem aí pra mim! Só despejam a culpa na coitada da Madeleine! Essa outra parece se preocupar comigo mais do que eles! Que tipo de pais permitem isso?"
E quando deram a palavra que confirmava a contratação, Daisy finalmente se expressou, mesmo que de maneira contida em comparação com o profundo drama mental que já estava bem alimentado. Levantou-se da mesa e foi para a quarto, com a desculpa de já não estar mais com fome.
Em seu cômodo, trancada, estava à vontade para soltar o que não queria de tempero amargo na comida e no que a envolvia. Mergulhou a cabeça no travesseiro e o mergulhou de lágrimas. Não queria saber como explicaria aquela atitude aos adultos. Só queria manifestar um clássico comportamento adolescente, mesmo que o que o provocara tivesse começado finalmente só naquele sufoco macio do quarto, no exato local onde a rotina tranquila da mente fora tantas vezes quebrada.
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