Parte 11
Evelyn acendeu a luz do quarto, o lugar para o qual Tyler corria, em excitação, quase derrubando as duas. Era minimamente menor que a sala, com seus vinte e poucos metros quadrados. No lado esquerdo de quem entrava, este o lado da porta, na extrema esquina do cômodo, tinha uma cama de solteiro disposta verticalmente na primeira vista. Esta claramente era do menino, que arrumava-a apressadamente, forrando o colchão com um edredom grosso azul, querendo agradar os olhos da visitante. Na outra parede, ao lado, tinha outra cama exatamente na mesma posição, mas sem qualquer cobertor ou travesseiro, sendo colorida somente pelo lençol beje que cobria o colchão.
— Agora que você arruma? Que coisa! — a mais velha bronqueou, caminhando no tapete de algodão, bordado em listras com cores variadas, que cobria quase todo o quarto. Ela abriu a porta do guarda-roupa que separava as camas, na parede do fundo, e pegou um travesseiro e um edredom.
Quando desdobrava o cobertor para esticá-lo na cama, Daisy interrompeu, pedindo que deixasse aquilo com ela.
— Ótimo, querida! — Ela sorriu, saindo do quarto. — Ah! Esqueci de te perguntar se está com fome. Posso esquentar algo para você.
— Não precisa, senhora. Obrigada — e respondeu em timidez.
— De qualquer forma, tem algumas bolachas no armário e alguns pedaços de bolo na mesa. Tem frutas também. Fique à vontade pra beliscar o que quiser. Do seu lado aí, no guarda-roupa, tem alguns pijamas que a Maddy usava... Ah! Que cabeça a minha! Você não trouxe escova de dentes, não é? Não, obviamente... O mercadinho ainda deve estar aberto... Volto logo! — E olhava de canto de olho para o menino sentado na cama. — Se ele for inconveniente, pode me avisar que o ponho pra dormir na sala.
A menina consentia, dando uma risadinha ao encarar o rosto de desaprovação do mais novo.
— Sua mãe é muito atenciosa — afirmou, afofando o travesseiro, sentada na cama.
— Você é mesmo amiga da Maddy? — ele ignorou o elogio e manifestou a curiosidade inicial da visita.
— Sim... Éramos próximas.
— É? A gente brincava muito junto... Mas aí ela cresceu e só quis saber de ficar com o namorado dela. Ele é um mané! Sempre que vinha aqui passava a mão no meu cabelo. Tão bobão! Acho que os dois estão juntos agora. Eles sempre brigavam, mas voltavam depois. — Levantou-se abruptamente da cama e abriu um gaveta baixa do guarda-roupa. — Olha a cara de bocó dele.
Daisy pegou a foto, rindo forçadamente. E o riso falso virou um verdadeiro sorriso quando viu Madeleine feliz, num parque, ao lado de um rapaz. Mas a expressão se neutralizou quando ela se interessou no outro rosto conhecido da foto.
— O nome dele é...?
— Angelo. Até o nome é tosco — e riu, fazendo pouco caso da surpresa da outra. — O nerd bobão nunca deixa minha irmã se encrencar... Sempre a traz de volta, até de madrugada.
"Angelo? Não pode ser! Eles não estão juntos agora! Por isso ele ficou daquele jeito quando falei de Madeleine? Será que terminaram de vez? Se esse é o motivo da preocupação de Evelyn não existir, é um falso motivo! Tenho que avisá-los! Pra isso estou aqui! O bem maior voltou!"
— Eu estava com ele há alguns minutos! Ele me ajudou na estação! Ele me ajudou a achar esta casa! — ela se alarmou e se levantou, ainda focando no rosto masculino da foto.
— Minha irmã não tava com ele? — o menino agora fazia caso daquela coincidência, encarando Daisy com uma tensão provocada. — Podia ser outro cara... não podia?
— Não era. Tenho certeza! Se ela não está com ele, onde está? Precisamos ligar para a polícia... ela... ela pode estar ferida, em algum canto escuro... — As mãos afundavam no rosto e abafavam um pouco a voz não mais tímida que soltava enquanto ela imaginava alguns cenários.
— Fica calma — e o menino falava baixinho, aproximando-se e massageando seu ombro, como se afagasse algum cachorrinho assustado. A situação soou tensa no início, mas evoluiu para absurda e criativa demais, o que fazia ser exibido na aura do mais novo um ar de maturidade que ninguém esperaria de alguém como ele, que continuou: — Ela já se meteu em muita encrenca e sempre voltou pra casa. Você tá com cara de cansada... Deita um pouco e respira fundo. Vou pegar mais água.
Daisy custou a atender o pedido de Tyler, encarando-o em olhar trêmulo por mais de minuto, estacada no chão, até ser levemente empurrada para a cama, como se o tempo parasse e fosse retomado pelas mãos do menino nos seus braços.
Nos segundos de solidão, as lágrimas caíam sobre seu peito, até serem paradas no rosto pelas mãos. O pulso já não doía, e a lógica que quase a fez abandonar aqueles sentimentos explodidos pelos hormônios já não tinha força para convencê-la do exagero que sua mente construía. Era um tormento. Uma mistura de pensamentos. Tinha angústia, pois não sabia onde Madeleine estava. Tinha medo, pois foi pega de surpresa ao saber que a falta de preocupações da mãe já não era justificada. Estava triste, espelhando a expressão que lembrava ver em Angelo, e depositava na tristeza dele mais imaginação.
"Por quê ele estava triste? Ele sabe onde Madeleine está? Será que não quer contar para a família, pois seria um tremendo choque neles? Talvez essa impossibilidade de revelar que o faça ficar triste... Será que ele fez algo com ela e não é quem diz ser? Aí se arrependeu de ter feito isso, mas não tem coragem de contar? Ou sabe de quem ela está fugindo... Ou é a pessoa de quem ela está fugindo... Aquele bilhete! Diz que essa pessoa já sabe onde ela trabalha e mora!"
Quando Tyler voltou, encontrou Daisy sentada na cama, procurando algo nos bolsos da calça e do casaco, agitada. Vendo que seu estado de prostração tinha sumido, colocou o copo d'água no criado-mudo, na parede ao lado da porta.
— A carta não é importante! Lembro exatamente o que tinha nela! — em voz alta, Daisy se deu conta.
Antes que o menino se surpreendesse e manifestasse curiosidade naquela fala, ouviu o grave e metálico som de alguém batendo na porta e foi atendê-la rapidamente. A menina, numa convulsiva curiosidade, deu uma olhada, tirando nada mais que a cabeça do quarto.
E mais uma série de suposições estavam prestes a começar em sua mente, pois quem estava em pé, pouco atrás da soleira da porta e com um papel na mão, era Angelo.
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