ROAD TRIP

TOM FLETHCER


O dia amanheceu ensolarado e quente. Muito quente. Quente pra porra.

Pulei da cama antes mesmo do despertador tocar, irritado com o sol na minha cara. Ouvi música atravessar a fina parede que dividia com Harry e me dirigi até o seu quarto, arrastando os pés. Entrei e joguei-me de qualquer jeito na cama coberta por revistas, camisetas, livros e papeis.

Harry já estava acostumado com a nossa invasão de privacidade, então apenas continuou jogando qualquer coisa que encontrava no armário dentro de uma mala gigante da Nike. Entre as camisetas e shorts, jogou luvas e eu jurei ter visto um cachecol. Ri sozinho e ele nem percebeu. Ele sempre acordava cedo, mas nem sempre acordava de verdade.

— Alguém viu a minha escova de dentes? — Danny perguntou, entrando no quarto com uma calça de moletom furada no joelho direito.

— A última vez que eu vi estava na cozinha, dentro do armário em cima da pia — Harry respondeu, como se fosse a coisa mais normal do mundo uma escova de dentes dentro do armário em cima da pia.

Bem, na nossa casa era.

— Alguém viu meu boné azul? — Dougie perguntou, passando por Danny que saía do quarto.

— Você jogou fora depois que vomitou vinho dentro dele na última festa, lembra? — eu respondi.

— Ah... verdade...

Se alguém gravasse as nossas conversas cotidianas e colocasse no YouTube, garanto que faríamos muito sucesso.

Harry terminou de socar as coisas na mala e começou a se trocar. E, ao contrário das mulheres, eu saí do quarto sem pensar duas vezes; sabe como é, eu não curtia muito ver homens pelados e essas coisas...

Nem um pouco.

Entrei novamente no meu quarto e acendi a luz. Ele estava todo bagunçado, com cuecas e meias jogadas no chão, meu laptop aberto na escrivaninha, o abajur do Bob Esponja metade aceso metade desligado, o carpete todo furado de cigarro e manchado, a cama bagunçada e as paredes rabiscadas por todos que já passaram por ali, com frases como "vai se foder, Fletcher" e "Fletcher para presidente!".

Era o meu lugar favorito no mundo.

Peguei a minha mala verde escura da Adidas que estava pronta desde o dia anterior e a coloquei nos ombros, saindo pelo quarto e batendo a porta de qualquer jeito. O pôster do Green Day chacoalhou e voltou ao lugar, como sempre fazia.

Chegando na sala, todos já estavam por lá, segurando as suas malas e colocando os seus óculos escuros.

— Vamos? — Harry perguntou, girando as chaves do conversível nos dedos, como sempre fazia.

— Vamos— eu concordei, colocando os óculos no rosto.

Peguei o violão no chão e rumamos ao carro de Harry. Eu estava sentindo que aquele seria um final de semana memorável.


ISLA TAYLOR


A minha casa parecia um inferno, logo às 8h da manhã. Os meninos tinham combinado de passar em casa às 10, então nós acordamos às 7h.

— ALGUÉM VIU A PORRA DO AMARRADOR DE CABELO ROSA QUE ESTAVA EM CIMA DO BANHEIRO? — Perrie gritou, entrando no quarto com as mãos no topo da cabeça, segurando um rabo-de-cavalo que descia como uma cascata nas suas costas. Ela estava com um shorts jeans e uma blusa de alças branca. Minha mãe sorriu para ela, que corou. — Desculpa, tia Jô. Eu não sabia que você estava aqui.

Eu mostrei a língua para ela, enquanto a minha mãe prendia o meu cabelo em uma trança comprida.

— Tudo bem, Perrie, você não é a única que fala palavrão aqui— a minha mãe respondeu, ainda calma.

Aquela era a minha mãe. Sempre calma.

Agora espera até as visitas irem embora.

— Pronto! — Sophie disse, sorrindo com todos os dentes para nós.

O seu cabelo estava preso em duas trancinhas ao lado do rosto e ela parecia uma boneca de porcelana. Nós havíamos combinado de prender o cabelo porque tínhamos certeza que os meninos iriam querer viajar com o capô do carro levantado, só para irritar.

— Linda! — Victoria elogiou, observando Sophie de cima a baixo.

Ela usava uma saia de malha que ia até um pouco acima do joelho, branca com vermelho, e seus ombros estavam amostra com a blusa de alça vermelha.

Victoria levantou-se para se espreguiçar e para mostrar que também estava pronta. Ela usava uma jardineira jeans e uma camiseta roxa por baixo. O cabelo também estava preso em um rabo-de-cavalo.

— Você também, eim, Vic! Quer matar o Poynter do coração? — eu comentei, ela corou e mostrou o dedo do meio para mim, fazendo todas rirem, inclusive a minha mãe.

— Você também está linda, filha— ela disse, admirando-me depois de ter acabado a trança.

Eu também estava de jardineira jeans bem clarinha e, por baixo, usava uma regata verde.

Todas nós já estávamos prontas e fomos tomar café. Eu não estava muito a fim de comer nada, então tomei um copo de suco de maracujá para ver se me acalmava e se o pensamento saía de Thomas e pousava no mundo real.

Ficamos enrolando na cozinha, minha mãe contando histórias malucas da adolescência – tomando muito cuidado para não envolver meu pai, já que ela não falava com ele nem dele havia muito tempo – e nós mijávamos de rir toda vez que ela contava de um namorado que tivera que fazia xixi na cama.

Quando já era 10h18, ouvimos barulhos de buzinas na frente de casa. Nos entreolhamos e saímos correndo para olhar a sala de estar e grudamos as nossas caras na janela. Eram eles.

Harry e Dougie estavam apoiados no carro, no melhor estilo bad boy que espera a namorada na porta da escola. Danny estava dentro do carro, aparentemente escolhendo a playlist daquela viagem. Por fim, Tom estava parado com as mãos nos bolsos, ao lado de Dougie e mais lindo do que nunca.

Harry usava uma bermuda jeans e uma camiseta pólo listrada de azul com branco. Dougie estava de bermuda camuflada e camiseta azul-marinho, na combinação mais esquisita que eu já havia visto. Danny usava uma camiseta verde mamãe-não-me-perca-na-neblina e uma bermuda preta com detalhes em verde. Thomas era de longe o mais lindo! Ele usava uma bermuda jeans, como Harry, mas a dele era mais escura e desfiada na barra. A blusa vermelha com uma caveira em preto ficou meio agarrada no peito, que descia e subia com a respiração, e nos pés um par de All Star pretos, surrados e sujos.

Lindo!

— Ai meu Deus, o Danny está tão lindo! — Sophie suspirou, saindo de perto da janela e correndo até onde as nossas malas estavam. — Vamos logo antes que eu mude de ideia!

— Vamos! — eu sorri, pegando a minha mala vermelha do chão e colocando a mochila nas costas.

As meninas pegaram as suas malas e demos um beijo estalado no rosto da minha mãe.

— Se comporte — ela disse no meu ouvido.

Ah, desculpe mãe, mas era a última coisa que eu iria fazer!


TOM FLETCHER


Se aquelas garotas queriam nos matar do coração, bom... elas conseguiram. Sério. Vai tomar no cu. Elas estavam muito gatas. Muito, muito, muito, muito gatas. Gatas demais. Já mencionei que elas estavam... gatas?

Quando saíram da casa de Isla segurando as malas nas mãos e descendo as escadas de pedra da entrada, o meu coração meio que deu um pulo no peito. Mas não foi só o coração que pulou, se é que você me entende.

Dougie e Harry saíram correndo para pegar as malas de Perrie e Victoria, quase tropeçando nas pernas. Danny me olhou suplicante e eu revirei os olhos; ele queria ignora-la, mas queria cuidar dela mesmo assim. Para quem sobrava aquilo mesmo?

— Eu te ajudo, Soph do meu coração— ofereci, pegando a mala verde-limão que combinava com a camiseta de Danny. Ela sorriu para mim e caminhou até o carro. Olhei para o lado e Isla descia as escadas com as escandalosamente lindas pernas de fora com uma jardineira jeans. Ela me lançou um olhar de cão sem dono e eu me aproximei dela, tentando ser o mais hostil possível. — Deixa que eu levo a sua, Taylor.

— Só para mostrar isso que chama de músculos enquanto leva as duas malas, não é, Fletcher? — ela perguntou, quase jogando a mala em cima de mim.

Pisquei discretamente para ela quando ninguém mais olhava para a nossa pequena discussão e ela piscou de volta. Joguei as malas no porta-malas que já estava abarrotado com as nossas coisas e pulei para o banco detrás, ficando estrategicamente ao lado das pernas nuas de Isla e ao lado de Danny. Na frente, Harry dirigia e Perrie ia ao lado, roubando o posto de co-piloto de sempre de Dougie, que não se importou nem um pouco, pois estava meio prensado entre Mel e Sophie. Sophie estava no apoio do banco, na ponta. Ao lado, Dougie estava sentando no banco e Victoria vinha em seguida. Danny também estava sentando no apoio do banco e eu estava ao seu lado, sentado como uma pessoa normal. Isla estava ao meu lado, também no apoio do banco.

Nós sabíamos que quando entrássemos na expressa teríamos que nos espremer no banco detrás, mas, enquanto aquilo não acontecia, íamos nos divertindo com o espaço. Harry – logo depois de dar um longo beijo de "oi" em Perrie – deu partida no carro e ela colocou Offspring no som, estourando as preciosas caixas de som do conversível. Nós cantamos o caminho todo até a expressa. Eu tentava não encostar em Isla, mas estava meio difícil com as suas longas pernas bem do meu lado, me chamando. Mas eu me segurei.

Palmas para mim.

— Gente, sentando aí, chegamos na expressa— Harry ordenou, olhando pelo retrovisor, o vento bagunçando todo o seu cabelo; Perrie tentava mante-lo no lugar, mas não estava dando muito certo.

— Alguém troca comigo? Eu não gosto de ficar espremida na ponta! — Sophie choramingou.

Victoria lançou um olhar significativo para Isla e disse:

— Eu troco.

Elas trocaram rapidamente e então Sophie percebeu que teria que ficar ao lado de Danny, que parecia estar prestes a ser eletrocutado. Ela revirou os olhos e olhou para Isla, que estava rindo com a mão na boca. Quando percebeu o olhar da amiga, parou de rir na hora, descendo do apoio e caindo ao meu lado, com metade do corpo colado ao meu e a outra metade na porta do carro. Danny, ao meu lado, tentava ao máximo ficar longe de mim, então estava praticamente em cima de Sophie, que olhava para todos os lados, menos para ele. Dougie e Victoria conversavam animadamente sobre a Segunda Guerra Mundial, parecendo não se importar com o aperto em que estávamos.

— Se você soubesse o quanto eu quero te agarrar agora, não ficaria tão perto assim de mim — sussurrei no ouvido de Isla, aproveitando que todos berravam a música que saia das caixas de som.

Isla fechou os olhos e encostou a cabeça na minha por dois segundos. Depois, endireitou-se e não disse nada.

— Eu te amo, sabia? — eu disse, novamente no seu ouvido.

— Eu também te amo— ela disse no meu, e voltou a observar a paisagem.

A viagem estava prevista para durar duas horas, e eu já estava quase morrendo de tesão na primeira meia hora. Ótimo.

— Tom! — Harry gritou lá da frente. — Onde você colocou as bebidas?

— Na mala marrom— eu respondi. — Ela está lá atrás, embaixo da mala do Danny.

— Que que tem a minha mala? — Danny perguntou, saindo de algum tipo de transe.

— Ela voou pelo porta-malas e nós não podemos voltar para pegar, cara! — Harry gritou por cima da música, sendo o gênio do crime que ele sempre foi.

— AI MEU DEUS! — Danny exclamou e curvou-se para trás, nos fazendo começar a rir. — A MINHA CUECA DA SORTE ESTÁ NAQUELA MALA! HARRY, VOLTA, PELO AMOR DE DEUS!

Nós gargalhávamos enquanto ele balançava Harry pelos ombros, pedindo para ele voltar. Quando finalmente Harry parou de rir e explicou para ele que era brincadeira, Danny ficou mais emburrado do que já estava antes e encostou a cabeça no banco da frente.

Sophie o ficou analisando e ele abria os olhos de vez em quando para ver se ela continuava, fechando-os novamente quando via que sim.

— Tom, você trouxe o baralho? — Dougie perguntou.

— Tá na sua mala, no bolso da frente— eu respondi como se fosse a mãe dele.

Para falar bem a verdade, eu era de fato a mãe de todos eles. O mais responsável.

— Ah, que graça, o Tom lembra de tudo! — Perrie disse, virando-se para mim. Senti o meu rosto queimar. — Ah, que graça, e ainda por cima fica vermelho! Se o Judd não tivesse a pegada tão boa eu largava dele para ficar com você!

— Largava nada— Harry comentou. — Essa aí só larga de mim quando morrer!

Nós rimos quando Perrie mostrou a língua para Harry. Olhei para Isla e ela estava meio vermelha, não sei se pelo sol ou por... ciúmes?

Depois de quase duas horas, finalmente entramos na cidade litorânea em que iríamos passar o final de semana e Harry andou devagar pela cidade, que tinha muitos restaurantes e clubes perto da praia. Era uma cidade muito visitada por universitários nas férias, por isso tinha shopping e todas essas coisas de cidade grande.

— Agora vira a direita— eu expliquei, apontando para a rua em que Harry deveria virar com uma mão, abraçando a cintura de Isla discretamente com a outra.

— Estamos chegando? — ela perguntou. — Eu preciso desesperadamente fazer xixi!

— Eu também! — Victoria exclamou, saindo da conversa com Dougie e entrando na nossa. — E é sério!

— Estamos, é só virar a esquerda — respondi.

Harry fez o que eu orientei e chegamos na majestosa casa do meu tio. Eu nunca tinha reparado quando criança em como ela era grande; aparentemente, o pessoal achou a mesma coisa.

— Meu Deus, é gigante! — Danny disse, abrindo os olhos e se endireitando no banco.\

Harry estacionou na frente da casa.

— Ótimo, agora me dá a chave que eu preciso mesmo ir ao banheiro! — Isla exclamou, estendendo a mão para mim com as unhas vermelhas e compridas.

Peguei a chave no meu bolso e depositei com cuidado em sua mão. Ela sorriu com desdém – todos olhavam para nós dois – e pulou do carro, desaparecendo pelas sombras da casa do meu tio com Victoria quicando atrás dela. Sophie pegou a sua mala e foi junto arrastando os pés, com o olhar triste. Perrie finalmente se soltou dos braços de Harry e foi deslizando pela entrada, como se fosse um Dementador feliz, e logo estávamos sozinhos.

— Certo, eu não aguento mais! — Danny exclamou, jogando a mala de bebidas nos ombros e segurando a sua própria nas mãos. — Hoje eu vou beber dois litros de cachaça e pegar a Sophie, porque aí amanhã eu posso dizer que não lembro de nada.

— Parece um plano horroroso! — Harry comentou, colocando a mala de Perrie em uma mão e a sua na outra.

— A Victoria tá muito gostosa, né? — Dougie olhou para nós, revelando pela primeira vez o seu interesse em Victoria.

— Ah, muleque! — eu disse, cutucando as costelas dele. — Finalmente deixou de ser otário!

— E se você não parar de ser também, vai passar o final de semana segurando vela —Danny provocou, e os outros concordaram.

— Isla Taylor? Nunca! — eu exclamei, como aqueles super-heróis afetados.

Eles riram.

— Vai perder a chance da sua vida — Harry negou com a cabeça, fechando o porta-malas e entrando pelo portão da casa.

Ah, se eles soubessem...

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