᳝ ࣪ ❛ ͏ 𝙘𝙖𝙥𝙞𝙩𝙪𝙡𝙤 quinze : amar você dói ៹ ✧⠀

୨ᅠᅠ﹙ ato dois ﹚let the world burnᅠᅠ୧
 ࣪៹  𝄒 ˖   ࣪  𓂃 ۫  . - capítulo quinze, amar você dói ꜝꜞ ᳝ ࣪ᅠ  ៹ 💣   ✶    ۫

━━━ Repete! ━━━ Astra gritou, os dedos firmes agarrando os cabelos curtos do homem, puxando-o para cima apenas para jogá-lo de volta contra o chão empoeirado. ━━━ Eu quero ouvir da sua boca imunda novamente!

O som seco da cabeça de Finn batendo contra o chão ecoou pelo espaço vazio, uma reverberação quase tão intensa quanto a raiva que incendiava os olhos de Astra.

Finn engasgou com as próprias palavras enquanto o ar pesado invadia seus pulmões e dificultava a visão. Ele não conseguiu gritar uma súplica ou reinvindicar suas próprias palavras, o ar denso esmagou seus pulmões como correntes emaranhadas em volta dele.

━━━ Animais como você deveriam permanecer no buraco de onde vieram. ━━━ as palavras deixaram sua garganta como um rosnado quase gutural, enquanto as pontas dos dedos ficavam brancas pela pressão.

Astra o soltou bruscamente, empurrando seu corpo com o pé como se o esforço fosse mínimo. O corpo de Finn era alto e musculoso, mas Astra o virou como um saco de pão. Ele envolveu as mãos em torno da garganta enquanto tentava puxar o ar de volta para seus pulmões, mas era quase impossível.

Os outros líderes do 'conselho' de Zaun observavam tudo assustados, hesitantes enquanto observavam a filha de Silco fazer o trabalho sujo. Cada um tinha uma máscara de oxigênio sobre o nariz e boca, filtrando o gás tóxico que Sevika havia aberto na sala. A ventilação havia parado, e o ar estava mais quente do que nunca, como se houvessem voltado para os tempos miseráveis que os assolaram um dia.

Astra o observou contorcer sobre seus pés, as pernas curvadas chutando o nada. Ela alcançou a última máscara de oxigênio que havia sobrado, o olhando com desdém enquanto a precionava contra o próprio rosto e engolia a engatilhada de ar limpo que saia dela.

━━━ Po- por- por fa- ━━━ Finn tentava dizer, mas as palavras eram cortadas antes de serem finalizadas em sua garganta.

O olhar de Astra queimava sobre ele, era atordoante e assustador. Sevika deu um passo a frente, mas Silco estendeu a mão para que ela parasse, ele queria ver até onde a filha iria, mas Sevika odiava ver aquela versão da garota. A versão refletida de Silco.

Finn havia feito uma das únicas coisas que Astra não tolerava. Zombar ou insultar Jinx. E ele havia a chamado de "cachorrinho do Silco", enquanto o sangue dela fervilhava e o olhar queimava em sua mais pura áurea de ódio.

Astra deu uma longa e última respirada do oxigênio limpo, jogando a máscara um pouco distante de Finn. Esse que já estava quase sem movimentos.

━━━ Aproveite seu ar, cão. ━━━ ela balbuciou antes de dar-lhes as costas e sair da sala.

[ . . . ]

Algumas pessoas tratam desavenças como uma forma dolorosa de fortificar um relacionamento ou vê-lo chegar ao fim.

Alguns casais sentam e conversam sobre o que sentem, sobre como a situação os abala. Outros simplesmente ignoram até que o problema desapareça, engolido pelo tempo.

Mas Astra e Jinx nunca foram um casal normal. Nem de longe.

Para elas, as desavenças eram tempestades que deixavam rastros de destruição por onde passavam. Cada discussão era como uma explosão, imprevisível, destrutiva, mas, de alguma forma, inevitável. E, no meio dos destroços, elas sempre voltavam uma para a outra, como se o caos fosse o único lar que conheciam.

Porque amar Jinx era amar o próprio caos. E amar Astra era aceitar uma bagagem de dores e cicatrizes que ela escondia por trás de um semblante de força inabalável.

Não havia espaço para silêncio entre elas. O silêncio era perigoso. Ele alimentava as vozes na cabeça de Jinx e a culpa que Astra carregava como uma segunda pele. As palavras eram armas, disparadas de ambos os lados, e, no final, eram também a única coisa que as mantinha conectadas.

E, ainda assim, Astra nunca se arrependia.

Porque, apesar das explosões e dos silêncios ensurdecedores, havia algo em Jinx que Astra não conseguia abandonar. Talvez fosse a forma como ela brilhava, mesmo no caos. Ou como ela transformava o mundo ao redor em algo impossível de ignorar.

Jinx era o furacão, e Astra era o pedaço de terra que ela nunca conseguia destruir por completo. Mas mesmo terra firme erode com o tempo.

E Astra sabia que, no ritmo em que estavam, era apenas uma questão de tempo até que uma das duas desmoronasse por completo. O problema era que nenhuma delas sabia como parar. Como encontrar um meio-termo. Como amar sem se ferir. Talvez elas nunca soubessem.

O que Astra mais temia não era lembrar. Era esquecer.

Esquecer o calor de uma risada que um dia foi sincera, o brilho dos olhos azuis que ela jurava ver antes que as sombras os tomassem. Esquecer a sensação de pertencer, mesmo que fosse ao caos. Porque, por mais destrutivo que fosse, o caos de Jinx era o lugar onde Astra sentia que cabia. Onde ela não era uma peça fora do quebra-cabeça.

Mas amar Jinx era como amar uma tempestade.

Era ser arrancada do chão toda vez que pensava que podia ficar firme. Era ser atingida por faíscas que prometiam calor, mas sempre queimavam. Era gritar contra o vento e ouvir o próprio grito se perder no vazio.

Ainda assim, Astra continuava.

Ela continuava amando, mesmo quando parecia uma escolha masoquista, mesmo quando cada parte lógica de sua mente dizia para desistir. Porque Jinx não era apenas o caos. Ela era a faísca. A chama que Astra perseguia na escuridão, mesmo sabendo que se queimaria no processo.

Porque, por mais que Jinx fosse destrutiva, por mais que Astra se sentisse consumida por esse amor... havia um momento, um único momento, onde ela conseguia enxergar Jinx como era antes. Como ainda poderia ser.

E isso bastava.

Mesmo que doesse, mesmo que a levasse ao limite, mesmo que ela tivesse que lutar contra o próprio coração. Porque Astra sabia que, se deixasse Jinx ir, não seria apenas Jinx que desapareceria. Seria uma parte dela mesma.

Uma parte que ela não estava pronta para perder.

Zaun nunca dormia. O brilho frio das luzes artificiais refletia no metal corroído das estruturas que se empilhavam em camadas como teias de aranha. Astra estava sentada no beiral de uma passarela alta, as pernas balançando no vazio enquanto observava o caos organizado abaixo. O ar tinha aquele cheiro característico de Zaun, ozônio, fuligem, metal queimado. Não era agradável, mas, para ela, era tão familiar quanto o próprio sangue.

Os últimos anos haviam sido... intensos. Não do jeito que ela gostaria, mas a presença de Jinx dava um tipo peculiar de sentido a tudo aquilo. Por mais caótico que fosse, havia algo nos momentos que compartilhavam que fazia todo o resto parecer suportável.

Jinx tinha essa habilidade de fazer o impossível parecer quase normal. De transformar o caos em algo comum, algo com o qual Astra conseguia lidar, mesmo quando tudo dentro dela gritava o contrário. Por mais que a pólvora, os gritos e as explosões fossem aterrorizantes, Astra nunca se sentiu tão viva quanto ao lado dela.

Mas agora, como um efeito dominó, todas as peças que se encaixavam em sua vida estavam desmoronando.

O caos que antes parecia ter um propósito agora não passava de uma tempestade de poeira que Astra não conseguia mais conter. Era como se tudo o que construiu ao lado de Jinx estivesse desabando ao seu redor, e não havia nada que pudesse fazer para impedir.

Ela se sentou no chão frio, o som distante da cidade ecoando ao longe. As mãos tremiam ao apertar o punho contra a testa, tentando organizar os pensamentos, mas era inútil. A imagem de Jinx, os olhos selvagens e as palavras que cortavam como facas, se repetia em sua mente como um disco arranhado.

As memórias boas que compartilhavam? Elas estavam começando a desaparecer sob o peso da dor e das acusações.

Burra o suficiente para foder com tudo, duas vezes. A voz em sua cabeça repetia incessantemente, como um disco quebrado, transformando cada segundo de silêncio em uma tortura cruel. O ar parecia rarefeito, como se cada inspiração fosse uma súplica por algo que Astra sabia que não merecia.

Ela pressionou as mãos contra o peito, como se isso fosse o suficiente para conter a avalanche de culpa que ameaçava sufocá-la.

Você estragou tudo. Ela confiava em você.

As palavras ecoavam, cada vez mais altas, como se fossem mais reais que o som do próprio coração. E o pior de tudo? Ela sabia que eram verdade. Jinx tinha confiado nela, contra todas as probabilidades, contra as vozes em sua cabeça. E Astra... Astra havia falhado.

Não importava o quanto tentasse justificar suas escolhas ou o quanto acreditasse que estava protegendo Jinx. No final, ela era só mais uma pessoa que havia quebrado algo dentro dela.

Astra se abraçou, sentindo as unhas cravarem na própria pele, como se a dor física pudesse distrair a confusão em sua mente. Mas mesmo a dor era insuficiente para calar o que gritava dentro dela.

Você nunca vai ser boa o suficiente para ela. E talvez fosse verdade.

O som de passos leves e irregulares ecoou pela passarela. Astra não precisou olhar para saber quem era. Era um ritmo familiar, uma melodia dissonante que Astra reconheceria em qualquer lugar.

Ela não precisou olhar para saber quem era.

A respiração dela vacilou por um momento, o peito apertando com uma mistura de antecipação e medo.

Jinx.

Ela sempre surgia assim, como uma sombra inquieta, uma tempestade de energia reprimida que nunca sabia onde repousar. Quando finalmente apareceu, os cabelos azuis dançavam ao vento, as pontas soltas e bagunçadas. Havia uma expressão inconfundível em seu rosto, o olhar ardente e maníaco.

Astra abriu os olhos, finalmente se virando para encará-la. Jinx estava parada a poucos passos de distância, os olhos brilhando com aquele misto de loucura e algo quebrado, algo que Astra não conseguia definir, mas que a puxava como um imã.

Havia algo nos olhos dela. Algo quebrado. Algo furioso.

━━━ Você mentiu! ━━━ Jinx gritou, sua voz ecoando como uma lâmina. ━━━ Você é como todos os outros.

Astra abriu a boca para falar, mas as palavras morreram antes de se formarem. E antes que pudesse sequer organizar um pensamento, estava de pé, e Jinx já estava na sua frente.

O primeiro golpe veio rápido, sem aviso. Um soco direto no rosto. A força do impacto a fez cambalear para o lado, o gosto metálico de sangue preenchendo sua boca quase instantaneamente. Ela não revidou.

Não conseguiu nem levantar as mãos para se proteger quando o próximo golpe veio, um chute violento no estômago que a fez cair de joelhos. Astra segurou o chão com as mãos, tentando se estabilizar, as mãos tremendo enquanto tentava se equilibrar. Ela ainda não revidou.

Jinx estava em pé, os punhos cerrados, os ombros subindo e descendo com sua respiração pesada. Seus olhos brilhavam com uma mistura de raiva e dor, como se ela estivesse lutando contra algo muito maior do que Astra.

━━━ Você sabia. ━━━ Jinx sibilou, a voz carregada de mágoa e ressentimento. ━━━ Você sabia sobre ela, e não me contou.

Astra levantou a cabeça lentamente, os olhos buscando os de Jinx. Ela viu as lágrimas começando a se formar, mas a máscara de fúria ainda cobria o rosto da garota.

━━━ Eu... ━━━ começou Astra, mas sua voz falhou.

Jinx deu um passo à frente, agarrando a gola da jaqueta de Astra e a puxando para cima.

━━━ Você é igual a ele. ━━━ murmurou, a voz tremendo enquanto as palavras saíam como facas. ━━━ Você mente pra mim. Você me esconde coisas. Você me trata como... como um brinquedo quebrado que precisa ser protegido.

Outro soco, dessa vez na lateral da cabeça, e Astra caiu no chão com força. Sua visão ficou turva, mas ainda assim, ela não revidou. Não podia.

━━━ Eu confiei em você, Astra! ━━━ Jinx continuou, os punhos tremendo. ━━━ Eu te deixei entrar na minha cabeça... no meu mundo... e você... você só mentiu. Igual a todos os outros!

━━━ Jinx... ━━━ tentou murmurar, mas sua voz mal saiu.

━━━ Cala a boca! Cala a droga da boca! ━━━ Jinx gritou, os olhos arregalados, lágrimas misturando-se com sua raiva. As vozes dentro dela pareciam gritar também, ecoando nas paredes de metal da passarela. Ela apertou as mãos contra a cabeça, como se quisesse sufocar os gritos, mas sua frustração só crescia. ━━━ Você disse que era diferente! Mas você mentiu. Você só estava... estava esperando a hora certa pra me trair também!

━━━ Eu não sou eles. ━━━ murmurou Astra finalmente. ━━━ Eu nunca quis te machucar.

Os braços de Jinx caíram ao lado do corpo, enquanto seus olhos pareciam se perder em algum lugar distante.

━━━ Então por que dói tanto? ━━━ perguntou ela, mais para si mesma do que para Astra.

Astra permaneceu ajoelhada no chão, os joelhos pressionados contra o metal frio da passarela enquanto o silêncio ao redor parecia mais pesado do que qualquer palavra que pudesse dizer.

Diante dela, Jinx travava uma batalha invisível. Os punhos cerrados, os ombros tremendo, os olhos azuis fixos em um ponto qualquer, como se estivessem tentando escapar das vozes que rugiam em sua mente.

E Astra assistia. Assistia enquanto a culpa crescia dentro dela, enquanto o peso de suas escolhas erradas parecia se multiplicar, refletido no sofrimento de Jinx.

Ela não podia interferir, honestamente, nem sabia se deveria. Talvez aquele fosse o preço que precisava pagar. O preço por ter cruzado uma linha que não devia, por esconder verdades que não eram suas para proteger.

Talvez o castigo fosse esse, assistir Jinx desmoronar diante dela. Assistir a pessoa que mais importava para ela ser esmagada pelas sombras que Astra, de alguma forma, ajudou a alimentar.

Era uma punição cruel, mas, no fundo, Astra sabia que merecia. Porque esconder algo tão importante a transformava em mais uma das vozes que a traíram, e agora, enquanto os soluços de Jinx quebravam o silêncio e o brilho de lágrimas escapava por entre seus dedos, Astra sentia-se impotente.

Uma parte dela queria se levantar, segurá-la, prometer que tudo ficaria bem. Mas a outra parte sabia que promessas vazias não tinham espaço ali, não naquele momento.

━━━ Cala a boca! ━━━ Jinx gritou, sua voz rachando. Ela avançou novamente, deixando um tapa estralado no rosto de Astra, o ar sendo arrancado dos pulmões. ━━━ Não fala com ela! ━━━ Jinx murmurou para si mesma, olhando para o nada, como se estivesse conversando com fantasmas. ━━━ Ela mente. Ela é uma mentirosa como todo mundo. Ela só quer te deixar sozinha de novo!

O som da voz dela era quase insuportável. Rasgado, quebrado. Cada palavra era como um golpe, mesmo quando os punhos dela pararam de se mover.

Jinx se ajoelhou sobre Astra, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto ela agarrava a gola da camisa dela, puxando-a para cima novamente.

━━━ Você era minha... ━━━ ela sussurrou, a voz agora cheia de dor. ━━━ Você disse que nunca iria me machucar, mas você fez. Você fez.

Astra fechou os olhos, os punhos cerrados contra o chão frio enquanto o peso das palavras de Jinx se cravava em seu peito como estacas. Ela sentia as lágrimas queimarem nos cantos dos olhos, mas as segurou, não por orgulho, mas porque sabia que elas não mudariam nada.

O silêncio entre elas era pesado, sufocante. Astra queria falar, queria dizer algo que apagasse aquela dor, mas todas as palavras pareciam vazias, inúteis.

Jinx ainda estava sobre ela, as mãos tremendo enquanto seguravam a gola da camisa de Astra. Os olhos azuis de Jinx estavam inundados de lágrimas, mas o que realmente matava Astra era o olhar. Não era só raiva. Era decepção. Era a dor de alguém que confiou e foi traída novamente.

━━━ Eu acreditei em você. ━━━ sussurrou, a voz agora um fio, quase inaudível. ━━━ Eu te escolhi, Astra. Quando ninguém mais estava lá, eu... eu escolhi você. E você...

A voz dela se quebrou no meio da frase, e Jinx finalmente deixou os braços caírem ao lado do corpo. Astra abriu os olhos lentamente, olhando para ela com uma mistura de dor e desespero.

━━━ Eles dizem que eu devia acabar com você. Que eu devia acabar com tudo isso. E talvez... talvez eles estejam certos.

Jinx pegou o detonador em seu cinto, os dedos trêmulos ao segurá-lo. Astra olhou para ela, o rosto manchado de sangue, mas os olhos ainda firmes, encarando-a como se tentasse atravessar a camada de dor e loucura.

━━━ Então faz isso, Jinx... ━━━ Astra disse, a voz baixa, rouca, mas sem hesitação. ━━━ Se é isso que você quer.

Por um momento, seu corpo congelou. O detonador em sua mão parecia pesar uma tonelada. Ela olhou para Astra, e pela primeira vez, não conseguiu decifrar o que estava sentindo.

Dor. Raiva. Culpa. Esperança. Tudo isso misturado em um turbilhão que ameaçava engoli-la.

━━━ Você não entende. ━━━ sussurrou ela, os olhos avermelhados com lágrimas. ━━━ Eu quebro tudo o que toco. Eu quebrei minha irmã. Eu quebrei você.

Astra balançou a cabeça, lenta, mas enfaticamente.

━━━ Você não me quebrou. ━━━ disse ela, a voz firme, mas cheia de ternura. ━━━ Pelo contrário, Jinx. Você consertou algo que nem ao menos quebrou.

Os olhos de Jinx se arregalaram levemente, confusos, enquanto ela olhava para Astra, tentando processar o que acabara de ouvir.

━━━ Consertei? ━━━ murmurou ela, quase descrente.

Astra respirou fundo, ignorando a dor que ainda latejava em seu corpo, e deu um pequeno passo em direção a Jinx.

━━━ Sim. ━━━ continuou ela, os olhos nunca deixando os de Jinx. ━━━ Eu estava perdida antes de você, Jinx. Eu estava sozinha, vazia. Você não percebe, mas o caos que você trouxe para a minha vida me deu algo pelo que lutar. Algo que eu nunca tive antes.

Jinx piscou, as lágrimas rolando livremente por suas bochechas agora. As palavras quebraram algo dentro dela. Os dedos trêmulos afrouxaram ao redor do detonador, que caiu no chão com um som seco.

Os soluços rasgando sua garganta enquanto ela enterrava o rosto nas mãos. Astra, apesar da dor, se arrastou para mais perto, ignorando os gritos de seus músculos e a sensação de sangue escorrendo por sua pele.

Quando chegou até Jinx, ela hesitou por um segundo, mas então estendeu a mão, segurando o rosto dela gentilmente.

━━━ Eu sou uma bagunça. Eu sou...

━━━ Você é humana. ━━━ interrompeu Astra. ━━━ E sabe o que mais? Eu amo essa bagunça. Cada pedaço dela. Porque é você, Jinx.

As palavras pareceram cortar direto ao coração de Jinx. Ela permaneceu imóvel por um momento, os olhos arregalados e brilhantes com lágrimas, como se Astra tivesse acabado de dizer algo impossível. Algo que ela não sabia se podia acreditar.

O silêncio entre elas era pesado, carregado de emoções que nenhuma das duas sabia como expressar.

━━━ Você... me ama? ━━━ murmurou Jinx, a voz quase um sussurro, como se testar aquelas palavras fosse um risco em si.

Astra respirou fundo, sentindo o peso da confissão que havia acabado de fazer. Mas ela não recuou.

━━━ Sim... eu amo você. Não apesar da bagunça, mas por causa dela. Porque ela é parte de quem você é. E eu não mudaria nada disso.

Jinx começou a tremer, os ombros subindo e descendo enquanto as lágrimas finalmente escorriam livremente por seu rosto.

━━━ Você é louca. ━━━ disse ela, a voz oscilando entre uma risada curta e um soluço. ━━━ Eu sou um desastre. Eu sou perigosa. Eu... eu não sei o que estou fazendo, Ash. Eu só...

Astra deu um passo à frente, as mãos levantando-se lentamente até segurarem o rosto de Jinx.

━━━ Você não precisa saber. ━━━ murmurou ela, os polegares limpando as lágrimas que continuavam a cair. ━━━ Você só precisa saber que eu estou aqui. Que você não está sozinha. E que, por mais que você ache que é um desastre, você ainda é o que mantém meu mundo inteiro.

Jinx fechou os olhos, os lábios tremendo enquanto mais lágrimas escapavam.

━━━ Eu estrago tudo. ━━━ disse ela novamente, mas sua voz era mais fraca agora, como se estivesse começando a acreditar que talvez, só talvez, Astra estivesse certa.

━━━ Você não estragou isso. ━━━ respondeu Astra, inclinando-se para que suas testas se tocassem. ━━━ Olha pra mim, Jinx. Você não estragou isso. Você não estragou a gente.

Jinx abriu os olhos, encontrando os de Astra tão próximos que podia ver cada detalhe, cada fragmento de sinceridade neles. E naquele momento, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu algo além do caos. Sentiu-se vista. Sentiu-se amada.

Sem palavras, ela se lançou nos braços de Astra, as mãos agarrando o tecido da jaqueta dela como se o simples ato de soltar fosse deixá-la cair em um abismo sem fim. Astra hesitou por um momento, surpreendida pela intensidade do gesto, mas então envolveu Jinx em um abraço firme, puxando-a para mais perto.

Ela ignorou a dor em seu corpo, os cortes que ainda latejavam e os músculos que protestavam. Tudo isso parecia insignificante comparado ao que sentia agora. Porque naquele momento, nada importava mais do que a garota em seus braços.

Jinx soluçava baixinho contra o ombro de Astra, o som quebrado e vulnerável de alguém que carregava o peso de um mundo que nunca foi gentil. Cada soluço era como um grito sufocado, e cada lágrima parecia carregar um pedaço de sua dor.

━━━ Eu sinto muito... ━━━ murmurou Jinx, a voz abafada pelo tecido. ━━━ Eu não queria... eu só... as vozes...

Astra passou a mão suavemente pelos cabelos azuis, os dedos deslizando entre os fios embaraçados com uma delicadeza que parecia contrastar com o caos ao redor.

━━━ Shh... você não precisa dizer nada. ━━━ murmurou, encostando o queixo no topo da cabeça de Jinx. ━━━ Elas estão erradas, eu jamais deixaria você... Tá' tudo bem. Eu estou aqui. Eu sempre vou estar aqui.

Jinx apertou os braços ao redor de Astra, como se temesse que ela desaparecesse se soltasse. Não havia explosões, vozes ou sombras sussurrando. Apenas o som de duas respirações se misturando e o calor reconfortante de um abraço que, por um breve momento, tornou tudo um pouco mais suportável.

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