᳝ ࣪ ❛ ͏ 𝙘𝙖𝙥𝙞𝙩𝙪𝙡𝙤 onze : surfando no azar ៹ ✧⠀

୨ᅠᅠ﹙ ato dois ﹚let the world burnᅠᅠ୧
࣪៹ 𝄒 ˖ ࣪ 𓂃 ۫ . - capítulo onze, surfando no azar ꜝꜞ ᳝ ࣪ᅠ ៹ 💣 ✶ ۫

Quando era pequena, Astra tinha uma estranha brincadeira. Ela observava as pessoas que trabalhavam para seu pai, analisando cada movimento, cada expressão, e tentava prever suas próximas palavras. Assim que conseguia dizer exatamente o que elas iam falar, ela gritava "jinx".

E, instantaneamente, aquela pessoa tinha que ficar em silêncio até alguém dissesse o nome dela.

Era um jogo bobo, mas Astra adorava. Era a forma que tinha de passar o tempo, de escapar da solidão que parecia tão constante. Ela pedia para Silco mandar os homens dele participarem, tentando convencê-los com uma insistência infantil que, no fundo, ninguém conseguia ignorar. Afinal, como dizer não à "filha do chefe"?

Por mais durões que fossem, eles acabavam entrando no espírito da brincadeira. Mas, mesmo cercada por eles, Astra sabia que não era a mesma coisa que ter amigos de verdade. O vazio de não ter alguém da sua idade, alguém que entendesse sua mente inquieta, ainda doía. Os capangas eram tudo que ela tinha, mas não eram suficientes.

Para Astra, "jinx" sempre teve um significado estranho. Era algo entre o ruim e o divertido. Claro, "jinx" significava azar, má sorte, e todas as energias negativas que alguém podia imaginar. Mas, ao mesmo tempo, era uma lembrança de uma época em que o azar tinha um toque de alegria forçada, de risadas em meio à solidão.

Agora, anos depois, Astra olhava para Powder, ou melhor, para a garota que havia se tornado Jinx. E percebeu que o significado havia mudado completamente.

Jinx não era mais apenas uma palavra. Ela era alguém. Sua Jinx. E, ao contrário de todo o azar que a palavra carregava, Jinx era o oposto disso na vida de Astra.

Ela era caos, claro. Um redemoinho de emoções intensas, um furacão imprevisível que destruía tudo ao seu redor. Mas, ao mesmo tempo, ela era calor, era risadas que quebravam o silêncio, era a única coisa que fazia Astra sentir que não estava completamente sozinha.

Jinx era tudo, menos má sorte.

Astra deixou os dedos deslizarem pelas cordas do violão, arrancando notas leves e descontraídas, como se estivesse tentando silenciar os pensamentos que insistiam em ecoar em sua mente. Após uma longa manhã ajudando Silco a organizar papeladas e recolher o dinheiro dos moradores de Zaun, tudo o que ela queria era um momento de calma.

Mas a calma parecia impossível.

Enquanto dedilhava, seus pensamentos voltavam para Jinx, o porto, e a insistência quase infantil da garota em ir com Sevika. "Eu sei cuidar de mim," Jinx havia dito com um sorriso convencido. E, embora Astra tivesse soltado um suspiro e balançado a cabeça na hora, agora ela se perguntava se havia sido a decisão certa deixá-la ir.

Sevika era forte, mas Jinx era... imprevisível. Astra conhecia essa imprevisibilidade melhor do que ninguém.

━━━ Deveria ter ido. ━━━ a voz de Silco rompeu o silêncio, alcançando Astra e fazendo seus dedos pararem de dedilhar as cordas do violão por um instante.

Astra respirou fundo, deixando o oxigênio pesado se misturar com o cheiro forte da fumaça do charuto que pairava no ar.

━━━ Sevika e Jinx podem cuidar disso sozinhas. ━━━ murmurou ela, voltando a prestar atenção nas notas, como se a melodia pudesse bloquear a conversa.

━━━ Sim, mas é bom ter você por perto. ━━━ respondeu Silco, exalando uma nuvem de fumaça. ━━━ Evita que ela tenha um daqueles surtos.

━━━ Ela sabe se virar. ━━━ Astra rebateu, os olhos fixos no violão. ━━━ Se não me quiser por perto, é só dizer, e eu saio.

Silco largou as papeladas que segurava, virando-se para encará-la. A expressão dele era séria, mas havia algo de quase terno em seus olhos.

━━━ Não estou te expulsando, minha filha. ━━━ disse ele, a voz firme. ━━━ Gosto da sua companhia.

━━━ Hum. ━━━ Astra deu de ombros, voltando a tocar o violão, embora o som das cordas não soasse tão natural quanto antes.

Ela tentou não pensar em Jinx no porto, mas era impossível. A imagem da garota surgiu em sua mente, as explosões inevitáveis, o caos que ela adorava criar, e, claro, a paciência esgotada de Sevika, que certamente já estaria sentindo uma dor de cabeça monumental.

Ter Jinx agora era como ter Astra mais nova, mas com as complicações dobradas. Dois pesadelos andando lado a lado, mas havia uma diferença importante. Enquanto Astra, quando mais nova, lutava pela confusão, Jinx parecia prosperar nela. Ela adorava explosões, caos, a adrenalina do inesperado.

E, de certa forma, isso era fascinante e exaustivo ao mesmo tempo.

Silco permaneceu em silêncio, observando-a. Ele sabia que Astra estava evitando algo, mas não pressionou. Ela era como uma chama lenta, quanto mais se soprava, mais ela resistia. No fundo, porém, ele sentia uma satisfação tranquila. As peças estavam onde ele queria, mesmo que algumas resistissem a se encaixar.

Ele observou Astra por mais alguns segundos. O som do violão preenchia o ambiente, mas não mascarava a tensão que pairava no ar. Ele deu mais uma tragada no charuto, exalando a fumaça de forma calculada, como se deliberasse suas próximas palavras.

━━━ Você está preocupada com ela. ━━━ disse ele finalmente, com a voz baixa, mas incisiva.

Os dedos de Astra pararam abruptamente sobre as cordas, o som interrompido com um leve rangido. Ela não levantou os olhos, mas o jeito que seus ombros enrijeceram foi o suficiente para confirmar o que Silco já sabia.

━━━ Ela vai ficar bem. ━━━ murmurou Astra, tentando manter a firmeza na voz, mas falhando miseravelmente.

Silco deu um passo à frente, apagando o charuto na borda do cinzeiro com um movimento suave. Ele se inclinou ligeiramente sobre a mesa, como se quisesse diminuir a distância entre eles.

━━━ Jinx é brilhante. Não tenho dúvidas disso. ━━━ começou ele, o tom meticuloso. ━━━ Mas ela ainda é... instável. Como você era. Como, às vezes, ainda é.

Astra finalmente levantou os olhos, encontrando o olhar de Silco.

━━━ E você acha que me usar como exemplo vai me convencer de quê? ━━━ ela retrucou, os dedos ainda descansando sobre o violão. ━━━ De que eu deveria estar lá para segurar a mão dela? Ela não precisa disso, Silco. Ela gosta do caos. Ela vive para isso. Eu não sou nada pra ela além de mais uma sombra sua.

A sala ficou em silêncio por um momento, o peso das palavras de Astra pairando no ar como uma sombra densa. Silco estreitou os olhos, mas sua expressão permaneceu neutra, embora o leve movimento de seus dedos sobre a mesa denunciasse um desconforto profundo.

Ele raramente perdia o controle, mas as palavras de Astra tinham o hábito de atravessá-lo como lâminas afiadas, sempre tocando um ponto que ele preferia manter enterrado.

━━━ Você acredita mesmo nisso, Astra? ━━━ ele perguntou, a voz baixa, quase sem emoção. ━━━ Que tudo o que você é, tudo o que se tornou, se resume a ser uma sombra minha?

Astra ergueu o olhar devagar, os olhos verdes encontrando os dele.

━━━ Não é isso que você queria? ━━━ respondeu ela, o tom sarcástico mascarando a amargura que borbulhava em sua garganta. ━━━ Alguém para fazer seu trabalho sujo, para seguir seus passos, mas nunca ultrapassá-los. Uma sombra. Isso é o que eu sempre fui pra você.

A expressão de Silco endureceu, mas ele manteve a calma. Ele deu um passo em direção a ela, apoiando-se na mesa enquanto a encarava.

━━━ Você está errada. ━━━ disse ele, a voz ganhando um peso que a fez apertar os dedos no braço do violão. ━━━ Se você fosse apenas uma sombra, não estaríamos tendo essa conversa. Não haveria necessidade de te convencer de nada, porque você obedeceria sem questionar.

━━━ Então o que eu sou, Silco? ━━━ Astra rebateu, a voz ligeiramente trêmula, mas firme o suficiente para carregar o desafio.

Ele a encarou por um momento, o silêncio se estendendo como um véu sufocante.

━━━ Você é a única pessoa que me lembra que eu também posso errar. ━━━ ele respondeu, com uma franqueza que a surpreendeu.

As palavras pairaram no ar, tão inesperadas que Astra ficou sem reação por um instante.

━━━ Mas não se engane. ━━━ Silco continuou, o tom ficando mais firme. ━━━ Isso não é fraqueza. É o motivo pelo qual eu confio em você, Astra. Você vê o que eu não vejo. Faz o que eu não consigo fazer. É por isso que você é importante, para mim, para Jinx, para Zaun.

━━━ Você diz isso como se eu tivesse escolha. ━━━ Astra soltou um riso seco, mas não havia humor nele.

━━━ Você sempre teve escolha, Astra. Você só nunca quis enxergar isso. ━━━ Silco se afastou um pouco, cruzando os braços enquanto a observava com atenção.

Ela desviou o olhar, voltando a encarar o violão. As palavras dele pesavam mais do que ela gostaria de admitir, e a raiva que sentia por ele agora estava misturada a algo mais, talvez dúvida.

━━━ Você não é minha sombra. Nunca foi. Mas, se continuar acreditando nisso, vai acabar se tornando exatamente o que você mais teme. ━━━ Silco se afastou, retomando sua postura fria.

Astra sentia o peso do relacionamento com Silco como um nó apertado no peito, algo que nunca desaparecia completamente. Ele era, ao mesmo tempo, o homem que a havia acolhido e moldado, e o homem que mais a decepcionou. Sete anos atrás, quando tudo desmoronou, a visão dela sobre ele começou a mudar de forma irreparável.

Ela lembrava do momento exato em que percebeu que Silco nunca priorizaria ninguém além de seus próprios objetivos. Ele sempre fora meticuloso, estrategista, e ela entendia que Zaun era sua obsessão, mas, naquele dia, quando ele tomou a decisão que mudou tudo, ele escolheu o poder sobre a família.

Desde então, a relação deles havia se tornado uma constante batalha silenciosa. Astra o respeitava, em partes, porque sabia que ele era inteligente, perigoso e um líder nato. Mas também o odiava, porque aquele homem que ela um dia chamou de pai tinha traído a pessoa que ela acreditava ser a mais importante para ele, ela mesma.

A traição não foi só nas palavras, mas nas ações, nos silêncios. E, mesmo assim, ela não conseguia se desligar completamente. Porque, apesar de tudo, Silco era quem lhe deu um propósito quando ela era apenas uma menina perdida. Ele a ensinou a sobreviver, a lutar, a se proteger. Ele a moldou tanto que, às vezes, ela nem sabia quem seria sem ele.

E era isso que a assustava mais do que tudo.

Ela odiava o quanto ainda precisava de Silco, mas também o quanto queria desesperadamente provar que não precisava. Era um ciclo vicioso de tentar agradá-lo e ao mesmo tempo se rebelar contra tudo o que ele representava.

Mas então veio Jinx.

Jinx não era apenas uma explosão ambulante de caos. Ela era, de alguma forma, a âncora emocional de Astra. Onde Silco havia se tornado frio e distante, Jinx era um fogo vivo, uma força imprevisível que irradiava emoção pura. E, de alguma forma, Astra encontrou nela um tipo de segurança que nunca teve com Silco.

Jinx era tudo o que Astra temia ser, instável, imprevisível, destrutiva, mas também tudo o que ela precisava. Alguém que a enxergava de verdade.

Por outro lado, Silco sentia o peso de perder Astra gradativamente. Ele não admitia, mas sabia que, a cada discussão, a cada troca fria de palavras, ela se afastava mais. A filha que ele criou, que ele moldou com tanto cuidado, estava escapando pelos dedos.

E então veio Jinx.

Jinx era uma segunda chance para ele, mas também um lembrete constante de seu fracasso com Astra. Ela era caos e imprevisibilidade, mas Silco a aceitava como era, porque Jinx não o desafiava como Astra fazia. Ela se jogava em seus braços, chorava em seu peito, buscava nele uma proteção que Astra havia parado de buscar há muito tempo.

E isso o machucava de um jeito que ele não sabia lidar. Amar Jinx era mais fácil. Ela era um furacão, mas o furacão dele. Ele podia controlá-la, guiá-la, ser o farol no meio de sua tempestade.

Com Astra, era diferente. Ele não era o farol dela, ele era a tempestade.

Silco tentava mascarar a dor de perder Astra atrás de sua frieza habitual, mas, no fundo, ele sabia que a relação deles estava se desfazendo. Sete anos atrás, ele tomou uma decisão que os afastou para sempre, e agora, cada palavra trocada entre eles carregava o peso daquela escolha.

Ele amava Astra, mas era um amor complicado, cheio de orgulho, culpa e arrependimento. E, talvez, fosse por isso que ele se agarrava tanto a Jinx. Porque, enquanto Astra se afastava, Jinx se aproximava.

E isso o fazia se perguntar, em suas horas mais sombrias, se ele já havia perdido uma filha para sempre... enquanto tentava salvar outra.

━━━ Você subestima o impacto que tem sobre ela. ━━━ ele disse, com calma. ━━━ Assim como subestimava o que eu tinha sobre você. E veja onde estamos agora.

━━━ Você não está errado. Eu subestimei muita coisa... e perdi muito mais por causa disso. ━━━ ela desviou o olhar, voltando a encarar o violão.

━━━ Jinx não é você, Astra. E você não é apenas uma sombra minha. ━━━ mas antes que pudesse tocar outra nota, Silco falou novamente.

Ela piscou, surpreendida com a declaração. Silco raramente era tão direto quando se tratava de sentimentos.

━━━ Se não quiser ir, tudo bem. ━━━ ele continuou, endireitando-se e pegando as papeladas novamente. ━━━ Mas não aja como se eu não me importasse com você. Você ainda é minha filha, e você é perfeita de qualquer jeito.

Astra prendeu a respiração, seus olhos procurando algo nos dele, algo que talvez pudesse chamar de verdade. A última frase foi dita com uma suavidade que ela não esperava. Não havia sarcasmo, nem manipulação, apenas... sinceridade.

Ela desviou o olhar, o coração pesando em seu peito. Parte dela queria acreditar nele, se agarrar a isso como uma corda em meio à tempestade. Mas outra parte, a mais ferida, sussurrava que era tarde demais para essas palavras, que elas eram apenas um bálsamo temporário para uma ferida aberta há muito tempo.

━━━ Você tem uma forma estranha de demonstrar isso, Silco. ━━━ murmurou ela, a voz baixa, quase sem força.

━━━ Eu nunca disse que era perfeito nisso. Mas saiba que, mesmo quando você me odeia, mesmo quando eu erro... eu sempre estarei ao seu lado, Astra. Sempre. ━━━ ele suspirou, colocando os papéis de lado e voltando a encará-la.

━━━ Isso é o que você quer acreditar. Que sempre esteve do meu lado. Mas você não estava, Silco. Não quando realmente importava. ━━━ ela balançou a cabeça, rindo baixinho, mas sem humor.

Silco não respondeu imediatamente. Ele apenas ficou ali, olhando para ela, como se considerasse cada palavra antes de falar novamente.

━━━ E é por isso que estou aqui agora. Porque, mesmo com meus erros, eu não vou desistir de você. Assim como não desisto de Jinx. Vocês duas são... tudo o que eu tenho.

Astra finalmente encontrou os olhos dele novamente, mas sua expressão ainda estava confusa, dividida entre a mágoa e a pequena, quase imperceptível, faísca de esperança que ainda existia em algum lugar dentro dela. Ela não respondeu. Não confiava em sua voz, não confiava em suas próprias emoções naquele momento. Em vez disso, voltou ao violão, tocando uma nota que parecia tão melancólica quanto seus próprios pensamentos.

Silco entendeu o silêncio. Ele não precisava de uma resposta imediata. Apenas esperava que suas palavras tivessem começado a penetrar nas muralhas que Astra havia erguido ao longo dos anos.

━━━ Eu odeio essa merda. ━━━ declarou Jinx, enquanto chutava a porta da sala de forma casual, como se tivesse acabado de chegar de uma tarde qualquer em Zaun e não de algum caos absurdo.

A porta bateu com força contra a parede, o som ecoando pelo ambiente silencioso. Ela entrou com passos exagerados, o cabelo azul emaranhado e manchado de fuligem, as botas deixando marcas de sujeira pelo chão.

Astra levantou os olhos do violão, a expressão indecifrável, enquanto Silco apenas suspirava e inclinava-se para trás na cadeira, claramente acostumado com entradas dramáticas.

━━━ Bom dia pra você também, Jinx. ━━━ murmurou Astra, sem esconder o sarcasmo.

━━━ Bom dia? ━━━ Jinx fez uma pausa, olhando para Astra como se ela tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. ━━━ Você sabe o que eu tive que aguentar? Sevika acha que pode me dizer o que fazer! Tipo, eu não preciso de uma babá musculosa me dizendo como explodir coisas!

Silco ergueu uma sobrancelha, claramente intrigado com o que havia acontecido.

━━━ E o trabalho no porto? ━━━ perguntou Silco calmamente, sem sequer levantar os olhos dos papéis.

Jinx revirou os olhos de forma exagerada, o gesto tão teatral que poderia ter sido ensaiado. Sem dizer nada, ela caminhou para as extremidades da sala, os passos leves e ágeis, como se o chão fosse opcional. Com um salto ágil, ela se pendurou em uma das vigas do teto, balançando-se preguiçosamente enquanto falava, como se estivesse em um monólogo de sua própria peça.

━━━ Ela está vindo, então se prepare. ━━━ começou Jinx, o tom cheio de sarcasmo e antecipação. ━━━ Prepare-se para o apanhado de problemas e reclamações que ela está trazendo. A grande, gloriosa Sevika, com sua cara de "eu sou melhor que você" e sua voz de "não toque nessa bomba, Jinx".

Ela fez uma pausa, equilibrando-se na viga com uma destreza desconcertante, antes de atirar uma moeda ao ar. A moeda girou, brilhando sob a luz trêmula da sala, antes de Jinx pegá-la com facilidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

━━━ Você realmente precisa se pendurar aí para fazer seu discurso dramático?

━━━ Preciso, sim. ━━━ respondeu Jinx prontamente, como se fosse óbvio. Ela girou na viga e se pendurou de cabeça para baixo, os cabelos azuis balançando no ar. ━━━ É mais impactante assim. E você não entende a arte disso... Mas adivinha só? ━━━ continuou Jinx, sua voz subindo de tom como se estivesse contando a parte mais emocionante de uma história. ━━━ Aqueles Fogolumes idiotas apareceram e estragaram tudo. Então eu tive que explodir alguns.

Ela fez uma pausa, estufando o peito como se esperasse aplausos.

━━━ Porque quem é a melhor? Eu. Quem explodiu o que precisava ser explodido? Eu. ━━━ ela girou a moeda mais uma vez, pegando-a no ar com precisão. ━━━ E quem não conseguiu apreciar isso? Ela.

Silco fechou os olhos por um breve instante, inalando profundamente como se precisasse reunir toda a paciência.

━━━ Explodiu alguns, Jinx? ━━━ perguntou ele, sua voz calma.

━━━ Sim! Alguns. Três ou quatro... talvez cinco. ━━━ respondeu ela com um encolher de ombros, como se o número fosse insignificante.

━━━ Três ou quatro? Ou cinco? ━━━ Astra parou de tocar o violão e ergueu as sobrancelhas.

━━━ Quantos são necessários pra fazer um ponto? Não importa, eu resolvi o problema. ━━━ Jinx lançou-lhe um olhar defensivo.

━━━ E o que Sevika disse sobre isso? ━━━ Silco inclinou-se para frente, os dedos entrelaçados enquanto observava Jinx com cuidado.

━━━ Ah, você sabe. Ela começou com aquele discurso de "você precisa ter mais autocontrole" e "essas coisas têm consequências". ━━━ Jinx bufou.

━━━ Sevika é eficiente, Jinx. Você devia valorizar isso.

━━━ Eficiência é chata. ━━━ retrucou ela, balançando levemente na viga. ━━━ E eu sou diversão. Quem quer eficiência quando pode ter diversão?

━━━ Acho que ela quer eficiência porque não quer morrer, Jinx. Mas quem sou eu pra dizer? ━━━ Astra balançou a cabeça, voltando a dedilhar o violão.

━━━ Vocês dois são tão chatos. Se eu não estivesse aqui, esse lugar seria só papelada e músicas deprimentes.

━━━ E explosões desnecessárias, pelo visto. ━━━ provocou Astra, sem erguer os olhos do instrumento.

━━━ Explosões necessárias pra caramba. ━━━ corrigiu Jinx, apontando para Astra como se estivesse explicando uma verdade universal.

Antes que qualquer um pudesse responder, o som pesado de passos no corredor anunciou a chegada de Sevika, confirmando as palavras de Jinx.

━━━ E é minha deixa. ━━━ murmurou Jinx, subindo na viga sem que fosse vista. ━━━ Boa sorte com a dona seriedade.

Silco apenas suspirou, ajeitando os papéis em sua mesa enquanto Astra ria baixinho, tocando uma nota zombeteira em seu violão.

Sevika entrou no cômodo como uma tempestade abafada, o cheiro de pólvora e cigarro seguindo-a como uma sombra. Agora, misturado ao aroma forte da bebida barata que ela carregava em uma garrafa, o ar parecia mais pesado.

Astra observou a mulher se sentar no banquinho à sua frente. Havia algo no jeito como Sevika se movimentava, o peso nos ombros, o olhar carregado, que indicava frustração. Ou irritação. Era difícil decifrar.

Sevika inclinou a cabeça para trás, tomando um longo e desesperado gole da bebida, como se estivesse tentando apagar a memória recente de sua mente.

━━━ Ela desceu fogo na gente. ━━━ disse Sevika finalmente, as palavras carregadas de amargura.

Astra manteve os olhos no violão, mas os dedos dedilhando as cordas hesitaram ligeiramente.

━━━ Numa batalha, acidentes acontecem. ━━━ respondeu Silco, sem erguer o olhar das papeladas. ━━━ Os Fogolumes eram o alvo dela, e a maioria morreu.

Sevika riu, mas não havia humor no som. Ela tomou outro gole, inclinando-se para frente, o cotovelo apoiado no joelho.

━━━ Não foi um acidente. ━━━ ela rebateu, a voz mais baixa agora, mas afiada. ━━━ Ela congelou e perdeu a cabeça.

Outro gole.

━━━ Eu dava conta daqueles pirralhos. ━━━ Sevika balançou a cabeça, as palavras saindo como se quisesse cuspir o gosto amargo da situação. ━━━ Ela é um problema e todo mundo sabe disso.

Antes mesmo que pudesse pensar, os dedos de Astra pararam abruptamente sobre as cordas do violão, produzindo um som agudo e desconfortável que cortou o ar. O olhar dela se ergueu lentamente para Sevika, o brilho alaranjado das chamas ao fundo queimando as sombras ao redor como um aviso silencioso.

O silêncio foi quebrado pelo movimento de Silco, que deixou a papelada de lado e se virou para encarar Sevika. O tom em sua voz agora carregava um toque de irritação mal contida.

━━━ Todo mundo? Quem é todo mundo? ━━━ murmurou ele, as palavras saindo lentas, mas pesadas, como um trovão abafado.

Sevika desviou o olhar, seu rosto endurecendo ao perceber o erro que havia cometido. O desconforto em sua postura era evidente, mas ela não se atreveu a recuar.

━━━ Eu esperava mais de você do que desculpas. ━━━ continuou Silco, sua voz cortante. ━━━ O trabalho era garantir que tudo ocorresse bem... você fracassou. Não me decepcione de novo.

As palavras eram afiadas como lâminas, cada uma perfurando o orgulho de Sevika. Ela bateu os pés firmes no chão, o som ecoando pela sala, mas não disse nada. Sem uma única palavra, ela se levantou e saiu, o ranger pesado de suas botas desaparecendo pelo corredor barulhento.

O silêncio que restou era tenso, Astra continuou encarando o espaço onde Sevika estava, os olhos semicerrados enquanto seu peito subia e descia devagar. Silco lançou-lhe um olhar rápido antes de voltar para sua mesa.

━━━ O mundo está ficando cada vez menor, graças aos Hexportais. E agora, estamos de fora. ━━━ murmurou Silco, a voz baixa enquanto suas mãos preparavam cuidadosamente a ampola de cintila para sua dose diária. ━━━ O povo do Alto está nos deixando cada vez mais para trás. O que aconteceu?

━━━ Ela já falou pra você. ━━━ sibilou Jinx, balançando-se de uma viga no teto, claramente incomodada com o assunto.

━━━ Estou perguntando para você.

Jinx caiu como uma pedra, aterrissando em cima da mesa de Silco com um baque que fez todas as folhas voarem em um redemoinho desordenado. Ela puxou os joelhos para perto do peito, os braços os envolvendo em um gesto quase infantil, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade perturbadora.

━━━ Um daqueles Fogolumes era... uma garota de cabelo rosa. ━━━ murmurou ela, o tom mais baixo agora, quase distraído, como se as palavras saíssem sem ela perceber.

Silco parou por um momento, segurando a ampola entre os dedos. Ele se virou lentamente para Jinx, a expressão fechada, mas os olhos traindo um leve toque de preocupação. Ele estendeu a ampola para ela.

Sem hesitar, Jinx pegou-a, aproximando-se para fazer o que fazia quase diariamente, injetar a substância no olho dele. Mas havia algo tenso no ar enquanto ela se inclinava, seus movimentos não tão fluídos como de costume.

━━━ Sua irmã se foi. Você sabe disso tanto quanto eu. ━━━ disse ele, a voz firme, mas não cruel.

Por um instante, Jinx congelou, as mãos segurando a ampola no lugar, mas sem aplicá-la. Seus olhos piscaram rapidamente, como se estivesse tentando processar as palavras dele.

E então, ela riu. Um som curto, quase desconcertante, que rapidamente se transformou em algo mais agudo, quase nervoso.

━━━ Eu sei, eu sei. Minha irmã? Fala sério. ━━━ ela girou os olhos, o sorriso que apareceu em seu rosto claramente forçado. ━━━ Não dá pra viver com elas e não dá pra devolver pro fazedor de bebês, não é?

Astra, que estava sentada no canto, observando tudo em silêncio, franziu o cenho. Ela sabia que aquele comentário era típico de Jinx, uma defesa contra qualquer coisa que tocasse os nervos expostos de sua alma.

Silco não respondeu imediatamente. Ele apenas inclinou ligeiramente a cabeça, observando Jinx com cuidado enquanto ela finalmente injetava a cintila em seu olho, o som do líquido invadindo o silêncio da sala.

[ . . . ]

Lá estava ela, falando sozinha novamente enquanto jogava bombas no abismo. Cada explosão fazia o lugar estremecer, e Astra podia sentir o cheiro de pólvora se misturando ao ar frio e pesado.

Era óbvio que Jinx estava frustrada. Ou talvez triste. Silco tinha esse efeito nelas. Não era como o medo que ele impunha nos outros. Com elas, era pior. Era um terrível sentimento de culpa exasperado pela constante necessidade de aprovação.

Astra observava de longe, enquanto Jinx acendia mais uma bomba e a jogava sem cerimônia, o som ensurdecedor da explosão ecoando pelo abismo. Quando o tremor passou, Astra se esgueirou para perto dela, os passos leves para não assustá-la.

Jinx estava sentada na beirada, as pernas balançando no vazio. As luvas estavam chamuscadas, e os cabelos azuis bagunçados pareciam ainda mais selvagens sob a luz fraca. Astra se agachou ao lado dela, a proximidade trazendo uma familiaridade que nenhuma das duas verbalizaria.

━━━ Sabe, você mal olhou pra mim quando chegou. ━━━ disse Astra em um sussurro, as palavras saindo com mais leveza do que ela sentia. ━━━ Confesso que me chateou um pouco, não vou negar.

Jinx fez uma pausa, a mão segurando outra bomba, mas sem jogá-la. Ela semicerrou os olhos, virando-se para Astra com uma expressão que misturava surpresa e tristeza.

━━━ Você está em um daqueles dias de tubarão? ━━━ perguntou ela, o tom mais baixo do que o habitual.

Astra riu suavemente, balançando a cabeça.

━━━ Não... ━━━ respondeu ela, inclinando-se levemente para que seus joelhos quase encostassem nos de Jinx. ━━━ Eu só queria um abraço da minha explosão ambulante.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Jinx largou a bomba e se jogou contra Astra, o movimento repentino e cheio de energia. O impacto as derrubou para trás, fazendo Astra cair sobre o chão frio enquanto Jinx se agarrava a ela como se fosse um pequeno coala.

Astra riu, mesmo que a força do impacto tivesse doído. Ela passou os braços ao redor de Jinx, apertando-a com firmeza, ignorando o cheiro de pólvora que impregnava as roupas da garota.

━━━ Você sabe que é difícil ficar chateada com você, né? ━━━ murmurou Astra, o tom suave enquanto afagava os cabelos de Jinx.

A azulada não respondeu. Seu rosto estava enterrado no ombro de Astra, e o silêncio dela dizia mais do que qualquer palavra poderia dizer. Por um momento, não houve explosões, nem cobranças, nem culpa. Apenas as duas, ali, tentando encontrar conforto uma na outra no meio do caos que chamavam de vida.

Astra deixou a cabeça cair para trás, olhando para o teto escuro e irregular acima delas. O peso de Jinx era mais emocional do que físico, mas ela não reclamava. Na verdade, era raro ter um momento como aquele, onde a tensão constante entre elas parecia se dissolver, ainda que brevemente.

━━━ Sabe, quando você se joga assim, fica difícil saber se você está tentando me abraçar ou me sufocar. ━━━ brincou Astra, o tom leve, mas com um sorriso sincero.

Jinx levantou a cabeça ligeiramente, os olhos azuis brilhando com aquele toque característico de travessura.

━━━ E se for os dois? ━━━ retrucou ela, um sorriso torto surgindo em seus lábios enquanto se acomodava melhor no peito de Astra.

━━━ Então estou morrendo confortavelmente.

Jinx soltou uma risada curta, o som ecoando pelo espaço vazio. Não era exagerado nem frenético, mas genuíno. Astra sabia que momentos como esse eram raros para Jinx. O caos incessante na mente da garota não permitia muitas pausas, e a tranquilidade era quase inexistente em sua vida. Era isso que fazia com que Astra valorizasse ainda mais esses raros lampejos de pureza e leveza.

Jinx deitou-se completamente ao lado dela, os olhos fixos em algum ponto distante no teto. Ela pegou uma das mãos de Astra, brincando distraidamente com os dedos dela como se fossem peças de algum quebra-cabeça que só ela entendia.

━━━ Você acha que eu exagero? ━━━ perguntou Jinx de repente, a voz mais baixa, quase hesitante.

━━━ Exagerar em quê? Explodir coisas? Falar sozinha? Se pendurar no teto? ━━━ Astra inclinou o rosto para encará-la, surpresa com a pergunta.

━━━ Tudo isso.

━━━ Você é você, Jinx. Quem mais vai explodir coisas, falar sozinha e ainda me fazer rir ao mesmo tempo? Se você parar de ser quem é, aí sim eu ficaria preocupada. ━━━ Astra pensou por um momento, antes de erguer a mão livre e cutucar a testa de Jinx levemente.

━━━ Você acha que sou incrível, né? ━━━ Jinx ergueu os olhos para Astra, seus lábios formando um sorriso pequeno, mas genuíno.

Astra riu, sacudindo a cabeça.

━━━ Eu diria mais insuportável do que incrível, mas, sim, acho você incrível. Não conte pra ninguém. Vou negar se me pressionarem.

Jinx deu um leve tapa no ombro de Astra, como se estivesse ofendida.

━━━ Você deveria gritar isso pelos telhados, sabe? "Minha Jinx é incrível!"

━━━ Minha explosão ambulante é incrível. Satisfeita?

Jinx bufou, mas não conseguiu esconder o sorriso. Ela voltou a brincar com a mecha de cabelo de Astra, como se aquele pequeno gesto a ajudasse a organizar os pensamentos.

━━━ Você é a única que me acha incrível. ━━━ murmurou ela, sua voz mais baixa agora.

Astra sentiu o peso dessas palavras, mas, em vez de se aprofundar, puxou Jinx para um abraço mais apertado, inclinando a cabeça para encostar na dela.

━━━ Então é bom que eu ache, né? Senão, quem mais vai aturar você?

Jinx se aproximou, os lábios fantasmagóricos roçando os de Astra. Ela congelou por um instante, surpreendida pela aproximação repentina. Os olhos da garota estavam fixos nos dela, intensos e carregados de algo que Astra não conseguia decifrar completamente, como se Jinx estivesse testando limites ou tentando encontrar algo que lhe escapava.

━━━ Jinx... ━━━ sussurrou Astra, o nome dela saindo hesitante, quase como um aviso.

Jinx parou, os lábios ainda a centímetros dos dela. A expressão travessa que sempre adornava seu rosto agora estava ausente. No lugar, havia algo mais genuíno, quase triste.

━━━ Você nunca vai embora, vai? ━━━ perguntou Jinx, sua voz baixa e cheia de um medo que ela raramente deixava transparecer.

Astra relaxou ligeiramente, o momento anterior se dissolvendo na pergunta dela. Ela suspirou e ergueu a mão, tocando suavemente o rosto de Jinx.

━━━ Nunca. ━━━ respondeu Astra, com uma firmeza que deixou Jinx em silêncio. ━━━ Nem que você tente me explodir. Nem que você me empurre para longe. Eu sempre vou estar aqui.

Jinx fechou os olhos por um breve momento, ela encostou a testa na de Astra, o toque carregado de uma intimidade fraternal que só elas compartilhavam.

━━━ Você é explosiva, sabia? ━━━ murmurou Jinx, sua voz tão baixa que parecia temer ser ouvida.

━━━ Eu sei. Você é explosiva também, sua maluca. ━━━ Astra sorriu, um sorriso pequeno e suave.

Jinx soltou uma risada curta, mas havia um brilho de alívio em seus olhos quando se afastou ligeiramente, o peso de antes sendo substituído por algo mais leve.

━━━ Tá' bom, tá' bom. Agora podemos parar de ser sentimentais antes que eu vomite arco-íris? ━━━ disse Jinx, um sorriso torto surgindo em seu rosto.

Astra riu, balançando a cabeça.

━━━ Você não tem jeito.

━━━ Não mesmo. E é por isso que você gosta de mim.

E com isso, Jinx se jogou contra Astra mais uma vez, dessa vez de forma exagerada e teatral, fazendo ambas rirem enquanto caíam no chão frio novamente. Ela riu, e por um momento, o som parecia puro.

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