᳝ ࣪ ❛ ͏ 𝙘𝙖𝙥𝙞𝙩𝙪𝙡𝙤 doze : truco e olhares ៹ ✧⠀
୨ᅠᅠ﹙ ato dois ﹚let the world burnᅠᅠ୧
࣪៹ 𝄒 ˖ ࣪ 𓂃 ۫ . - capítulo doze, truco e olhares ꜝꜞ ᳝ ࣪ᅠ ៹ 💣 ✶ ۫
━━━ Então... ━━━ murmurou Astra, deixando o corpo cair como uma pena sobre a mesa de Silco assim que a porta se fechou atrás dela. O som abafado da madeira recebeu seu peso enquanto ela apoiava o queixo no joelho. ━━━ O que faremos?
Silco suspirou profundamente, os olhos fixos em algum ponto distante. Seus dedos longos e magros batiam ritmicamente contra a superfície da mesa.
━━━ Ela ultrapassou um limite muito grande ontem. ━━━ respondeu ele, com a voz baixa. ━━━ Se Jinx não conseguir usar a gema de Hextec logo, vamos ter problemas muito grandes.
━━━ Eles não vão parar até terem um culpado sob custódia. ━━━ continuou ela, cruzando os braços. ━━━ Ela tem um alvo nas costas, e aquele idiota do Marcus hesitou.
━━━ Eu sei. Eu notei. ━━━ Silco fechou os olhos por um breve momento, como se o peso da situação estivesse começando a se tornar insuportável. Quando os abriu, seu olhar estava fixo em Astra. ━━━ Você precisa ajudá-la, mantê-la o mais longe possível da Cidade Alta.
━━━ Não consigo controlar ela, Silco. Você sabe disso. ━━━ Astra riu, mas não havia humor no som.
Ele inclinou-se levemente para frente, os olhos vermelhos fixando-se nos dela com uma intensidade que a fez apertar os dedos contra a borda da mesa.
━━━ Mas ela te escuta. ━━━ disse ele, com firmeza. ━━━ Muito mais do que a mim. Precisa ficar de olho nela, Astra.
Astra desviou o olhar, seu queixo apertando contra o joelho. Ela sabia que ele estava certo, mas isso não tornava a tarefa mais fácil. Jinx era um furacão, imprevisível e caótica, e tentar segurá-la era como tentar conter uma tempestade com as mãos nuas.
E Marcus era um aproveitador, um verme que roía as beiradas da carne podre, sugando tudo o que pudesse antes que o resto apodrecesse por completo. Ele não era um dos mocinhos. Se é que, em Piltover, alguém poderia ser chamado de herói. Mas ele era o pior tipo de escória, aquele que vestia o manto da moralidade enquanto pisoteava o chão com os pés sujos de corrupção.
Ele era um produto de Piltover, uma cidade que se vendia como o ápice do progresso, mas que escondia uma podridão tão profunda quanto os alicerces de Zaun. O uniforme dele brilhava, e seu distintivo era impecável, mas Astra sabia que, por baixo disso, Marcus era tão sujo quanto qualquer criminoso que ele alegava combater.
Ele não agia por justiça ou pelo bem comum. Não. Marcus fazia o que fazia por poder, por vantagem própria, por medo de cair em desgraça. Ele era o tipo de homem que vendia sua alma ao maior lance, e no momento, esse lance era Silco.
Astra nunca confiou nele. Havia algo nos olhos de Marcus, um brilho calculista, uma hesitação nos momentos errados, que a deixava em alerta. Ele dizia que queria manter a paz, mas ela sabia que a verdadeira motivação dele era manter-se confortável, manter-se vivo.
E agora, com Jinx no centro da tempestade, Marcus hesitava. Como sempre fazia quando as decisões realmente importavam. Ele não estava preocupado em proteger a Cidade Alta ou acabar com a violência. Estava preocupado com o que isso significava para ele.
Astra sabia que, cedo ou tarde, Marcus seria um problema ainda maior. Homens como ele eram imprevisíveis, perigosos não porque eram inteligentes, mas porque estavam sempre à procura da melhor saída para si mesmos, mesmo que isso significasse sacrificar todos ao redor.
E a pior parte? Marcus acreditava que ele era a vítima. Ele se via como o único que tinha que carregar o peso de uma cidade dividida, de um sistema quebrado.
━━━ Você acha que ele vai hesitar de novo? ━━━ ela perguntou, os olhos fixos em Silco.
Ele continuou em silêncio por um momento, ajustando calmamente o charuto entre os dedos, como se estivesse deliberando cuidadosamente. Finalmente, ele ergueu o olhar para Astra, os olhos vermelhos brilhando na penumbra.
━━━ Ele sempre hesita. ━━━ respondeu Silco. ━━━ E é exatamente por isso que precisamos ficar atentos.
━━━ Ele poderia ter nos entregado ontem, sabe disso tanto quanto eu. ━━━ Astra cruzou os braços, recostando-se levemente na cadeira dele.
━━━ Marcus é um sobrevivente. Ele hesita porque não confia nem na própria sombra, mas também porque está sempre procurando a melhor saída para si mesmo. ━━━ Silco deu uma tragada longa, soltando a fumaça em um sopro lento.
━━━ E o que acontece quando ele achar que a melhor saída não é mais conosco? ━━━ Astra inclinou a cabeça, as sobrancelhas franzidas.
━━━ Então ele descobrirá que não existe saída. Não para ele. ━━━ Silco deu um sorriso pequeno, quase frio, apagando o charuto no cinzeiro à sua frente.
━━━ Você confia nele? ━━━ insistiu ela.
━━━ Confiança é um luxo que nem Marcus merece. ━━━ Silco ergueu uma sobrancelha, o sorriso desaparecendo.
Marcus hesitaria de novo. E, na próxima vez, eles teriam que estar preparados para qualquer escolha que ele fizesse, porque.em Zaun, uma hesitação podia custar muito mais do que uma simples traição.
[ . . . ]
Astra era o que muitos gostavam de chamar de os ouvidos de Zaun. Na vasta rede de sujeira e caos da subferia, ela era a pessoa que descobria o que ninguém queria que fosse descoberto.
Para Silco, ela era uma informante valiosa, alguém que entregava segredos embrulhados em papel de sarcasmo e eficiência. Para Jinx e Sevika, porém, ela era uma fonte interminável de fofocas e histórias curiosas, sempre temperadas com seu humor ácido.
Descobrir segredos na subferia não era uma tarefa fácil. Zaun tinha muitos esconderijos, muitos sussurros enterrados sob camadas de mentiras e medo. Mas Astra parecia ter um talento quase sobre-humano para desenterrar verdades. Às vezes, tudo o que ela precisava era de um sorriso perverso, ou uma ameaça sutil que fazia até os mais durões hesitarem.
Uma de suas táticas favoritas era se infiltrar nos bordéis de Zaun. Entre os gemidos abafados e as risadas exageradas, ela se esgueirava pelos cantos, ouvindo conversas e captando fragmentos de fofocas que corriam soltas. Para ela, era quase um passatempo.
Quando precisava de companhia em suas aventuras, Sevika era a escolha óbvia. Sempre parada na entrada dos bordéis, era um espetáculo à parte. Com uma, duas, às vezes três mulheres penduradas em seus braços, era quase como presenciar uma orgia organizada. Astra nunca se importava, não era como se aquilo fosse novidade, mas fazia questão de esperar que Sevika 'concluísse seus negócios' antes de começarem o trabalho.
━━━ Você terminou? Ou ainda vai desfilar com essa pose de rainha dos bordéis? ━━━ Astra provocava, encostada na parede próxima, os braços cruzados e um sorriso malicioso no rosto.
━━━ Espere lá fora, garota. ━━━ Sevika retrucava, revirando os olhos enquanto tentava se livrar das mulheres. ━━━ Ou eu te arrasto pelos cabelos.
Depois de concluído o trabalho, o cenário mudava completamente. Lá estavam elas, sentadas lado a lado em banquinhos velhos e desgastados, gritando xingamentos e insultos contra os trapaceiros e cafajestes que cruzavam seus caminhos.
━━━ Seu verme sem espinha, vai pagar o que deve ou vai correr como da última vez? ━━━ berrava Astra, o tom zombeteiro enquanto apontava para um homem que se afastava apressadamente.
Sevika gargalhava, o som rouco e carregado, mas, em geral, não tinha paciência para prolongar as discussões. Quando um desafortunado passava dos limites, Sevika simplesmente se levantava e partia para a pancadaria.
E Astra adorava assistir.
Havia algo de fascinante em ver Sevika no auge de sua força bruta. Os movimentos eram precisos, os golpes certeiros, e o impacto era tão forte que fazia até o chão tremer. As pessoas ao redor assistiam com expressões de puro pavor, mas Astra? Ela ria, aproveitando o espetáculo como se fosse uma peça bem ensaiada.
━━━ Você sempre vence, Sev. Onde está a graça nisso? ━━━ Astra dizia, enquanto Sevika limpava o sangue das juntas metálicas de sua mão.
━━━ A graça está em calar a boca deles. ━━━ Sevika retrucava com um sorriso satisfeito, jogando a toalha ensanguentada no chão.
Era nesses momentos, entre xingamentos e risadas, que Astra se sentia mais à vontade. A subferia era cruel e sufocante, mas ali, naquele caos organizado de pancadaria e confidências, ela encontrava algo próximo de paz.
Era uma paz estranha, sim. Feita de apostas mal-feitas, gritos de indignação, e até o ocasional som de vidro quebrando quando Sevika decidia que palavras já não eram suficientes. Mas ainda assim, Astra se permitia relaxar ali, onde o calor humano e a imprevisibilidade do momento preenchiam os espaços vazios deixados por anos de solidão e incertezas.
Ela sabia que, no dia seguinte, o ciclo recomeçaria, informar Silco, vigiar Jinx, lidar com os perigos que sempre rondavam. Mas, por agora, ela ria, zombava, e até provocava Sevika para mais um jogo de cartas, apenas para vê-la perder a paciência e derrubar tudo com um único golpe na mesa.
Porque, naquele pequeno pedaço de caos, Astra era apenas ela mesma. Sem expectativas, sem responsabilidades esmagadoras. Apenas ela e o mundo peculiar que Zaun lhe oferecia.
Claro, havia a outra face dessa moeda. O risco constante de algo dar errado.
Zaun era um lugar onde os segredos eram tão valiosos quanto perigosos. Nada ficava escondido por muito tempo. Cada sussurro captado, cada conversa ouvida atrás de portas fechadas, carregava consigo o peso de possíveis consequências. E Astra sabia melhor do que ninguém que, quanto mais fundo você cavava, mais provável era desenterrar algo que não deveria ver a luz do dia.
A informação era uma arma, mas também uma maldição. Era útil para ganhar influência, para proteger Silco e seus interesses, para manter Jinx longe de problemas maiores, ou, pelo menos, tentar. Mas Astra sabia que cada segredo desenterrado era como uma pedra lançada em um lago calmo. As ondas sempre se espalhavam, tocando lugares que ela não podia prever.
E, em Zaun, as ondas sempre carregavam algo de volta.
Podia ser um inimigo inesperado, alguém que descobrisse que ela tinha ouvido demais. Podia ser um aliado insatisfeito, alguém que achasse que ela sabia algo que não deveria. Ou podia ser Jinx, cuja imprevisibilidade transformava até o menor sussurro em uma faísca pronta para incendiar tudo.
Porque, em Zaun, as coisas nunca permaneciam estáveis por muito tempo.
Agora, mais do que nunca, Astra precisava ouvir. A Cidade Alta estava em alerta, e Jinx era o epicentro disso tudo. Era claro como o dia, Silco tinha um dedo em tudo aquilo. Não era como se ele estivesse diretamente nas ruas ou carregando explosivos, mas sua presença pairava sobre os eventos como uma sombra. Era pela aprovação dele que tudo se desenrolava.
Jinx queria provar algo. Ela sempre quis. Desde o momento em que começou a caminhar pelos corredores enferrujados de Zaun ao lado dele, tentando ganhar olhares de aprovação, tentando mostrar que era mais do que o que os outros pensavam.
Uma filha tentando mostrar que era capaz.
Mas, como era típico dela, a tentativa de mostrar sua força e brilhantismo raramente saía como planejado. Jinx era caótica. Onde ela ia, as coisas tinham o hábito de explodir, às vezes literalmente.
E agora, bum, uma catástrofe acontecia.
Explosões. Brigas. Guardas mortos. A Cidade Alta não ia ignorar isso, especialmente não com Hextec envolvido.
Silvo havia tentado explicar com um tom casual, como se fosse apenas mais um incidente qualquer. Mas Astra sabia. Não era apenas mais um incidente. A Cidade Alta estava em alerta porque Jinx havia ultrapassado limites que nunca deveriam ser tocados.
E agora, ela estava aqui, no meio de tudo, tentando costurar as pontas soltas, tentando encontrar alguma maneira de manter Jinx longe da mira dos defensores e do caos que ela mesma criava.
O pior de tudo? Parte dela entendia Jinx. Ela sabia como era desejar aquela aprovação de Silco, aquele olhar que dizia "você é suficiente".
E talvez fosse isso que mais a frustrava. Porque, no fundo, sabia que não importava o quanto Jinx tentasse, não importava o quanto ela destruísse ou criasse... sempre haveria outra coisa para Silco exigir dela. Agora, precisava descobrir uma forma de salvar Jinx de si mesma.
Astra estava sentada em um canto do bar, as pernas esticadas sobre uma cadeira vazia, os dedos tamborilando distraidamente no copo de bebida em sua mão. Seus olhos estavam fixos no espetáculo que Sevika proporcionava, uma briga de bar daquelas, cheia de palavrões, risadas altas e ameaças mal articuladas por outros bêbados.
Sevika tinha perdido no truco. Ou, melhor dizendo, ela achava que havia perdido porque alguém trapaceou, e agora fazia questão de deixar isso bem claro com os punhos. Astra suspirou, um sorriso irônico surgindo em seus lábios enquanto observava. Era sempre assim com Sevika. O caos que ela criava era quase reconfortante, previsível, até.
Mas então, algo a fez parar.
━━━ Ash? ━━━ a voz era baixa, quase um sussurro, mas clara o suficiente para cortar o som do bar.
Um arrepio percorreu sua espinha, os pelos da nuca e dos braços se eriçando como se sua pele estivesse sendo tocada por uma energia invisível. Algo estava errado, mas ao mesmo tempo, algo estava exatamente como deveria ser. Um nó apertado se formou no estômago de Astra, um peso que ela não conseguia entender completamente.
Ela se virou, o movimento feito com uma lentidão quase tensa, como se o ar ao redor dela estivesse denso, quase a impedindo de reagir. O coração batia forte, um tambor irregular que pulsava contra o peito. Era ela. Sempre era ela. Não havia dúvida nisso.
A primeira coisa que seus olhos captaram foi o brilho dourado das presilhas que adornavam as tranças boxeadoras de Jinx. Um azul profundo e gelado, trançado com perfeição. Aquela visão familiar que sempre parecia colocar sua mente em frangalhos. Jinx estava ali, com seu sorriso quase maníaco, aquele sorriso que tanto desestabilizava Astra, uma mistura de ironia e uma loucura inebriante, como se o mundo ao redor dela estivesse em colapso e ela fosse a única a entender a razão disso.
Os olhos de Jinx, azuis acinzentados, como uma tempestade que pairava pronta para explodir. E o jeito como ela a olhava. Não havia zombaria, nem desafio, mas uma necessidade sutil, um vazio disfarçado que Astra nunca soube interpretar direito, mas que estava ali, agora, mais forte do que nunca.
Astra podia sentir seu próprio coração acelerando, mas havia algo mais em sua mente, algo que a chamava, que a envolvia. Ela não sabia como, mas havia uma atração, uma força invisível puxando-a para Jinx, como se fosse impossível ignorar a presença dela. Algo naquela vulnerabilidade exposta a estava mexendo profundamente, algo que a fazia querer entender, ou talvez até proteger, aquela bagunça de sentimentos que Jinx sempre carregava consigo.
Ela não disse nada. Apenas inclinou a cabeça levemente, um movimento quase imperceptível. Astra hesitou por um instante, o peito apertado pela confusão de emoções. Era Jinx. Sempre Jinx.
Sem pensar muito, ela colocou o copo sobre a mesa e deu um passo à frente, ignorando o caos de Sevika ao fundo. Enquanto cruzava o bar e se aproximava da entrada, sentia os olhos de Jinx fixos nela, como se não houvesse mais ninguém naquele lugar. Quando finalmente alcançou a porta, Jinx já estava do lado de fora, os passos rápidos e leves, quase como se estivesse brincando.
Jinx deu um passo à frente, e o movimento foi suficiente para quebrar o feitiço que parecia ter paralisado Astra. Ela se sentiu estranhamente enredada, como se o ar se tivesse tornado mais espesso, pesado com algo que não podia identificar.
━━━ O que houve, Jinx? ━━━ sua voz saiu mais rouca do que ela queria.
Jinx sorriu novamente, aquele sorriso torto e ligeiramente irônico, mas havia algo mais lá. Algo que Astra não conseguia desconsiderar.
━━━ Consolo. ━━━ a palavra foi murmurada, mas estava carregada com um peso que deixou Astra sem palavras. ━━━ Eu quero a sua companhia.
O olhar dela encontrou o de Astra, sem vacilar, sem desviar. Houve algo nesse momento que quebrou o que restava das defesas de Astra, ela respirou fundo, inclinando-se levemente, os olhos ainda fixos nos de Jinx.
━━━ Você sabe que sempre tem isso. Não precisa pedir. ━━━ murmurou Astra finalmente, a voz tão baixa quanto a de Jinx.
Jinx deu um pequeno sorriso, mas dessa vez não havia zombaria. Apenas uma vulnerabilidade crua que Astra raramente via.
━━━ É diferente. Quero te levar pra um lugar. Vem! ━━━ disse Jinx, um sorriso animado surgindo em seus lábios enquanto ela agarrava a mão de Astra com força.
Os dedos de Jinx estavam frios, mas o toque era firme, como uma tempestade prestes a começar. Astra hesitou por um instante, mas o brilho nos olhos azuis da garota a fez ceder, como sempre fazia.
━━━ Jinx, o que você está tramando agora? ━━━ perguntou Astra, tentando soar irritada, mas não conseguindo esconder o leve sorriso em seus lábios.
Jinx não respondeu, apenas soltou uma risada leve e travessa, o som ecoando suavemente nos becos estreitos de Zaun enquanto ela puxava Astra pela mão. Seus passos rápidos e desajeitados davam o tom de urgência e entusiasmo.
O cheiro de fuligem e pólvora estava impregnado no ar, misturando-se com a umidade que escorria das tubulações e pingava das estruturas corroídas. As luzes fracas das torres acima piscavam de forma irregular, projetando sombras instáveis que dançavam nas paredes de metal e concreto ao redor delas.
Astra seguiu relutante no início, mas logo seus passos tornaram-se mais firmes, acompanhando o ritmo de Jinx. Ela conhecia bem aquelas ruas, cada curva, cada beco escondido. Mas, com Jinx à frente, tudo parecia diferente, como se ela estivesse redescobrindo Zaun por outro ângulo, um ângulo colorido e caótico.
━━━ Jinx, vai me contar pra onde estamos indo, ou você só vai me arrastar pela cidade até eu desmaiar? ━━━ perguntou Astra, a voz carregada de um leve sarcasmo, mas também de curiosidade.
Jinx olhou por cima do ombro, seu sorriso iluminando o rosto manchado de óleo e pólvora.
━━━ Confia em mim, Ash. Vai valer a pena.
Era impossível não confiar nela, mesmo quando a razão gritava para fazer o contrário.
Elas dobraram mais uma esquina, entrando em uma passagem ainda mais estreita, onde os sons da cidade se tornaram distantes, abafados pelas paredes de metal corroídas. Astra começou a reconhecer o caminho. Um lugar escondido nas entranhas de Zaun, um espaço que elas costumavam chamar de refúgio quando crianças.
Jinx parou de repente em frente a uma porta de metal enferrujada, os dedos manchados de fuligem tocando suavemente a superfície desgastada.
━━━ Pronto. Chegamos. ━━━ disse ela, virando-se para Astra com um sorriso orgulhoso, como se tivesse acabado de apresentar o melhor presente do mundo.
━━━ Você me trouxe até aqui pra quê? Reviver memórias de infância? ━━━ Astra cruzou os braços, levantando uma sobrancelha.
━━━ Talvez. Ou talvez eu só quisesse um lugar onde fosse só a gente, sem o resto do mundo pra atrapalhar. ━━━ respondeu, sua voz ganhando um tom mais suave, mais sério.
Antes que Astra pudesse responder, Jinx empurrou a porta com força. O rangido alto ecoou pelo espaço vazio, e as duas entraram no antigo esconderijo. O lugar estava praticamente intacto, apesar dos anos que haviam passado. As paredes ainda exibiam os rabiscos infantis que haviam feito, os desenhos tortos de explosões, bombas e até um ou outro símbolo de amizade que agora pareciam quase dolorosamente ingênuos.
Jinx correu até o canto onde uma pilha de almofadas velhas e cobertas de poeira ainda estava amontoada. Ela se jogou ali, soltando uma risada satisfeita enquanto olhava ao redor.
━━━ Tá' vendo? É como se o tempo não tivesse passado.
━━━ Claro, exceto por todo o resto. ━━━ Astra riu baixinho, balançando a cabeça enquanto fechava a porta atrás de si.
━━━ Senta aqui comigo, Ash. ━━━ Jinx inclinou a cabeça, um sorriso travesso surgindo em seus lábios.
Ela olhou para Astra, o brilho em seus olhos oscilando entre travessura e algo mais profundo. A garota hesitou por um instante, o tempo parecendo desacelerar ao seu redor. Havia algo naquele momento, algo frágil, mas ao mesmo tempo, impossível de ignorar.
Astra ficou parada por um instante, o peso da hesitação prendendo-a no lugar. O tempo parecia desacelerar, como se todo o espaço ao redor delas tivesse se esvaziado, deixando apenas aquele momento.
Ela sabia que, com Jinx, nada era simples. Havia um caos inerente a tudo que a garota fazia, uma energia pulsante que podia tanto atrair quanto consumir. Mas, naquele instante, não era o caos que Astra sentia, era algo mais suave, mais humano.
Com um suspiro quase imperceptível, Astra caminhou até onde Jinx estava, a pilha de almofadas ainda cheirando levemente a poeira e algo familiar. Ela sentou-se ao lado da garota, os joelhos quase se tocando, enquanto Jinx a observava com um olhar que parecia atravessá-la.
━━━ Tá' feliz agora? ━━━ murmurou Astra, tentando soar casual, mas sua voz falhou no final.
Jinx não respondeu de imediato. Em vez disso, ela inclinou-se para frente, as tranças azuis escorrendo pelo ombro enquanto os dedos brincavam com uma mecha solta.
━━━ É bom ter você aqui. ━━━ disse ela, sua voz mais baixa agora, mais suave. ━━━ Parece que nada pode dar errado, sabe? Tipo quando a gente era criança e achava que podia conquistar o mundo inteiro.
Quando percebeu o leve tremor nos dedos de Jinx, algo dentro dela se quebrou, uma barreira invisível que ela nem sabia que estava segurando.
Lentamente, quase com reverência, Astra estendeu a mão, pousando-a suavemente sobre a de Jinx. O toque era quente, mas havia uma tensão palpável, um fio esticado entre elas que parecia prestes a se partir.
Jinx inclinou-se ainda mais perto, o movimento quase hesitante. Os cabelos azuis da franja desarrumados criavam uma barreira ao redor delas, isolando-as de qualquer ruído do mundo ao redor. A respiração leve e quente de Jinx roçava a pele dela, cada exalação um lembrete de quão próxima ela estava, quão inevitável aquele momento parecia.
━━━ Sempre vou estar com você. ━━━ murmurou.
Jinx inclinou-se mais perto, o sorriso desaparecendo de seus lábios enquanto seu olhar fixava-se no de Astra. Quando Jinx se aproximou o suficiente para que suas testas quase se tocassem, Astra sentiu o coração disparar. O cheiro familiar de pólvora e óleo misturado ao perfume único de Jinx invadiu seus sentidos, e o mundo pareceu desaparecer.
━━━ Você me entende, não é? ━━━ sussurrou Jinx, a voz baixa, mas carregada de algo desesperado, como se precisasse ouvir a resposta mais do que qualquer coisa.
━━━ Sempre. ━━━ Astra engoliu em seco, mas não hesitou.
E, naquele instante, o espaço entre elas deixou de existir.
O movimento foi lento, como se ambas estivessem testando as águas, sentindo cada fração de segundo se arrastar enquanto seus rostos se aproximavam. Quando os lábios de Jinx finalmente encontraram os de Astra, o toque foi suave, mas intenso, carregado de uma energia contida que parecia pronta para explodir.
Astra sentiu um arrepio percorrer sua espinha, cada nervo em seu corpo despertando ao mesmo tempo. Jinx, sempre tão caótica e explosiva, parecia surpreendentemente delicada naquele momento. Havia algo no toque dela que misturava urgência e hesitação, como se ela temesse que isso fosse um sonho que desapareceria a qualquer instante.
Astra ergueu a mão, os dedos deslizando pelos cabelos azuis de Jinx, entrelaçando-se neles com uma delicadeza que contrastava com o caos sempre presente entre as duas. O toque foi leve no início, mas logo se firmou, puxando Jinx para mais perto.
A outra mão de Astra subiu devagar, encontrando o rosto de Jinx, os polegares traçando círculos suaves em suas bochechas, como se quisesse memorizar cada contorno, cada textura. Jinx fechou os olhos por um breve momento, como se estivesse se entregando completamente àquele instante, antes de os lábios delas se encontrarem novamente, o beijo se aprofundando.
O tempo pareceu parar.
Nada além delas existia ali. Apenas aquele momento, apenas o calor compartilhado e a eletricidade que percorria o ar entre elas.
Quando Jinx finalmente separou os lábios, seus olhos se abriram devagar, o azul brilhando com uma intensidade que fez o coração de Astra apertar.
━━━ Eu precisava disso. ━━━ sussurrou Jinx, o tom dela carregado de honestidade crua.
━━━ Eu sei. ━━━ Astra sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero.
Sem dizer mais nada, Jinx voltou a se inclinar, os braços envolvendo Astra com força, como se estivesse tentando se agarrar a ela, e Astra a segurou firme, como sempre fazia, determinada a ser o centro de calma na tempestade que era Jinx.
Ela era suave contra os lábios de Astra, o gosto intoxicante de explosões e tequila, temperado com o amargor doce do zaunshine, que parece queimar e ao mesmo tempo aquecer. A língua de Jinx deslizava pelos lábios entreabertos de Astra, explorando com uma confiança que só ela tinha, e o som abafado que escapa da garganta de Astra era tão instintivo que quase a faz se afastar. Quase.
Mas então, os dedos de Jinx apertam levemente o pescoço de Astra, firmes o suficiente para mantê-la onde está, para trazê-la ainda mais perto. Jinx roçou o nariz no de Astra, um gesto que, em qualquer outro momento, pareceria inocente.
Astra solta um suspiro, baixo e rouco, que soa dolorosamente como uma prece, um pedido silencioso para que aquilo não acabasse. O som fez Jinx sorrir contra os lábios dela, aquele sorriso travesso que Astra sentia mesmo sem ver.
Quando Jinx inclina a cabeça, seus cabelos azuis escorrem como duas cascatas, a franja cobrindo parte do rosto de Astra, criando um mundo à parte só para as duas.
Jinx pressiona beijos suaves pela linha da bochecha de Astra, os lábios quentes e insistentes, enquanto as mãos dela deslizam do pescoço para os ombros, traçando um caminho que faz Astra estremecer.
É um momento de caos controlado, um contraste perfeito de suavidade e intensidade. Jinx, sempre era imprevisível, parecia completamente focada, enquanto Astra, sempre era firme, parecia à beira de desmoronar.
━━━ Jinx… ━━━ começou Astra, mas sua voz falhou, as palavras ficando presas na garganta.
━━━ Não fala nada. ━━━ Jinx interrompeu, sua voz ainda baixa. ━━━ Só... fica comigo, Ash.
Astra não responde. Ela não conseguiu. Em vez disso, suas mãos encontram o rosto de Jinx, segurando-a como se temesse que ela desaparecesse, como se precisasse se certificar de que ela era real.
Os lábios roçando os de Astra com uma suavidade surpreendente, quase experimental. O toque era breve, mas intenso, carregado de todas as emoções que ambas haviam reprimido por tanto tempo.
Astra não recuou. Em vez disso, ela correspondeu, sua mão subindo para entrelaçar nos cabelos azuis de Jinx, segurando-a com a mesma firmeza que ela sentia no aperto suave de seus dedos.
E então, Jinx inclinou-se novamente, os lábios encontrando os de Astra com mais firmeza desta vez, como se toda a hesitação tivesse desaparecido. O beijo era mais profundo, mais intenso, carregado de emoções que ambas haviam mantido trancadas por tempo demais.
Astra sentiu seu coração acelerar, cada batida ecoando em seus ouvidos. As mãos dela ainda seguravam o rosto de Jinx, mas agora seus dedos escorregavam levemente pelos cabelos azul-elétrico, entrelaçando-se neles com uma mistura de urgência e cuidado.
Jinx inclinou a cabeça, aproximando-se ainda mais, o peso de seu corpo pressionando suavemente contra Astra. O calor que emanava dela parecia envolver Astra como uma corrente elétrica, queimando em um contraste com o frio que Zaun sempre carregava.
O mundo parecia desaparecer. Não havia ruídos, cheiros ou lembranças, apenas elas duas, no antigo esconderijo que, de repente, parecia o único lugar seguro em toda a subferia.
Jinx separou os lábios por um breve momento, apenas o suficiente para respirar. Seus olhos, intensos e brilhando com algo que Astra não conseguia definir, encontraram os dela.
━━━ Ash... ━━━ Jinx sussurrou, o hálito quente e a voz embargada, rouca. ━━━ Eu...
Antes que pudesse terminar, Astra a puxou novamente, os lábios se encontrando como uma resposta. Não havia necessidade de palavras. Não agora. Jinx riu baixinho entre o beijo, um som que vibrou contra os lábios de Astra, carregado daquela travessura tão característica dela.
━━━ Você é tão certinha às vezes, sabia? ━━━ murmurou Jinx contra a boca de Astra, o tom brincalhão, mas com uma ponta de afeto genuíno.
━━━ E você é insuportável. ━━━ rebateu Astra, mas havia um sorriso pequeno em seus lábios enquanto ela falava.
Jinx inclinou-se mais uma vez, o beijo suavizando-se, tornando-se mais lento, mais íntimo, como se estivesse tentando gravar aquele momento na memória. E Astra permitiu.
Porque havia apenas elas agora.
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