☆LUCINDA☆

Dylan tinha que me interceptar e atrasar tudo, estava morrendo de vontade de ir ao banheiro e ele só piorou me fazendo perguntas desnecessárias, e que não são da maldita conta dele.
Quando senti que não aguentaria mais, voltei escada acima, vou arriscar tudo indo no banheiro masculino. Rezo não ter ninguém e nem aparecer ninguém.

Quando cheguei no corredor onde o banheiro fica a vontade já estava impossível segurar, quando toquei a porta do banheiro, uma vez me gelou a alma;

__Lucinda?__olhei pro lado e vi Thank e Mike se aproximando confusos.

__o que faz aqui no banheiro masculino?__Thank me olhou confuso e eu já me contorcia feito louca, o banheiro feminino é ao lado, mas tem câmeras e se me verem entrando não vai dar bom.

Meus olhos marejaram e eles pareciam entender minha súplica silenciosa.

__vai, a gente fica de olho.__Mike avisou e Thank entrou e logo me chamou.

Entrei correndo, indo no primeiro Box e senti as lágrimas rolarem.

Eu não queria passar por isso, não precisava passar por isso, no Brasil eu não precisava passar por isso.

Escutei Mike dizer que o banheiro tava interditado e houve até um grito do mesmo alegando estar fechado.

Quando terminei, dei descarga e lavei as mãos na pia e encarei meu reflexo no espelho. Molhei o rosto e sai do banheiro vendo os dois na porta, Mike segurou meu pulso saindo dali comigo e Thank.

Fomos pra escada e ele me olhou.

__obrigada por isso.__Só soube dizer isso.

__por quê?__Thank me olhou.

__não quero falar disso.

__tudo bem, a decisão é sua.

__obrigada e novamente agradeço a ajuda.__me virei pra descer as escadas.

__por que não gosta da gente?__parei com a voz do Thank.

__não disse que não gosto.__não me virei.

__mas é o que parece. Por que nos evita como se fôssemos te machucar?__sorri com escárnio mesmo que não vissem.

__não sou fraca.

__por que me salvou se nos trata dessa forma? O que fizemos pra você?

__não fizeram nada.__aviso entre dentes.

__então por que nos evita? Por que prefere se isolar?__Mike parecia suplicar por alguma resposta.

__POR QUE EU NÃO QUERO VER A MESMA CENA SE REPETIR!__me virei irritada e eles se calaram.__ficou claro agora?! Eu não quero ver a mesma cena se repetir, não posso e o isolamento é a melhor forma.

Me virei e desci dois degraus até ouvir a voz do Thank;

__quando disse do seu amigo, e que ele não estava no Brasil.__parei.__Lucinda é dele que está falando?

__ele morreu?__Mike perguntou e meus olhos marejaram.

Segurei no corrimão e desci lentamente até sentar no degrau. Nunca cheguei a tocar no assunto do Yuri, até por que não pretendia fazer amigos, não queria sentir a mesma dor. Mas vindo pra Coreia eu sinto em mim um vazio, não tenho a quem recorrer ou desabafar. Tem minha mãe, mas ela é minha inspiração de força, não quero ficar ligando pra falar o quão chato a aula foi, ou que o capitão de futebol americano é gato. São um dos motivos que um amigo serve.

Eliot foi meu protetor, não tínhamos afinidade.

Escutei passos e logo uma presença ao meu lado e a minha frente, ergui a cabeça vendo Mike na minha frente e Thank ao meu lado.

__ele morreu por minha causa.__admiti.__sofria muito onde morava, pessoas tendem a ser maldosas e ele sempre comprava minhas brigas.__ergui a cabeça evitando das lágrimas rolarem.__na última ele foi pego numa armadilha e no hospital o médico disse que ele estava em coma vegetativo. Nunca mais sairia daquilo, eu perdi meu melhor amigo por conta dos meus problemas e por um ano não deixei desligarem as máquinas. Eu não tinha força, mas quando vim pra cá, sabia que já estava na hora, ele merecia descansar desse sofrimento.__fechei os olhos e suspirei.__prefiro me isolar e ser solitária do que ter pessoas próximas, me apegar e no fim os perder.

__acha que nos mantendo longe evita que o mesmo erro se repita?__Mike questionou e concordei.

__um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, e mesmo se cair, Lucinda a solidão nunca é a solução. Ele não iria querer isso, amigos são pra isso, pra ficar no melhor e no pior momento, comprar briga e evitar elas também. Amizade é como um casamento, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe. Você não se divorciou, você ficou viúva, mas não morreu, e por ambos deve seguir em frente sem medo dos mesmos erros se repetirem.__olhei Thank e as primeiras lágrimas correram.

Não choro diante de ninguém desde a morte do Yuri.

Thank ergueu a mão secando as lágrimas com os olhos dele marejados.

__eu não sei se tô pronta.__admiti.

__vamos com calma, nos deixe provar que podemos ser seus amigos. Não se isole, deixe as portas abertas pra uma nova aventura.__Mike avisou e sorri de canto.

__ele dizia a mesma coisa.__ele sorri agraciado.

__nos de uma chance?__Thank ergueu o mindinho e ri fanha.

Segurei seu dedinho com o meu e ele sorri, Mike segurou nossas mãos juntas e olhei ele.

__você não tá sozinha.__agredeci.__ah, se precisar de uma desculpa pra qualquer coisa, avise.

__a gente ajuda.

__eu não tô pronta pra contar sobre...

__não precisa, tudo no seu tempo.__Mike avisou.

Horas depois estava pronta pro evento. Vestia um vestido plissado na cintura preto com uma echarpe azul claro nos ombros, o cabelo solto e um salto preto.

Passei uma maquiagem noturna e um batom rosa claro, desci já ouvindo as vozes lá embaixo.

Após cumprimentar todos notei que Emma e Dylan também estavam aqui.

Mas minha maior surpresa foi ver Thank aqui, ele sorri largamente e não pude conter o meu sorriso.

Corri até ele o abraçando e ele me girou um pouco.

Aquela nossa conversa mais cedo foi muito boa, tô tentando dar uma chance, preciso arriscar e me aventurar mais uma vez.

__o que faz aqui?__o olhei após me afastar.

__meus pais foram convidados e quando soube que era pra esse jantar, eu não poderia deixar de vir.__ele sorri.__por que não me disse que era filha de Chase Roseriver?

__deve ser por que é Chase Roseriver.__enfatizei.__já notamos que aquele colégio gira em torno de que berço você nasceu, eu não tô afim de escancarar um livro da minha biografia e contar que vivi no Brasil e de repente me torno filha dele, tem que explicar e de verdade não gosto.

__tem toda razão, mas isso não mudou nada pra mim, ainda é a mesma Lucinda.

__Lucy. Pode me chamar assim ou de Baby.__ele sorri e fez uma careta fofa.

__baby.__sorri e levou as duas mãos ao queixo e mexeu os dedos.

__agora não será tão chato.__ele concordou e fomos pra mesa.

__vocês se conhecem?__meu pai me olha confuso.

__sim, somos do mesmo colégio e__olhei Thank.

__melhores amigos.__ele pontou e concordei.

Eu acho que posso me acostumar com a sensação novamente. Chega a dar um frio na barriga, mas é bom.

Dylan me olhou sério e Emma surpresa, meu pai parecia alegre em ouvir isso, possivelmente por que isso pode me fazer querer ficar mais que um ano aqui.

__isso me alegra muito filha.__meu pai avisou e me sentei numa cadeira e Thank sentou do meu lado.

O jantar todo sentia o olhar do Dylan me queimando a pele, quando aquilo começou a me incomodar junto do patético jantar onde só sabiam falar de negócios. Cutuquei a perna do Thank e ele me olhou.

__o que acha de fazermos alguma coisa?__ele me olhou e piscou concordando.

__posso chamar o Mike? Não fazemos...

__óbvio! Vocês me pediram uma chance. Vamos fazer algo juntos, longe daqui.

__só teremos que ir de taxi, vim de carro com meus pais.

__pego o meu, você dirige?__ele concordou.

__o que os mocinhos estão falando?__olhamos Kim em choque, o silêncio e Chase se engasgou.

__do jeito que fala Kim, parece que os dois são garotos.__a mãe do Thank a olhou confusa.

__é modo de falar, Kim se expressou errado.__Chase avisou e me olhou.

__é, foi isso mesmo.__ela não errou, fez de propósito.

__eu vou me retirar, com licença.__me levantei e saí da mesa indo pro meu quarto.

No corredor escutei passos e pelo perfume amadeirado é o Chase.

__filha...

__o que foi Chase?__me virei séria.

__a Kim não fez por mal.

__ah não?__engoli o que diria e entrei no meu quarto e ele entrou logo atrás.

__ela sempre dá essas falhas, não é a primeira e nem a segunda. A sós é chato e até incômodo? Sim é, mas diante de pessoas que não conheço já é demais.

__eu não sabia.__da pra notar.

__óbvio. Nunca está em casa.__ele me olhou.__me trouxe pra ficar fora e me deixar nessa casa que preciso de GPS pra achar a cozinha?

__está infeliz?

__eu só queria que tudo voltasse ao normal!__me exaltei.__eu, eu.__fechei meus olhos sentido meu corpo tremer.__me deixa em paz Chase.

__Lucy está suando!__toquei meu rosto e a sudorose começou.__está tudo bem?!

__eu só preciso ficar sozinha pra me acalmar, sai daqui!__me abracei sentido os tremores.

__não.__o olhei séria.__eu posso não saber o que fazer, posso estar errando enquanto tento aprender, mas eu não vou sair daqui com você assim.__ele sentou na poltrona e não queria mais discutir.

Andava de um lado pro outro controlando a respiração, arranquei os saltos e a echarpe e fui até a minha bolsinha de remédio, procuro o remédio que tomo pra me acalmar, ele é totalmente natural, a médica que me receitou não gosta muito de medicamentos comuns, ela prefere os manipulados, tomo esse desde os 6, mas aos 10 foi aumentado a dosagem e tenho ficado com esse até hoje.

Apanhei minha garrinha de água e virei o restante.

__o que...

__remédio manipulado, tomo desde os 6 pra quando tenho crise de ansiedade.__avisei o interrompendo e ele me olhou surpreso.__me queria aqui sem saber nada sobre meus problemas.

Ele nada disse, mas parecia refletir tudo que disse.

__quer ficar fique, eu vou fazer exatamente o que faço quando ocorre.__apanhei meu celular e conectei o fone e deitei na cama aumentei a música no último volume e me encolhi igual um tatu agarrada a um travesseiro, mantinha a respiração de um modo que me ajudava e fechei os olhos me deixando levar pela música.