"Fogo"
Valquíria estufou o peito para frente e girou os olhos para Holanda a espera de ver alguma ironia estampada nela, mas não encontrou. Na verdade até pareceu um pouco incomodada pela situação mesmo que tentasse disfarçar.
Os olhos verdes procuraram pelo noivo, mas este estava distante junto a uma mesa com Leandro e os parentes mais velhos a tirar fotografias, completamente alheio ao acontecimento da noite.
─ Ei, você! ─ Hayes chamou um jovem que estava a passar com um copo de vodka na mão. Era alto e bem-parecido, com traços que lembravam um pouco a própria Felícia. ─ Quer dançar?
─ O que vai fazer? ─ Holanda perdeu até a antipatia naquele instante. Seu ego não era maior que algum problema que julgou advir daquilo tudo.
─ Lembra do meu conselho? ─ Sussurrou em resposta ao ver o jovem pousar o copo numa mesa alta perto das dezenas de presentes. ─ Jogue o jogo dele.
O jovem lhe estendeu o braço com delicadeza, e Val piscou o olho para a melhor amiga do marido antes de o acompanhar até a pista de dança. Logo o brilho das câmaras aumentou, despertando a atenção de Camilo que logo se apercebeu da cena que se passava a alguns metros de distância. Sua mulher dançava com o primo de Felícia com toda uma leveza. As mãos dele pousavam nas costas esguias e os braços dela rodeavam seu pescoço.
Valquíria sorria e conversava com o jovem enquanto os corpos se embalavam ao som da melodia romântica. Parecia muito a vontade e balançava o quadril de um jeito que muito lhe incomodou. Soltou uma gargalhada para qualquer coisa que aquele homem disse e meneou a cabeça num gesto que mostrava certa timidez. Era óbvio que lhe tinha feito um elogio qualquer.
Holanda estava muito atenta para perceber quando é que os dois melhores amigos pararam de dançar no meio da pista, e só se concentrou nos olhos Glaciais que se focavam na bela Val que roubava toda atenção para si dentro do vestido perfeito e a espalhar uma sensualidade muito provocante.
─ Algum problema? ─ Felícia se sentiu incomodada ao constatar que Camilo tinha ficado estático e logo a soltou de seus braços, saindo em seguida como um raio de gelo para fora do salão e quase se esbarrou contra um servente que circulava entre as mesas e teve que equilibrar as bandejas com bebidas.
Ele apenas parou na balaustrada que o separava da chuva que fazia do lado de fora. Não sabia dizer o que esmagava seu peito com tanta força, até porque tinha prometido não cair tão facilmente nos encantos daquela mulher, mas agora podia jurar que sentia como se seu estômago tivesse sido esmagado pelo martelo de Thor. E com muita força.
─ Camilo? ─ A voz de Val o deveria ter irritado como nunca, no entanto só pareceu aliviar por saber que estava ali. ─ Por que saiu daquele jeito? Quase derrubou o garçom.
Vaughan inspirou profundamente e travou o maxilar ao mesmo tempo que apertou a mão num punho involuntário. Se virou com seu disfarce sereno e a fitou com uma calmaria que não o competia.
─ Eu só vim apanhar um pouco de ar.
─ Oh... Pensei que estava com ciúmes. ─ Val prendeu um riso.
As sobrancelhas dele se arquearam e a barba escondia perfeitamente seu queixo retesado.
─ Quer dizer que fez aquilo de propósito? ─ A voz monocórdica a questionou.
─ Bom, sendo que você é meu marido e estava a dançar e conversar tão empolgado com a noiva, eu pensei que pudesse fazer o mesmo. ─ Respondeu com toda uma casualidade a vomitar sarcasmo.
─ Então ficou com ciúmes? ─ A expressão dele não revelou a verdadeira falta de compreensão. ─ A Felícia é minha amiga de anos e está dançando com a maioria dos convidados. Qual é o seu problema?
─ A noite toda passou e não me lembro de você me convidar uma única vez. Então aproveitei para dançar também e foi muito divertido. Que mal tem? ─ Fazia de propósito inflar a voz de um jeito irritante só para provocar uma esperada reacção.
─ Nenhum. ─ Vaughan garantiu e os olhos escureceram. ─ Estamos aqui para isso, não? Vamos nos divertir.
Valquíria não sabia dizer a razão de detestar Felícia com todos os nervos, mas se manteve firme quando o marido passou por ela e caminhou de volta para dentro do salão de festas. O seguiu e percebeu os olhares de algumas pessoas para as quais acenou de propósito como se fosse uma celebridade. Holanda falava com Nadir, mas suspirou quando os viu regressar.
Porém, Camilo não ficou na mesa e passou até ao palco onde agora o DJ tocava depois de todos cantores actuarem. Falou com ele alguma coisa no ouvido, e então a música parou. Segurou o microfone chamando a atenção de todos.
─ Boa noite, senhoras e senhores. ─ A voz dele soava incrível pelo microfone. Era suave e firme ao mesmo tempo. ─ Ao pedido da noiva, farei uma singela homenagem e vou interpretar uma canção.
Aplausos ecoaram por todos os lados, menos Val que cruzou os braços e pestanejou quando Felícia correu para frente, deixando o marido que veio logo atrás. Ali estava uma coisa que poucos sabiam, inclusive Val. Não se lembrava de o ver cantar.
Camilo segurou numa guitarra que estava junto a outros instrumentos do palco, puxou um banco e se sentou em toda sua estatura avassaladora que arrancava olhos brilhantes de muitas mulheres. Procurou afinar as cordas e arranjou o microfone na sua altura aguardando a melodia que começou a ressoar.
O coração de valquíria foi atacado por um bombardeamento da terceira guerra mundial, não só por perceber como o marido possuía uma voz maravilhosamente rouca quando cantava, mas por reconhecer a música. Sentiu todo corpo gelar e tudo o que pôde julgar antecipadamente era que os olhos gélidos que a fitavam mostravam que fazia aquilo de propósito. Como podia cantar exactamente aquela música para homenagear Felícia?
" [...] Você é linda sim, seu sorriso é um contraste.
Quero me perder em seus lábios doces,
Eles têm Sabor a Chocolate.
Agora me explica o que eu faço
Porque vou amar seu corpo,
De um jeito gostoso, um pouco torto
E no final me sentir totalmente arruinado,
Por causa desse seu maldito coração ácido."
Valquíria não contava ser a mulher mais amada do mundo, não depois de tudo o que tinha feito para que se casassem. Contudo, não podia esperar que o marido pudesse nutrir quaisquer sentimentos por Felícia e ainda ousar cantar aquela música com tantos significados directo no casamento dela e para ela. Camilo a fixava com atenção enquanto todos os espectadores assobiavam e se embeveciam do momento, a voz dele era potente e acariciava os corações mais rijos, sem contar a forma como segurava a guitarra como uma amante em suas mãos grandes e mexia os lábios de um jeito abrasador.
" [...] Eu preciso saber como lutar, pois
Devo traduzir em gestos o autêntico amor,
Mas fui alvo ciente de uma mórbida dor
Hoje perambulo a mercê da tentação,
Por causa da vaidade de uma Perfeita Ilusão
Quando eu te olhei me vi em ti
A questão é por que me sinto tão perdido?
Se em teus magníficos olhos me rendi
Qual é a razão do meu coração se sentir oprimido?"
Valquíria sabia ser forte, mas o embrulho que sentiu no estômago e que nada tinha a ver com os enjoos, lhe mostrou que não era de ferro. Pelo canto do olho percebeu Holanda que estava carregada de uma compaixão que ela não pretendia receber, e então tratou de dar meia volta e sair disparada pelo salão a fora.
Camilo parou de cantar no mesmo instante, mas as pessoas aplaudiram tanto que pouco se importavam que não tivesse ido até ao fim. Saiu do palco como um bloco de gelo, mas sentiu a mão de Felícia que o segurou pelo braço.
─ Isso foi maravilhoso, mas não foi a música que eu pedi. ─ A noiva parecia um pouco confusa. ─ Era aquela sobre as estações do ano, lembra? Que eu gosto muito.
─ Eu não estava cantando para você. ─ Vaughan deixou as palavras escaparem com muita facilidade sem se importar em usar seu disfarce de menino bom. Não daquela vez, então se soltou e atravessou a multidão de pessoas que o tentavam cumprimentar, mas não parou em nenhum momento.
Saiu do salão de festas e não viu o sinal de sua mulher, então desceu as escadas a sentir a chuva fina e fria molhar sua roupa, e correu pelo parque até ver a silhueta dela que caminhava para fora dali em passos decididos. Sem dúvida era uma mulher determinada.
─ Valquíria, espere! ─ Chamou ainda a correr para a alcançar. As poças de água saltavam a medida que seus sapatos se afundavam.
─ O que é? ─ Ela estava muito furiosa quando virou o corpo para ficar de frente para ele. ─ Eu já compreendi, Camilo. Nunca vou conquistar você!
─ Não pode andar assim pela chuva. ─ Havia uma verdadeira preocupação no rosto másculo que ficava ainda mais encantador com os cabelos molhados e revoltados. ─ E não deveria ter usado saltos altos, está grávida!
Val ficou ainda mais irritada com toda aquela conversa pacífica. Sua vontade era agarra-lo pelo colarinho e o esbofetear só para que sentisse toda dor que a corroía.
─ Eu ando como quiser. Entendeu?
─ Está agindo como uma criança.
Ela deixou um riso nervoso escapar.
─ Me deixe em paz. Por favor. ─ Pediu a bater os dentes uns nos outros. O frio entrava pelos ossos.
─ Vem, vamos para o carro. Você vai ficar doente. Eu vou ficar doente e eu mal me recuperei da última recaída. ─ Camilo observou.
─ Oh... ─ A última frase chamou a atenção dela ao pensar naquela possibilidade e semicerrou os olhos verdes quando viu o sorriso simples que ele esboçou.
─ Não sabe se preocupar com você nunca, não é? ─ Ele perguntou. ─ Vem comigo.
─ Eu não vou. Pode ir se divertir que eu pego um táxi.
─ Não me obrigue a ter que te carregar.
─ Não se atreva! ─ Rosnou e se preparou para fugir. Tudo o que menos queria naquele momento era estar perto dele, e não se importava de parecer infantil se fosse o caso.
Vaughan deu apenas dois passos e com facilidade a tirou do chão colocando-a por cima do seu ombro como um saco de algodão. Sentiu as mãos dela que puxaram seu casaco quando tentou se debater.
─ Me solta, Camilo! Me põe no chão, seu... seu... seu... ─ Queria ter muitos insultos para o ofender, mas nenhum foi bondoso o suficiente para se atrever a escapulir da boca dela. ─ Eu vou entrar no carro. Me coloque no chão!
─ Tudo bem, mas antes vamos ao salão buscar suas coisas e vamos embora os dois.
─ Eu não vou voltar lá! ─ Gritou e não conseguiu esconder o dissabor que tinha vilipendiado seu peito. ─ Me coloca no chão, Camilo Vaughan!
─ Está bem. ─ A deixou com todo cuidado e a viu ofegar com os olhos dilatados. Àquela altura já estavam muito molhados e cuspiam água. ─ Você não me parece bem. Temos que sair daqui ou vai congelar.
─ Já teria congelado só de conviver com você. ─ Murmurou ainda afoita. ─ E como queria que eu estivesse? Me colocou de ponta cabeça.
─ Eu não quero discutir com você.
─ E com quem é que você alguma vez quer discutir? Pois volte lá e continue cantando para sua ex, a nora perfeita. Volta!
O sobrolho dele se levantou em surpresa. Sentiu o impacto das mãos femininas que o empurraram com força no peito, no entanto não se mexeu um milímetro.
─ O quê?
─ Você não deveria ter cantado justamente aquela música para aquela Felícia. ─ Desabafou de uma só vez o que lhe incomodava e não acreditou quando viu o sorriso que se alargou na face masculina.
─ Eu estava cantando para você.
Dali se ouvia a música que tinha voltado a encher o salão, assim como o som da chuva que caía em toda sua natureza. Valquíria demorou a processar a informação e não conseguiu disfarçar a dúvida.
─ Para mim? ─ Os ombros subiam e desciam a mostrar a respiração forçada, mas não teve tempo de processar direito, pois as mãos fortes a agarraram e a puxaram para perto do corpo robusto que se encontrava curiosamente quente.
Camilo a beijou.
Não era um beijo romântico como podia esperar daquele monte de calmaria, pelo contrário, era recheado de sofreguidão, bruto e faminto. Os lábios a consumiram com um incêndio que se escondia dentro dele, as mãos grandes a apertaram contra si, e a barba arranhava seu rosto de uma forma que só lhe causou arrepios. E não era da chuva fria, e sim da língua cálida, da boca molhada e atrevida que a sugava sem pudor algum.
Valquíria não era o fogo.
Camilo era. Um poço de chamas sem fim.
Ela gemeu ao sentir como era devorada, podia sentir os apertos que lhe diziam que se tinha segurado por muito tempo. As mãos grandes corriam seus braços, suas costas e foram morar em sua bunda apertando-a por baixo só para a puxar para mais perto de modo a que pudesse sentir a dureza que surgia por baixo das calças do terno. Vaughan ardia em completa combustão, e era Val a fonte de toda sua energia.
Demoraram a se soltar, e ele ainda a beijou em estalos curtos e espaçados. Os olhos azuis ferviam e o toque que desenhou o rosto da pele escura, queimava pela ponta dos dedos. Val pensou que nem fosse conseguir andar e não sabia mais se estava molhada pela chuva ou por outra razão, apenas sentia o coração rugir desenfreado e aceitou ser conduzida de volta até a balaustrada do salão de festas.
Camilo sequer podia tirar o casaco para a proteger do frio porque estava igualmente molhado, e percebeu que a esposa ainda não fazia questão de entrar lá dentro.
─ Eu não demoro. Vou buscar sua bolsa e volto para irmos embora. ─ Murmurou com a voz ofegante e demorou a soltar os dedos finos, antes de se apressar todo molhado lá para dentro.
Valquíria tremia tanto de frio como de paixão. Tinha sido devorada em pouquíssimos minutos, e nem precisava que lhe dissesse mais nada. Pois não só sabia, como tinha sentido o clamor que emanava dele. Com o vestido molhado junto ao seu corpo, aguardava do lado de fora e tremia ligeiramente. Agora sabia que não tinha sido uma boa ideia se atirar no meio daquela chuva invernal. Mesmo assim, era possível ver um brilho diferente em seus olhos, tal como um sorriso deslumbrante que insistia em pairar no seu rosto.
Reconheceu o primo da noiva que saiu até ao lado de fora do salão, na longa balaustrada que era coberta para os proteger da chuva. Ele ia acender um cigarro quando a viu encolhida com o tecido do vestido colado ao corpo que tinha ficado transparente e marcava todas as partes do corpo feminino. Uma silhueta bastante invejável para uma mulher grávida.
─ Que mulher maravilhosa. ─ Disse a se aproximar dela para ver de perto e ousou estender a mão com a intenção clara de a tocar, pois aquele vestido parecia uma segunda pele que se encaixava nela.
─ Se afaste! ─ Val ordenou e recuou um passo atrás.
─ Não está sentindo frio? Posso aquecer você. ─ Ele disse e o bafo a álcool mostrava que já tinha bebido demais. ─ Como quando dançamos, lembra?
O jovem deu um passo em frente pronto para a segurar sem se importar que não era bem-vindo, mas não foi a tempo, pois sentiu duas mãos grandes o segurarem pela gola com força.
─ Não se atreva a tocar na minha mulher! ─ Camilo advertiu o carregando com uma facilidade atordoante e o virou de frente sem esperar pela resposta, acertando um punho bem fechado no meio da cara dele que o jogou contra o chão com brusquidão.
Valquíria se encolheu contra a parede ao ver aquela reacção inesperada, normalmente sabia que Vaughan sempre pautava pela diplomacia, procurando melhores formas de resolver as coisas sem se exaltar. Mas ali estava outra faceta que pouco era conhecida, a raiva estampada em seus orbes acesos e a mão cerrada com força que deixava os nós pálidos.
Os jornalistas que cobriam o casamento vieram a correr prontos para fotografar o primo da noiva que estava caído com o nariz a sangrar. A confusão chamou atenção de alguns que saíram para espreitar e logo formaram um burburinho.
─ Aconteça o que acontecer, nunca desligue as câmaras. ─ Janine Keating tinha um sorriso bem satisfatório na cara. Era do tipo que parecia brotar do nada e sempre na hora errada para uns, mas certa para ela.
─ Vamos embora. ─ Camilo puxou Valquíria para fora dali. Não a queria meter de novo por baixo da chuva, mas não tinha outra opção de momento. Andaram até ao carro e abriu a porta para que ela entrasse, só depois deu a volta e ligou o aquecedor.
─ E de pensar que eu estava dançando com aquele...
─ Não importa. ─ A cortou ainda com a voz um pouco mais grave que demonstrava sua tentativa de se acalmar. ─ Isso não lhe dava ao direito de tentar te tocar sem a sua permissão. Nunca.
Os olhos verdes brilharam ao sentir que lhe colocava o cinto, reclinava um pouco a sua cadeira e ajustava as saídas de ar quente na sua direcção. Em seguida ligou o carro, se acomodou direito e dirigiu para fora dali com o para-brisas a girar de um lado para o outro a fim de limpar a chuva que se acumulava no vidro da frente.
─ Eu não sabia que você cantava... ─ Ela murmurou quando sentiu a mão dele se entrelaçar entre a sua.
─ Há muitas coisas que não sabe sobre mim. ─ Camilo balbuciou e se aproveitou de um semáforo para lhe dar um beijo doce e quente. De um jeito que só ele poderia fazer. ─ Descanse. Eu te acordo quando chegarmos.
Valquíria concordou com a cabeça e os olhos cederam em automático, não sem antes pensar que aquela noite tinha sido uma das melhores dos últimos meses. Havia gelo no invólucro de Camilo, mas por dentro ele era fogo.
Puro fogo.
" A médica entrou numa sala onde tinham algumas camas com pelo menos três pessoas que tinham se disponibilizado para doar sangue. Ao lado, na cabeceira de ferro tinha uma pequena caixa com leite, suco, bolachas e fruta que tinham sido entregues para cada um.
Camilo estava sentado há umas horas, tinham dito que podia partir depois de trinta minutos, mas preferira continuar ali até ter notícias sobre as pessoas do acidente. Ou talvez tinha inventado aquela desculpa para não ir para casa ficar sozinho na mansão vazia.
Sua mãe tinha telefonado uma vez, mas estava magoado demais para atender e fingir que estava tudo bem. Então apenas se deixou ficar ali completamente absorto até ver a porta se abrir.
─ Ainda aqui? ─ A doutora perguntou espantada. Só de olhar para ele podia ver que não era um sem abrigo. Tudo nele exalava dinheiro e bem-estar.
─ Sim. ─ Se levantou da cama. ─ Como estão os pacientes?
A senhora sorriu um pouco emocionada com aquela atitude. Raras vezes tinha visto atitudes altruístas, principalmente naquele hospital onde filhos deixavam os pais morrerem sozinhos, mães não aceitavam doar um rim para os filhos e pessoas que se matavam deliberadamente todos os dias.
─ Alguns ainda estão na sala de operação. Outros fora de perigo.
─ E... a criança? ─ Perguntou a tentar arranjar os cabelos desarrumados e sentiu o ardor do ferimento suturado na sua bochecha.
─ Ela está bem graças a você. Foi a primeira a ser salva e agora repousa. ─ Mesmo sabendo que não era da família, decidiu dar a informação só por causa do jeito dele. ─ Quer vê-la? Ainda não conseguimos localizar a família.
Camilo não sabia, mas apenas concordou com a cabeça e carregou a caixa com as frutas e bolachas. Pensou que podia dar para ela ou deixar para quando acordasse.
─ Pode ser. ─ Respondeu.
─ Ainda não é hora de visita, mas como a ala pós operatória está calma... ─ A médica ponderou e depois o chamou com a mão. Sabia que estava a infringir regras, mas não se importou porque dentro de si sentia que era o correcto. Aquele jovem bravio tinha se importado com outro ser humano mesmo sem conhecer.
Subiram os elevadores e passaram por alguns corredores vazios antes de chegar a uma porta que se abria de par-em-par. Ela apontou para um quarto ao fundo.
─ Não faça barulho e seja rápido. Eu tenho que ir, pois tenho pacientes para ver. E lembre-se no caso de o encontrarem, não fui eu que te trouxe. Diga que se perdeu. ─ Piscou-lhe o olho e saiu dali nas suas vestes brancas.
Camilo atravessou as portas e não deixou de pensar que se talvez tivesse viajado para Paris com seus pais, não teria tido a oportunidade de salvar uma vida. Compreendeu que o destino fazia as suas artimanhas algumas vezes de maneira errada, mas sempre atingia seus objectivos.
Parou na porta e a empurrou devagar, mas travou ao escutar um choro aflito e muito sofrido. Espreitou com medo e pensou em voltar para chamar a médica, talvez a criança tivesse despertado com dores.
Em toda sua vida não cogitou ver a cena que se apresentou diante de seus olhos azuis. Um médico estava com as calças abaixadas e se masturbava com uma mão perto do rosto da menina a murmurar palavras de baixo escalão. A outra mão estava por baixo do lençol azul.
A caixa que Camilo trazia na mão foi ao chão.
Uma chama descontrolada se acendeu dentro de si."
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Bom dia/Tarde Glaciais!
Nossaaaaaaaaaa. Vocês são as melhores do mundo. Nunca vi tanta comoção para ter um novo capítulo. A campanha superou todas outras alguma vez vistas, foram tantas partilhas, imagens e textos maravilindos. Adorei ser perseguida em todas redes sociais e ver tanto amor por essa história.
Chorei de alegria ontem. Vocês são o máximo. Nunca vou me cansar de agradecer. Jesus Negro! Obrigada a todas.
O casal Vauyes (ship official) agradece muito. E só por isso não podia voltar na semana que vem, pois não? Vocês merecem muito.
Gente que capítulo bafônico!!! Revelações. O Fogo do Camilo! Vamos conspirar!!!! Estou ansiosa para ver as reacções.
Mil beijos de amor.
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