𝐒𝐈𝐗 - 𝐏𝐑𝐈𝐃𝐄 𝐀𝐍𝐃 𝐏𝐑𝐄𝐉𝐔𝐃𝐈𝐂𝐄

ORGULHO E HUMILDADE não cabem na mesma página, nem mesmo separados por vírgulas, acentuações grotescas ou letras garrafais. E Sunghoon sabia muito bem disso.

Se houvesse um novo patamar que se encaixasse no meio desses dois termos, sem dúvidas seria inveja. E era isso que Jay sentia pelo seu irmãozinho.

Park Sunghoon e Jay estavam sentados em um dos imponentes escritórios escuros, iluminado apenas pela luz suave de uma única lâmpada de mesa, a qual a bateria deveria estar acabando. O ambiente era austero, com paredes forradas de estantes cheias de livros antigos e relíquias familiares, além de um odor familiar de charuto. O ar estava pesado, carregado com a presença de Park Jaehyun, o patriarca da La Famiglia em Seul. Ele era um homem imponente, de olhar penetrante e postura rígida, que poucos ousavam desafiar.

Jay estava ao lado de Sunghoon, rabiscando distraidamente em uma folha de papel branco e vazia. Seus olhos se voltavam de vez em quando para o Jaehyun, que estava sentado à frente, observando-os com a mesma intensidade de um predador. Jay sempre sentira a pressão de estar à altura das expectativas, e agora, sentado ao lado de seu irmão mais novo, essa pressão parecia esmagadora.

Sunghoon, por outro lado, mantinha uma postura mais relaxada, mas os seus olhos estavam atentos, observando cada movimento do patriarca. Ele sabia que havia algo de importante naquela reunião, algo que poderia mudar o curso de suas vidas.

Jaehyun finalmente quebrou o silêncio, sua voz grave cortando o ar como uma lâmina.

— Sunghoon, você sabe o que significa ser parte da La Famiglia? — Ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de autoridade.

Sunghoon assentiu, mas não respondeu imediatamente. Ele sabia que Jaehyun queria ouvir algo específico, algo que mostrasse que ele compreendia plenamente o peso de suas palavras. Ele havia ensaiado aquelas palavras por toda a sua mais nova "vida".

— Significa lealdade, poder e sacrifício. — Sunghoon respondeu finalmente, a voz firme, mas sem arrogância.

Jaehyun observou-o por um momento, como se estivesse avaliando a sinceridade de suas palavras.

— E você, Jay? — Jaehyun voltou sua atenção para o outro, que imediatamente parou de rabiscar e ergueu os olhos.

Jay hesitou, sentindo o peso da expectativa. Ele sabia que Sunghoon sempre fora o favorito de Jaehyun, aquele que parecia destinado a liderar a ramificação Park no futuro. E isso o corroía por dentro.

— Significa seguir as ordens e proteger a família. — Jay respondeu, tentando soar confiante, mas havia uma leve tremulação em sua voz.

Jaehyun não disse nada, mas sua expressão não mudou. Ele se levantou lentamente, caminhando ao redor da mesa, seus olhos nunca deixando os de Jay.

— A família é tudo. — Ele disse, sua voz agora um sussurro, mas que ecoou pelo ambiente com a mesma força de um trovão. — E vocês dois, meus filhos, têm um papel crucial a desempenhar. Não posso ter dúvidas sobre sua lealdade, seu compromisso.

Sunghoon permaneceu em silêncio, seu olhar voltado para Jay, que agora parecia afundar em sua própria insegurança.

Jaehyun parou ao lado de Jay, colocando uma mão pesada em seu ombro.

— Jay, você sempre foi um bom soldado. — Ele disse, seu tom levemente paternalista, mas carregado de algo mais sombrio. — Mas é Sunghoon quem tem a frieza e a inteligência necessárias para liderar um dia. Você deve aprender com ele, aceitar seu lugar, e juntos, vocês dois irão garantir o futuro da La Famiglia.

As palavras de Jaehyun caíram como um peso esmagador sobre Jay. A inveja, que já fervilhava em seu coração, intensificou-se, queimando-o por dentro. Mas ele manteve a cabeça baixa, aceitando o que sabia ser verdade.

Sunghoon percebeu o conflito interno do irmão, mas sabia que não poderia fazer nada. Aquele era o caminho que Jaehyun havia traçado para eles, e ambos tinham que seguir, mesmo que isso significasse sacrificar partes de si mesmos ao longo do caminho.

Jaehyun se afastou de Jay, voltando para sua cadeira, e os observou por um longo momento.

— Lembrem-se, o sangue é mais denso do que a água. A família sempre vem em primeiro lugar. — Ele finalizou, sua voz carregada de uma certeza inabalável.

Sunghoon se remexeu, uma outra lembrança o invadindo em forma de sonho, ou melhor, pesadelo.

Era uma fria e escura noite. Sunghoon estava do lado de fora, no grande pátio da imponente mansão da família. O vento frio cortava sua pele, mas ele mal o sentia, imerso em seus próprios pensamentos. A lua cheia pairava alta no céu, lançando uma luz pálida sobre o ambiente, fazendo com que as sombras ao seu redor parecessem vivas.

Jay estava à distância, observando-o com um olhar sombrio. Sunghoon sabia que seu irmão o estava observando, sabia o que ele estava sentindo. A inveja que Jay sempre tentava esconder agora estava quase o engolindo. Riki, ao seu lado, porém, parecia uma sombra.

Jaehyun apareceu de repente, sua figura alta e imponente se destacando na escuridão. Ele caminhou até Sunghoon, parando bem à sua frente.

— Você está pronto, Sunghoon? — A voz de Jaehyun era baixa, mas firme, como se ele estivesse testando o filho.

Sunghoon engoliu em seco, tentando manter a calma. Ele sabia o que estava por vir, sabia que aquele momento definiria seu futuro na La Famiglia.

— Sim, eu estou pronto. — Ele respondeu, mas sua voz não soou tão confiante quanto ele gostaria.

Jaehyun olhou fundo nos olhos de Sunghoon, como se estivesse tentando enxergar sua alma.

— Lembre-se, Sunghoon. A família sempre vem em primeiro lugar. — Ele disse, antes de colocar uma arma na mão do filho.

Sunghoon olhou para a arma, sentindo o peso dela em sua mão. O metal frio contra sua pele parecia gelar até seus ossos. Ele ergueu o olhar para Jaehyun, que acenou com a cabeça em direção ao outro lado do pátio, onde um homem estava ajoelhado, amarrado e amordaçado, seu rosto escondido nas sombras.

— Faça isso pelo futuro da La Famiglia. — Jaehyun ordenou, e Sunghoon soube que não havia escolha. Ele sabia que isso era um teste, um ritual que ele precisava passar para ser aceito como um verdadeiro membro da família.

Sunghoon respirou fundo, tentando controlar a tremedeira em suas mãos. Ele deu alguns passos à frente, até que estivesse próximo do homem. Seus olhos se encontraram, e o terror nos olhos do desconhecido era quase insuportável. Sunghoon fechou os olhos, tentando se concentrar na única coisa que o mantinha em pé: a necessidade de proteger a família, de não decepcionar Jaehyun.

Com um movimento rápido, ele apertou o gatilho.

O som do disparo ecoou no pátio, e o corpo do homem caiu no chão, inerte. Sunghoon sentiu como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor, mas ele manteve-se firme, guardando a arma ao lado do corpo.

Jaehyun se aproximou, colocando uma mão no ombro de Sunghoon, um gesto de aprovação que deveria ter sido reconfortante, mas que apenas fez com que o jovem sentisse um vazio ainda maior dentro de si.

— Você fez bem, Sunghoon. — Ele disse, antes de se afastar, deixando Sunghoon sozinho com a escuridão e o peso do que acabara de fazer.

No hospital, Sunghoon acordou com um sobressalto, ofegante e com lágrimas nos olhos. Ele estava tenso, seu corpo rígido como se ainda estivesse segurando aquela arma. A respiração acelerada e o coração martelando em seu peito eram sinais de que o pesadelo ainda estava presente, mesmo que ele já tivesse acordado.

— Sunghoon? Park Sunghoon! — Uma voz ao longe gritava por ele, que não conseguia sequer se movimentar. Logo, uma presença feminina que ele já conhecia se aproximou, enquanto suas lágrimas não se cessavam.

Jang Wonyoung. A doutora Jang observou seu paciente com tanta ternura e preocupação quanto devia, e algo a mais. Aproximando-se lentamente, receosa por talvez agir por impulso, ela analisou a expressão facial de Sunghoon, que a olhava como se implorasse por ela.

Mais próxima, ela não pode evitar de o abraçar.

Wonyoung o envolveu em seus delicados braços, puxando-o gentilmente para perto. O corpo de Sunghoon, inicialmente rígido e tenso, aos poucos começou a ceder ao calor humano do abraço da menor. As lágrimas continuavam a escorrer por seu rosto, molhando o ombro da doutora, mas ela não se importava nem um pouco. O que importava naquele momento era oferecer o conforto e o apoio que ele desesperadamente precisava.

— Estou aqui, senhor Park. — Wonyoung murmurou, mantendo a voz suave e reconfortante, como se suas palavras fossem um bálsamo para o caos que ele estava vivendo internamente. — Você não está sozinho...

Sunghoon tremia, as emoções conflitantes transbordando em forma de soluços silenciosos. Ele se agarrou a Jang Wonyoung com mais força, como se temesse que, se a soltasse, ela desapareceria, deixando-o novamente à mercê de seus próprios demônios.

— Eu... não consigo... — Sunghoon sussurrou entre os soluços, sua voz frágil e entrecortada. — Não consigo me livrar disso...

Wonyoung fechou os olhos por um momento, sentindo o desespero dele penetrar em sua própria alma. Ela não tinha todas as respostas, não sabia como apagar as cicatrizes que Sunghoon carregava, mas sabia que, naquele momento, tudo o que podia fazer era estar ali para ele.

— É difícil, eu sei. — Ela disse, acariciando suavemente os cabelos dele, tentando acalmá-lo. — Mas você é forte, senhor Park... Você vai conseguir passar por isso. E eu vou estar aqui para te ajudar, passo a passo.

As palavras dela eram simples, mas ditas com uma convicção que fez Sunghoon acreditar nelas, mesmo que apenas por um breve instante. Ele respirou fundo, tentando acalmar seu coração e sua mente. Lentamente, a rigidez em seu corpo começou a desaparecer, e ele se permitiu relaxar nos braços da doutora.

Depois de um tempo, que para ambos parecia indefinido, Sunghoon finalmente se afastou um pouco, o suficiente para olhar nos olhos de Wonyoung. Havia uma vulnerabilidade neles que ela nunca tinha visto antes, algo que a fez sentir uma profunda conexão com ele. Ele parecia mais... humano.

— Obrigado... Wonyoung. — Ele disse, sua voz ainda trêmula, mas mais firme do que antes.

O som do próprio nome saído da boca de Sunghoon era quase melódico para Wonyoung, como música. Tão doce que, se ela fosse capaz de sentir o sabor de suas palavras, imaginava que teria o gosto de uma iguaria de morango com bastante chantilly.

— Não precisa me agradecer. — Ela respondeu, um sorriso gentil nos lábios. — Eu estou aqui por você.

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