𝐍𝐈𝐍𝐄 - 𝐒𝐇𝐀𝐃𝐎𝐖𝐒

JANG WONYOUNG CAMINHAVA apressada pelos corredores do hospital, a angústia crescendo em seu peito como uma sombra crescente. A sensação de que algo estava errado persistia desde o momento em que ela deixou suas amigas para trás, suas palavras de preocupação ecoando em sua mente. E agora, ao entrar no quarto de Sunghoon, tudo se confirmou: ele não estava lá. A cama estava perfeitamente arrumada, os lençóis arrumados e impecáveis, como se ele nunca tivesse sequer existido naquele espaço.

— O que...? — ela murmurou, o pânico começando a tomar conta.

Ela deu alguns passos para trás, olhando ao redor como se Sunghoon pudesse aparecer de repente, como se ele estivesse apenas escondido em algum canto. Mas a sala estava vazia, fria e impessoal. O peso de uma ausência que ela não sabia explicar a atingiu, e sua mente corria em busca de respostas. "Ele estava bem ontem, não estava? Por que alguém o tiraria daqui sem me avisar?"

Wonyoung quase tropeçou ao sair do quarto, o coração acelerado. Ela precisava de respostas, precisava entender por que seu paciente — aquele que, de alguma forma, havia se tornado tão importante para ela — simplesmente desaparecera. Seus passos ecoavam pelos corredores silenciosos enquanto ela se dirigia à recepção, onde avistou Rei, a enfermeira que cuidava da ala onde Sunghoon estava internado.

— Rei! — Wonyoung chamou, sua voz soando urgente e desesperada.

A enfermeira levantou os olhos, um pouco assustada ao ver a psiquiatra naquele estado. Wonyoung raramente deixava suas emoções transparecerem, especialmente no trabalho.

— Doutora Jang? O que aconteceu? — Rei perguntou, levantando-se de sua cadeira.

— Sunghoon... O paciente Park Sunghoon. Onde ele está? — Wonyoung sentiu sua voz falhar enquanto perguntava. — O quarto dele está vazio! O que aconteceu?

Rei franziu a testa, como se estivesse tentando lembrar de algo.

— Ah, sim... Ele foi transferido. — A enfermeira respondeu de maneira casual, como se isso fosse algo comum.

Wonyoung congelou, o choque nublando seus pensamentos por um momento.

— Transferido? — Ela mal conseguia acreditar. — Para onde?

— Um hospital privativo. Recebemos as ordens esta manhã. A família dele cuidou de tudo.

Wonyoung piscou, sentindo o chão tremer debaixo de seus pés. O quê? Como assim transferido? Sem sequer consultá-la? Ela era a médica responsável! Uma onda de raiva e frustração começou a crescer dentro dela.

— Por que eu não fui informada? — Ela questionou, a voz agora carregada de indignação.

Rei deu de ombros, parecendo ligeiramente desconfortável.

— Isso foi decidido rapidamente. Não sei os detalhes. Só recebemos a ordem de alta.

Wonyoung não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Como poderiam transferir Sunghoon sem sequer falar com ela? Ele era um paciente complicado, havia riscos envolvidos. Ela apertou as mãos em punhos, lutando contra a frustração crescente. Tudo parecia fugir do controle, e essa sensação de impotência a sufocava.

— Eu... preciso de um tempo. — Ela balbuciou, sem saber exatamente o que fazer. A mente dela estava em turbilhão, e a necessidade de respostas se misturava com a angústia crescente que sentia em relação a Sunghoon.

Antes que Rei pudesse dizer algo, Wonyoung se virou e saiu rapidamente do hospital. Lá fora, o vento fresco da manhã bateu em seu rosto, mas não foi suficiente para aliviar o aperto em seu peito. Ela sentia-se desorientada, como se o mundo ao seu redor estivesse caindo em pedaços, e ela não pudesse fazer nada para impedir.

Sunghoon se fora. Desaparecera de sua vida de uma maneira que ela nunca imaginou que aconteceria. Ela sabia que havia algo errado, mas não tinha a menor ideia do que era. Só sabia que, de alguma forma, ela precisava encontrá-lo.

Do outro lado da cidade, o carro preto blindado estacionava na entrada de uma imensa mansão, cercada por altos portões e segurança privada. A propriedade exalava poder e perigo. As paredes de pedra cinza, pesadas e imponentes, pareciam sufocar qualquer sensação de calor ou humanidade. Para muitos, aquela casa representava um refúgio da lei, um lugar onde segredos e acordos obscuros eram feitos. Para Sunghoon, porém, era um lugar de correntes invisíveis — uma prisão disfarçada de lar.

As portas do carro se abriram, e Sunghoon saiu, os olhos frios e distantes enquanto olhava para a construção diante de si. Ele não tinha uma sensação de pertencimento ali. Não importava quantos anos passassem, aquele lugar sempre seria um lembrete de que ele nunca poderia ser livre.

A porta principal da mansão se abriu, revelando duas figuras. Jaehyun, o mais velho, estava parado com a postura firme e o olhar severo de sempre. Seus olhos não revelavam emoção enquanto ele observava Sunghoon se aproximar. Ao lado dele estava Niki, o irmão mais novo, que o olhava com uma mistura de curiosidade e sarcasmo. Niki era jovem demais para já estar tão envolvido em um mundo de sombras, e Sunghoon sabia o quão nocivo isso seria para ele.

— Finalmente. — Jaehyun disse, sua voz cortante como uma lâmina. — Demorou mais do que o esperado.

Sunghoon não respondeu imediatamente, seu rosto inexpressivo enquanto caminhava em direção aos dois. Jaehyun sempre fora rígido, o exemplo perfeito de um herdeiro que abraçou o poder e o controle que vinham com o nome da família. Ele era frio e calculista, qualidades que o tornavam perigoso. Sunghoon, por outro lado, sempre sentiu um desprezo pela vida que haviam escolhido — mas sabia que não havia como fugir.

— E aí, hyung? — Niki falou com um sorriso torto nos lábios. — Pronto pra voltar pro inferno?

Sunghoon lançou um olhar cansado ao irmão mais novo. Por mais que amasse Niki, ele era uma lembrança constante da maioria das coisas as quais ele detestava naquela vida. Sunghoon sabia o que ela fazia com alguém. Sabia como aquele mundo quebrava as pessoas por dentro.

— O inferno nunca foi embora, Niki. — Sunghoon respondeu, a voz seca.

Jaehyun, impaciente, deu um passo à frente, o olhar penetrante.

— Chega de conversas inúteis. — Ele cortou, o tom de comando sempre presente. — Agora que está de volta, temos questões a resolver. Você sabe o que isso significa.

Sunghoon assentiu, sentindo o peso daquelas palavras cair sobre ele. Ele sabia exatamente o que significava estar ali novamente. Sabia o que era esperado dele. Tudo aquilo era inevitável. Mesmo que ele quisesse, não havia como escapar das correntes invisíveis que o prendiam àquele lugar, àquela família.

Enquanto seguia os dois para dentro da mansão, sentia uma parte de si se fragmentar ainda mais. Ele havia vislumbrado algo diferente nos últimos dias — algo que Wonyoung havia despertado nele. Havia uma vida fora daquele ciclo de violência e escuridão. Mas agora, naquele lugar, tudo parecia distante, inalcançável.

Dentro da mansão, o ar era frio, carregado com o cheiro de cigarros e madeira velha. As paredes, repletas de pinturas e ornamentos caros, pareciam opressivas. Sunghoon olhou ao redor, sentindo-se sufocado pela familiaridade do ambiente.

— Temos muito a discutir. — Jaehyun disse, interrompendo os pensamentos de Sunghoon.

Niki lançou um último olhar ao irmão mais velho, um sorriso sombrio nos lábios.

— Bem-vindo de volta, hyung. — Ele murmurou, antes de seguir Jaehyun.

Sunghoon ficou parado por um momento no hall de entrada da mansão, o peso da responsabilidade e da realidade esmagando seus ombros. A lembrança de Wonyoung veio à sua mente, trazendo consigo um calor que ele não havia sentido em muito tempo. Mas, ao mesmo tempo, sabia que esse calor era perigoso. Sentimentos como aqueles não pertenciam a ele, e não havia espaço para esperança naquele mundo.

Respirando fundo, ele caminhou para dentro, pronto para enfrentar as sombras de seu passado — e de seu futuro.

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