𝐄𝐋𝐄𝐕𝐄𝐍 - 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓 𝐖𝐀𝐍𝐓𝐒 𝐖𝐇𝐀𝐓 𝐈𝐓 𝐖𝐀𝐍𝐓𝐒
— QUAL É A porra do seu problema?! — Yujin balançava meus ombros tentando me acordar para a realidade, enquanto a Doutora Bae Irene a olhava com preocupação. Wonyoung mal havia tocado o seu prato desde que adentrara o refeitório do hospital, e agora parecia cochilar sobre sua comida, enquanto resmungava palavras desconexas.
Yujin sabia bem o que estava acontecendo. Até o Doutor Taehyung e os enfermeiros já haviam comentado que a doutora Jang não parecia estar nada bem depois da transferência misteriosa de um de seus mais estimados pacientes. Ela não queria ser o tipo de amiga que precisa dar um tapa na cara da outra para que ela acorde para suas próprias ações, mas tinha medo de ter que ser com Wonyoung.
— Eu estou ótima, é só um pouco de sono... — Wonyoung respondeu, esfregando os olhos avermelhados com moleza.
— É sério, doutora Jang... estamos todos preocupados, seu desempenho caiu significativamente. — A Bae Irene respondeu, seu tom baixo.
— Como esperado. — Seungmin debochou.
O comentário cortante de Seungmin atravessou o silêncio tenso da sala, fazendo com que todos os olhares se voltassem para ele. Wonyoung sentiu seu rosto esquentar de vergonha e irritação. O que antes era apenas um fardo pessoal, agora se tornava visível para todos ao seu redor.
— Seungmin, ninguém pediu a sua opinião. — Yujin retrucou, lançando-lhe um olhar afiado.
Seungmin deu de ombros, um sorriso desdenhoso em seu rosto. Ele adorava provocar e sabia que Wonyoung estava particularmente vulnerável ultimamente.
Wonyoung fechou os olhos por um momento, respirando fundo para tentar recuperar a compostura. As palavras de Seungmin ecoavam em sua mente como um lembrete cruel de que sua fragilidade estava em exibição para todos verem. Irene, observando a cena, deu um passo à frente, seu olhar mais suave quando se dirigiu a Wonyoung.
— Doutora Jang, por que não tira o resto do dia de folga? Vai para casa, descansa... talvez isso ajude a clarear a sua mente. — Irene sugeriu, em um tom que misturava ordem e preocupação genuína.
— Eu não posso. — Wonyoung respondeu rapidamente, sua voz soando quase defensiva. — Tem pacientes que precisam de mim, e ainda preciso revisar...
— Chega, Wonyoung. — Yujin interrompeu, com um tom mais suave dessa vez. — Você não é invencível. Todos nós estamos vendo que algo está errado, e ignorar isso não vai ajudar em nada.
Wonyoung olhou para a amiga, os olhos marejados. Ela queria protestar, dizer que estava bem, que só precisava de mais uma xícara de café ou de algumas horas de sono, mas sabia que seria mentira. Desde a transferência de Sunghoon, ela sentia como se estivesse presa em um ciclo de ansiedade e insônia. As lembranças do passado, misturadas com a preocupação pelo paciente e os próprios sentimentos contraditórios, formavam uma espiral que a sufocava cada vez mais.
— Eu vou tentar descansar. — Ela finalmente cedeu, sua voz soando derrotada.
Irene assentiu com um pequeno sorriso, satisfeita com a resposta.
— Ótimo. E, por favor, se precisar de algo, procure por nós. Estamos aqui para ajudar.
Wonyoung se levantou lentamente, ignorando o olhar vitorioso de Seungmin e o sussurro de fofocas que se espalhava pelo refeitório. Yujin tocou levemente seu braço em um gesto de apoio.
— Vem, eu te levo até a sala de descanso. Você precisa disso.
Wonyoung permitiu que a amiga a guiasse pelo corredor, sentindo o peso de cada passo. Por mais que odiasse admitir, talvez um momento longe das obrigações fosse exatamente o que ela precisava para reunir forças e confrontar o caos que era sua mente — e seu coração.
Enquanto caminhava, uma dúvida persistente cutucava sua consciência: onde estaria Sunghoon agora? E por que a simples ideia de não saber a resposta a deixava tão inquieta?
— Vamos, beba um pouco de água e me conte o que vem acontecendo. — Além da psicóloga do hospital, Yujin era a melhor amiga de Wonyoung, e sua maior ouvinte. Ela nunca deixaria a amiga na mão.
— Foram alguns sonhos... sobre a minha família. — Ela leva a mão até a própria cabeça, a acariciando como se a mesma estivesse cheia de pensamentos confusos.
Yujin se sentou ao lado de Wonyoung, observando com atenção enquanto a amiga tentava encontrar as palavras certas. O silêncio entre elas era acolhedor, um espaço seguro para que Wonyoung pudesse se abrir sem medo de julgamentos.
— Sonhos sobre a sua família? — Yujin perguntou suavemente, inclinando-se um pouco para frente. — Do que você se lembra?
Wonyoung suspirou, sentindo a garganta apertar. Era como se estivesse prestes a abrir uma porta que mantivera trancada por anos, e a chave agora estava em suas mãos, tremendo.
— É sempre a mesma coisa. — Ela começou, a voz trêmula. — Eu vejo meus pais discutindo na sala de estar, gritos sobre dívidas, contas... eu era pequena, uns doze anos, e sempre ouvia da escada, escondida, com medo de descer e ser vista. O rosto deles estava sempre cansado, mas naquela noite... — Ela parou, mordendo o lábio inferior para conter as emoções. — Naquela noite, meu pai disse que não poderíamos continuar assim, que precisávamos de mais tempo, e minha mãe mencionou alguém... alguém que poderia nos ajudar, mas que ele nunca aceitaria.
Yujin franziu o cenho, juntando as peças em silêncio. Era a primeira vez que Wonyoung falava com detalhes sobre essa memória específica.
— Você sabe quem era essa pessoa? — Yujin perguntou, tentando manter o tom o mais neutro possível, mas por dentro, a preocupação aumentava.
Wonyoung balançou a cabeça lentamente.
— Eu não sei. Eu nunca descobri. E na manhã seguinte... tudo estava normal de novo. Eles agiam como se nada tivesse acontecido, mas eu sabia que havia algo errado. — Ela abaixou os olhos, sentindo as lágrimas começarem a se formar. — A partir daquela noite, passei a notar como eles estavam sempre tensos, sussurrando pelas esquinas, evitando falar na minha frente.
O silêncio que se seguiu foi denso, preenchido apenas pelo som abafado dos corredores do hospital. Yujin, com uma expressão pensativa, pegou a mão de Wonyoung, apertando-a levemente.
— Você acha que isso tem a ver com o que está acontecendo agora? Com o paciente que foi transferido? — A voz de Yujin soava firme, mas com um toque de hesitação, como se ela mesma não tivesse certeza de onde essa linha de pensamento as levaria.
Wonyoung fechou os olhos por um momento, tentando controlar a avalanche de pensamentos que ameaçava sobrecarregá-la.
— Talvez. Não sei explicar, mas sinto que estou sendo puxada de volta para aquela sensação de impotência, de não ter controle sobre nada. — Ela riu, um som amargo que ecoou pela sala de descanso. — E aí tem ele... o Senhor Park. Eu nunca entendi por que me importo tanto. Mas, de alguma forma, ele faz todas essas memórias voltarem. Como se houvesse uma conexão que eu ainda não compreendo.
Yujin olhou para a amiga com um misto de compreensão e alarme. Era claro que Wonyoung estava presa entre o passado e o presente, e isso a estava afetando mais do que ela própria percebia.
— Wonyoung, talvez você deva procurar entender mais sobre a transferência dele. Algo me diz que, se você não resolver essa questão, isso vai continuar te assombrando. — Yujin sugeriu, seus olhos fixos nos de Wonyoung.
A médica assentiu, finalmente permitindo que uma lágrima solitária deslizasse por sua bochecha.
— Eu sei, Yujin. Mas onde começar?
Yujin respirou fundo, buscando as palavras certas para ajudar Wonyoung. A verdade é que elas estavam lidando com algo muito mais complexo do que simples coincidências ou um caso médico. O desaparecimento súbito de Sunghoon, as memórias dolorosas de Wonyoung e a sensação crescente de que havia mais segredos ao redor... tudo apontava para algo maior, algo que ainda estava escondido nas sombras.
— Talvez começar pelas pessoas ao seu redor. — Yujin sugeriu, passando a mão pelo cabelo enquanto olhava para Wonyoung com um brilho determinado nos olhos. — Rei, por exemplo. Ela sabia sobre a transferência do Senhor Park antes de todos nós. Talvez ela possa te dar mais detalhes, mesmo que não seja muito.
Wonyoung assentiu lentamente, sentindo a leve faísca da determinação acender dentro de si. Rei era uma enfermeira dedicada e confiável, e apesar de manter-se discreta, ela sempre parecia estar mais informada do que a maioria.
— Você tem razão. Preciso saber mais. Não posso deixar que essa sensação de impotência tome conta de mim. — Wonyoung respondeu, enxugando a lágrima que escorria por seu rosto e ajeitando a postura.
— E tem mais uma coisa, Wonyoung. — Yujin disse, hesitante, mas sabendo que precisava falar. — Talvez seja hora de procurar informações fora daqui. O hospital tem seus próprios segredos, e se você se limitar apenas a isso, pode não conseguir enxergar o quadro completo.
Wonyoung sentiu um frio na espinha com a ideia de investigar algo que poderia ir além de suas responsabilidades como médica. Mas a imagem de Sunghoon, com seu olhar enigmático e triste, surgiu em sua mente, alimentando sua decisão. Ela precisava entender por que ele a afetava tanto, e mais importante, por que ele desapareceu de repente.
— Eu vou falar com a Rei amanhã, assim que a encontrar. E depois... acho que vou precisar de mais algumas respostas fora das paredes deste hospital. — Wonyoung disse, com a voz mais firme.
— Boa garota. — Yujin sorriu, levantando-se e puxando a amiga para um abraço apertado. — Você não está sozinha nisso, sabe? Seja o que for, eu estarei ao seu lado.
Wonyoung fechou os olhos por um momento, sentindo a força da amizade de Yujin como um bálsamo em seu coração. Ela ainda estava assustada, ainda se sentia à beira de um abismo desconhecido, mas agora havia um fio de esperança que a mantinha de pé. Ela não permitiria que os fantasmas do passado, ou os segredos do presente, a derrubassem sem lutar.
Ao soltarem o abraço, Yujin sorriu e brincou, tentando aliviar o peso do momento:
— Agora, que tal sairmos para tomar um café decente e deixar esses pensamentos de lado por pelo menos meia hora?
Wonyoung riu, um som breve e sincero, e assentiu.
— Acho uma ótima ideia. E depois... eu começo a buscar as respostas que tanto preciso.
E, pela primeira vez em dias, ela sentiu que talvez, apenas talvez, estivesse pronta para encarar o que viesse a seguir.
Wonyoung e Yujin saíram do hospital juntas, caminhando lado a lado em direção ao café da esquina. O ar fresco da noite acariciava o rosto de Wonyoung, mas, mesmo assim, ela sentia um desconforto rastejante, como se algo invisível a observasse. Tentou afastar a sensação, focando nas piadas que Yujin contava para tentar distraí-la. O riso fácil de Yujin era um alívio, e por um breve momento, Wonyoung se permitiu sorrir de volta, sentindo o peso em seu peito aliviar um pouco.
Elas chegaram ao café aconchegante, e a luz quente que emanava das lâmpadas suspensas contrastava com a escuridão do lado de fora. O aroma de café e canela preenchia o ar, e Wonyoung deixou-se envolver por aquele ambiente familiar. Sentaram-se em uma mesa próxima à janela, e Yujin, sempre enérgica, logo anunciou que iria ao banheiro.
— Já volto, não fuja! — Yujin disse brincando, apontando para Wonyoung com um sorriso.
Wonyoung sorriu de volta, mas assim que a amiga se afastou, a sensação de ser observada voltou com força total. Um frio percorreu sua espinha, e ela virou-se lentamente para a janela, como se seu corpo já soubesse o que encontrar.
Do outro lado da rua, entre as sombras, uma silhueta masculina destacava-se sob a luz fraca de um poste. Ele vestia um moletom preto com o capuz puxado sobre a cabeça, escondendo parcialmente o rosto. As mãos estavam enfiadas nos bolsos, a postura rígida e imóvel. O coração de Wonyoung acelerou, e uma onda de choque percorreu seu corpo. Mesmo sem ver o rosto dele, ela sabia. A silhueta, a presença... tudo nela gritava um nome.
— Sunghoon... — sussurrou, a voz falhando.
Ela se levantou abruptamente, derrubando a cadeira, e correu para fora do café, o som do sino na porta ecoando quando ela saiu. As luzes da rua pareciam mais intensas, o mundo ao seu redor mais silencioso. Seu olhar fixou-se na figura que, ao perceber que ela o reconhecera, deu um passo para trás, hesitante.
— Sunghoon! — ela gritou, o nome escapando de seus lábios com um desespero que ela não sabia que sentia.
A figura parou por um momento, como se o tempo tivesse congelado entre eles. Então, sem aviso, virou-se e começou a se afastar, afundando ainda mais nas sombras da noite. Wonyoung correu alguns passos em sua direção, mas ele já estava desaparecendo na escuridão, deixando apenas o vazio e a dúvida em seu lugar.
O som da porta do café se abrindo atrás dela trouxe Wonyoung de volta à realidade.
— Wonyoung? O que houve? — Yujin perguntou, a voz preocupada.
Mas Wonyoung não conseguia responder. Seu olhar permanecia fixo no ponto onde a silhueta havia sumido, o coração ainda martelando no peito, o nome de Sunghoon ecoando em sua mente. Ele estava de volta, e ela sabia que as respostas que procurava estavam mais perto do que imaginava — mas a que custo?
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