𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓 - 𝐌𝐘 𝐒𝐈𝐍

— AMIGA, O QUE VOCÊ TEM? — Yujin cutucava a doutora Jang, seus olhos castanhos brilhando de preocupação. — Você está com a cabeça nas nuvens!

Wonyoung piscou algumas vezes, tentando voltar ao presente. Ultimamente, ela se sentia cada vez mais exausta, tanto pelo trabalho quanto pelas palavras constantes de sua tia. A mulher havia insistido nas últimas semanas sobre o "perigo" que Sunghoon representava, e, por mais que tentasse não dar ouvidos, aquilo parecia pesar em sua mente. Era como se a cada dia ela estivesse carregando um fardo invisível, e algo em seu coração começava a concordar com as preocupações da tia, mesmo que ela resistisse a aceitar isso.

— Oh, não é nada... — Wonyoung abanou o rosto, tentando afastar o cansaço visível nas olheiras que manchavam sua pele. — Só... pensando.

Yujin arqueou uma sobrancelha, claramente não convencida.

— Você devia trabalhar menos... Ou transferir aquele Park para outro médico. — Yujin falou com um tom sério, sem a costumeira leveza em sua voz. — Você está levando o caso dele como se ele fosse algum familiar seu! Visitinhas todos os dias, conversinhas para lá, para cá...

Wonyoung abriu a boca para retrucar, mas a voz suave de Rei, que estava acompanhando as amigas, interrompeu o início da discussão.

— Não é isso que uma boa médica faz? — Rei comentou baixinho, erguendo as mãos em rendição quando Yujin lançou-lhe um olhar repreensivo.

— Não é disso que eu estou falando, Rei. — Yujin respondeu, ainda sem tirar os olhos de Wonyoung. — É o jeito que ela está agindo. Eu nunca vi você assim, Wonyoung. Como se estivesse... envolvida demais. E a gente sabe que, quando isso acontece, as coisas podem dar errado.

Wonyoung respirou fundo, sentindo-se acuada. Ela sabia que Yujin estava tentando ajudar, mas aquilo a incomodava. Era verdade que ela visitava Sunghoon todos os dias, que se sentia estranhamente atraída para aquela presença misteriosa e sombria. Mas isso era apenas profissional, certo?

— Não estou envolvida. — Wonyoung afirmou, mas a insegurança em sua voz era perceptível até para ela mesma. — Só quero garantir que ele fique bem. Ele passou por muito... coisas que eu acho que a maioria das pessoas não entenderia.

— E você entende? — Yujin a desafiou, os braços cruzados.

Wonyoung hesitou. O que ela realmente entendia sobre Sunghoon? Pouco, na verdade. Mas havia algo nele que a fazia querer entender, como se houvesse uma conexão que ela ainda não conseguia explicar.

— Eu acho que sim. — Ela respondeu, a voz baixa.

Yujin suspirou, balançando a cabeça em frustração.

— Só estou dizendo para você tomar cuidado, Wonyoung. Não quero ver você se acabando por causa de um simples paciente...

Wonyoung não respondeu. Sabia que Yujin estava certa em se preocupar, mas algo dentro dela se recusava a abandonar o sofrimento de Sunghoon. Havia algo nele, uma tristeza e um vazio que a puxavam para mais perto, e por mais que quisesse negar, ela sabia que já estava envolvida em sua história.

— Só... tenha cuidado. — Yujin repetiu, dando um leve tapinha no ombro de Wonyoung antes de se afastar para pegar mais uma fatia de bolo.

Wonyoung ficou em silêncio, seu olhar perdido no horizonte enquanto suas amigas retomavam a conversa. A sensação de que algo estava errado não saía de sua mente, e agora, até mesmo Yujin estava percebendo. Ela balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos intrusivos. Mas sabia que, assim que voltasse ao hospital e visse Park Sunghoon novamente, todas aquelas dúvidas e preocupações voltariam.

Algo estava mudando dentro dela — e dentro dele também. E essa mudança, por mais sutil que fosse, começava a parecer perigosa.

Mais tarde, Wonyoung resolveu voltar ao hospital para buscar seus itens que havia deixado antes de sair com as colegas de trabalho, porém na porta, avistou algo peculiar; um carro preto, provavelmente importado e blindado esperando por alguém.

Enquanto a doutora Jang se aproximava do hospital, notou um homem mais velho na recepção. Ele estava bem vestido, com um terno impecável, e parecia ansioso enquanto conversava com a recepcionista. Seus olhos se moviam rapidamente, como se procurasse por alguém ou algo específico.

A doutora o observou por alguns instantes enquanto ele gesticulava, mencionando o nome "Park" com certa urgência. A recepcionista, visivelmente confusa, folheava uma lista, tentando localizar o paciente. Wonyoung franziu a testa, seu instinto profissional a fazia querer se aproximar, mas lembrou-se das palavras de suas amigas no piquenique mais cedo. "Você está envolvida demais", Yujin dissera.

Ela decidiu dar de ombros, ignorando a situação e pegando suas coisas no armário de médicos. "É só bobagem", murmurou para si mesma, tentando levar em consideração os conselhos de suas amigas.

No entanto, ao sair do hospital, algo a incomodou. O carro preto que havia visto na entrada já não estava mais ali. Ela tentou afastar o desconforto, mas uma sensação persistente de que algo estava para mudar pairava no ar.

— Doutora Jang. — O Park mencionou ao ver a sombra da mulher se aproximando de seu quarto, deixando seu livro de lado quase imediatamente. — Estava esperando por você.

A doutora se sentiu impressionada, alguém antes frio e de poucas palavras dizer aquilo era realmente de se chocar. Ela se aproximou com o grande sorriso de sempre, mesmo tendo antes prometido não ir o ver no dia de hoje.

— Senhor Park! Como está? Sente sua cabeça melhor? Os sonhos... pararam?

Sunghoon ergueu um dos cantos da boca em um sorriso sutil, o que apenas acentuava o ar enigmático que o cercava.

— Um pouco melhor, talvez. — Ele respondeu, a voz baixa, mas carregada de uma sedução implícita que sempre deixava Wonyoung com o coração ligeiramente acelerado. — Mas os sonhos... ainda estão lá. Sempre estão.

Ela se aproximou, tentando manter o tom profissional, mas a presença dele sempre parecia provocar algo diferente nela. Era como se cada encontro deixasse uma marca, um resquício de algo que ela não conseguia explicar.

— Entendo... — Wonyoung respondeu, sentando-se na cadeira ao lado da cama de Sunghoon. — Talvez precisemos aumentar as doses, ou tentar outra abordagem com a terapia.

Sunghoon inclinou a cabeça, como se estudasse cada palavra que ela dizia, seus olhos escuros parecendo absorver cada detalhe de sua expressão.

— Não sei se é algo que a medicina pode consertar, doutora. — Ele falou, sua voz quase melódica. — Alguns pesadelos são... parte de quem somos, não acha?

Wonyoung piscou, um pouco surpresa pela profundidade nas palavras dele. Era difícil saber até onde ele estava sendo sincero ou simplesmente jogando com suas emoções. Ela olhou para ele com um pouco mais de seriedade, o cansaço evidente em seus olhos.

— E o que você acha que esses sonhos significam para você, então? — Ela perguntou, tentando explorar o que estava por trás daquela fachada.

Sunghoon a observou por um longo momento, e o silêncio entre os dois se estendeu de forma quase palpável. Então, ele sorriu de leve, mas havia algo de sombrio naquele sorriso.

— Talvez, doutora, eles só me lembrem que sou diferente... Que há coisas em mim que você não poderia entender. — Ele murmurou, e enquanto falava, seus dedos subiram lentamente em direção ao rosto de Wonyoung, quase a tocando, mas pararam no último segundo, pairando no ar.

Wonyoung congelou por um momento, seus olhos fixos na mão dele, sentindo a proximidade. A temperatura estranha da pele dele parecia irradiar, mesmo sem contato, e aquilo a fez sentir uma leve tensão que não conseguia descrever. O coração dela batia mais forte, e por um instante, o mundo parecia se tornar um pouco mais estreito ao redor deles.

Ela ergueu o olhar para Sunghoon, percebendo algo diferente em seus olhos. Aquele vermelho característico estava lá novamente, brilhando como brasas escondidas.

— Seus olhos... — Ela murmurou sem pensar, sua voz mais suave do que esperava.

Sunghoon apenas manteve o sorriso misterioso, inclinando-se um pouco mais perto, mas ainda sem tocá-la. Ele parecia gostar de manter aquela linha tênue, de brincar com a tensão crescente entre eles.

— Talvez você veja algo em mim que os outros não veem. — Ele disse, em um tom que quase soava como um segredo. — O que você acha que é, minha querida?

Wonyoung engoliu em seco, sentindo seu corpo respondendo à proximidade dele de uma maneira que ela sabia que não deveria. Havia algo perigoso e atraente em Sunghoon, e quanto mais ela tentava entender, mais sentia que estava se perdendo naquela escuridão.

— Eu... eu não faço ideia, senhor Park...

— É melhor assim. Nos vemos amanhã?

— Claro. — Ela sorriu ladino, se levantando.

O que ele havia feito com ela?

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top