Give me a Hug
Há certos momentos na vida em que tudo parece correr mais lentamente. Como quando tem que cumprir horas extras no trabalho; quando se tem pressa para chegar em casa e se jogar na cama, mas tem um congestionamento horrível ou até mesmo quando você tem que ficar três horas sentado em uma cadeira, ouvindo seu professor de Matemática explicar sobre equações e círculos trigonométricos pela quarta vez em uma única semana.
Às vezes, era bom. Você poderia parar para esfriar a cabeça cheia de problemas, aproveitar melhor o tempo que tinha ou simplesmente ficar olhando para o tempo, esperando ele passar, no maior tédio.
Mas também chega um certo momento em que você se sente o narrador de um conto de fadas, onde ele observa todos sendo felizes e seguindo suas vidas, enquanto fica preso no mesmo lugar, sem saber ao certo como se transformar em um personagem, que poderá ou não ter um feliz.
Mo se sentia exatamente assim observando a vista panorâmica da sacada da sala de He Tian. Milhares de pontos prateados brilhavam no manto escuro da noite, como verdadeiros diamantes. A lua estava lá, grande e redonda, derramando luz pálida sobre todos aqueles prédios e arranha céus. Milhares e milhares de pontos multicoloridos brilhavam lá embaixo, como luzes de natal nas vitrines de uma loja de brinquedos. Lá em baixo, na rua, dezenas de casais passavam de mãos dadas ou abraçados.
Todos com enormes sorrisos no rosto.
QUE PORRA ERA AQUELA? Era o dia de todos os casais do mundo aparecerem em sua frente para esbanjarem sua felicidade, enquanto ele continuava ali, no auge dos seus 25 anos, sendo perturbado por He Tian todos os dias com suas cantadas de mau gosto para deixá-lo irritado?
Até mesmo Zhan Zheng Xi e Jian Yi decidiram aparecer naquela manhã, recém chegados da lua de mel que haviam comemorado viajando para várias cidades ao redor do mundo, a última fora Holambra, a famosa Cidade das Flores, em São Paulo, no Brasil. Se olhasse por muito tempo, Mo podia jurar que via coraçõezinhos flutuando ao redor do casal sempre que se beijavam.
Mo não tinha coragem de admitir para ninguém, ele estava feliz pelos amigos finalmente terem se entendido depois de tantos anos com Jian Yi tentando conquistar Zhan Zheng Xi, mas sentia uma queimação na garganta sempre que olhava para algum casal.
Uma vontade colossal de se trancar em seu quarto, apagar as luzes e fechar as janelas, se jogar de baixo de suas cobertas e chorar até apagar e acordar só no outro dia.
Ele tinha ciúmes. Queria alguém que o abraçasse, que desse beijos, fizesse cafuné em sua nuca - era seu ponto fraco -, que dormisse de conchinha com ele e, principalmente, alguém que sorrisse para ele e fizesse ele se sentir especial.
Ele também também queria ser feliz.
Infelizmente, a única pessoa disposta a se aproximar dele era He Tian. O maldito He Tian.
Mesmo depois de tantos anos, Mo ainda se parecia muito com aquele Mo Guan Shan do colégio, com sua cara amarrada, palavrões a cada 5 palavras e explosões de raiva por não saber como demonstrar suas emoções corretamente, quando era pego desprevenido em alguma situação constrangedora. Mo, involuntariamente, afastava todos que se aproximavam dele e essa constatação fazia ele se sentir horrível.
- Pequeno Mo, sua vez de usar o banheiro - He Tian o tirou de seus pensamentos, saindo de seu quarto sem blusa e usando uma toalha branca para enxugar os cabelos molhados.
Mo não respondeu, apenas olhou para ele.
Não tinha como ele menti para si mesmo. Era uma verdade universal que He Tian era lindo. Lindo não, gostoso pra' caralho. E Mo, infelizmente - ou talvez felizmente -, havia se apaixonado por aquele babaca que só servia para brincar com seus sentimentos.
Mo tinha plena consciência de que He Tian só o obrigava a cozinhar para si, o beijava sem sua permissão, abraçava e até mesmo já havia arrastado Mo para sua cama no meio da madrugada, para irritá-lo. He Tian era o próprio significado de "perturbação".
- Pequeno Mo, algum problema?
Mo sentiu o sangue esquentar quando He Tian deu um passo à frente. E depois mais um, e outro ainda, até o alcançar, parando a poucos centímetros de distância. O ruivo respirou fundo, cansado, e olhou para o céu, ainda que todo o seu corpo se rebelasse contra isso e implorasse para olhar o corpo musculoso do outro.
- O que está sendo comemorado hoje? - ele finalmente se pronunciou.
- Hoje? - He Tian jogou a toalha sobre o ombro e se inclinou para a frente, apoiando os braços sobre o parapeito, olhando para baixo.-Dia dos namorados.
- Ah.
Isso explica tudo.
Foram longos minutos em silêncio e durante esse tempo, Mo voltou a se perder em seus pensamentos, dessa vez a sensação de querer chorar era pior ainda.
Por que ele tinha que se apaixonar justamente pela única pessoa que nunca poderia o amar da mesma forma? PORRA, ELE QUERIA SER FELIZ TAMBÉM!
Mo fingiu tirar o cabelo que caiu no olho para poder limpar a lágrima que estava prestes a escorrer por sua bochecha e olhou para o outro lado, evitando olhar para He Tian. Seu coração doía.
- O que você acha da gente pedir uma pizza?- He Tian perguntou procurando os olhos do ruivo, o encontrando praticamente de costas para si. Aquilo o irritou, mas também doeu.
Mo encontrou um fio solto na manga da blusa que usava e começou a enrolá-lo no polegar. Um minuto de silêncio se seguiu, mas Mo permaneceu ali, em silêncio. Ele sentia o olhar do moreno lhe queimando.
- Pode ser...
He Tian soltou uma risada amarga, desistindo de puxar conversa com o outro, e se virou para voltar para a sala. Internamente, o moreno só queria que o ruivo lhe desse pelo menos o mínimo indício de que também gostava dele.
He Tian queria poder colocar aquele anel guardado à semanas na gaveta da cômoda ao lado de sua cama, no dedo anelar do ruivo e gritar dali mesmo para quem quisesse ouvir que ele amava Mo Guan Shan.
He Tian estava prestes a desaparecer para dentro do apartamento, quando escutou a voz de Mo, que o chamou em um ímpeto de coragem. Ele precisava daquilo.
- Hey...
- O que foi, pequeno Mo?- He Tian deu meia volta e olhou para ele.
Seu coração estava disparado no peito. Mesmo sabendo que provavelmente Mo não diria aquilo que ele tanto esperava ouvir, ele ainda tinha esperanças. Aquelas malditas esperanças de um bobo coração apaixonado.
- Será que... - A voz de Mo falhou. Seu coração doía e a vontade de chorar só triplicava, seus olhos já ardiam.- Será que você poderia só ficar calado e me dar um abraço? Por favor, eu preciso disso.
Foi apenas por alguns milésimos de segundos que He Tian não soube o que fazer, com passos enormes ele cortou a distância entre ele e Mo e envolveu o outro em um abraço apertado. O ruivo circulou o corpo do moreno com os braços e enterrou o rosto em seu peito, enquanto sentia as lágrimas fugirem de seus olhos e He Tian deslizar sua mão para a nuca dele, acariciando de leve.
He Tian não estava entendendo nada, mas queria caçar o maldito que fizera Mo chorar, trazê-lo alí e o jogar da sacada de cabeça para baixo.
Os minutos correram lentamente, enquanto Mo ia se acalmando e mesmo todos aqueles sentimentos conflitantes ainda estando o perturbando, Mo se sentia melhor.
Tinha uma coisa estranha sobre abraços que o fez explodir na primeira vez que recebeu um, quando já era grande o suficiente para entender os próprios sentimentos.
Para Mo, os abraços se dividiam em duas categorias.
A primeira era daquele abraço que se recebia de pessoas que você acabava de conhecer ou aqueles abraços que He Tian lhe dava na escola, onde ele não sentia nada além de desconforto.
E a segunda, era daquele abraço verdadeiro. Um abraço verdadeiro que traz sensações de proteção, amor e segurança. Te faz arrepiar e sentir uma chama arder no peito. Muito mais do que um gesto de carinho e compaixão, era uma forma de comunicação não-verbal, onde ele dizia claramente: "Eu estou aqui e vou te proteger de qualquer coisa".
Esse abraço de He Tian se encaixava na segunda categoria.
Mo colocou a mão no peito de He Tian e o empurrou para sair do abraço, sentindo um frio repentino quando finalmente saiu dos braços do moreno. Ele tentou tirar as mãos do peito do outro quando lembrou que ele estava sem camisa, mas He Tian as segurou e as arrastou até o coração. A constatação de que o coração do moreno estava disparado também fez o sangue de Mo esquentar e se concentrar nas bochechas.
- Mo Guan Shan - He Tian pronunciou calmamente, o encarando os olhos.- eu não sei o que aconteceu ou quem te fez chorar, mas por favor, não me afaste dessa maneira depois de me abraçar, isso dói. Não brinque comigo.
- Brincar com você?- o ruivo se estressou.- Eu quem deveria dizer isso, He Puto Tian! Eu tô CANSADO de você brincando comigo dessa maneira. Me agarrando do nada, me beijando sem permissão, dizendo que gosta de mim, dormindo agarrado em mim como se eu fosse um ursinho de pelúcia... - ele respirou fundo.- Para com isso, por favor. Eu não aguento mais! O que você faz a noite, quando tá sozinho? Lembra de como fiquei irritado com suas investidas e ri até ficar com dor de barriga? Me chama de idiota? Bola planos para a próxima vez?
He ficou sem palavras, finalmente entendendo a situação. Ou pelo menos uma parte dela. Ele fechou os olhos por alguns segundos, encarou Mo novamente e levou suas mãos a boca, beijando cada um dos dedos do ruivo enquanto dizia o que estava entalado em sua garganta a anos.
- Pequeno Mo, durante todos esses anos, nada do que eu disse era mentira. Eu não estou brincando com você. Nunca estive. O que eu faço a noite? Eu me deito em minha cama e me lembro de cada expressão que você fez durante o dia, principalmente das que faz quando estamos juntos. Eu sonho acordado com o dia em que finalmente vou poder acordar todos os dias com você ao meu lado, sorrindo enquanto me dá bom dia e um beijo. Sonho com o dia em que estaremos casados, com dois cachorros e várias crianças correndo pela casa, gritando e quebrando tudo, enquanto você corre atrás deles com uma vassoura nas mãos. Não vou mentir dizendo que não espero uma resposta, eu espero sim, mas estou disposto a esperar quanto tempo for. Eu te amo.
Mo não respondeu, estava hipnotizado pelos olhos do moreno, que em momento algum abandonou os seus enquanto ele falava. Seu coração poderia parar a qualquer segundo.
- Sabia que faz dias que não visito meu irmão? Você é a única pessoa com quem quero falar nos últimos tempos - ele murmurou, se aprumando e se aproximando, até seus corpos estarem quase colados. - Tudo o que sai da sua boca me fascina.
- Ah coitadinho - Mo fingiu sentir pena.- Ele gosta de receber insultos.
He Tian começou a rir por causa do tom de deboche do outro - Mo corado enquanto debochava dele era algo novo -, o que fez o ruivo rir também. A atmosfera se transformou em algo calmo.
- Só depois que eu te irrito. Você fica lindo todo irritadinho.
- Você é um idiota! ME LARGA - Mo tentou se soltar, enquanto He Tian ainda ria, mas ele se recusava a largar as mãos do ruivo, ainda seguradas perto de sua boca.
Foi quando Mo tocou os lábios de He Tian sem querer que a atmosfera amigável desapareceu, dando lugar a algo tenso, quente e pulsante. O moreno também sentiu, ficou rígido, o rosto sério, o olhar fixo na boca do outro.
Hipnotizado, Mo acompanhou o desenho perfeito de seus lábios com a pontinha do indicador, sentindo algo revirar dentro do estômago enquanto seus pensamentos se embaralhavam. Um calor repentino se espalhou pelo corpo todo, atingindo os pontos mais remotos e o deixando com a sensação de estar vivo. Muito vivo. E quente!
Sua respiração acelerou, e ele não era o único com dificuldade para levar o ar para dentro. O peito de He Tian subia e descia rápido, as pupilas se tornaram maiores, os lábios se entreabriram sob os dedos do ruivo.
Mo não sabe dizer quem tomou a iniciativa primeiro, se ele ou He Tian, ou os dois ao mesmo tempo. Mas quem se importa? O fato é que em um minuto estavam se encarando, e no seguinte estavam nos braços um do outro, grudando suas bocas e seus corpos em um desejo desenfreado. A sensação daqueles lábios e daquelas mãos sobre si eram familiar, mas dessa vez era diferente, e esqueça o abraço, aquilo era exatamente do que Mo precisava.
Ele tentou manter a coerência, um pouco de razão, e parar de beijá-lo, afastá-lo, mas He Tian deslizou as mãos quentes por seu tórax até seus dedos se afundarem em sua cintura. Quando a língua do moreno invadiu sua boca, ele não pode mais acessar a parte lógica que ele sabia que estava escondida em algum lugar dentro dele. Em vez disso, se deu conta da necessidade insana de ter He Tian ainda mais perto. Pareceu tão certo comprimi-lo de encontro ao seu corpo, como se de alguma maneira pudesse colocá-lo sob sua pele.
Ele queria seus beijos. Queria seu toque. O desejava por inteiro, tudo o que ele pudesse oferecer ou tomar de si. E, pela urgência com que sua boca o consumia, Mo sabia que ele se sentia da mesma forma. Não iriam parar até terminar o que tinham começado, isso era certo.
E dessa vez, mesmo sem palavras, tinha certeza de que aquela era a primeira noite de uma longa vida juntos.
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