Jack
A lua iluminava o céu noturno e uma brisa suave trazia o perfume adocicado das flores até a estrada onde caminhávamos, deixando o castelo e seguindo para a cidade.
Fascinados com a beleza da noite eu e Jack resolvemos adiar a visita à taberna. Nos desviamos em direção a um jardim arborizado que ficava em um platô, de onde podíamos ver a paisagem ao redor.
Lado a lado, nos sentamos na amurada que circundava o local. Ficamos admirando a floresta que se estendia ao longe e o rio que serpenteava através dos campos prateados pelo luar.
Jack contava casos engraçados do mosteiro. Eu sorria e lutava para esconder a admiração em meu olhar. Ele não era apenas bonito, mas também uma pessoa alegre, dessas que fazem os outros acreditarem que o mundo é um lugar bom e feliz. Exatamente o contrário do que eu achava...
Talvez isso tenha me cativado de vez.
Enquanto ele falava, meus olhos não conseguiam se afastar dos lábios dele. Eu queria beijá-lo e encontrar um pouco de conforto em seus braços. Imaginava que ele poderia me fazer esquecer de minha infância infeliz e, principalmente, de Thiago.
De súbito, ele se calou. Sorrindo de canto, virou-se para mim com uma expressão meio envergonhada.
— Por Deus... Perdoe-me! Falei sem parar — murmurou, e depois, silenciou.
Eu apenas dei de ombros, mostrando que não me importava.
Nossos olhares se encontraram. Meus olhos ardiam de desejo; os dele tinham um ardor semelhante, mas ainda hesitantes.
Ficamos os dois em silêncio, nos estudando.
Eu tentava ler os pensamentos dele. Será que Jack imaginava o que se passava comigo? Saberia que dois amigos poderiam se amar, ou ele era um completo inocente?
O amor entre dois homens, chamado sodomia, era um pecado mortal segundo a Igreja. A punição era o açoitamento, a tortura e a vergonha publica. E, em alguns casos, a morte.
Mas na verdade, nós, nobres, preferíamos fechar os olhos. Muitos tinham um parceiro, até mesmo alguns duques e reis. No entanto, eu calculava que a educação de Jack no mosteiro havia sido bem mais rígida do que a da corte de um castelo.
— O que está pensando? — Enfim Jack indagou, tão curioso por saber o que se passava comigo quanto eu estava por ele.
O sorriso dele era de uma inocência tentadora... Recriminando-me, não respondi. Deixei escapar um suspiro, voltei meu rosto para a lua e fiquei a contemplá-la.
Amaldiçoava a mim mesmo por ser infiel, e também por sentir um desejo inconveniente e descabido. Elise me aguardava em Locksley. Amanhã eu deveria partir para encontrá-la. Então nos casaríamos e seriamos felizes para sempre um com o outro.
A ideia de que eu e a fogosa Elise logo estaríamos casados, mas ambos a procura de um terceiro para apimentar o casamento, me fez rir alto. Se Jack soubesse daquilo com certeza rezaria dezenas de Pais-nossos pela minha alma pervertida.
— Minha companhia lhe aborrece? — Ele franziu a testa, parecendo aborrecido com a minha risada solitária.
— É claro que não! — apressei-me a acalmá-lo. — Mas se eu revelar meus pensamentos, você irá se levantar e me deixará... Talvez até mesmo me ameace com cruzes e com o Inferno!
Jack arregalou os olhos e fez o sinal da cruz.
— Não pode ser tão terrível assim!
— Você nem imagina... — Eu sorri torto e ergui uma sobrancelha.
De repente, Jack me surpreendeu. Eu esperava que ele se levantasse e acabasse de vez com aquela conversa meio boba. No entanto, ele ergueu a mão e a pousou na lateral do meu rosto com um toque hesitante, muito leve, como se esperasse um protesto de minha parte.
Eu pousei a mão sobre a dele. Segurando-a contra meu rosto, o encarei com um olhar firme.
Mais uma vez nossos olhares se perderam um no outro. O olhar dele era de um azul muito claro e pacífico; o meu, de um azul escuro e cheio de demônios internos.
Devagar, aproximei meu rosto do dele. No fundo, achava que ele iria fugir... Ou iria se erguer com um pulo e me xingar. Mas ele não fez nada disso!
Jack apenas ficou parado com uma expressão hesitante e ao mesmo tempo curiosa, como quando levamos as pontas dos dedos até o fogo para sentir o calor com uma fascinação meio mórbida.
Nossos lábios enfim se encontraram.
Eu o beijei lentamente, não querendo assustá-lo. Porém, o desejo era mais forte... Meu corpo queimava e o sangue corria rápido, tão quente quanto as labaredas da fogueira.
E Jack parecia sentir o mesmo, porque não me repeliu. Ao contrário, abraçou-me como se subitamente tivesse vencido suas dúvidas. E então nos beijamos, ambos ardendo, sem medo de nos queimar naquele fogo intenso.
Prefiro me calar sobre o restante da noite.
Não quero ser acusado de perversão e jogado em uma fogueira junto com as bruxas...
Imaginem o pior! Ou, na verdade, o melhor!
Notas da autora: esse Gillian... Não vale nada mesmo! Deixa o Thiago saber disto!
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