Capítulo 9 – Instintos de ômega

"Ultimamente as coisas estão só aquela música da Kelly key: Mas uma noite chega e com ela, a depressão"

– Park Jimin

O ômega se sentia quente e seguro, como nunca havia se sentido na vida. Entre um beijo e outro, acabaram pegando no sono, agarrados em um abraço confortável e aquecido.

Durante toda a noite, roubou o calor que o alfa emanava e por mais que ferisse o seu ego admitir, não queria sair dali. Os beijos começaram carregados de energia e de um raiva quase explosiva, de todo aquele sentimento punitivo e agressivo que ambos sentiam, mas com o passar do tempo, foram perdendo força e ganhando uma ternura e uma delicadeza que não esperavam.

Não falaram sobre o assunto, porque seria constrangedor demais, então apenas continuaram com beijinhos silenciosos, até o sono vir.

Agora, sentindo a luz do sol no quarto, sabiam que estava na hora, mas queria lutar contra, porque sabiam que aquela bolha seria estourada à partir do momento em que seus pés tocassem o chão, mas antes mesmo que isso acontecesse, o despertador já tocava, avisando que um novo dia estava começando.

– Temos que levantar. – Jimin murmurou sonolento, contente por estar quente, mas envergonhado por tudo.

– É. – Jeon murmurou, triste por sentir o ômega se afastando. Durante toda a noite, Jimin havia o abraçado e não sabia que gostava tanto disso, até ter.

O pensamento de que deveriam falar sobre isso passava pela sua mente, mas era sufocado pelo medo. E como se isso não fosse o suficiente, ainda tinham outro assunto delicado para se tratar.

– Eu vou ir pro quarto do Hoseok ainda hoje. – Avisou suspirando. Não era certo deixar o ômega naquela situação, Jimin precisava ter liberdade e o alfa daria aquilo pra ele.

Era claro que o ômega não se sentia confortável na sua presença e que teria que deixá-lo sozinho, para que pudesse fazer o necessário para não ser tão desagradável.

O beijo poderia ter sido mágico e carregado de informações que o alfa não sabia como interpretar, mas apenas de tudo isso, o ômega ainda estava em um período íntimo e complicado e poderia apenas ter se deixado levar, a ideia parecia grotesca, mas em todo caso, precisava respeitar o espaço dele.

– Você o que? – Jimin questionou confuso, como se não tivesse o entendido.

– Vou te dar espaço, pra passar por tudo isso. – Jimin o analisou e pensou em responder, em brigar, discutir ou até mesmo acertar um tapa no alfa, por simplesmente se afastar em um momento como aquele, em que se sentia frágil e necessitado do maior, mas no fundo sabia, que por mais que não quisesse, aquela era a melhor decisão.

Haviam se beijado, passado da linha limite. Jeon sabia que ele estava quase no cio e não poderia pedir para o alfa o ajudar. Seria estupidez. Também não poderia pedir que ficasse, que continuasse o abraçando por mais um tempo, compartilhando calor e misturando os feromônios. Como pediria algo assim para ele, se ele não era nada seu?

Nem ao menos sabia o que ele pensava sobre a noite anterior, poderia ter sido apenas algo do momento, afinal de contas, Jeon não beijou por um sentimento oculto, o beijo por estar irritado. Jimin entendia aquilo, mesmo porque era um motivo muito mais plausível do que acreditar que Jeon realmente poderia se sentir atraído por ele.

Então apenas bateu a porta do banheiro com força, irritado e frustrado por tudo aquilo, por Jeon ter lhe mostrado e dado uma amostra de algo que nunca poderia ser seu.

Tomou seu banho quente, vestiu uma roupa e saiu com raiva e antes mesmo que o alfa entrasse no banheiro, Jimin já batia a porta do dormitório, sem esperar pelo alfa, que agora parecia cruel demais do seu ponto de vista.

Jeon ficou parado, observando a porta fechada com violência, sem saber ao certo, o que aquilo significava. Sabia que Jimin estava irritado, mas qual era o motivo? Era pelos beijos, por toda a aproximação, talvez alguma coisa de fora ou até mesmo por avisar que iria sair.

Existiam vários motivos e em nenhum deles, Jeon conseguiu ter a certeza absoluta.

Assim que pisou pelo refeitório, notou a diferença, seus amigos pareciam apreensivos e não demorou muito para descobrir a resposta.

– Onde ele tá? – Questionou se sentando.

– Daehyun pediu para falar com ele, acho que ele vai tentar se desculpar. – Jin contou para o amigo, parecendo nervoso com a situação.

O beta havia aparecido do nada, o roxo finalmente havia saído de seu olho e agora já não tinha mais sinais do soco que Jimin havia o dado. Ele parecia triste e arrependido e Jimin, que já estava estressado por algum motivo que ninguém sabia, apenas ficou mais ainda ao o ver.

Fofocas começaram a rodar pelo refeitório e para não perder ainda mais as estribeiras, arrastou o beta para uma área isolada, onde poderia o xingar como bem queria.

– E Jimin aceitou ir com ele? – Jeon questionou preocupado e incrédulo, o beta havia dito muitos absurdos e não queria que Jimin ouvisse mais merda.

– Acho que ele não queria que a fofoca voltasse. Finalmente aquele assunto estava sendo abafado e agora o Daehyun apenas trouxe tudo novamente. – Jeon concordou com Hoseok, ainda bravo por toda a situação.

– Aconteceu alguma coisa no dormitório? – Namjoon questionou tranquilamente, sem segundas intenções, mas Jeon ficou em alerta com a pergunta.

– Não. Por quê? Quer dizer...

– Jimin chegou estressado na mesa, mas não disse o motivo. Vocês brigaram de novo? – Taehyung perguntou baixo, mas Jeon apenas suspirou.

– Não foi bem uma briga. – Disse pensativo, se lembrando dos beijos estralados, das mãozinhas apertando seus ombros, das pernas se emboscando, do calor, da pressão, do momento, tudo parecia tão intenso. – Quer dizer, nós brigamos ontem, mas nós resolvemos depois. Pensei que tava tudo bem, mas ele parecia bravo agora de manhã.

– E o que você fez pra deixar ele bravo? – Hoseok questionou, consciente de que Jeon deveria ter provocado o ômega.

– Nada. Eu só disse que daria espaço pra ele fazer as coisas dele e que ficaria um tempo com você.

– Que coisas? – Jin se meteu, confuso com aquilo.

– O cio dele tá chegando e porque eu estou no quarto, ele ainda não fez o ninho. Acho que ele ficou constrangido ou algo assim. – Explicou.

– Mas se você disse que daria espaço, por que ele ficou bravo? – Hoseok voltou a perguntar.

– Ai meu Deus, alfas são tão burros. – Taehyung exclamou para Yoongi. – Tá na cara que é porque ele não quer que o Jun se afaste. Ele está acostumado com os feromônios, não quer que você saia.

Jeon iria rebater, dizer que não fazia sentido, porque Jimin sabia que uma hora ele iria ter que sair, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, o ômega já voltava para a mesa, sozinho.

– Vocês acreditam que o idiota tentou me beijar? – Perguntou incrédulo enquanto se sentava.

– Como é que é? – Taehyung questionou chocado e Jeon, que parecia furioso, apenas escutava, sem conseguir manifestar sua indignação.

– É. Ele me pediu desculpas, disse que gostava muito de mim e que eu nunca havia dado uma chance real pra ele. E então tentou me beijar.

– E o que você fez? – Yoongi perguntou. – Me diz que você acertou o outro olho dele.

– Eu chutei as bolas dele. – Jimin respondeu com um tom ameaçador. – Idiota, quem ele pensa que é?

– Eu não acredito. Você chutou as bolas dele? – Taehyung questionou rindo, jogando o corpo pra trás. – Eu te idolatro, Mimi.

– Odeio esse tipo de coisa, como se não bastasse tudo, ainda tem mais esse babaca. – Respirou fundo frustrado.

O problema estava todo consigo. Era ele que não queria se meter com alfas, que não queria quebrar seu coração ou se sentir incapaz, mas também era ele que havia deixado o alfa o aromatizar, que havia o beijado na noite passada e que tinha dormido em seus braços.

A culpa era sua.

Agora seu lobo se sentia sozinho e rejeitado, como se o fato de Jungkook lhe dar liberdade, fosse o pior dos mundos, porque não queria espaço naquele momento. Queria mais, queria calor, intensidade, beijos e carinho, queria que o alfa não o soltasse, mas não podia falar aquilo em voz alta, porque além de loucura, era absurdo.

Estava frustrado com a situação, com o que estava sentido e com tudo que borbulhava em sua mente.

Todos conseguiam ver o quão sobrecarregado Jimin parecia e decidiram mudar de assunto, para não o estressar ainda mais, mas do que adiantava se a mente do ômega não o dava paz.

Passou o dia lendo artigos e tinha que reler quando percebia que seu cérebro havia mudado os pensamentos e não estava lendo de fato. Odiava aquilo, odiou o tempo que passava devagar, odiou o professor que não apareceu naquele dia, odiou a comida do almoço, o gosto do café que buscou pela tarde e a droga da cigarra que estava do lado de fora da janela do laboratório.

Quando a hora de ir embora chegou, Jimin estava uma bola de nervos e pronto para tacar as coisas do alfa para fora do quarto, já que ele queria tanto assim ir embora, mas Jeon havia passado o dia todo o observando, com medo de cada movimento contido, mas com potencial explosivo de Jimin.

Percebeu que o ômega estava à flor da pele e pensou nas palavras dos amigos. Talvez Jimin estivesse bravo porque seu lobo o queria por perto, porque havia se acostumado com os feromônios e com o calor e agora não quisesse ser deixado sozinho. Jimin poderia não querer ou aceitar, mas seu lobo deveria estar lutando por aquilo.

Era uma explicação razoável.

Entrando no quarto, Jimin parecia procurar uma troca de roupa como um furacão e Jeon decidiu não falar, deixá-lo fazer o que queria, tomar seu banho primeiro e não atrapalhá-lo.

Pesquisou no Google como acalmar um ômega no pré-cio, mas nada além das informações normais. Ele precisava de um lugar confortável, escuro e com ventilação, com um ninho, feromônios e o máximo de atenção possível.

A dica principal, era deixá-los fazer o que quisessem, o que era necessário para se acalmar e aquilo parecia assustador, porque tinha certeza que Jimin precisava quebrar sua cara para se acalmar.

Assim que o ômega saiu do banheiro, já com pijama, o alfa entrou, com medo de Jimin realmente o atacar. Pensou que talvez devesse adiar sua mudança até o dia seguinte, mesmo que estivesse com medo do ômega.

E Jimin, observando como o alfa ainda não havia juntado suas coisas, foi para o lado dele, pegando algumas camisas penduradas com a ideia de tacar dentro de uma mala e o botar para correr, mas ao sentir o cheiro forte que vinha das peças, não conseguiu evitar o instinto de levar até o nariz, farejando com vontade, se sentindo arrepiar.

Seu coração acelerou, a vontade de chorar aumentou e só queria se cobrir, em um lugar quente e gostoso, e ficar quietinho até tudo aquilo passar, até sua mente voltar ao centro e seu lobo esquecer daquela ideia ridícula. E não se notou ir para a cama, mas Jeon notou, ao sair do banheiro e se deparar com Jimin embolado no meio de suas roupas. Coberto com algumas jaquetas e moletons, enquanto abraçava uma de suas camisetas.

Apenas com os olhinhos de fora, o observando com atenção. Jeon piscou algumas vezes, enquanto seu cérebro carregava a informação e Jimin apenas rosnou baixo.

– Não diga uma palavra.

– Eu não ia. – Jeon mentiu. Estava se coçando para perguntar o que aquilo significava. – Quer que eu fique por hoje?

– Não. Se você quer ir, pode ir. – Mentiu, com um tom emburrado e magoado e Jeon poderia ser ruim com algumas coisas, poderia não saber ler todos os sentimentos e as informações em entrelinhas, mas havia entendido aquilo

– Vou ficar. Não to a fim de ouvir o ronco do Hoseok tão cedo novamente. – Brincou, respirando fundo, sem saber ao certo o que fazer. Tentou caminhar até a própria cama e esquecer do que o ômega fazia ao lado, mas Jimin murmurou frustrado. – Algum problema?

– Está frio. – Jimin murmurou, deixando subentendido o que queria, desejando que o alfa tomasse uma atitude, mesmo que soubesse que era errado da sua parte e que estava cometendo outro erro.

– Você... quer que eu feche a janela ou te pegue outro cobertor? – Sugeriu confuso, não estava frio, mas deveria ser uma das coisas de ômega, mas Jimin apenas suspirou frustrado.

– Você é tão idiota. – Xingou baixinho, virando de costas para se cobrir com outro moletom, enfiando o tecido no nariz.

E mesmo sem entender, Jungkook se sentiu um pouco mais tranquilo, porque aos poucos, o ninho era feito. 

| GENIUS |

Esses dois são tão idiotas que me irritam