capítulo 14

Andamos mais um pouco até pararmos no alto de uma montanha, descemos da moto e vejo a vista da cidade. Observo mais um pouco e vejo um pequeno restaurante.

― Por que me trouxe aqui?

Falei, retirando o capacete e o entregando. Ele o pega e o coloca na moto.

― Precisava conversar com você, e você deve estar com fome, então te trouxe para almoçar.

Ele fala essas coisas e fica me observando. Engulo em seco ao olhar para ele. Aaron é muito bonito, o seu cabelo está levemente bagunçado. Engulo em seco mais uma vez, abaixando o olhar.

― Ok. Estou com fome mesmo.

Ele sorri. Entramos. Vamos para uma mesa com uma vista para a cidade, um rapaz traz o cardápio. Peço uma massa.

Quando estamos sozinhos, mais uma vez o observei interessada no que ele tenha para me dizer.

― O que você queria me dizer?

Pela primeira vez que eu o conheci, o vejo engolir em seco.

De todas as coisas que eu pensei que ele fosse dizer, a que ele fala não está na lista.

― Nossa! ― Ele sorri balançando a cabeça. ― Você é linda.

O meu rosto se esquenta de uma tal maneira que pensei não ser possível. Ele continuou:

― Eu queria ter te falado antes, mas depois daquele dia tive que viajar com os meus pais. Tentei conseguir o seu número, mas não deu. ― Ele respirou fundo. ― Como você está?

Pisquei um pouco sem entender.

― O que você quer saber exatamente?

Ele sorri novamente. Impressionante como o sorriso dele é lindo.

― Sobre a briga com a Sofia.

― Eu estou bem. ― Ele franze a testa, não acreditando. Dou um sorriso para demonstrar que não estou mentindo. ― É sério, eu estou bem.

― Por que eu não acredito em você?

― Você precisa ter mais confiança nas pessoas.

Neste momento o sorriso no rosto dele some. E percebo que falei alguma coisa errada.

Pigarreio um pouco.

― Eu só estava tentando quebrar o clima.

Ele forçou um sorriso.

― Eu sei. Mas você ainda não me respondeu com sinceridade. Você está bem?

― Ela não me machucou, Aaron.

― Eu sei o que ela fez nas suas costas, Ella. 

― Já nem estou sentindo. O chato mesmo é ficar uma semana de suspensão. 

― A sua tia me pareceu uma pessoa compreensiva.

― Ela é. O problema é a decepção que sei que vou causar. ― Dou um suspiro. ― Eu nunca tive problema em nenhuma escola…

Ele me observa atentamente, aos poucos vou vendo um sorriso se formando em seus lábios.

― Por que você está sorrindo? ― O meu rosto se esquenta.

― Desculpa… é que é estranho eu gostar de uma garota como você.

O meu pensamento só processa a parte em que ele diz: “eu gostar". Será que ele gosta de mim mesmo? 

― Garota como eu?

Levanto uma sobrancelha, olhando para ele.

― Desculpa… deixa eu reformular a frase. Eu não sou o tipo que gosta de garotas tão certinhas como você.

― Deveria me sentir honrada?!

― Não. Eu que me sinto honrado.

Fiquei o encarando sem conseguir formular uma frase, e sei que o meu rosto deve estar como um pimentão. A minha sorte é que o garçom chegou trazendo a nossa comida. Nos ocupamos em comer, o que dou graças a Deus.

Depois que terminamos, Aaron se vira para mim.

― Eu gostaria de te conhecer melhor.

Paro um momento e o encaro.

― Acho que isso não vai dar certo.

― Por quê?!

― Como você mesmo disse, eu não sou o seu tipo. Eu gosto de coisas que provavelmente você não gosta. Não vejo como isso pode dar certo.

― Eu vejo várias formas de isso dar certo.

Sorrio para ele.

― Me fala uma, então?

Ele me encara intensamente.

― Eu gosto de você, sinto uma grande necessidade de estar perto de você, e me desculpa se eu estiver errado, mas você também.

― Sabe o que é estranho, nós dois até um tempo atrás raramente tínhamos conversado direto.

― Eu sei, mas também sei que mesmo em nossas discussões, você sentia alguma coisa diferente. Uma tensão interminável.

― Eu sentia uma grande vontade de te matar. Isso sim.

Ele sorri.

― Pode acreditar, isso era recíproco.

Ele pagou a conta, e já do lado de fora, perto da sua moto, ele se virou para mim. Tão perto.

― Vamos tentar. O que você pode perder com isso?

O meu coração, pensei.

― Ok, Aaron, podemos tentar ir deva…

Antes de terminar a frase, ele segura na minha cintura e me beija. Fico sem reação por um momento, mas aos poucos vou correspondendo. O meu coração se acelera de uma tal maneira quase impossível. Ele aperta a minha cintura. Segurei no seu pescoço. A minha mão percorre a sua nunca e vai em direção aos seus cabelos. 

Quando terminamos, a minha boca está latejando. Ainda próximo dos meus lábios, ele fala.

― O que você estava dizendo? ― Sorri.

― Já me esqueci.

Ele sorri e me beija novamente, depois me leva para casa. Ainda na frente de casa, ele me pergunta.

― Você vai trabalhar com a sua tia hoje?

― Só amanhã, por quê?

― Precisamos terminar de conversar. As sete passarei aqui e poderemos ir para outro lugar. O que você acha?

Eu gosto dele, eu sei disso. Mas se for apenas uma piada, uma brincadeira... Sinceramente, não sei se irei suportar.

― Ok. Podemos conversar.

 Ele dá um beijo no alto da minha cabeça. Em uma despedida.

Entrei em casa.

Vou no modo automático até chegar no banheiro. Tento não pensar em nada que aconteceu essa manhã. Quando me deito na cama, me lembro do beijo, mas a imagem muda, e imagens do que aconteceu na escola se repetem. Suspirei frustrada, tenho que conversar com a minha tia. Mas acho que só vou conseguir fazer isso amanhã de manhã.

Mais tarde recebi uma mensagem de Vitória me dizendo que está rolando uma história do Aaron e da Sofia, que os dois estavam conversando na frente da casa dela.

 E para completar, ele e Sofia tiveram uma discussão daquelas com direito a tapa na cara do Aaron e tudo.

Ficamos trocando mensagens um tempo e contei tudo que aconteceu para ela, mas peço para não contar para ninguém, inclusive o Nicolas.

Suspiro quando leio as mensagens do Nicolas.

Era um pedido de desculpas, perguntando se eu estava bem e mais pedidos de desculpas.

Eu não tenho que perdoá-lo em nada, afinal não foi culpa dele, e sim da irmã dele.

Quando cheguei na sala, a minha irmã estava sentada no sofá. Ela me olha com desgosto e sai pisando duro. Apenas a ignorei como estou fazendo há semanas.

Às seis da tarde, tomei banho e comecei a me arrumar. Peguei uma blusa de moletom preta, uma calça jeans e um tênis. Deixei os meus cabelos soltos.

Sete horas em ponto ouço uma buzina, e quando sai, o vejo parado ao lado de uma moto. Ele está todo de preto, como de costume. O meu coração se acelera. Saio de casa e me aproximo dele. Ele me olha e sorri, sou pega totalmente desprevenida pelo seu sorriso.

Ele me ajuda a me sentar na moto.

― Se segura em mim, ok.

― Ok.

Ele ligou a moto, segurei na sua cintura com um pouco mais de força. Mas ele vai devagar, diferente de antes. Aos poucos, vou me soltando. Continuo o segurando, mas com bem menos força. Passamos pelo centro e vamos em direção da estrada, confesso que o meu coração está acelerado. Eu já vi tantos filmes adolescentes em que você acha que a pessoa gosta de você, mas que na verdade ela te leva para um local apenas para sorrir de como você foi idiota. E nesse momento acho que irá acontecer a mesma coisa comigo. 

Preparei o meu coração. 

Chegamos à parte mais alta da cidade e percebo que é a casa em que tudo começou, sinto as minhas mãos suarem. Ele pára a moto em um local que dá para ver a cidade mais abaixo. Descemos, fico encantada com a paisagem. Ele se aproxima ficando do meu lado. Olhei para todos os lados à procura de mais alguém.

― O que você está procurando? ― ele me perguntou olhando para os mesmos lugares que eu.

― Sinceramente, estou procurando um carro que vai aparecer com várias pessoas dentro, e que todos, inclusive você, começará a rir de mim.

Ele fica na minha frente.

― Você acha que eu faria isso?

― O Aaron, da semana passada com certeza, mas esse que estou olhando agora, eu não sei. ― Olhei diretamente nos seus olhos.

― Me desculpa.

― Pelo que?

― Por ter sido tão ruim para você, ao ponto que você pensasse que era tudo uma brincadeira.

― Então você está me dizendo que é real?

Ele se aproxima do meu rosto.

― Totalmente.

Os seus lábios se aproximam dos meus. O beijo é calmo. Como se ele também precisasse de uma confirmação de que é tudo verdade.

Quando o beijo parou, falei bem baixo:

― Por favor, não brinque comigo.

― Eu nunca faria isso, gosto demais de você para sequer pensar nisso.

― Por que me trouxe aqui?

― Podemos assistir a um filme, o que me diz.

A minha boca se abre em um sorriso.

Aquele dia da festa eu estava com tanta raiva que não tinha percebido o quanto que essa casa é linda. Passamos por uma porta enorme de madeira escura. A sala tem uma iluminação clara. Mas não vejo ninguém.

― E os seus pais?

Ele sorri.

― Pode ficar tranquila, os meus pais foram jantar fora, hoje será só você e eu. Você não irá conhecê-los agora.

Agora! Então ele quer que eu os conheça. Concordo balançando a cabeça.

Subimos uma escada, e passamos por umas três portas até pararmos na última, entramos. O seu quarto é enorme, todo decorado com cores escuras. Segurei uma mão na outra, por pura insegurança. 

― Pode ficar à vontade, só vou ao banheiro.

Balancei a cabeça, concordando com ele. O vejo entrar em uma porta à esquerda. Me aproximei de uma mesa com um notebook, onde tem várias fotos ao lado. Vejo uma dele com a família, ele é a cara do pai. Outra dele na praia. Uma dele na neve. E várias outras onde Aaron praticava vários esportes diferentes.

― O que você quer assistir? ― Ouço a sua voz atrás de mim. Me virei e o vejo me encarando.

― Qualquer coisa.

Ele levanta uma sobrancelha e sorri.

―  Até mesmo um filme de terror?

― Com certeza.

― Hum… 

― O que foi? ― perguntei sorrindo.

― Quando sentir medo vai correr para os meus braços e me abraçar forte?

Eu comecei a sorrir.

― Você está assistindo filmes de comédia romântica demais, eu gosto de filmes de terror.

― Então o meu plano foi por água abaixo?

Ele se aproximou, e levantei o olhar para poder encará-lo.

― Acho que sim.

Ele aproxima a mão do meu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Engulo em seco, sentindo o contato da sua mão com a minha pele.

― Você conversou com a sua tia?

― Ainda não, acho que vou ter a oportunidade amanhã.

― Você está preocupada, não é?

Ele pergunta, fazendo movimentos com os dedos, no meu rosto. Tento me concentrar nas suas palavras, mas a todo momento só me concentro no movimento da sua mão.

― Um pouco ― confesso baixo.

― Ela vai entender. Não foi sua culpa.

A sua outra mão segura com força na minha cintura, me fazendo soltar um suspiro. Sou calada por seus lábios pressionados aos meus, com uma certa urgência. Segurei no seu pescoço para ter um pouco mais de equilíbrio. Ele segura o meu lábio inferior com os dentes e continua o beijo com rapidez e agilidade. Mal consigo respirar. O meu coração está acelerado, as minhas mãos tremem e as minhas pernas viraram gelatina.

Sinto a sua mão me apertando, sei que tudo isso é rápido demais. Oh.. como eu sei, mas é tudo tão novo. Tão bom.

A sua mão é colocada abaixo da minha blusa e sinto o frio da sua pele se misturado com o calor da minha. 

Sou colocada na cama com uma rapidez impressionante.

Os seus lábios saem dos meus e vão descendo em direção ao meu pescoço, fazendo o meu coração se acelerar ainda mais. A qualquer momento penso que vou me desmanchar ali mesmo.

A sua boca volta a beijar a minha, a sua mão continua na minha cintura, mas aos poucos vai subindo em direção aos meus seios.

Isso está indo rápido demais, e me afasto um pouco dos seus lábios. Ele para o que está fazendo e me observa ofegante.

― Aconteceu alguma coisa?

― Está rápido demais.

Ele me encara por um momento.

― Me desculpa.

Sinto o seu hálito fresco próximo a minha boca.

― Vamos escolher o filme ― ele fala e logo depois me dá um último beijo.

Ficamos deitados na cama, assistimos a um filme e mais tarde ele sai do quarto e volta com uma bandeja repleta de coisas gostosas.

Quando ele me traz para casa já são dez horas. Entrei e encontrei a minha tia na sala, ela sorri quando me vê.

― Como foi o passeio?

Naquele momento sei que ela me viu lá fora com Aaron.

― Muito bom. 

Falo sorrindo, ela corresponde.

― Que bom.

Não vou conversar com ela agora, prefiro amanhã de manhã, dou boa noite e subi as escadas.

 Vou para o meu quarto e quando abrir a porta, vejo a minha irmã se preparando para dormir.

― Pensei que não dormiria aqui hoje.

Levanto uma sobrancelha, olhando para ela. 

― O que você está querendo dizer?

Ela sorri com ironia.

― Afinal, você não está ficando com Aaron? Tenho que admitir. Nunca pensei que você, logo você, iria ficar com ele.

― Você não tem nada com isso. Afinal, o que deu em você para conversar comigo? Acho engraçado, já tem quase sete meses que você troca apenas poucas palavras comigo.

Ela me olha dos pés à cabeça.

― Acho estranho o interesse do Aaron em você. Nunca se perguntou o por quê?

Me aproximei ficando próximo da sua cama.

― Se você tem alguma coisa para falar, não fique enrolando. Fale de uma vez.

Ela sorriu, se levantando.

― Talvez ele não quisesse você, nunca passou pela sua cabeça. Talvez, só talvez, ele quisesse a mim.

― Você tem namorado, Bella.

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