capítulo 05
Neste momento observo todos da sala. Vitória está olhando preocupada, o grupinho do Aaron disfarça o sorriso, ele, por algum motivo, fica sério. Por um momento vejo a sua sobrancelha levantada e se eu não o conhecesse, poderia jurar que ele não está entendendo o que aconteceu comigo.
Penso se devo levar isso a diretoria, até poderia sim, mas algo dentro de mim implora para não fazer isso. Observo a Sofia com uma cara de satisfação. Ela não perde por esperar.
― Um acidente no banheiro, professor.
Não sei se o professor engoliu o que eu falei, ele levanta uma sobrancelha e continua olhando para mim.
― Tem certeza?
Dou um pequeno sorriso para ele.
― Tenho sim, professor, mas não dá para ficar o restante do horário. Posso ir embora?
― Claro. Você está de carro?
― Não.
― Não tem como você ir para casa assim.
Ele parou um pouco como se pensasse em uma solução, vou em direção à minha mesa e pego as minhas coisas. As minhas mãos tremem de frio.
― Alguém precisa te levar.
Ele fala alto, mas ninguém se oferece, tenho certeza de que seja por medo. Quando vou abrir a boca para falar que darei um jeito, o professor fala primeiro.
― Você está de carro, Aaron. Pode levá-la em casa?
O maldito sorri.
― Estou sim, professor, mas tenho certeza de que ela não vai querer uma carona minha.
Fico parada olhando para aquele idiota, por um momento penso em mandá-lo ir se foder, mas o meu olhar vai em direção a Sofia, ela olha para ele como se estivesse com receio, ou me atrevo a dizer, medo. Dou um sorriso mais falso que o dele quando digo:
― Adoraria a sua carona.
Coloco uma máscara de tranquilidade, como se eu realmente estivesse gostando de estar com ele. Este, por sinal, me observa, levantando uma sobrancelha para mim. Mas se levanta, coloca uma mão no bolso da frente da calça e para na minha frente, continuo com o sorriso ridículo no rosto.
― Ótimo. ― O professor sorri. ― Ficarei mais tranquilo.
E com isso saímos, nenhum de nós falou nada até que ele parou em frente a um carro vermelho como sangue. Ele entra, vou para a porta de trás e quando vou abrir a porta ouço a sua voz.
― Eu não sou o seu motorista, então trate de se sentar na frente.
A sua voz mais parece um rosnado. Fecho as minhas mãos em punho, com puro ódio, mas abro a porta e me sento na frente. Não falo nada, coloquei o cinto de segurança. Ele liga o carro e começamos a nos mover. Esfrego uma mão na outra, tentando aquecê-la. Mesmo tentando me controlar, elas tremem.
Aaron não fala nada, mas aperta um botão no painel do carro e sinto uma corrente de ar quente inundar o interior do veículo. Respiro profundamente, sentindo-me mais quente. À medida que entramos na avenida principal, não tem quase carro algum.
― Por que você decidiu aceitar a carona?
Ele pergunta sem tirar os olhos da pista. Neste momento, observo o seu braço. Sua mão segura o volante do carro com força, a sua blusa social está dobrada até o antebraço. Várias tatuagens estão à mostra, eu já tinha visto por alto, mas não tão perto. Levanto o olhar e o vejo me encarando para logo depois virar para frente de novo.
Tusso, limpando a minha garganta antes de falar:
― Nada mais justo, você não acha? Afinal, foi a sua namorada que fez isso.
Ele sorri.
― Primeiro, não tenho nada a ver com isso, acha mesmo que se eu fizesse algo contra você seria com um balde de água? ― Ele balança a cabeça indignado. ― Segundo, não que seja da sua conta, mas ela não é minha namorada, sou bonito demais para ficar só com uma mulher. ― Reviro os olhos.
― E terceiro, o que fizeram com você, achei foi pouco.
Fico o encarando, a minha vontade é dar mais um soco na sua cara.
― Isso só prova do que é capaz, se acha que isso não é nada.
Ele sorri.
― Já te avisei, Ella ― ele fala o meu nome pausadamente. ― Saia da escola e tudo será resolvido.
― Afinal, qual é o motivo de você querer que eu saia?
― Não se faça de idiota, você sabe o motivo.
Ele olha para mim.
― O único idiota aqui dentro é você, infantil.
Neste momento, ele acelera o carro com tudo. Penso que vou morrer e o meu coração se acelera. Seguro no painel do carro como se esse gesto pudesse fazer com que ele parasse, os meus olhos se enchem de água quando ouço os pneus freando. Então vejo a fumaça pelo vidro do carro. O cheiro de borracha queimada é insuportável. Não consigo olhar para Aaron, tento fazer com que as minhas mãos parem de tremer, e mesmo tentando me controlar, sinto lágrimas se formarem nos meus olhos. Me viro para ele e a sua expressão é de calma e serenidade, nada demonstrava que ele quase tinha nos matado, então sinto um frio na espinha de puro alerta.
― Você é louco.
A minha voz sai baixa.
― Você não viu nada.
Respiro fundo, e sinto algo quente escorrendo pelo meu rosto. Por mais que eu não queira, estou chorando. Inferno! Estou chorando na frente deste idiota. As minhas mãos tremem tanto.
Aproximo a mão da maçaneta para poder sair, pois não quero ficar no mesmo espaço com esse louco, neste momento ouço um clique e me viro para ele. O desgraçado travou as portas! Essa constatação me deixa mais alerta do que nunca.
― Você enlouqueceu! Me deixe sair agora!
Ele destrava o cinto. Os meus olhos ardem sem parar, segurei no banco de couro do carro, o apertando.
Ele se aproxima ficando a centímetros do meu rosto, mas não vejo raiva ali. Ele está calmo quando fala:
― Não me chame de infantil. ― Ele respira fundo.
― Eu irei te levar para casa sã e salva, afinal, você não fez questão que fosse eu a fazer isso?
Não respondo, estou tentando me controlar, mas o meu sangue começa a ferver de raiva, e eu o encaro da mesma forma que ele estava fazendo.
― Você. É. Louco ― quando digo isso na cara dele, cada palavra sai pausadamente. ― Me deixe sair. Agora!
Ele sorri próximo ao meu rosto.
― Não.
Seguro na sua blusa, tentando fazer com que se afaste de mim. Mas quando o toquei ele não se moveu um milímetro sequer.
― Sai de perto de mim, Aaron.
― Sabe, Ella, você é uma garota bonita. ― Levanto uma sobrancelha olhando para ele. Aaron estala a língua antes de prosseguir. ― Mas é tão chata, sem graça, que isso a torna um ser digamos assim, feio.
Ele sorri e se afasta de mim. Liga o carro novamente.
― E pode ficar tranquila irei te levar para casa, afinal, se você sumisse todos iriam desconfiar de mim. Não é mesmo?
As minhas mãos voltam a tremer e neste momento sei que não é de frio. É engano meu ou ele acabou de me ameaçar.
Fiquei quieta só com vontade que chegue logo em casa, e não demora muito e ele parou em frente a minha casa, mas não destrava a porta. Se vira para mim novamente. Engulo em seco.
― Adorei os nossos momentos, espero do fundo do coração que não pegue um resfriado ― falando isso, ele destrava a porta e saio do carro o mais rápido possível. Antes que eu consiga entrar em casa o ouço gritar.
― De nada pela carona.
Não me virei. Em vez disso fico parada rente a porta, petrificada. Ouço o barulho alto do pneu cantando e só nesse momento respiro aliviada.
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