capítulo 04

Terminamos o lanche e eles me falam um poucomais sobre a escola, confesso que gosto de cada um aqui.

Já no corredor indo para a sala, me virei para Vitória e falei:

― Eu posso simplesmente falar tudo para a diretora e resolver isso.

― Poder você pode, mas acho que deveria saber que a diretora é a mãe do Aaron.

― Sério! Tem como piorar?

Ela sorri.

― Pode falar.

― Bem… praticamente a metade da cidade é do pai do Aaron, afinal, sabe a fábrica?

― Não vai me dizer que é do pai dele.

Ela confirma.

― Droga! Só falta você me dizer que ele é um príncipe de algum país que eu não faço nem ideia que exista.

Vitória sorri mais uma vez, segurei em seu braço e paramos.

― Mentira, né?!

― Príncipe, ele não é, mas a família dele vêm de uma longa linhagem de duques. Então, querendo ou não, ele tem, digamos assim, sangue azul. Sabe, essa escola era um castelo, o castelo da família dele, há muitos anos.

― Sério? Puta que pariu.

― Interessante, não é!?

― Nossa! Muito mesmo ― digo com ironia ―, tinha dezenas de garotos naquela festa e eu fui dar um soco bem no principezinho da cidade.

― Duque, Ella, Duque.

Ela segurou no meu ombro, sorrindo.

Entramos na sala. Por um momento fico feliz, pois gostei bastante de Vitória. De repente tenho a sensação de que alguém está me observando. Me viro para trás e vejo Aaron me encarando, ele sorri para mim, e em momento nenhum para de olhar, até que fico sem graça e me viro novamente para frente.

O restante das aulas passa rapidamente, e no final Vitória pega o meu número e eu o dela. Saímos juntas, então o pai dela a busca e nos despedimos. Fico um momento no portão da escola a procura da minha irmã, mas não a encontro. Então vou embora sozinha. O frio aumenta, logo faço uma nota mental de amanhã vir com o casaco mais quente.

Ouço um barulho alto, me virei e vejo duas motos vindo em minha direção, então dou um passo para o lado. Só neste momento é que vejo que o ocupante da segunda moto está com uma garota, e posso jurar que é Bella. Balanço a cabeça revoltada. Um daqueles dois provavelmente é o Aaron. Passei por várias casas.

O percurso até o centro é rápido, e durante o caminho eu passei em frente a uma livraria. Observo vários lançamentos pela vitrine e decidi voltar aqui depois. Peguei o meu fone de ouvido, escolhi uma música no meu celular e vou cantarolando até chegar em casa.

Entrei e já retirei o meu casaco, o pendurando. Vejo a minha tia na cozinha e vou em direção a ela. Ela sorri para mim.

― Como foi? ― ela pergunta, se aproximando.

― Ótimo, não deu para conhecer toda a escola, mas foi ótimo mesmo.

― Lá é enorme, vai demorar um pouco para você conhecer tudo, quando eu estudava lá tinha um local lindo que eu ia todas as vezes que dava.

Fico curiosa.

― Qual?

― O terraço. tinha uma porta no final do corredor do terceiro andar, ela sempre ficava destrancada, não me pergunte porque. ― Ela sorri. ― Depois eu subia uma escada e logo tinha um terraço. A vista lá era linda. E se eu não me engano, tinha uma estufa com vários tipos de rosas, mas já faz tanto tempo que não sei se ainda tem.

― Parece lindo mesmo. 

Fico tentada a ir até lá.

― A Bella está lá em cima?

Minha tia vai em direção ao fogão e vou atrás dela. Ela mexe em alguma coisa na panela o que faz com que eu sinta um cheiro maravilhoso.

― Ela me mandou uma mensagem falando que vai almoçar na casa de uma colega, pensei que ela teria te avisado.

― Deve ter se esquecido. Bem… vou trocar de roupa e já desço para te ajudar.

Ela sorri, subo as escadas e vou direto para o quarto. Troco de roupa e visto um vestido de frio bem quentinho de lã preta, um par de meias e desço. Comemos e conversamos sobre o tempo dela na escola. As duas da tarde, ela volta para o café. Fico na sala fazendo o dever de casa. Ouço um barulho de carro. Me levanto e abro a porta. Vejo a Bella saindo e se despedindo dos seus colegas, no banco da frente vejo aquele rapaz de cabelos pretos dirigindo, do seu lado está Aaron, ele me observa por um momento, depois fala algo para o seu amigo, este me observa e começa a sorrir. Mesmo não querendo, o meu rosto esquenta. Bella entra, finge que não me vê e sobe as escadas. Bato a porta com força e vou atrás dela. A encontrei procurando algo para vestir.

Me sento na cama e fico encarando.

― Como foi o seu primeiro dia de aula? ― Tento puxar assunto. Ela pega uma calça de flanela xadrez e uma blusa branca de algodão, começa a tirar a roupa sem me responder.

Respiro fundo, frustrada.

― Tem como você me responder?

Ela se vira para mim.

― Afinal de contas, o que você quer saber? ― Ela não me deixa responder. ― Deixe-me ver, talvez o fato de eu ter conversado com Aaron para deixar para lá o que aconteceu na casa dele, mas afinal, isso não é da sua conta, não é mesmo. Ou então você queira saber da parte em que você desafiou a Sofia. Ou melhor ainda, a parte que você tem tanto orgulho que não podia simplesmente pedir desculpa para ele.

― Você queria que eu pedisse desculpa para ele? ― Não consigo tirar o tom de revolta na voz.

― Você bateu nele, é o mínimo, você não acha?

Ela veste a calça e depois a blusa.

― Eu não vou pedir desculpas para ele, afinal, ele estava errado, me admira você, sendo minha irmã, ficar do lado de uma pessoa que você mal conhece.

Ele me encara com ódio.

― Vou deixar as coisas bem claras entre nós. Na escola não precisa me procurar, finja que não me conhece que eu farei a mesma coisa, com esse egoísmo seu, cada dia que passa, se parece mais com o papai.

As palavras dela são como um tapa na cara. Respiro fundo.

― Você realmente acha que a amizade deles é mais valiosa do que a nossa? ― A minha voz falha no final, e por mais que eu tente me controlar, sinto lágrimas queimando os meus olhos.

― Sim. Eu acho. 

Ela sai do quarto e fico na cama deitada, e mesmo não querendo, chorei.


Naquele dia eu não vou para o café, pois por algum milagre a Bella vai. No dia seguinte, me arrumo e vou para a aula, dessa vez não preciso da carona da minha tia, e como sempre, a minha irmã já tem com quem ir. O rapaz de cabelos pretos a esperava em seu carro, dessa vez ele estava sozinho. Quando ela entra no carro, ele me olha bastante antes de falar:

― Que uma carona? Tem bastante espaço.

Abro a boca para responder, mas Bella é mais rápida.

― Ela não quer, vamos, Gabriel.

Gabriel olhou para mim, e apenas deu um tchau antes de ir embora.

Sinceramente, não sei o motivo dela estar agindo desta forma. Cheguei na escola faltando dez minutos, e fui direto para a sala, onde encontro Vitória sentando, me aproximo.

― Oi. ― Me sento na cadeira.

Ela se vira.

― Oi, como você está?

― Estou bem e você?

― Tranquilo! Ficou sabendo que neste final de semana iremos fazer uma viagem até a praia?

― Não fiquei.

― Está no quadro de avisos. Será uma excursão da professora de biologia.

― Que dia vai ser?

― No sábado, o ônibus sairá daqui às oito. Você vai, não é?

― Acho que sim.

― Que bom.

Parei de prestar atenção no que ela estava falando, pois o Aaron chegou com o seu grupo. Mais uma vez se sentou na cadeira que fica atrás de mim. Dou um suspiro, já imaginando o porquê.

― Então vai continuar aqui, não é mesmo.

Penso em não responder, mas hoje não estou com nem um pouco de paciência. Me virei para ele o encarando, ele continua a me olhar não demonstrando nenhum sinal de surpresa.

― Vou deixar as coisas bem claras para você, estou pouco me importando com o que você quer, e muito menos de quem você é filho. Então faça o seu melhor para me tirar daqui.

Ele, aos poucos, vai sorrindo para mim. Passa a língua bem devagar no lábio superior, neste momento vejo um piercing na sua língua. Tento ignorar.

― Hummm… melhor assim, afinal não teria graça alguma se você simplesmente virasse e fosse embora. Não é mesmo?

Levanto uma sobrancelha, olhando para ele.

― Qual é o seu problema, hein...? Por que simplesmente não me deixa em paz?

― Mas eu posso te deixar em paz.

A minha cara deve ter respondido, porque ele continua.

― Basta me pedir desculpas.

Suspiro alto.

― Não, muito obrigada.

― Então apenas se prepare.

― Agora voltamos para o jardim de infância, é? Cresça, tá bom, você por acaso é uma criança? ― falei mais alto do que devia.

O seu rosto fica impassível. Mas vejo uma veia ao lado da sua cabeça pulsando cada vez mais forte.

Ouço um barulho de surpresa, neste momento observo a sala que agora já está cheia, e simplesmente todos nós encaram, uns com a boca aberta, e outros como a Sofia, com a expressão de raiva.

― Eu não vou pedir transferência, pode esquecer.

Dessa vez ele não respondeu, apenas se levantou e vai para o seu lugar, me sentei direito, com meu coração martelando no peito.

― Eu te falei para não responder, ignorar. O que você fez, Ella?

Vitória fala espantada.

― Eu nunca fui de ficar só ouvindo, Vi, ele pediu. 

Ela suspirou.

― Eu sei que é muito difícil não responder a provocações, eu sei disso, mas você deveria ter tentado.

― Mas eu tentei.

― Ok, vamos rezar para ele não levar para o lado pessoal.

― Sinceramente, estou pouco me importando, se ele quer guerra, irei mostrar que também sei jogar.

Ela balança a cabeça, e se senta direito, logo a professora de matemática entra.

Durante todas às aulas, sinto alguém me encarando e sei que se trata dele, mas não me viro para comprovar.

Durante o intervalo, me sento com os outros. A notícia da nossa pequena discussão já está na boca de todos.

Ouço o meu nome sendo falado baixo.

― Ignora, você é apenas notícia nova, daqui a pouco eles esquecem. ― Me viro e vejo Nicolas sorrindo para mim, sorrio de volta.

O intervalo acaba e a Bella sai com o seu grupinho, se ela ficou sabendo de algo não demonstrou nada. Os meus colegas vão para a sala, mas vou correndo até o banheiro. 

Quando estou saindo do banheiro, levei um susto. Sou recebida com um balde de água suja na cara. 

Fiquei encarando a Sofia, sorrindo para mim. Não consigo me mover de tanto frio.

― Sabe, garota, deveria ter me ouvido e ter simplesmente ido embora, mas como não foi, espero que goste das surpresas que estou preparando para você.

― Você ficou maluca?

Dou um passo em sua direção, neste momento vejo mais quatro garotas paradas atrás dela.

― Teve que vir com mais gente! Porque? Achou que não daria conta. ― Sorrio para ela.

― Você gosta de provocar, não é mesmo?

― Você não faz ideia. ― A minha voz sai alta.

Ela me dá as costas e sai. Respirei fundo, dando um passo em direção ao espelho. O meu cabelo está uma bagunça, a minha roupa está ensopada e a única coisa que está um pouco seca é a saia. Tento arrumar o que eu posso, mas não fica muito bom.

Vou para a sala, bati na porta e ouço uma voz falando para entrar. Entrei e todos me encaram com a boca aberta.

O professor se aproxima e fica na minha frente.

― O que aconteceu com você?

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