*3*
*CAPÍTULO COM GATILHO*
*Narrador
Lua observa Samuel por alguns segundos e suspira.
- E aí? O que vamos fazer? - Dinho pergunta e ela cruza os braços.
- Enfiar café preto nele e colocar ele embaixo do chuveiro e bem gelado. - ela resmunga e Dinho assente.
- Na sua casa? - ele pergunta e ela o encara.
- Por que na minha casa?
- É que eu estou sem a chave da minha. - ele sorri sem graça e Lua revira os olhos.
- Vamos logo, vai. - ela resmunga e segue andando em direção a sua rua, não era muito longe de onde estavam e não era tão longe da casa dos Reolis.
Após alguns minutos andando eles param em frente a uma casa, Dinho observa com atenção e até Samuel que brincava com a barra da camiseta, levantou o rosto para olhar a casa.
- Desde quando você ficou rica? - Dinho pergunta enquanto a garota abre o portão.
- Entra logo antes que eu deixe vocês dois jogados aí na calçada. - ela fala sem paciência e Dinho entra com Samuel.
A garota tranca o portão e passa pelos dois, entrando na casa e seguindo direto para a cozinha, não demora muito para ela ouvir Dinho resmungar algo e ouvir os passos dele se aproximando.
- Você é muito brava, sabia? - ele pergunta e ela o ignora e continua fazendo o café. - Acho que já passamos da idade de ficar brigando atoa, não acha?
- O que quer, Dinho? - ela pergunta e ele da de ombros.
- Uma trégua? Agora somos adultos.
- Vai parar de me perturbar se eu aceitar? - Lua pergunta e ele assente. - 'Tá, uma trégua.
- Não era melhor dar banho nele primeiro? - Dinho pergunta e ela assente.
- Tem um banheiro no final do corredor.
- É sua casa, não vou sair andando por aí. - ele resmunga e ela revira os olhos.
A garota termina de fazer o café e passa por Dinho, ela vai em direção a sala e ele a segue. Lua segura Samuel pela mão e o puxa para se levantar, o garoto apenas obedece e se deixa ser puxado pela menina até o banheiro.
Ao entrarem no banheiro, ela o empurra com delicadeza dentro do box e abre o chuveiro no gelado.
- AI, PORRA. - Samuel grita ao sentir a água gelada ir de encontro com seu corpo.
- Viu? Rápido e fácil. - ela fala e Dinho nega. - Fica com ele aí que eu vou buscar algumas roupas do meu pai.
- Eu tenho escolha? - ele resmunga e ela o ignora e sai do banheiro.
Lua segue até as escadas e sobe a mesma, ao parar em frente ao quarto do seu pai, ela sente um arrepio percorrer a sua espinha. A garota ignora e entra no quarto, seguindo em direção ao guarda-roupa e ao abrir o mesmo, sente um frio no estômago.
O vestido longo e florido estava ali, pendurado entre os ternos escuros e destacando o interior do guarda-roupa.
Lua desliza os dedos pelo tecido macio e sente os olhos marejarem, ela fica alguns segundo encarando a peça de roupa e quando percebe que está deixando os sentimentos virem a tona, ela fecha o guarda-roupa com força.
A garota abre a gaveta e pega um shorts jeans e uma camiseta qualquer, desce as escadas e em passos pesados segue até o banheiro e abre a porta do mesmo, vendo Dinho escorado na parede do lado de fora do box e Samuel sentado no chão com a água caindo sobre ele.
- 'Tá aqui. - ela joga as roupas na direção do Dinho. - Tira ele logo daí.
- O que aconteceu? - o rapaz pergunta preocupado ao ver o rosto vermelho da garota.
- Só... Vai logo, Dinho. - ela fala e sai do banheiro fechando a porta do mesmo e seguindo até a cozinha.
Ela respira fundo e passa as mãos pelo rosto, afim de afastar os sentimentos que lutavam para sair em forma de lágrimas. A garota não sabe quanto tempo se passou e quanto tempo ficou perdida em seus próprios pensamentos até Dinho entrar na cozinha.
- Ele está deitado no sofá. - ele fala entrando na cozinha. - Está voltando ao normal.
- Assim que ele ficar bom você leva ele pra casa dele. - ela pede e ele assente.
- Vai voltar com a gente? - ele pergunta e ela força uma risada.
- Ainda não percebeu que eu estou fugindo deles, Dinho?
- Por que voltou, Lua? - ele pergunta se escorando no armário enquanto observava a garota coloca o café em uma xícara.
- Eu me faço a mesma pergunta desde que cheguei em Guarulhos. - ela responde e ele suspira.
- O que aconteceu entre a gente, hein? - ele cruza os braços. - Nós seis éramos amigos, você e o Sam eram inseparáveis.
- A vida muda, Dinho! - ela segue até a entrada da cozinha e se vira para o rapaz. - Ainda não aprendeu?
A garota não espera ele responder e sai da cozinha, indo em direção a sala e vendo Samuel sentado no sofá e com o rosto entre as mãos.
- Está passando mal? - Dinho pergunta e Samuel nega.
- Só estou zonzo. - ele resmunga.
- Toma. - Lua estende a xícara para o mesmo, Samuel suspira e pega a xícara.
A garota volta para a cozinha e abre a geladeira pegando frios, pega o pão de forma e monta uns sanduíches de forma rápida enquanto escutava Dinho e Samuel conversando na sala.
Ela pega o prato e segue até a sala novamente, antes de se aproximar consegue ouvir Samuel.
- Se foi ela que fez é capaz de ter veneno no café. - ele resmunga e ela revira os olhos e segue até ele.
- Come. - ela estende o prato pra ele e ele levanta o rosto para a olhar. - Ou você pega o sanduíche ou eu faço você engolir de uma vez só.
- Como você é solidária, Luazinha. - Dinho a provoca e ela o encara.
Samuel pega um dos sanduíches e ela entrega o outro para Dinho que a encara surpreso, mas resolve pegar.
- Você colocou margarina. - Samuel fala surpreso. - Como lembrou?
- Você é o único que eu conheço que come pão com margarina e frios, Samuel. - ela se senta no outro sofá. - Tem como esquecer disso? Estranho!
O garoto nega e dá um leve sorriso, voltando a comer o sanduíche.
- Então... O que estava fazendo lá na praça e sozinha? - Dinho pergunta e Lua suspira e cruza as pernas.
- Fugindo dele e do irmão dele, meu pai os colocou como duas babás. - ela responde e Samuel assente.
- Aí na primeira hora ela foge, olha como ela é boazinha. - ele fala de forma irônica e Lua revira os olhos.
- Eu não preciso de babá, eu tenho vinte e um anos e sei me virar sozinha.
- Você saber se virar é uma coisa, o medo do seu pai é de te deixar sozinha. - ele retruca e ela engole em seco.
- Por que? - Dinho pergunta confuso.
- Não é da sua conta, Alecsander. - ela responde irritada, antes que Samuel abra a boca para falar alguma coisa. Por outro lado, o garoto apenas a encara com um olhar triste. - Não me olha assim, você não tem noção do quanto eu odeio quando as pessoas me olham assim.
- Te olhar como? - Samuel pergunta.
- Com pena, eu não sou uma coitada! - ela exclama irritada e ele assente e coloca a xícara na mesinha do centro. - Eu prefiro que falem as coisas na minha cara do que ter esse maldito olhar de pena sobre mim.
- Prefere mesmo? - Samuel pergunta e ela assente, Dinho engole o último pedaço do sanduíche a seco, sentindo um nó se formar em sua garganta graças ao clima que estava se formando entre os dois. - Então vou te mandar a real.
- Lá vem. - ela revira os olhos.
- Você é egoísta, Lua! - ele fala e ela o encara confusa. - Você não pena nas pessoas ao seu redor e só pensa em si mesma.
- E quem é você para dizer que eu sou egoísta? - ela força uma risada. - Você não me conhece, Samuel.
- Não, eu conheço a Lua que foi embora, conheço a Lua que um dia foi a minha melhor amiga. - ele aponta pra ela. - Essa aí? Não conheço mesmo não, mas ela é a pessoa mais egoísta que eu já conheci.
- Egoísta? Quando eu fui egoísta?
- Quando você pensou que a sua vida fosse só sua. - as palavras de Samuel acertaram em cheio o coração de Lua e a garota se surpreendeu com sua fala.
- Você não tem o direito de falar sobre isso. - ela engole em seco e desvia o olhar para Dinho que tinha a expressão confusa.
- Tenho sim a partir do momento que isso me afeta.
- Te afeta? Me poupe, Samuel, como caralhos isso iria te afetar? - ela pergunta irritada.
- A minha mãe, porra! - ele a encara irritado. - Eu vi a minha mãe chorar durante uma madrugada inteira e me vi desesperado porque não sabia o que fazer ou o que tinha acontecido e aí quando você chegou e ela nos contou... - ele respira fundo. - Você só pensou em você quando tentou... - ela o interrompe.
- Cala a boca!
- Você não pensou no seu pai ou em como ele ficaria, não pensou na minha mãe, a sua madrinha e aquela a quem você fazia declarações de amor quando criança. - ele a encara e ela nega. - Só pensou em você.
- Você não sabe o que está falando. - ela se levanta e Dinho fica nervoso ao ver o rosto da garota ficar vermelho novamente, denunciando a vontade de chorar.
- O que você passou não te dá o direito de ser uma filha da puta com as pessoas ao seu redor.
- Vai embora, Samuel. - ela fala com a voz embargada e Dinho coça a nuca nervoso.
- Vamos, Sam! - ele chama o amigo que se levanta ainda meio zonzo.
- Você não foi a única que perdeu alguém naquela noite, sabia? Não era a única que a amava.
- VAI EMBORA, PORRA. - Lua grita e Samuel e Dinho a encaram surpresos, a garota estava se desmanchando em lágrimas e isso era a última coisa que eles esperavam.
- Você sabe que eu tenho razão, mas ainda não desistimos de você, Lua! - ele fala e segue até a porta.
A garota pega a chave e joga na direção deles, a chave cai nos pés de Dinho que se abaixa para pegar e ao levantar sente uma leve pontada no peito ao ver Lua sentada no sofá com o rosto entre as mãos e perdida em lágrimas e soluços.
- Vamos, Samuel. - ele arrasta o amigo pra fora e ambos saem da casa de Lua.
-----------‐----------------------------------------------------
Capítulo escrito: 31.05.2024
Capítulo postado: 31.05.2024
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top