43 Remédio
Quando entrei no prédio onde morava, tentei tranquilizar meus batimentos cardíacos parando um instante antes de abrir a porta, ainda no hall de entrada chamei o elevador e fiquei esperando impaciente. E quando finalmente o elevador abriu sua porta entrei e respirei fundo contando até 7, segurei por mais 7 segundos a respiração e depois soltei contando até 7, fiz isso por 3 vezes para ver se me acalmava mas sem sucesso ; estranhei a demora do elevador e olhando no painel vi que não havia apertado o botão do andar onde desejava ir.
-Eu ainda acabo ficando doida. - Falei apertando o botão.
Abri a porta de casa fingindo um sorriso.
- Oi amor , já comeu alguma coisa? - Perguntei ao meu marido que assistindo o noticiário me respondeu:
- Comi uma lasanha dessas de micro-ondas, até que estava boa.
Sentei do lado do meu marido no sofá e senti sua mão que começou a passear no meu joelho e foi subindo até quase minha virilha. Levantei-me rápido dizendo :
- Vou tomar um remédio de dor de cabeça , esse material do curso tem cheiro o meio forte.
Percebi meu marido me olhando sério e por alguns segundos até que voltou a olhar noticiário.
Tomei o remédio e fui tomar um banho rápido , quando saí do chuveiro estava meu esposo deitado na cama com o Notebook em cima do abdómen enquanto olhava notícias aleatórias em algum site .
- Emma , eu fiz alguma coisa para que você ficasse indiferente comigo dessa forma?
- Imagina Jean , como eu disse são só as coisas que usamos no curso de restauração.
- Então saia do curso, não tem porque continuar nele. Você já tem mais da metade do livro escrito já fotografou e desenhou cada centímetro daquela catedral não tem motivo para continuar aí no curso, a não ser que tenha outro motivo para continuar indo na catedral. - Jean falou ainda mexendo no computador.
- Imagina, que outro motivo teria para ir na catedral eu nem sou católica.
- Talvez o professor. - meu marido virou o computador para mim com uma imagem de Eugène. - Eugène Doc , ele é bem famoso no nicho dele , sem falar que é bem bonito e aqui tenho uma lista bem grande de pessoas famosas com quem ele já se relacionou.
- Jean eu não admito que você desconfie de mim, nunca te dê motivo para tal, sem falar que Eugène está saindo com Karen .
- Desculpa... É que você está tendo um histórico de dores de cabeça nunca vista antes. Não me procura mais e quando me procura parece estar com pressa. - meu marido falou colocando o Notebook do lado e se levantando para me abraçar.
Ainda aninhada em seu peito falei com os olhos fechados:
- Desculpa meu amor , acho que pode nem ser os produtos do curso , de repente a dor de cabeça é apenas uma sinusite ou uma enxaqueca, amanhã passo no médico prometo.
Meu marido desligou o computador e foi dormir e eu deitando ao seu lado fingi fazer o mesmo pois a minha cabeça estava muito ocupada pensando no que estava acontecendo comigo, e a multidão de pensamentos dentro dela não me deixava dormir.
Assim que tive certeza de quê Jean estava dormindo tirei sua coxa de cima do meu quadril e fui até à cozinha tomar um chá de melissa para ver se eu conseguia me acalmar.
- O que está acontecendo comigo? Porque a ideia de não ir mais na catedral me incomoda tanto? Porque o fato de não poder ir no porão enquanto não tiver o motivo me incomoda tanto?
Peguei meu chá e fui até meu escritório onde havia deixado meu notebook e comecei a ler último capítulo que eu havia escrito.
O Gárgula a beijou e ela o correspondeu . O beijo de Pierre Durand parecia familiar era como se tivesse passado a vida inteira esperando por ele.
Seria loucura , eu não posso estar gostando de um gárgula, se bem que também é uma loucura essa coisa de saber que magia é real, que alguém pode transformar uma pessoa em um gárgula e que uma escultura pode voltar à vida. Tudo isso é loucura. O que mais será que achamos que não existe e é real ? Vampiros? Lobisomens? Extraterrestres?
O que há de errado comigo? Meu marido sempre foi o herói de todos os meus livros ele é meu porto seguro , minha paz.
-Talvez você esteja cansada de ter paz . - Vozes da minha cabeça falaram .
- Calem-se .
Fui até a varanda e fiquei olhando para a lua por algum tempo depois suspirei e falei:
-Talvez seria realmente mais sensato eu terminar esse livro logo e voltar a ter uma vida normal.
- Como terá uma vida normal depois de saber o que sabe?
-Ja mandei ficar quieta. - Falei para meu pensamento.
Os dias foram passando sem eu conseguir escrever uma linha do meu livro. Fui ao curso e por vezes fui até à porta do porão mas não entrei. Aquilo era terrível era como um vício. Cheguei a passar 2 dias em claro com um turbilhão de pensamentos que não me deixavam fechar os olhos. A lua cheia acabou e eu fiquei mais calma, porém sabia que viriam outras e eu precisava arrumar um pretexto para ir até o porão.

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