Capítulo 9 - parte 3 (não revisado)
– Cobra, mataste o marido da Júlia só para eu vir aqui?
– Mais ou menos. Ele estava interferindo nos meus negócios. Ele e aquele engenheiro idiota que queria denunciar que a minha boate tinha comprado o certificado de segurança.
– Tua boate, então?
– Claro. Preciso de lavar o dinheiro, não achas?
– Às custas de mais de trezentas vidas?
– Aquilo foi uma fatalidade, mas eu já mandei abafarem o caso. Bem, de certa forma, isso te trouxe a mim e, agora que tenho todo o poder necessário, vou começar a minha vingança. Primeiro, vou te ferir um pouquinho e, depois, pretendo matar a tua filha na frente dos teus olhos.
Omar sentia que era chegada a hora. Nas suas costas, na região dos rins, estavam duas pistolas destravadas e prontas para serem usadas, ambas sem silenciadores. Eram as ponto cinquenta, duas armas tão potentes que furariam um carro blindado. Começou a ver tudo em câmera lenta, enquanto Cobra tirava a pistola da cabeça da filha e moveu em direção a si.
Ninguém conseguiu acompanhar a velocidade dos movimentos do Omar, que puxou ambas as armas ao mesmo tempo.
O disparo duplo e efetuado tão rapidamente soou como um tremendo e único estrondo, tão forte que todos se assustaram. Olharam para Cobra e viram que ele estava sem a arma e com a mão esfacelada, sangrando. Do outro lado, o cotovelo esquerdo foi reduzido a um toco e o seu braço soltou o pescoço da filha, pendendo inerte por apenas um pedaço de carne.
– PRO CHÃO, ADRIANA, PRO CHÃO. AOS PATOS, HOMENS, MAS DEIXEM COBRA COMIGO – gritou Omar, que deu mais um disparo acertando o joelho do bandido. Cobra caiu, atordoado e sem entender nada. – Snipers, fogo livre.
Uma chuva de balas começou a abater os criminosos e Michaela arriscou a própria vida correndo para a filha do Omar, cobrindo-a com o corpo e atirando nos homens, que saiam da casa aos montes. Enquanto atirava, procurava arrastar a menina para o ponto de convergência, onde ficaria bem mais segura. Michaela acabou por escondê-la em uma moita, perto do córrego fedorento, voltando para dar apoio à equipe.
– Não saias daqui em hipótese alguma – disse, antes de sair.
– Obrigada...
Os snipers começam a atirar e provaram que foram uma excelente escolha porque abateram alguns atiradores que se escondiam em posições estratégicas.
Com o rosto deformado pela dor, Cobra olhava para Mancha Negra, sem entender direito onde foi que falhou. A sombra parecia que se desfez no ar e, onde Mancha estava, não havia mais nada, para ele surgir ao lado do criminoso. No caminho, pegou de volta as suas pistolas.
– Sabes, Cobra. Eu não gosto de ti, nem um pouco. Sequestrar uma menina inocente para coibir o seu pai é algo inaceitável. Devias ter tido muito mais atenção ao me estudar, tchê. – Sem olhar, ergueu ambas as armas e deu dois disparos para o lado, eliminando os homens que pretendiam socorrer o chefe. – Ninguém é mais rápido, preciso e mortal do que eu, cara, ninguém. E agora? Mataste Angie e o meu filho? Pois bem, aqui vai a conta.
Omar ergueu a arma e atirou no seu fígado, enquanto sorria cruelmente.
– Dói pra caralho, né?
Adriana, do esconderijo onde a colocaram, conseguia ver tudo o que o pai fazia e dizia, por estar relativamente perto. Assustada, nem o reconhecia como a pessoa doce e adorável que amava tanto, pois agora via um soldado implacável e sofrendo de uma insanidade completa por causa do que lhe fizeram. Até o seu olhar era selvagem e assustador.
– Ainda há um Cobra, um que jamais acharás. E quando ele agir tu nem saberás o que te aconteceu – gemeu o criminoso. – Perderás a família e a vida!
– Descobrirei quem ele é e matá-lo-ei tão facilmente quanto foi contigo. – Efetuou mais um disparo no ombro e Cobra gritou de dor. – Mas, agora, vais morrer sob tortura, seu canalha, pelas centenas de vidas ceifadas por ti direta e indiretamente. Como será um tiro no saco, será que dói muito?
Omar não esperou resposta e disparou. O grito foi atroz e Mancha Negra riu.
– Vais perder a tua vida aqui e agora por cada um dos pobres jovens que morreram sufocados, assassinados pela tua ganância sem limites – disse, cruel. – Aqui, eu sou o juiz, o promotor e o carrasco. Tu não poderás comprar ninguém e se há um criador para onde vais, ele que te perdoe, porque aqui só há ódio.
Omar abaixou-se e disparou sobre um dos criminosos, matando-o. Virou-se para Cobra e continuou:
– Ninguém pode com o Mancha Negra, Cobra. Devias ter ficado na tua e bem quietinho – atirou novamente, desta vez no baço do criminoso. – Que dor fodida, né? Bah, tchê, não faço a menor ideia quem foi o imbecil que disse que tu eras a lenda dos esquadrões negros, mas certamente esse babaca estava bem enganado. És tão fácil de abater quanto um pato qualquer, igualzinho ao inútil do teu irmão.
Cobra não conseguia falar mais com as dores que sentia. Mancha atirou para o lado, matando mais quatro bandidos, e deu novo disparo esfacelando o outro joelho do odiado inimigo.
– Então, como te sentes agora, assassino?
– Filho da... – Recebeu mais um disparo, agora na bacia.
– Resposta errada, canalha. Eu podia não amar Angie, mas era o que mais se aproximava disso após a separação da Júlia. Tá doendo? É foda mesmo, né? – mais um disparo no pulmão. – Adeus, inútil. Morrerás em poucos minutos, graças às hemorragias, mas com muito sofrimento. Agora vou matar teus amiguinhos que sobraram. – Disparou no outro ombro e avançou para atacar o resto.
A passagem por onde Omar e Michaela vieram foi limpa, mas a outra entrada da favela estava repleta de criminosos e eles, ao ouvirem os tiros, correram para acudir os companheiros.
Michaela fazia tocaia no ponto de convergência quando Mancha Negra apareceu ao seu lado.
– Onde está minha filha, Diabinha?
– Naquelas moitas, Mancha. Lá ela estará segura de balas perdidas.
– Mancha para Lobo Mau.
– "Lobo Mau."
– Como vão as coisas. Podes dar suporte?
– "Sim. Gavião pode dar conta deles porque sobraram muito poucos. Dez segundos e estarei aí."
O tiroteio intensificou-se e os três mataram vários criminosos. Eles, porém, estavam de barricada e tornava-se cada vez mais difícil pegá-los.
– "Mancha Negra. Limpei tudo por aqui e já revistei a casa. Estou a caminho para dar apoio."
– Excelente, Gavião, tenta usar algum terraço para os pegares por cima que tá ficando muito difícil atirar daqui. Lobo Mau, afasta-te e faz o mesmo, rápido. Snipers?
– "Sim, Mancha?"
– Deem apoio. Quantos são, conseguem ver?
– "Parcialmente. Parece uma porrada deles, talvez uns cinquenta..."
Os tiros aumentam, mas vinham de trás.
– "Mancha" – disse um sniper. – "Há um batalhão inteiro da civil subindo o morro e atirando nos criminosos. São uns trezentos homens. O que devemos fazer?"
– Aguardem. Não sabemos de que lado estão e não quero matar inocentes. Se atiram nos criminosos, não devem ser os corruptos.
Meia hora depois, não havia mais disparos. De tocaia, os federais aguardavam a aparição dos colegas, que não tardou.
– Alto – gritou Omar. – Há várias metralhadoras apontadas para vocês. Identifiquem-se.
– Somos policiais civis. Viemos dar apoio e já sabemos que mataram os corruptos da corporação, delegado. Nada tema. Eu sou o subchefe Norberto Mendonça.
– É melhor mesmo – gritou um homem, atrás dos civis. – Vocês estão cercados dos dois lados. Soltem as armas.
– Quem são vocês?
– Todo o efetivo da federal de Santo Agostinho. Ninguém mata um de nós e fica impune, especialmente quando é o irmão da chefe.
– Acalmem-se, por favor. Matamos os criminosos barricados. Se fôssemos da gangue do meu chefe, não teríamos feito isso. – Largaremos as armas mas não atirem.
– Tem razão, Norberto – afirmou Omar. – Homens, não atirem e apresentem-se.
Do nada, surgiram os integrantes do EN que, nas costas, possuíam armas pesadas. Os civis, ao verem a pequena equipe aproximaram-se, pasmos. O subchefe estendeu a mão para Michaela.
– Delegada – disse. – Não nos confundam com nosso chefe.
– Obrigada pela ajuda, delegado. – A mulher sorriu. – Indiretamente, o seu chefe foi um dos culpados da morte do meu irmãozinho caçula.
Omar afastou-se e chamou a filha, que correu e abraçou o pai.
– Estás bem, filha? – perguntou Omar, agarrado a ela, afagando-a e beijando-a, muito aliviado.– Fizeram algo contigo?
– Estou bem, pai. Não me trataram mal e o tal do Cobra não deixou eles fazerem nada, embora um tentasse. Nisso, ele foi bem decente.
– Menos mal, meu amor.
– O senhor é um demônio, pai – disse a filha.– Jamais vi alguém assim, nem no cinema! Como conseguiu?
– O amor de um pai, faz milagres, minha filha. – Omar levantou a voz, para se fazer claro. – Mancha Negra chamando Vespa. Informar à Gata Borralheira que estão todos eliminados e a nossa filha a salvo. Não há mais patos no ar, em terra nem no ninho.
– "Oi, Mancha. Gata Borralheira vai entrar no circuito."
– "Amor. Ela está bem?"
– Sim, anjo, inteirinha. Em breve estaremos aí.
– "Mancha. Depois disto vamos comemorar no boteco, como sempre. Amanhã bem cedinho precisamos de sumir."
– Combinado, Vespa. Snipers, venham nos buscar.
Michaela destacou parte da equipe para revistar a casa e recolher o máximo possível de provas. Enquanto a civil ficava de guarda e a federal fazia a revista, o esquadrão negro desceu a rua de terra batida. Gavião aproximou-se da delegada e disse:
– Boa atuação, Diabinha, que tal trocar da chefatura de Santo Agostinho para o esquadrão negro de Porto Alegre?
– Aguentarias a Viúva Negra, Gavião?
– Com o maior prazer possível e imaginável, anjo. – Mateus passou o braço na cintura da delegada e ela não o afastou.
– Pai. – Adriana estava muito preocupada. – Zé foi ferido quando me raptaram e...
– Eu encontrei-o e levei-o para casa, filhinha. Zé está bem e a salvo. – Omar estendeu o telefone. – Liga para ele.
– Está sem sinal.
– Não, filha, sempre ponho no modo avião durante uma operação. Já imaginaste se ele tocasse na hora errada? Além disso, deixo a gravar toda a ação, mas precisava ficar no mudo. – Omar reativou o telefone e entregou para a filha, que ligou para Zé, tremendo um pouco.
– Zé... não, estamos na favela. O meu pai acabou de me salvar com a equipe dele, amor... Eu ligo depois... também te amo. Beijo, meu coração.
Desceram a ladeira e foram para a casa do Omar. Aflita, Júlia apertou a filha contra si, chorando e rindo ao mesmo tempo, enquanto os demais trocavam de roupa.
– Boteco, gente? – perguntou Sócrates. – Precisamos de lavar a alma de tantas mortes.
Adriana apareceu de banho tomado a abraçou o tio.
– Tio Mateus – beijou-o, alegre.– Obrigada por me salvarem.
– Tudo pela minha sobrinha querida, amor. Que bom que agora sabes quem é o teu verdadeiro pai, porque ele te ama demais.
― ☼ ―
Sentados no bar, inclusive Adriana que aguardava o namorado, bebiam em paz, tentando esquecer a chacina que promoveram.
Zé apareceu, ainda com um curativo na cabeça, e a namorada levantou-se correndo para abraçá-lo, louca de alegria.
Enquanto os pais olhavam o casal apaixonado, Júlia disse:
– Amor, meteste a mão nos peitos da delegada três vezes! Estás de sacanagem comigo?
– Bah. Não acredito que estás brava com isso. Pensa no lado positivo: podia ter sido na bo...
– Olha as palavras, amor. – Júlia riu e beija-o. – Eu te amo e não estou zangada ok? Afinal ouvi tudo. Era apenas para provocar.
– Também te amo, Júlia. E vejo que finalmente estamos realmente prontos para um relacionamento harmonioso.
– Olha o teu primo...
– Tomara que dê certo – continuou Omar olhando ele e Michaela bem próximos. Mal parou de falar, Gavião pegou o queixo da moça, puxando-a na sua direção e beijando-a longamente.
Além dos dois, a filha e o namorado, sentados juntos, não paravam de se abraçar e beijar. Os demais, bebiam e divertiam-se com piadas e histórias que só pertencendo à equipe é que alguém entenderia.
Enquanto bebiam, Adriana chamou o pai de lado.
– Pai, eu e Zé vamos sair. É que o papo de vocês não é lá muito compatível conosco.
– O papo ou outra coisa, princesinha? – Omar deu uma risada ao ver a filha sem jeito e muito vermelha. – Vão lá, mas cuidem-se, pelo amor de Deus.
– Tá bom. – A garota abraçou o pai, cheia de alegria. – Eu te amo pai, e obrigada por nos compreenderes.
Adriana pegou na mão do namorado, que também se despediu. Omar olhou para ele e perguntou:
– Tchê, tu tens carteira de habilitação?
– Sim, senhor.
O sogro atirou as chaves do seu carro para o genro e disse, rindo:
– Juízo, cara, e cuida da minha princesinha. Os documentos estão no porta-luvas.
– Se depender de mim, senhor, sua filha será a mulher mais feliz do mundo.
– Assim espero, meu jovem. Divirtam-se.
― ☼ ―
No dia seguinte os amigos despediram-se muito cedo e Omar sorriu quando viu o primo aos beijos com Michaela. Assim que o avião decolou eles voltaram e o delegado prometeu que passaria na delegacia assim que tomassem café.
No carro, o casal discutiu sobre o casamento e a mudança para Porto Alegre.
– Sabes, amor – disse Júlia, pensativa. – No fundo acho que prefiro viver aqui mesmo. Mas podemos testar uma temporada na capital.
– Acho que Mateus tem capacidade mais do que suficiente para dirigir o esquadrão e eu também estou cansado de toda aquela matança, Jú – comentou o noivo. – Então, fazemos o seguinte. Vamos para Porto Alegre que preciso pegar o último Cobra antes que ele nos mate. Depois, solicito a minha baixa do esquadrão e voltamos para Santo Agostinho. O que achas?
Ela nada disse, apenas esticou-se e abraçou-o, beijando seu rosto, feliz.
Durante a semana seguinte, eles reuniram toda uma série de documentos e, no fim de semana seguinte, Mateus veio porque seria, junto com Michaela, padrinho de casamento.
Naquela noite, enquanto se preparavam para dormir ele abraçou-a, muito feliz.
– Acho que meu primo e a delegada vão engatar – comentou com a esposa, olhando a aliança no dedo. – Feliz com o casamento, amor?
– Como nunca, Omar. E agora? – perguntou ela sorrindo e beijando o marido. – Seguimos o plano original?
– Sim. Vamos para Porto Alegre o quanto antes que o terceiro Cobra tem que forçosamente estar lá e quero pegá-lo. Enquanto eu não me livrar dele, corremos um sério risco de sofrer um atentado surpresa.
– Sabes quem ele é?
– Acho que sim, mas não quero me precipitar para não cometer erros. Afinal, se vou matar alguém, preciso de estar certo que é culpado.
– Quando iremos?
– Em dois dias – decidiu. Suspirou e continuou. – Depois disso, aposentarei a roupa preta. Vou pedir baixa e passar o comando para o Gavião, como te disse semana passada.
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