Capítulo 7 - parte 1 (não revisado)
"Aquilo que se faz por amor, está sempre além do bem e do mal."
Friedrich Nietzsche.
Devido aos seus devaneios, Omar chegou aos limites da cidade sem se dar conta e reduziu rapidamente a velocidade. Ele tinha pressa de chegar e ver a sua amada Júlia, mas não se afobou. Rodava pelas ruas muito arborizadas da sua cidade natal, tão bela e tranquila como sempre foi. Decidiu deixar o carro em casa e caminhar até à dela, já que era relativamente perto, menos de dois quilômetros. Mal andou alguns quarteirões e dobrou uma esquina, viu duas garotas e dois rapazes. Uma delas era alta, muito bela, com os cabelos dourados e olhos expressivos; a sua filha Adriana que era quase uma cópia da mãe na mesma idade, embora tivesse herdado os cabelos louros do pai.
Parou no meio da calçada exatamente no seu caminho, sorrindo e esperando de braços cruzados, desejando ver quando é que ela o notaria, pois estava distraída aos beijos com o namorado. Mal terminou de o beijar, olhou para a frente e viu Omar.
Seu olhos abriram muito e ela deu um sorriso e um grito de pura alegria. Soltou a mão do namorado e correu os três metros que os separavam, atirando-se aos braços do pai e apertando-o com força.
– Tio Omar, que bom que está aqui, que saudades tenho do senhor. Já faz mais de um ano...
– É sim, minha filha. Também estava com muitas saudades de vocês. – Ele abraçou a garota, cheio de felicidade por sentir seu corpo colado ao dele, como se ela fosse uma parte sua. – Eu estava nos Estados Unidos há um ano e só ontem soube de tudo. Tu estás bem, meu amor?
– Sim. Foi uma barra pesada, mas já superei. E ainda tenho o senhor. – Enciumado, o namorado aproximou-se do par com a cara emburrada, acompanhado do outro casal. Adriana notou e afastou-se rindo, apresentando-o para o pai. – Zé, este é o meu dindo Omar. Tio, o meu namorado Zé, Patrícia e Mauro, irmão do Zé.
– Tudo bem, meu jovem? – Omar estendeu a mão para o rapaz, com quem simpatizou na mesma hora, vendo um jovem de uns vinte anos e com ar de altivez. – Cuida muito bem desta princesinha que ela não tem preço.
– Prazer, senhor. – Zé sorriu de volta. – Pode ter certeza que cuidarei sim.
– Adriana, como está a tua mãe? – perguntou Omar. – Ela está em casa?
– Sim, ela está bem, mas sempre triste e isso não é por causa do meu pai. Ela sempre foi assim!
– Mas não será mais – respondeu sem pensar. – Eu te garanto. Onde ias?
– Para a faculdade e de noite vamos sair. Já que o senhor vai encontrar a mamãe, diga para ela que nós vamos com a turma para um barzinho e voltaremos tarde.
– Aviso sim, meu anjo, mas toma cuidado, tá?
– O senhor já está parecendo o meu pai, tio.
– Eu sou o teu pai, amor – abraçou a filha. – Padrinhos são segundos pais e tu devias saber disso.
Omar achou prudente a mãe dela contar a verdade, então ficou só na insinuação.
– Vou confessar uma coisa para o senhor, mas não diga para a minha mãe que não a quero magoar: eu sempre desejei que o senhor fosse meu verdadeiro pai – disse, inocentemente e voltando a abraçá-lo, que deixou cair uma lágrima. – Nem sei explicar o porquê, mas sempre amei o senhor mais até que ao meu pai.
Omar beijou a filha e afastou-se.
– Sabes, minha querida, não peças com muita força porque podes conseguir o que desejas – piscou o olho. – Agora preciso de ver a Júlinha.
– Tchau, tio.
Os dois casais continuam caminhando pela rua e Omar seguiu a filha com o olhar até perdê-la de vista. Pela primeira vez sentiu uma coisa quente e gostosa no coração, por saber que a filha o adorava tanto assim. Agora só faltava encontrar aquela que sempre amou e resolver as coisas.
Voltou a caminhar para a casa da Júlia, pensando nela a cada passo que dava. Fazia um ano que não se viam, que ele não tinha a sua "amante" nos braços e sentia tanta falta dela que chegava a ser doloroso. Enquanto caminhava, ficou lembrando o último encontro de ambos, tórrido e cheio de amor. Depois, pensou nas conversas que tiveram sobre o relacionamento de ambos. Ele sabia que há muito que amadureceram e poderiam viver bem e harmoniosamente, sentindo que chegou finalmente o momento de se casarem e assumirem a paixão e profundo amor de um pelo outro, já que a única coisa que realmente o impedia não estava mais lá.
Ia tão concentrado que, quando se deu conta, encontrava-se de fronte à casa da Júlia. Apesar de não haver motivos, estava nervoso e com o coração acelerado, mas bateu à porta e aguardou calmamente. Poucos segundos depois, o seu coração acelerou mais ainda ao ver a mulher da sua vida bem à frente.
Sorriu para Júlia que, arregalando os olhos, atirou-se aos seus braços.
– Oh, meu amor, como esperei que voltasses. Nunca amaldiçoei tanto um curso quanto esse que foste fazer, tão longe de mim e por tanto tempo – beijou-o ternamente, feliz por não precisar de esconder nada. Omar entrou e fecharam a porta, continuando aos beijos, cada vez mais quentes até que ela o levou para o quarto, ansiosa.
― ☼ ―
– Foi muito ruim para ti? – perguntou Omar. Ambos estavam deitados na cama, nos braços um do outro.
– Foi sim, amor. Apesar de não o amar, eu sentia afeto por ele que era um bom pai e marido, fora as escapulidas, claro. Mas, nesse aspecto eu fui muito pior. É uma ironia do destino tu viveres em missões superperigosas, sempre querendo que eu ficasse segura e foi ele quem morreu.
– É verdade, meu amor, mas eu sabia que, se te divorciasses dele, ele se mataria. Foi sempre esse o verdadeiro motivo do meu sacrifício, pois jamais desejei que a morte do meu melhor amigo pesasse nos meus ombros, principalmente porque lhe devia a minha vida.
– E agora, Omar, como ficam as coisas? – Júlia perguntou, muito ansiosa e sem prestar muita atenção ao que ele disse. – Eu ainda preciso de ti e Adriana de um pai, especialmente o verdadeiro.
– Queres casar comigo, Julinha? – pediu em meio a um beijo longo.
– Que pergunta mais tola, amor. Faz mais de dezessete longos anos que eu quero isso.
– Eu também. Julinha – disse ele. Ergueu-se um pouco, beijando-a novamente. – Que tal levantarmos, tomarmos um banho bem gostoso e sairmos um pouco. Faz umas duas horas que estamos aqui e eu tô morto de fome porque ainda não almocei.
– Tá demasiado tarde para almoçar e muito cedo para jantar, mas a gente acha algo, Omar.
De mãos dadas o casal caminhava pelas ruas para chegar ao bar de sempre. Sentaram-se e pediram um petisco.
– Foi aqui que terminamos, nesta mesma mesa, lembras?
– Então, não há melhor lugar para recomeçarmos. – Omar beijou-a novamente. – Jú, eu vinha aqui para tirar férias, mas, quando soube que mataram Moacir e que ele investigava aquela boate, pedi para ser escalado nas investigações. Porém, isso será no mais absoluto sigilo e ninguém pode descobrir. Depois falaremos sobre o assunto, ok? Agora, quero tirar todo o nosso atraso, pois estava muito carente depois de um ano sem te ver.
– A nossa filha estava lá, no dia do acidente. Ela salvou uma amiga.
– Como?
– Moacir sempre teve o máximo de cuidado em ensiná-la sobre segurança, especialmente depois que começou a sair de noite. Ele achava melhor orientar, em vez de reprimir. Ela viu que não havia saídas de emergência e não quis ficar lá, mas a amiga convenceu Adriana a ficar porque adoravam a banda. Só que a nossa lindinha teve o cuidado de ficar em um ponto de fácil fuga e manteve a atenção permanente. Viu o início do incêndio e puxou a amiga, fugindo a tempo.
– Ele era um bom pai, amor.
– Era sim, Omar, e disso jamais me posso queixar. O pior foi que ela perdeu o celular na fuga e eu tentava ligar para ela pois já eram quatro da manhã e nada dela chegar – continuou contando a história enquanto tomavam mais algumas cervejas.
Quando anoiteceu, ambos saíram muito abraçados para um restaurante.
― ☼ ―
– Drica, não é a tua mãe e teu padrinho ali, entrando naquele restaurante? – perguntou o namorado. Ambos estavam com os amigos em um bar não longe do local. – E estão bem abraçados, até demais, amor.
– Bah, se fosse pra ficarem juntos eu ia adorar, Zezinho. Uma vez, a mãe disse que eles foram namorados, que ele foi o primeiro namorado dela e do jeito que falava eu acho que ela nunca esqueceu o tio Omar. Além disso, eu já vi muito bem o jeito que ele olhava prá minha mãe. Era muito discreto por causa do meu pai, mas eu via direitinho que ele sempre gostou dela.
– Bom, ele parece ser um cara bem bacana, amor.
– Sabes, Zé, eu amo tanto ele que queria muito que fosse meu verdadeiro pai. Desde muito pequenina, desde que me lembro dele.
Uma hora depois o casal não viu o par saindo do restaurante e se beijando intensamente, pois estavam muito entretidos consigo mesmos, também aos beijos e carícias.
― ☼ ―
Adriana chegou tarde a casa e procurou não fazer barulho de modo a não acordar a mãe. Notou que ela fechou a porta do quarto, coisa que nunca fez antes e estranhou um pouco, mas não quis acordá-la fazendo barulho. Deitou-se e adormeceu rápido tendo uma noite bem tranquila e feliz, sonhando com o namorado e a noite maravilhosa que tiveram, além do padrinho e da mãe.
Apesar de ter deitado muito tarde, acordou cedo e feliz. Sorrindo levantou-se para ir ao sanitário. Na volta, noto que a porta ainda estava fechada e estranhou novamente pois a mãe sempre acordava muito cedo por força do hábito das aulas na universidade. Quando ouviu vozes conversando ficou tão ressabiada que bateu à porta e abriu logo depois, vendo os pais deitados na cama e conversando muito abraçados.
Arregalou os olhos e, sem jeito, murmurou um pedido de desculpas bem gaguejado, saindo e fechando novamente a porta com um sorriso enorme nos lábios.
Felicíssima, foi para baixo tomar café da manhã, chegando mesmo a dar pequenos pulos de alegria e socando o ar. Pouco depois, a mãe apareceu, vestindo um robe.
– Filha, acho que precisamos de ter uma conversa – disse ela, sentando-se na sala e apontando um sofá para a filha.
– Ora, mãe, eu não esquentei a cabeça com isso e até acho muito bom, pois vejo que estás feliz. – Adriana, contente, deu uma risada. – Ainda és jovem e bela, sem falar que eu adoro o tio Omar. Além disso, já não sou mais criança faz tempo.
– Precisas de saber de muitas coisas, filha, e então entenderás tudo o resto. Isso que tu viste é apenas a ponta do iceberg. – A mãe falou por um bom tempo, contando todo o seu passado para a filha e a garota descobriu quem era o verdadeiro pai, indo ao delírio.
Mal terminaram de falar, Omar aproximou-se, apreensivo e preocupado que a filha tivesse ficado chocada. Ela levantou-se e olhou o pai. Abriu um sorriso e correu os dois metros que os separavam apertando-o com muita força.
– Meu pai... – suspirou, profundamente emocionada, enquanto Omar deixou cair algumas lágrimas.
– Minha filhinha – disse, lembrando-se por quantos longos anos quis fazer aquilo, tendo que se conter para não pôr tudo a perder e ficando ainda muito pior quando perdeu o segundo filho. Sempre abraçou e beijou Adriana quando a via, mas aquele abraço tinha outro sabor, tinha sabor de filha verdadeira, de uma entrega pura e completa. – Não imaginas quantos anos eu esperei por isto, minha princesinha.
Com a cabeça encostada no peito do pai, falou baixinho, muito emocionada, enquanto o Omar lhe afagava os cabelos.
– Acho que era por isso que eu gostava tanto do senhor, pois eu nunca entendia por que amava mais a si do que ao meu pai. – Ela riu e continuou. – Xi, agora complicou geral.
– Não complicou não, meu anjinho. Agora tens dois pais e este está bem vivo e perto para o resto da minha vida, eu te prometo.
– Omar – interrompeu Júlia –, eu queria muito que nossa filha tivesse o teu nome. É um direito que lhe cabe.
– Isso é bem fácil, Ju – afirmou, ainda abraçado à filha. – Basta pedirmos um DNA e entrar com uma ação de paternidade.
Júlia aproximou-se e Omar abraçou uma de cada lado. O trio, muito feliz, foi para a cozinha tomar café.
– Julinha, o que tu achas de venderem a vossa casa e vocês irem para a minha, que é bem maior e melhor. Na verdade, não me senti à vontade naquele quarto.
– Concordo, amor, eu não fui feliz nesta casa, mas fui na tua. Podemos até providenciar uma pequena mudança ainda hoje e já ficar por lá. Mas não pretendo vender. É melhor alugar e deixá-la para a Drica.
Adriana olhou para a mãe e nem a reconheceu direito. Ela irradiava alegria e felicidade.
– Mãe, quem te viu quem te vê! – Júlia apenas riu.
– Omar, se vamos casar, temos de escolher onde viver.
– Onde quiseres, Jú. Se for aqui, eu peço para sair do esquadrão e venho trabalhar na federal de Santo Agostinho, mas gostaria que experimentasses uma temporada em Porto Alegre, até porque a transferência pode demorar alguns meses antes que me substituam. Tu pedias licença da universidade e íamos para lá.
– Eu estou de licença prêmio, amor, e ainda faltam oito meses para acabar.
– Mas, pai, tem a minha faculdade!
– Ora, amor, tu já estás crescidinha e podes virar-te sozinha. Ficas na nossa casa e arrumo uma empregada para te ajudar no dia a dia. Nos fins de semana, nós viremos para cá e passamos contigo. Acho até uma experiência excelente para ti, anjo... – O relógio do Omar emitiu um bipe quase imperceptível e ele, apreensivo, parou imediatamente de falar, levantando-se. – Vão já para o quarto e não saiam de lá até eu chamar.
– O que foi, amor?
– Pus sensores de proximidade nas janelas do térreo, já que não há grades nesta casa, e alguém está demasiado perto de uma delas.
Omar pegou na pistola e pôs às costas, saindo pela porta dos fundos. Sorrateiro, caminhou em silêncio até ver um homem muito grande e forte junto à janela da sala, observando atentamente e tentando ver através do reflexo do vidro.
O famoso Mancha Negra fez jus ao nome e chegou às costas do homem sem que este se desse conta. Com uma violenta pancada deitou o sujeito por terra e, calmamente, pegou nele como se fosse um saco de batatas, levando-o para dentro, sentando-o em uma cadeira da cozinha e tirando-lhe a arma. Depois, com a pistola na mão, gritou para mãe e filha que já era seguro descer, enquanto jogava um pouco de água no rosto do invasor que abriu os olhos, assustado.
– Tchê – principiou o delegado, ameaçador. – Tu estás com muita sorte hoje que eu estou de muito bom humor porque geralmente mato o intruso antes de perguntar quem é que invadiu. O que fazias aqui?
As duas entraram e não viram o rosto do homem, uma vez que ele estava de costas, mas Adriana ficou apreensiva ao ver a arma que o pai empunhava, porque, como Moacir evitava aparecer armado em casa, ela não estava habituada a ver uma.
Ambas viam o olhar ameaçador de Omar com a pistola apontada para o sujeito que permanecia bem calado e Adriana ficou mais assustada ao notar o jeito do pai, tão diferente de qualquer das vezes que o viu antes, mas sua confiança era irrestrita. Omar engatilhou a arma e disse:
– Cara eu fiz uma pergunta e não gosto de me repetir.
– Sou investigador da homicídios...
– Amor, é verdade – interrompeu Júlia ao ouvir a voz, com medo que Omar atirasse no sujeito. – Ele e Moacir eram amigos.
O delegado baixou a arma, mas continuou sério. Olhando para o policial ordenou:
– Investigadores da homicídios não costumam olhar pelas janelas, muito menos verificar as trancas como os ladrões fazem. Diz logo o que fazias aqui, porque eu não vou ficar com a consciência pesada se te mandar para o outro mundo. Desembucha, tchê, e bem rápido.
– Eu fui destacado para investigar o assassinato do Moacir e de um detetive particular pouco antes. Faz um ano que tento, em vão, descobrir algo. Ontem à noite, durante uma ronda, vi o senhor e Júlia muito juntinhos, estranhando que uma pessoa desconhecida aparecesse aqui, justamente após uma grande catástrofe e, ainda por cima, aos beijos com a viúva do meu amigo.
– Meu caro – Omar guardou a sua arma e devolveu a do policial, sorrindo ligeiramente. – Em primeiro lugar, não sou uma pessoa desconhecida e sim amigo de infância do Moacir. Em segundo lugar, muito antes da Júlia se casar com ele, era a minha namorada, a minha primeira namorada. O que aconteceu entre nós foi complicado e não vale a pena esclarecer, mas nós jamais deixamos de nos amar. Eu estava nos EUA fazendo um curso especial no FBI e fiquei um ano afastado, só sabendo de tudo recentemente. Com a morte do Moacir, não havia mais motivo para não voltarmos. Satisfeito?
– Mas quem é o senhor? – perguntou o policial. – E como me neutralizou tão facilmente?
– O meu nome é Omar Schmidt e sou delegado federal de Porto Alegre.
– Minha nossa! – exclamou o policial, impressionado. – O senhor é o delegado que subiu o morro do Alemão e matou toda uma gangue de criminosos praticamente sozinho? Moacir me contou!
– Sim, mas isso é informação classificada. Além do mais, agora estou de férias e pretendo rever a minha vida.
– Delegado, me ajude a desvendar este caso, eu lhe peço. Quero pegar os assassinos do meu amigo.
– Muito bem, o que sabes a respeito?
– Pouco, quase nada. O crime foi muito bem planejado. Ele saiu de casa, provavelmente para jantar em algum restaurante pois Júlia e a filha estavam fora da cidade. Uma moto passou e parou na esquina. Moacir levou dois tiros e a moto fugiu. Segundo um mendigo, que estava perto, o motoqueiro era um homem de preto, com um metro e oitenta e cinco, mais ou menos. Sei que ele investigava a morte de um engenheiro dos bombeiros mas não imagino onde isso possa se encaixar no crime...
– O que os engenheiros dos bombeiros fazem? – perguntou Omar sem entender como o investigador ainda não se apercebeu.
– Verificam a segurança de locais públicos – respondeu espantado e sem entender onde o outro queria chegar. – Entre outras coisas.
– Então a ligação está aí, delegado.
– Pode me chamar de Baltasar, mas ainda não entendi no que isso pode estar relacionado.
– Ele foi assassinado à traição, logo teria de haver um motivo que leve ao ato – explicou. – E que moto era, o cara identificou?
– Sim, uma Suzuki GSX 650.
– Não deve haver muitas dessas, Baltasar.
– Há sim, mais de duas mil. Eu mesmo tenho uma dessas sem falar que a minha estatura é a mesma, um pouco mais. É até possível que ele tenha sido baleado pensando que era eu a parar.
– Tu falaste em um detetive morto pouco antes?
– Sim, acho que um dia antes, mas não vejo relação entre ambos os casos.
– Muito bem, eu vou pensar um pouco. Dá-me o teu número que entrarei em contato. Aqui está o meu. Desculpa pela pancada, cara, mas achei que era outra coisa e fiquei bem cabreiro.
– Tudo bem. Assim eu aprendo a não me descuidar.
Despediram-se e Omar ficou olhando o homem sair. Depois, virou-se para Júlia e disse:
– Não confio nele. Esse cara ou é muito burro ou está-se fazendo de morto pra comer o coveiro. Amor, Moacir me contatou falando da boate que investigava e ele nada sabia disso! – Omar olhou para a namorada, muito sério. – O que lhe deste sobre as investigações do Moacir?
– Nada. – Júlia sorriu. – Eu sabia que Moacir estava muito retraído com essas pesquisas e ele trancou tudo no cofre. Eu não toquei em nada.
– Nesse caso deixa tudo quietinho como está que, de noite, eu começo a investigar isso, pois não desejo correr riscos. E vamos mesmo para a minha casa que é bem mais segura. Sei que Moacir tinha contratado um detetive particular amigo dele para grampear a boate. Estou começando a achar que esse detetive é o que foi morto. Tenho de descobrir isso.
– Certo, amor. Eu vou começar a juntar algumas mudas de roupa com a ajuda da Drica.
– Ótimo, eu preciso de sair para ver umas coisas na federal e na civil. – Omar sorriu para as duas. – E, também, trocar de roupa. Vocês vão estar bem?
– Claro, amor – beijou-o. – Cuida-te, tá?
– Pai, tem cuidado. – A menina abraçou-o e tinha o olhar muito apreensivo. – Eu não quero perder outro pai, não o que mais amo.
– Não te preocupes, minha filha. – O sorriso do pai acalmou-a enquanto ele a abraçava novamente. – O teu velho é duro na queda. Muito duro mesmo.
― ☼ ―
Dindo – Padrinho.
Licença Prêmio – Funcionários públicos que trabalham por um determinado tempo sem faltar, ganham uma licença especial que pode ser acumulada.
Cabreiro – Termo gaúcho para preocupado.
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